A médica Márcia Célia Freitas de Souza Dias entra no debate enriquecedor, sobre o "Sistema de Cotas" da Universidade do Estado do RN (UERN). Para ela, o programa é uma necessidade.
Leia abaixo:
Caros Carlos Santos e Marcos Araújo (advogado).
Tentarei ser doce pois admiro demais ambos, mas venho discordar de você Marcos.
Vi meu pai, pobre de Jó, com 5 filhos menores, entrar na faculdade de Medicina da UFRN e, a duras penas, formar-se doutor e viver tempo bastante para ser reconhecido como um grande médico e ainda me ver seguindo o mesmo caminho.
Todos conhecemos exemplos de superação. Mas por que aos pobres apenas a superação?? Só o fora de série, com inteligencia maior e com muita força de vontade pode sonhar em chegar lá???
A grande maioria dos pobres quando se forma é em Serviço Social, História, Geografia, Pedagogia, Letras, Enfermagem. Longe de mim querer diminuir qualquer profissão, mas que sejam escolhidas por quem quer fazê-las e não porque são as possíveis.
O sol nasce para todos e todos temos os mesmos direitos. Por que julgarmos que os cotistas serão médicos, dentistas, engenheiros ou advogados mais mediocres que os não-cotistas??? O que dizer das centenas de faculdades particulares de qualidade para lá de duvidosa e dos profissionais que nos servem sem conhecimento, ética, qualificação?
Mas nossos filhos, sobrinhos, netos, amigos, das classes média e alta, podem ser medíocres e despreparados, pois estão usufruindo do que lhe é oferecido. Eles não têm culpa de estudar nos melhores colégios, passarem nos melhores cursos, das melhores faculdades (públicas), ou, nos melhores cursos de faculdades razoáveis, outros, nos mesmos cursos disputados, só que em faculdades particulares.
E a eles cabe o direito de serem profissioais exemplares e medíocres nas profissões que escolherem.
Acredito que a defesa ao direito de igualdade, na verdade representa uma mal disfarçada disputa de classe social. Pois sou a favor das cotas, não por negros, mas por ensino público.
Não acho que deva ser eterna; deve ter tempo de uma ou no máximo duas gerações de desvalidos terem acesso facilitado ao aprendizado de qualidade. E deve ser acompanhada de uma mudança na estrutura do ensino público visando as novas gerações de brasileiros: ricos e pobres, brancos e negros, da escola pública ou privada.
Dois filhos podem ter necessidades diferentes. E, algumas vezes, tratar igual é enxergar essas diferenças.
Um grande abraço. Não sei se consegui ser doce como gosto de lhe tratar e como voce sempre nos trata, é que alguns assuntos mexem com meus nervos. Rs.
Márcia Célia Freitas de Souza Dias – Médica
Nota do Blog – Doutora, este Blog cumpre o papel de ser um fórum de debates.
Essa dialética (o confronto de ideias e o entrechoque de versões para um mesmo caso) acaba por promover a formação de uma massa crítica.
Obrigado por sua intervenção. Não é uma injunção concordar com o que postamos. Interessante é se envolver na discussão.
Quanto ao seu pai, doutor Osias, conheci-o de perto. Fui seu paciente. Competente, digno. Humano. Homem de bem.
eu sou a favor do sistema de cotas porém acho que deveria haver um projeto de melhoramento no ensino público que com o tempo fosse extinguindo essa forma de ingressar na universidade. Não da pra dizer que não faz sentido o sistema de cotas entre escolas públicas e particulares pois seria o mesmo que botar dois estudantes, um de escola pública e outro de escola particular pra abrir cada um sua porta, sendo que um aluno de escola particular recebe uma chave para sua porta e o aluno de escola pública recebe um chaveiro com inúmeras chaves sendo que só uma abrirá sua porta. Aquele que entrar 1° é quem ficam com a vaga. Aí tiramos aquele aluno de escola pública que sempre se esforçou e consguiu ser o único da escola pública em meio aos outros 39 da rede privada que entrou no curso de Direito( como sempre ocorria)…nesse caso, esse rapaz seria aquele que tem sorte ou num esforço sem igual descobriu rapidamente a única chave que abre a porta da universidade… Pois bem, não podemos exigir isso de todos, pois não são todos os alunos carentes que consegue seguir seus estudos sozinho( ou descobrir a chave sozinho na primeira tentativa) sem a devida orientação. O governo tenta corrigir sua cagada de ter deixado a educação de lado, tapando o sol com a penera. Mas por enquanto, acho isso um mal necessário.
ps: ta confuso e não sei se alguém entendeu o que quis dizer. rssrs
Concordo com a Dra. Sou aluna da faculdade de medicina da UERN e, embora seja NÃO-COTISTA, sou a favor das cotas (para os oriundos do Ensino Público, não para negros ou índios), ao menos temporariamente. Eu podia citar vários motivos para minha posição, tais como a evidente precariedade do ensino público e as dificuldades financeiras que limitam o acesso a livros e aos melhores cursinhos. Mas hoje, vou defender apenas uma razão: as cotas possibilitaram a alunos brilhantes um futuro brilhante. Na faculdade de medicina, não se vê DIFERENÇA ALGUMA entre o desempenho de cotistas e não-cotistas. Pelo contrário, alguns dos melhores alunos são cotistas. “Sem as cotas eles seriam capazes de passar no vestibular?” Certamente sim, mas talvez demorasse mais. E a demora, para quem tem condição, significa mais anos de cursinhos, mas para quem não tem, pode significar a desistência de um sonho, pode significar a opção por outro curso ou até mesmo por trabalhar em vez de persistir no vestibular. Agora, o que é INADMISSÍVEL é que um sistema que surgiu para minimizar desigualdades tenha justamente o efeito contrário ao abrir brechas para o surgimento de fraudes e falsos cotistas, da mesma forma que é inadmissível o governo acomodar-se a tal situação e tornar permanente um sistema que deve ser PROVISÓRIO. Não tenho a ilusão de que o ensino público vai mudar da noite para o dia, mas tenho a esperança de que isso ocorra em algumas décadas. Por isso defendo as cotas. Há quem as ache injustas. Mas sabe o que eu acho? Que sistemas educacionais injustos às vezes requerem medidas injustas.
Não quero entrar na discussão do sistema de cotas, apenas dou minha humilde contribuição ao debate a partir do seguinte ponto de vista: só seremos um dia uma nação digna, respeitada, quando um dia for dado ao nosso povo o direito (constitucional) de ter EDUCAÇÃO de qualidade, o que é um dever do Estado e não um favor. Enquanto isso não acontecer ficaremos eternamente tentando ser PRIMEIRO MUNDO. Hoje vemos país afora, em quase todas as profissões falta de mão de obra qualificada. Por que isso acontece? Aqui mesmo em nossa cidade existe essa deficiência. Todas as nações que colocaram a educação como prioridade deram aos seus cidadãos dignidade, inteligência e condições de pensar e agir com seu próprio “EU”, as que não agiram assim estão, digamos, buscando uma identidade. Tudo que se pensar em termos de educação, que não passe por uma mudança radical no ensino público e numa forma de incentivar educadores, pra que estes se sintam estimulados, continuem tendo auto-estima e não vejam sua profissão subestimada pela sociedade, compreendendo-a apenas como complemento, ou seja, bico, tudo será mero discurso demagógico, paliativo. Exemplos pontuais de bom aproveitamento podem existir, são exceções, não são regras, mas o “grosso” precisa de uma espécie de “revolução educacional”. É preciso coragem, talvez vergonha, ou quem sabe somente vontade de começar. Mas pra isso alguém tem que ter o mínimo de vergonha, um tanto de coragem e o máximo de vontade. Alguém se habilita? Uma coisa é certa: investimento em educação não é investimento perdido, pode não trazer lucro em curto prazo, mas nunca será caro investir naquilo que trará, com certeza, dividendos futuros. Devemos então entender que: educação é a base para uma sociedade sólida, digna e respeitável. Sem ela (educação) não dá pra pensar sequer como sociedade, mas apenas como um amontoado de pessoas, cada uma com sua forma de pensar, agir e realizar.