domingo - 09/06/2013 - 07:34h
Professor

‘Me sinto rainha’, diz professora no país nº 1 em educação

Luciana Pölönen, brasileira, dá aulas na Finlândia. País da Europa tem a melhor educação do mundo

Do portal G1

Por Vanessa Fajardo

País com a melhor educação do mundo, a Finlândia tem entre os seus professores da rede pública uma brasileira. Luciana Pölönen, de 26 anos, nasceu em Salvador (BA), é formada em letras pela Universidade Federal de Bahia ( UFBA ) e se mudou para Finlândia em 2008, com objetivo de fazer mestrado. Desde 2010, compõe o corpo docente finlandês. No país do Norte da Europa, mais do que emprego, ela encontrou a valorização da profissão de lecionar.

Luciana Pölönen dá aulas de português em Espoo, na Finlândia (Foto pessoal)

“Eu me sinto como uma rainha ensinando aqui. Ser professor na Finlândia é ser respeitado diariamente, tanto quanto qualquer outro profissional!”, afirma a brasileira, que se casou com um finlandês, tem uma filha de três anos, Eeva Cecilia, e está grávida à espera de um menino. “Aqui na Finlândia o sistema é outro, o professor é o pilar da sociedade.”

A comparação com sua experiência escolar no Brasil é inevitável. “No Brasil só dei aulas em cursos, mas estudei em escola pública, sei como é. Sofria bullying, apanhava porque falava o que via de errado e os professores não tinham o respeito dos pais”, diz Luciana.

Por quatro anos consecutivos, a Finlândia ficou entre os primeiros lugares no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que mede a qualidade de ensino.

Liberdade para trabalhar

Durante visita em São Paulo, na semana passada, a diretora do Ministério da Educação e Cultura, Jaana Palojärvi, disse que o segredo do sucesso do sistema finlandês de ensino não tem nada a ver com métodos pedagógicos revolucionários, uso da tecnologia em sala de aula ou avaliações nacionais. O lema é treinar o professor e dar liberdade para ele trabalhar.

Luciana aprova o método. Há dois anos dá aulas na Escola Europeia de Helsinque, capital da Finlândia, de nível fundamental e médio e há um ano leciona português em uma escola de ensino fundamental em Espoo, cidade próxima à capital. “Dou aula de português porque toda criança falante de duas línguas tem o direito ao ensino de uma língua estrangeira na escola. Ou seja, todos os filhos de brasileiros têm direito ao ensino de português como língua mãe.”

Para conseguir a vaga, a brasileira passou por avaliação do histórico escolar da universidade, enviou uma carta pessoal em que expôs suas intenções, e enfrentou uma entrevista, uma espécie de prova oral feita em inglês.

Com o trabalho nas duas escolas, Luciana ganha 2.500 euros, o equivalente a R$ 6.500. Luciana tem contrato temporário porque ainda não finalizou o mestrado, termina a dissertação no fim do ano, por isso há uma redução no salário de 15% e de tarefas extras.

“Tenho total liberdade para avaliar meu aluno, tenho a lista de coisas de que ele tem de aprender até o fim do ano, mas como vou fazer fica a meu critério. Não preciso aplicar prova a toda hora, nem justificar nada para o coordenador”, afirma. “Temos cursos de aperfeiçoamento sem custo, descontos em vários lugares com o cartão de professor, seguro viagem, entre outros.”

Para Luciana, os alunos aprendem porque há um comprometimento deles, dos pais e da comunidade. “Eles aprendem o respeito desde pequenos, a honestidade vem em primeiro lugar. As pessoas acreditam umas nas outras e não é necessário mentir. Um professor quando adoece pode se ausentar até três dias. Funciona muito bem.”

Tradução e aula particular

Logo chegou à Finlândia, Luciana trabalhou como analista de mídia. Depois, em 2010, antes de atuar na rede de ensino pública, conciliava trabalhos de tradução e de professora particular. “Se aparecesse um trabalho para fazer limpeza, eu toparia sem problemas, desde que fosse honesto. Mandava currículo para algumas empresas, mas nunca era chamada. Pensei em omitir minha formação [em letras, pela UFBA], caso não arrumasse nada.”

Luciana voltou a trabalhar quando a filha tinha apenas um mês. Era um trabalho de tradução que às vezes fazia de casa ou ia até a empresa que ficava próxima à sua casa. Escapava para amamentar no intervalo do café. “Aqui a licença maternidade dura três anos, as pessoas achavam um absurdo eu trabalhar com uma filha de um mês. Na verdade faz parte da educação deles, hoje eu entendo mais.”

O respeito pelo próximo também é algo muito enraizado na cultura do finlandês. Luciana diz que diferente do Brasil, nunca sentiu preconceito na Finlândia por ser negra ou estrangeira. “Aqui as pessoas não parecem notar a cor de pele do outro contanto que exista respeito mútuo.”

Casos de violência ou bullying são muito raros nas escolas. “Foram cinco casos de violência no ano, mas para eles é um absurdo, não deveria acontecer. Eles sempre têm um plano para cada tipo de aluno, não é uma única forma para a classe inteira. No final, todos alcançam o mesmo objetivo.”

Diferenças

Na Finlândia, o professor é proibido por lei de encostar no aluno. Nem mesmo para dar um abraço. Luciana soube disso durante a aula de inglês, no estágio, em uma atividade onde alunos precisam demonstrar sentimentos numa espécie de encenação teatral e ela “relou” em uma aluna. A classe toda ficou estática, espantada.

Hoje, Luciana se acostumou à cultura.  “Acho que acostumei, nunca gostei muito de abraçar as pessoas se não houvesse um motivo muito importante para isso. Talvez esse seja o motivo de eu ter me acostumado aqui.” O frio também não lhe causa incômodo, nem mesmo a temperatura de 25 graus negativos que já encarou. Para a baiana, não há problemas desde que esteja com a roupa apropriada para manter o corpo aquecido.

Planos para o Brasil

No fim do ano, Luciana vai aproveitar as férias para voltar ao Brasil para visitar a família. Durante a temporada de dois meses pretende fazer workshops em escolas sobre o sistema de educação finlandês. “Gostaria de ajudar os professores de alguma forma, com treinamento, é o que eu devo para o meu país. Minha parte é tentar ajudar da maneira que eu posso.”

Para ela, a receita da Finlândia para ter uma educação nota 10, baseada na simplicidade, daria certo no Brasil se “as pessoas parassem de esperar ações do governo e agissem com as próprias mãos.” “Gostaria que minha filha visse meu país diferente e eu não tivesse de pagar uma mensalidade de 2 a 3 mil reais [caso morasse no Brasil] em uma escola particular para oferecer a ela uma educação de qualidade.”

Se o abraço tão habitual no Brasil não lhe faz falta e o frio não a incomoda, Luciana sente saudades de gargalhar com os amigos, de se deliciar com a comida da minha mãe, conversar a avó, escutar músicas com a tia e assistir Fórmula 1 com o pai. “Matamos as saudades via Skype ou quando alguns parentes visitam a Finlândia.”

 

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Categoria(s): Educação

Comentários

  1. Inácio Augusto de Almeida diz:

    .

    “Eles aprendem o respeito desde pequenos, a honestidade vem em primeiro lugar. As pessoas acreditam umas nas outras e não é necessário mentir.”
    Fica fácil entender porque a Finlândia é a Finlândia e o Brasil é o Brasil.
    Os que tem uma certa idade se lembram do Santelmo, um personagem do Chico Anysio que nunca mentia e que encerrava sempre dizendo: EU NÃO SEI MENTIR.
    Isto provocava gargalhadas em todos.
    Chico Anysio na sua genialidade soube explorar o fato de que o brasileiro considera como um IMBECIL aquele que não sabe mentir.
    E esfregava isto na nossa cara.
    O pior é que poucos sacavam a crítica que ali estava embutida.
    Se você quiser conhecer o Santelmo basta colocar na internet PERSONAGEM FEITO PELO CHICO ANYSIO QUE NÃO SABE MENTIR.
    As crianças finlandesas são educadas sabendo que mentir é o maior de todos os pecados.
    No Brasil as crianças crescem sendo orientadas para a esperteza, para o se dar bem.
    A coisa chegou a um ponto tal de inversão de valores neste país que corrupto passou a ser visto como inteligente quando deveria ser tratado como ladrão.
    Institucionalizaram a corrupção, a mentira e fizeram da Lei de Gérson uma regra geral.
    Lei de Gérson, onde levar vantagem em tudo é prova de sabedoria.
    A que ponto chegamos.
    Em países como a Finlândia o tipo que quiser levar vantagem em tudo sofre exclusão social.
    A professora não disse, mas na Finlândia não existe nenhuma lei que obrigue o governante a prestar contas do dinheiro público. Lá qualquer cidadão pode saber toda movimentação financeira feito pelos gestores da forma mais simples possível.
    Aqui existe uma LEI, a LAI, e mesmo assim o cidadão não consegue saber quanto está sendo pago a um cantor com dinheiro público por uma simples apresentação. Nem mesmo os salários dos ocupantes de cargos públicos podemos saber quando acessamos o Portal da Transparência.
    Será que em algum país do mundo acontece de um Vereador ganhar mais do que o Governador? E um Prefeito ganhar o DOBRO de um Governador?
    No Brasil acontece. E acontece isto em Mossoró-RN.
    O SALÁRIO DA PREFEITA CLÁUDIA REGINA É DE R$ 23.550,00.
    O PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE MOSSORÓ GANHA R$15.000,00
    A GOVERNADORA DO RN GANHA R$ 11.600,00.
    Contado isto na Finlândia alguém acreditaria?
    Contado na Finlândia que um cidadão por cobrar o cumprimento de uma LEI passa a ser agredido de todas as formas pelos meios de comunicação que estão a serviço dos que não cumprem a LEI?
    Não dá para contar isto na Finlândia. Vão pensar que se trata de uma piada.
    Na Finlândia as leis são cumpridas e os políticos respeitam o povo.
    Daí a Finlândia ser a Finlândia e o Brasil ser o Brasil.
    Notaram que a professora falou que tem saudades da família, mas em momento algum disse que queria voltar?
    Pobre país que ri de Santelmo.
    Pobre país cujos governantes não respeitam as LEIS.
    Pobre Brasil.
    ////
    CUSCUZ COM OVO É SERVIDO NA MERENDA ESCOLAR.
    O UNIFORME ESCOLAR AINDA NÃO FOI DISTRIBUÍDO EM MOSSORÓ.

  2. jb diz:

    Carlos Santos,
    Eeducação nunca foi prioridade para a Elite brasileira, pois de acordo com “A avaliação educacional mais importante – e relevante – do mundo revelou que a Educação brasileira está melhorando, mas ainda ocupamos uma posição baixa: em um ranking de 65 países somos o 53º colocado em Leitura e Ciências e 57º em Matemática.”
    O Pisa avalia o desempenho de alunos do Ensino Fundamental e Médio em três áreas chaves: Leitura, Matemática e Ciências. A média brasileira nessas disciplinas foi de 401 pontos, bem abaixo da pontuação dos países mais desenvolvidos, que obtiveram 496 pontos.
    Em leitura, o Brasil alcançou 412 pontos; em Matemática, 386 e em Ciências 405 – em 2006 a pontuação foi de 393 em Leitura, 370 em Matemática e 390 em Ciências. Resultado que nos deixa atrás de México, Uruguai, Jordânia, Tailândia e Trinidad e Tobago.”

    Fonte://educarparacrescer.abril.com.br

    Se ocupamos estas ridículas posições é porque para os governantes à educação também ocupa idêntica prioridade qual seja 53º. Vide a remuneração dos professores.

    //www1.folha.uol.com.br/educacao/2013/06/1291528-prefeitura-de-juazeiro-do-norte-ce-reduz-salarios-de-professores.shtml

  3. nildo diz:

    No ano de 2010, a Conferência Nacional de Educação tornou-se um novo marco para as lutas educacionais brasileiras, reunindo atores diversos e criando as bases para um novo Plano Nacional de Educação. Desta vez, os movimentos sociais, especialistas, estudantes, pais e professores determinaram, como principal reivindicação, a inclusão no PNE de uma mínima porcentagem do PIB a ser aplicada no setor. Definiram essa cifra em 10%. O governo recuou e defendeu 7%. Foi a ignição para uma jornada de manifestações, atos públicos, campanhas pelas ruas das principais cidades do país, blitz nos corredores do Congresso Nacional, mobilizações pela internet, nas redes sociais, barulho incessante por parte da juventude organizada brasileira em todos os espaços a serem ocupados. Em 2012, a luta ganhou mais fôlego. A massificação da campanha popular, nas ruas, levou à aprovação do PNE com os 10%

  4. Inácio Augusto de Almeida diz:

    O QUE MAIS FALTA ELES FAZEREM?
    “sexta-feira, 7 de junho de 2013
    CÂMARA MUNICIPAL APROVA REDUÇÃO DOS SALÁRIOS DOS PROFESSORES.
    Foto:g1.globo.com/ceara/noticia
    Os vereadores de Juazeiro do Norte aprovaram o projeto de lei do executivo que reduz os salários dos professores da rede municipal em até 40%. A votação ocorreu na tarde de quinta-feira (6), sob protestos e tumulto. Três educadores foram retirados do plenário e a polícia foi acionada.
    O sindicato dos professores informou que vai pedir a anulação da sessão e ameaça realizar uma greve geral de professores.
    SAIBA MAIS
    O Ministério da Educação estabelece o valor de R$ 1.567,00 como piso para docentes. Em Juazeiro do Norte, somando as gratificações, os professores recebem R$ 2.193,00. Segundo a Secretária de Educação, Célia Viana, diz que a redução é necessária.
    “Nós precisamos fazer um reajuste nessa folha porque, como está, está sendo impossível pagar. A gente reconhece que, em certa parte, está atingindo os nossos servidores, mas a gente precisava mesmo rever isso”, disse.”
    /////
    É de um cinismo incomensurável a afIrmação desta Secretária de Educação.
    Por que não reduziram antes o salário do prefeito de Juazeiro do Norte que é de R$ 25.000,00?
    Por que não reduziram antes os salários dos vereadores que são de R$ 10.000,00?
    Estes políticos que poderão manter tanta injustiça até quando?
    ///
    EM MOSSORÓ CUSCUZ COM OVO É MERENDA ESCOLAR.
    O UNIFORME ESCOLAR AINDA NÃO FOI DISTRIBUÍDO EM MOSSORÓ.

    • Inácio Augusto de Almeida diz:

      Leiam:
      ” g1.globo.com/ceara/noticia
      A iniciativa partiu da prefeitura. O prefeito chama-se Raimundo Macedo (salário de R$ 25 mil). Filiado ao PMDB, ele foi eleito com o apoio do PT. Coube ao líder do governo na Câmara, Nivaldo Cabral (salário de R$ 10 mil), do DEM, fazer a defesa da lâmina. Disse que o corte nos vencimentos dos professores é imperioso porque a folha da prefeitura tornou-se “inviável”.
      Presidente da Câmara, Antônio de Lunga (R$ 10 mil por mês), do PSC, dirigiu os trabalhos com pulso firme.
      Raimundão viajou na semana passada para a capital dos Estados Unidos. Junto com outros prefeitos cearenses, foi participar de evento do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Ao desembarcar em Washington, o prefeito foi retido na alfândega. Suprema ironia: carregava mais do que os US$ 10 mil permitidos pela legislação americana. Teve de se explicar.
      O contratempo alfandegário do prefeito não é a única ironia a tisnar a cena de Juazeiro. Há pouco mais de um mês, em 27 de abril, os mesmos vereadores que reduziram os contracheques dos professores haviam aumentado de dois para três meses o período de recesso do legislativo municipal. Fizeram isso sem cortar os salários (R$ 10 mil, em cifras aprovadas no ano passado).
      ///
      QUANDO EU DIGO QUE PERDERAM A NOÇÃO DA REALIDADE É PORQUE PERDERAM.
      A ESCULHAMBAÇÃO ALASTROU-SE POR TODO O BRASIL.
      SERÁ QUE ISTO VAI ACABAR BEM?
      ///
      EM MOSSORÓ CUSCUZ COM OVO É MERENDA ESCOLAR.
      O UNIFORME ESCOLAR AINDA NÃO FOI DISTRIBUÍDO EM MOSSORÓ.

  5. Inácio Augusto de Almeida diz:

    SE ESTA MODA DE REDUZIR SALÁRIO DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO PEGAR…
    ///
    EM MOSSORÓ CUSCUZ COM OVO É MERENDA ESCOLAR.
    O UNIFORME ESCOLAR AINDA NÃO FOI DISTRIBUÍDO EM MOSSORÓ.

  6. carlos chavez diz:

    se lá na Finlândia, a professora se sente rainha, no Brasil, o que ela sentiria ? e no Rio grande do Norte ? aposto que sentiria……………………..

  7. Raimundo nonato sobrinho nonato diz:

    Pais de aluno procura professor na escola e pergunta porque o sr não recebeu o trabalho do meu filho. Professor acuado responde minha sra seu filho não assistiu nenhuma aula minha, a sra acha que ele vai passar; a mãe responde mais os outros professores passaram. Professor sem alternativa sede e diz; se é assim.
    É por essas e outras que o IDEEB está lá em cima.

  8. Raimundo nonato sobrinho nonato diz:

    Aqui no Brasil ela se sentiria amedrontrada pelos delinquentes e aprisionada pelos bandidos de colarinho branco.

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