Por Marcelo Alves
Você, caro leitor, prefere as pequenas ou as grandes livrarias? Ou, reformulando a pergunta, você gosta das livrarias que fazem parte das grandes redes, das suas “megastores” espalhadas pelo país afora?
É evidente que as pequenas livrarias, sobretudo em se tratando do que posso chamar de “livrarias de charme” (carinhosamente organizadas, cuidadosamente decoradas), têm um apelo próprio para cada um de nós. Nos dão menos do mesmo. E nos sentimos individualmente acolhidos entre aquelas poucas estantes.
Todavia, caro leitor, sou também um fã das grandes redes de livrarias. As Barnes & Noble, Books-A-Million, Borders, Waterstones e FENACs da vida, onipresentes em países como os EUA, o Reino Unido e a França, hoje ou outrora, já que alguns desses comércios/redes fecharam as portas em razão das evoluções/crises pelas quais passam os “mercados livrescos”. Ou as nossas Siciliano, Laselva, Saraiva, Leitura, Cultura etc., algumas já idas, outras ainda insistindo na labuta.
Não posso dizer com 100% de segurança se a origem do comércio de livros em grandes redes está nos EUA, mas posso registrar a minha impressão de que esse país é a “meca” desse negócio. A Barnes & Noble é a epítome disso tudo. Para além do seu comércio online, é a maior rede varejista de livrarias nos EUA, chegando a ter mais de seiscentas lojas espalhadas pelos estados da Federação. Vende, além de livros os mais variados, revistas, jornais, e-books, jogos eletrônicos, utensílios de leitura (entre eles, o NOOK, seu “e-reader”) e mil e uma outras coisas do gênero. A loja da Barnes & Noble da 5ª Avenida de Nova York é simplesmente maravilhosa.
Já a Books-A-Million é a segunda maior rede varejista de livrarias dos EUA. É fortíssima no sudeste americano, Florida e “arriba” (sua sede está no Alabama), o que é bom para os brasileiros, que normalmente têm como ponto de chegada, nos EUA, cidades como Miami e Orlando. Vende pela Internet também, claro. Eu mesmo recebo seus anúncios todos os dias, após haver visitado e me cadastrado numa de suas lojas físicas do sul dos EUA.
E já que as coisas dos EUA e do Reino Unido normalmente se misturam, a começar pela língua inglesa, devo informar que, morando em Londres para o PhD, muito frequentei duas enormes lojas da rede Waterstones. A sua “flagship store” em Piccadilly Street, que se diz a maior livraria da Europa, com oito andares de estantes e livros, um café, um bar e ainda disponibilizando, gratuitamente, banheiros e sofás para os leitores/turistas necessitados. E a enorme Waterstones da Gower Street em Bloomsbury (entre a Senate House da University of London e a sede do University College London – UCL). Essa loja, servindo a professores e estudantes da Universidade, vende de tudo: livros novos e de segunda mão (bastante em conta), revistas, periódicos e por aí vai. Ali você gastará, satisfeito, algumas ou muitas libras.
Sinceramente, embora padronizadas, eu acho as lojas das grandes redes bem acolhedoras. De logo, se você é turista, elas disponibilizam banheiros gratuitamente. E todo turista, literário ou não, sabe que isso dá um alívio danado. De praxe, elas têm um café/restaurante. As Barnes & Noble trabalham em parceria com a Starbucks, que acho, sem dar bola para os puristas, “mais do que bom”.
Em regra, estão abertas todos dias, até às 20 ou 21 horas, fechando assim mais tarde que o comércio à volta. Mais: como cultura para prender o potencial cliente, poltronas e cadeiras são espalhadas pela loja, e você pode, sem que ninguém incomode, ler à vontade, não importa o quê. Se você vai comprar algo, embora acabe sempre comprando, isso é outra história.
Dito isso, agora falo, um tanto nostálgico, das redes de livrarias brasileiras. Em Natal, frequentava muito a livraria Saraiva do Midway Mall. O seu café, em especial. Sempre achava uma boa fofoca por lá. Ainda frequento, é vero. Mas o acervo da loja está meio decadente. Crise no mercado e na própria empresa, acredito. Todavia, o que mais me dói hoje é a ausência das lojas da Cultura no Recife. Um vazio para mim, pois, ao menos duas vezes na semana, após o trabalho, nelas eu ia para, deliciosamente, xeretar livros, coisas e gente.
Na loja do Paço Alfandega (já substituída pela megastore da Livraria da Jaqueira) e, sobretudo, na loja do RioMar, mais conveniente para mim. A Cultura fechou suas portas no Recife me tirando muito mais do que um café ou uma confortável poltrona. Roubou-me um hábito, quiçá um vício. E aos meus vícios, sejam bons ou maus, sempre me apego, aqui e alhures, com uma mega resiliência.
Marcelo Alves Dias de Souza é procurador regional da República e doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
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