Por Honório de Medeiros
Cedo da manhã, umas cinco e pouco, afastei a cortina e sondei o céu. Neblina miúda. Lá para cima do mapa, chamam garoa.
Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso. Fiz um café forte, tomei uma talagada boa, troquei de roupa e tomei rumo, sorvendo aquela névoa que molhava tudo.
A passarinhada voava rasante, cantando forte, lambendo o espelho d’água da Lagoa dos Flamboyants, chamando a atenção dos biguás que implicavam com as garças. Bicho do canto sinistro!
Caminhei até a embocadura onde fica a pedra da mesa e, mais longe, uma soberba aroeira. Olhei para um lado, olhei para o outro, rezei um Padre Nosso, e resolvi subir mais um pouco.
Podia ter lama, escorregão, cobra, aranha… Queria subir umas pedras majestosas no fundo do terreno, na aba da trilha para a Serra. Cheguei.
Barulho de asas sustentando voo.
Uma coruja, linda, pousou mais além e ficou olhando desconfiada. Descobri sua toca, entre as pedras.
Cumprimentei-a, respeitoso, e peguei a volta.
“Ninguém se perde no caminho da volta”, disse Zé Américo.
Será?
Cerro Corá, 4 de abril de 2024.
Honório de Medeiros é ex-secretário da Prefeitura de Natal, do Governo do RN, professor e escritor
Como é bom ler os textos de Honório de Medeiros; coisa fina, leve, breve. E eu ainda aprendo, aluno que sou.
Um abraço, meu dileto.
Outro, meu amigo Odemirton, com meus agradecimentos por sua gentileza!