quarta-feira - 05/08/2009 - 19:08h

Medicina humanitária e o retorno das mentes superiores

A classe médica que serve à Prefeitura de Mossoró finalmente entrou em erupção. A Nota de Repúdio (veja mais abaixo) que publica hoje, paralisações e denúncias contra o sistema indicam que transbordou sua paciência.

Mas não me precipito em afimar que se trata de um grito de independência. A rebelião ainda não revela sentido de corpo, espírito coletivo, consciência política e respeito humanitário.

Para mim ainda é reflexo de uma máxima popular que diz: “A parte mais sensível do corpo humano é o bolso”. A inclusão na anatomia humana desse saco, muito mais delicado do que o escrotal, dá uma dimensão de como o influente segmento patinha e desconhece sua própria força.

Continua omisso, mesquinho, egoísta e alheio ao interesse público – sobretudo da maioria da população pobre; uma escumalha carente, humilhada e vítima dessa elite arrogante, oligárquica, patrimonialista, excludente e espoliadora.

A prioridade continua sendo sua remuneração, carrões, mansões e o glamour de araque exposto nas colunas sociais, a maioria afeita apenas à frivolidade. Ao banal.

Há anos que escassas vozes da imprensa denunciam a farsa da saúde de Mossoró. Matérias, notas, reportagens investigativas e denunciadoras mostraram essas vísceras. Nesse mesmo tempo, raros foram os médicos que endossaram a luta por melhoria de condições de trabalho, de salários e de atendimento à sociedade.

Não faltaram piadas, insultos, provocações. Eu mesmo tive que reagir a um odontólogo, bêbado, cobrando mais empenho de mim à porta do Estádio Nogueirão, para “pôr na cadeia a Máfia dos Homens de Branco”, série de reportagem encabeçada por Carlos Duarte no Jornal Página Certa a partir de setembro de 2004.

Outro, um médico, chegou candidamente a me dizer que ficaria em seu apartamento, tomando vinho, esperando tudo “explodir para comemorar”. De braços cruzados e covardemente calado, claro.

O modelo de saúde que está aí, não é novo e não desmoronou agora. Poucos médicos têm tido a coragem de mostrar as distorções, sem temor de retaliações. A enorme maioria opta pelas sombras ou apoio direto-indireto aos seus próprios algozes.

Quantos, depois de sanada parcial ou totalmente essa crise, voltarão à Associação Médica para engajamento na luta permanente de valorização da atividade profissional?

Quantos irão ao Ministério Público denunciar desmandos?

Quantos vão defender melhorias no serviço ao cidadão na UPA´s e Unidades Básicas de Saúde?

Quantos não mudarão de lado para “dedurar” seus companheiros?

Quantos vão expor o próprio corpo e a identidade na luta contra os tiranos que dizem “adorar Mossoró”?

Sei que até chantagens e ameaças expressas alguns médicos sofreram na sala de um secretário sociopata; sei da montagem criminosa de esquemas de atendimento à população; sei de perseguições; sei de condições insalubres ao trabalho. 

Quem melhor conhece o meio são os próprios médicos.  Basta de covardia, de um comportamento pusilânime e torpe.

Percebam que vocês estão diante de um monstro arrogante, inconseqüente e insano que tudo faz e fará pelo poder, como manipular a própria imprensa a ponto de transformá-los, aos olhos da opinião pública, em bandidos desumanos.

Lutar é preciso, com todos os riscos que a ousadia impõe. Chega de se esconder atrás dos mais fracos ou de entidades ficcionais, como a "Comissão de Defesa Profissional", que arrima a Nota de Repúdio de hoje. Por que todos os médicos engajados nesse prélio não fizeram nominalmente um abaixo-assinado? 

Boa parte de vocês foi formada numa academia pública, paga por mim e outros cidadãos que agora e adiante vão precisar de seus serviços. Queremos o pleno cumprimento do juramento de Hipócrates, o retorno à confiança no “doutor” como um médico da família e a certeza que estamos entregues às mãos e mentes superiores.

Nada disso pode ser resgatado com o espectro da oscilação de caráter e o medo.

Queremos uma Medicina humanista e humanitária, devotada e vocacionada. Uma Medicina de Maltez, Anchieta Fernandes, Vicente Forte, Maria José Mendes e tantos médicos (as) que fizeram e fazem do ofício um apostolado.

Contudo confesso que não me assustarei se me deparar com determinada cena no próximo ano. Carro adesivado, uísque da melhor origem dentro do carro, bandana na cabeça, mamãe-sacode à mão e muitos dos indignados de hoje metidos em carreatas, passeatas e esquinas bradando o seguinte:

Lindo, bonito e gostosão,
Guguta é deputado do jaleco,
Da Gente e do povão!
Arrasoooou, Guguta!

Vamos esperar para ver. Será que a história vai se repetir, como diria Hegel e repetiria Marx?

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Categoria(s): Blog

Comentários

  1. LIA QUEIROZ diz:

    AMEI O COMENTÁRIO!BRAVO! E O REFRÃO DO FINAL, NÃO TENHO DÚVIDA NENHUMA QUE NO PR[OXIMO ANO VEREMOS OS MÉDICOS DE HOJE QUE RECLAMAM, BRADANDO COM FERVOR O SLOGAN! NÃO TENHO NENHUMA DÚVIDA, POIS, COMO BEM DISSE VC, ELES ESTÃO APENAS PREOCUPADOS COM O PRÓPRIO BOLSO, NADA MAIS ALÉM!

  2. Camila Fontes diz:

    KKKK demais o refrão kkkk Guguta e vc ainda tem raiva de Carlos Santos? até uma música para sua campnha ele fez? kkk/
    Arassouuuuuuuuuuuuuuuuuuu Carlos kkkk

  3. Carol Fernandes diz:

    parabens pela opiniao! sempre leio, todos os dias. seu blog…. nunca vi um comentario tao sensato e fidedigno com a realidade… eh exatamente assim que eu penso que eles sao.. sao críticos hoje, sao bajuladores amanha… de kem ? de kem melhor lhe convier… e o povo, carente, ficará sempre excluido desse povim autoritario e arrogantes

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