domingo - 26/10/2025 - 09:48h

Meditando o tempo

Por Odemirton Filho

Pavilhão Vitória ficava na Praça Rodolfo Fernandes, sendo ponto de encontro durante muitos anos (Fotomontagem BCS)

Pavilhão Vitória ficava na Praça Rodolfo Fernandes, sendo ponto de encontro durante muitos anos (Fotomontagem BCS)

Benfazejas são algumas lembranças; fazem-nos recordar momentos e pessoas especiais. Sim, aprecio e fico feliz quando os leitores navegam comigo nesse mar de tempos idos.

Por quê? Porque o cotidiano é tão repleto de dificuldades, sobretudo de silenciosas batalhas subjetivas, que reviver momentos singulares acalma o coração. Quem não gosta de relembrar pessoas queridas? Pessoas que se foram, deixando uma lacuna imensa em nossas vidas? Pois bem, sempre procuro trazer a este blog textos livres, leves e soltos.

Sei que aqui e acolá faço alguma crítica. Contudo, faço de forma geral, sem ofender a honra de quem quer que seja. Já bastam a intolerância e o ódio disseminados diariamente nas redes sociais.

No entanto, cada pessoa tem o seu estilo de escrever, o que respeito, diga-se de passagem. Mas prefiro cultivar na alma, paz, apresentando aos leitores uma crônica suave, que aqueça o coração.

Assim, inspiro-me em crônicas que falam sobre o simples da vida. Exemplo? Um trecho de uma das belas crônicas do inigualável Jornalista Dorian Jorge Freire, a seguir transcrito:

Procurar a Mossoró de ontem, procurei (…), tirei do baú o meu terno de linho irlandês diagonal, branco, passado com muita goma, mandei engraxar por Chico Doidinho os meus sapatos Fox de bicos finos, passei Glostora nos ralos e raros cabelos e subi a 30 de Setembro a procura da Vigário Antônio Joaquim. (…) Digam onde estão os charutos de padre Mota, a gargalhada de Motinha, o riso bom de Manuel Leonardo, o cafeísmo de Negus, os comícios do velho João Leite? Benício Gago, seu reco-reco e seu jumento”?

E continua o mestre Dorian:

A praça Pé Duro, depois Praça do Pax, virou Rodolfo Fernandes e perdeu sua dignidade. Porque perdeu, na avalanche, o Pavilhão Vitória, a voz de Jorge Pinto anunciando deslumbrantes tecnicolors, o bozó do Bar Suez, onde se vendia a cerveja mais gelada do mundo”.

Percebe-se que ele escreve sobre um tempo distante, do dia a dia de uma Mossoró ainda com ares de cidade interiorana. Talvez, poucos leitores tenham vivido esses momentos e conhecidos referidas pessoas.

Ademais, costuma-se dizer que antigamente o tempo passava devagar, quase parando, porquanto as pessoas tocavam a vida sem a correria dos dias atuais. Sentavam-se nas calçadas, na boquinha da noite, para jogar conversa fora e falar da vida alheia; aos domingos, reuniam-se em família para saborear um lauto almoço.

Por isso, veio-me à memória um texto do poeta Mario Quintana: “havia um tempo de cadeiras na calçada. Era um tempo em que havia mais estrelas. Tempo em que as crianças brincavam sob a claraboia da lua. E o cachorro da casa era um grande personagem. E também o relógio da parede. Ele não media o tempo simplesmente: ele meditava o tempo”.

O tempo deve ser um aliado; jamais, inimigo.

Odemirton Filho é colaborador do Blog Carlos Santos

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Julio Rosado diz:

    Odemirton, sua crônica de hoje reaviva a esperança de que se coloque em debate a preservação de nossa memória histórica e, também, afetivo cultural. Falta-me a cumplicidade de ter vivenciado com muitas das personagens que construíram as lembranças tão bem relatadas por sua acurada escrita. Espero que, em breve, a preservação das imagens e eventos que formataram nossa sociedade não sejam dependentes apenas da boa vontade e do espirito altruistico de pessoas como o saudoso Caby da Costa Lima ou dos abnegados que se somam a Lindomarcos que fazem esse resgate por meio de midias sociais (facebook). Temos muitos autores que registraram biografias que se avolumam em prateleiras frias. Acredito que as escolas deveriam introduzir o hábito de estudar seus patronos, os patronos que designam nomes de ruas, de prédios. Por outro lado, a questão imobiliária torna urgente que se faça pelo menos o minimo. É preciso preservar nossa memória arquitetonica. Não tem dinheiro, dizem uns. Pois que os órgãos públicos apresentem projetos. Em Natal há um fotografo que está visitando, por sua própria conta e risco, ruinas de pre´dios no bairro da ribeira e, com uso da tecnologia, projetando a recuperação com preservação de seus traços origianis para uso hipotetico na atualidade com galerias, mall, lanchonetes… Aqui, embora sabendo que mal serei ouvido pelos que nos governam, sugiro um passo inicial, ao menos a municipalidade providencie o registro em fotos e desenhos arquitetonicos, dos diversos predios que mantem vinculo histórico, traço de época ou qualquer coisa que possa ajudar a manter estes laços e sentimentos que nos une como sociedade.

  2. Odemirton Filho diz:

    Júlio Rosado, realmente é preciso resgatar a nossa história, por isso, gosto dessas reminiscências. Não para se viver remoendo o passado, mas para compreender as nossas origens. No entanto, observamos pouco movimento nesse sentido. Uma pena.

    Obrigado pelo comentário. Um forte abraço.

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