domingo - 22/06/2008 - 08:08h

Milton Marques disseca a degradação política de Mossoró e RN

Por favor, dê-me um pouco do seu precioso tempo. Leia abaixo uma aula de sociologia política potiguar. Lavra do médico, professor e advogado Milton Marques, reitor da nossa valorosa Universidade do Estado do RN (UERN).

Sim, ia esquecendo: esse multifário também é empresário vitorioso e jornalista. Ainda bem que não enveredou profissionalmente pelo gênero da reportagem política. Atropelaria-me como uma "Divisão Panzer", tamanha sua lucidez e capacidade analítica.

Aprecie sem moderação a coluna que ele assina hoje na querida "Gazeta do Oeste". Milton disseca a mutação moral, de foco e no modus operandi da elite política de Mossoró e RN em quase setenta anos:

Partidos e políticos – Nos anos de 40/50, as pessoas que constituíam famílias, em termos políticos, agrupavam-se em torno de um partido. Aquelas que votassem no PDS ou na UDN mantinham-se fiéis ao partido por eleições e eleições seguidas. O grupo familiar de um partido jamais mudaria para outra agremiação, a não ser por razões bem justificadas. A fidelidade política tinha o peso da fidelidade moral. Os avós passavam para os filhos suas preferências partidárias, que eram retransmitidas aos netos, estes aos bisnetos e assim sucessivamente.

Distintivos e cores – Entre os anos 60 e 80 houve uma mudança na lógica geral. Surgiram as campanhas partidárias radicais identificadas por bandeiras e cores orientadas por comissões, movidas por músicas, slogans e marketing. Em cada residência, bem no topo, tremulava um corte de tecido de cor vermelha, verde ou azul exaltando a preferência do cada candidato. O fato é que o novo estilo não ficou restrito ao lado de fora das residências, ele penetrou no interior do lar, invadiu o âmago de cada membro da família, passou a conviver com o íntimo das pessoas e conseqüentemente estraçalhou a anterior tradição. Os partidos passaram a ser os candidatos. Casais, filhos, irmãos, residindo em um mesmo teto, começaram a manifestar vontades diferentes e a votar independentemente uns dos outros, o que não era observado antes.

Respeito ao nome – O hábito de votar em parentes continuou por algum tempo. Aqueles que tivessem o mesmo sobrenome, quando alguém da família fosse candidato, votariam nele sem questionar. Esse procedimento também não conseguiu resistir muito tempo. A fidelidade familiar, ou seja, aquela contando com o apoio de todos os parentes, em torno de um candidato da família, já não existe tanto. O pior é que o percurso da história tem mostrado que foram os próprios líderes que aboliram o sentimento e o estilo em detrimento do benefício e interesse pessoal. Passaram a ser, com seus péssimos exemplos, os próprios protagonistas desse processo. Em Mossoró, por exemplo, Dix-huit se separou de Vingt, sabe-se por impulso de Mário Rosado, mas interpretado como inteligência de Dix-huit. A princípio um erro. Como não teve como alterar, terminou dando certo. Hoje a família se divide quando precisa e se une quando necessário. O povo fica à margem do processo, não se aprofunda, não quer entender, alguns mais arejados olham onde podem se beneficiar individualmente e enquanto isso a carruagem passa enquanto os cães ladram ao lado da estrada.

Última versão – A versão mais atual é de que a candidatura Larissa é um projeto Sandra\Carlos Augusto. Tudo legal, nada a impugnar. Pode até ser apenas uma estratégia do Carlos visando colocar uma leve cunha no crescimento de Fafá ou no bom desempenho político da família Dix-neuf\Leonardo, pois quanto a isso, nem Sandra, nem Carlos nunca quiseram um terceiro de sangue nesse processo de domínio na cidade de Mossoró. Preferem ficar apenas os dois, pois Carlos já sabe onde reside a fragilidade política de Sandra e Sandra já conhece as limitações do Carlos. O PR justifica que entende do processo e não irá entrar no baile. Argumenta que gato escaldado tem medo de água fria. A história vem revelando que desde o tempo de Diran Amaral, com seu filho Frederico, chegando a investir pesado na instalação da FM Resistência, hoje 93, pensando no futuro projeto político do filho, mesmo sem ameaçar a cadeira de deputação federal que Vingt, Laíre, Sandra mantêm há mais de 50 anos, se contentaria em apenas manter a cadeira de deputado estadual, mesmo assim teve por pressão que assistir ao início da derrocada do seu filho na política, inclusive a tomada da emissora, um dos motivos profundo do seu desgosto e fim.

Projeto-mor – Bom, o importante é que tudo vai dando certo, tudo está absolutamente legal, faz parte do jogo político e irá dar sempre certo. O povo, digo a grande massa, não entende profundamente do processo, mas assiste o modelo e vai na onda da maré. Sinais dos tempos, quem diria, até o antigo PT que parecia bom em política está cedendo aos ruídos agradáveis do rasgar sedas. Atualmente, vença quem vencer o projeto-mor não será alterado. O PR da Mossoró, já sabendo que não terá vez para eleger, na próxima rodada, em coligação, um deputado estadual, pois seu lugar já está ocupado, prefere se sacrificar logo na presente campanha a prefeito. Sabe o partido que a parada é dura, mas vale a pena, pois em política nada é dado e sim, tomado.

Filhos e filhas sempre vocacionados – Aluízio Alves, quando cassado, por uma situação emergencial, de repente, teve que lançar Henrique seu filho como deputado federal. Acidental ou não, a verdade é que fez escola. Logo a seguir Dinarte Mariz introduziu o filho Wanderley, Djalma Marinho o filho Márcio, Dix-huit o Mário. Geraldo Melo elegeu a esposa, Laíre e Sandra elegeram Larissa, agora querem também Lairinho. Agnelo, o filho Carlos Eduardo. Wilma Faria a filha Márcia. Agripino Maia exercitou sua esposa na campanha passada, não deu certo, colocou Felipe, foi eleito, ficará para sempre. Rosalba indica Ruth, sua irmã; Robson Faria, presidente da Assembléia, elege o filho deputado federal. Garibaldi elege o filho deputado estadual. Genética, coincidência? Não, está havendo é falta de vergonha. O indivíduo confundir o voto dado a ele e querer a todo custo que façam o mesmo com seu filho, muito capaz, com vocação para política, muito amado.

Salários e democracia – Talvez esteja chegando o tempo de se perguntar se essa prática não é prejudicial à democracia. No Executivo já começa a haver uma certa disciplina no repasse de representação entre esposos, filhos, familiares diretos. O Legislativo está à vontade. Para um candidato comum é muito desigual competir com um filho de um senador, de um deputado federal, de um prefeito. É uma verdadeira covardia. O filho, muitas vezes, nem precisa aparecer, pois já conta com bastante recurso econômico, orientação de marketing, rede de comunicação, a bem aventurança. País complicado esse em que habitamos, pois quanto mais melhora o salário dos deputados, mais os próprios deputados querem colocar seus filhos, e o salário dos deputados e senadores são estipulados por eles próprios. Imagine quanto essa pipa ainda irá subir. Pobre país.

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Comentários

  1. Ivana Linhares diz:

    Bravo Milton Marques!!!

  2. antonio capistrano diz:

    Comentando a coluna de Milton

    É isso! Concordo com o meu estimado amigo, magnífico reitor Milton Marques. Agora o que me preocupa é o deixa pra lá daqueles que podem mudar essa história. Pessoas que não precisam de governo, que têm autonomia, liberdade econômica para se posicionar, ficam presas às artimanhas dos donos do poder. Às vezes tentar enfrentar um dos lados do rosadismo desanima, eles controlam os que poderiam mudar a história política/administrativa do nosso Município. Outro problema. Parte importante da mídia faz o jogo de interesse familiar. O nosso espaço é limitado, só existe desde que não ameace os interesses desses grupos. Parte dos que militam na imprensa estão a serviço deles, vivem das sinecuras do poder. Quando procuramos as pessoas que imaginamos serem independentes, elas estão amarradas até o pescoço com uma das alas do rosadismo. Fica difícil romper as barreiras impostas pela oligarquia local, que estão sempre sintonizadas com os interesses da elite dominante do Estado. Lutei pela candidatura de Milton, achava e acho que ele seria um grande nome para prefeito, citei outros nomes com potencial e condições de governar Mossoró. Há muitos outros nomes, mas o poder de mando do grupo amedronta ou afasta quase todo mundo que discorda do status quo do poder político municipal, com isso evitando que tomem uma posição de mudança desse cenário de poder na urbe amada. É difícil encontrar gente como você, Carlos Santos e Nilo Santos, que tem posições claras e corajosas e faz jornalismo com ética, primando pela informação verdadeira, papel que deve ser sempre o do profissional do jornalismo. Grande parte das pessoas que discordam disso tudo termina se dobrando aos caprichos e aos interesses de um dos lados dos rosados. Se não houver mudanças na maneira de agir da nossa classe empresarial, acadêmica e dos profissionais liberais vamos para mais cinqüenta anos de poder desse grupo.

  3. Michael Charles diz:

    O magnífico reitor nos mostra mais uma vez que o título “magnífico” não deve-se somente à sua titularidade na UERN.
    Perspicaz, coerente e objetivo, Milton Marques foi brilhante, perfeito!
    Até quando Mossoró deixará de ser um império para ser verdadeiramente “um país”?

  4. Max Agenor diz:

    Nossa!!! Quanta lucidez, experiência e articulação de idéias em um único texto!!! Mas, o que um homem com tantos talentos e sucessos faz fora da política. Pelo que conheço de Mossoró, nenhum Marques ou Medeiros já o governou ou desmandou! Por que este homem não ergue, juntamente com outros intelectuais, empresários, representantes do povo, uma bandeira em prol de Mossoró? Por que ficam assistindo a nossa desgraça sob a gerência deste bando de larápios?

  5. denilson duarte diz:

    ah massa E refem e marionetes destes grupinhos d persona ROSADAS qeu se acham donos das pecas do jogo (rosados x rosados)politicos nesta barca da fantasia que passa ano entra ano e eles continuam nos palcos d urbe amada nos picadeiros d periferia que nau tem acesso a informacoes tao sabias e valiozas para a consttrucao d uma mossoro melhor e menos rosado.deixo MINHA INDIGNACAO E REPUDIO ainda bem que ainda existem pessoas que nau se dobram as esses merdas que um dia vao passar eles mesmo sabem mais ficara filhinho,sobrinho,netinho,cunhadinho, assim nau se faz um filme novo nunca na politica d mossoro so da (rosa-ado)-mossoro.parabens homens que nau se vendem e nem negam o direito d falar o qeu muitos nau conseguem ver e poucos que tem a coragem d falar.abraco

  6. Everton Carlos da Costa Cardoso diz:

    Carlos Santos, muito bom o comentário de Dr. Milton Marques. Todo ele. Mas eu destaco essa parte, em que ele diz: “O povo, digo a grande massa, não entende profundamente do processo, mas assiste o modelo e vai na onda da maré”.

  7. Carlos Magno diz:

    Para ler um texto sério e formidável igual a este eu tenho todo o tempo do mundo. Excelente!

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