Por Inácio Augusto de Almeida
Quando a noite chegava, eu, nos meus quatro anos, me enchia de medo dos monstros que se aproveitavam da escuridão para pegar as crianças. E, buscando proteção, aprendi a rezar para Papai do Céu.
Rezando me sentia livre de qualquer perigo.
Adormecia e sonhava, quase sempre, cercado de muitos brinquedos. Tudo se resumia a ter medo e a rezar.
Já na juventude, 13 anos ou pouco mais, deixei de sonhar com brinquedos e a ter medo dos monstros. Tinha lido OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES e me convenci que os monstros eram de jogar confete e de fritar bolinhos.
Hércules a todos tinha vencido.
Sem o medo a reza foi esquecida e nos sonhos não mais brinquedos, mas as mulheres que apareciam nas fotos e desenhos das revistas que, no escondidinho, olhava no colégio.
Dos monstros não mais lembrava.
Acreditando de tudo saber, tinha concluído que os monstros não passavam de invencionices dos meus pais para me fazer rezar.
A fase de adolescência passou. Passou como tudo passa numa vida que é uma sucessão de ilusões
Trabalhar era preciso.
O sonho de casar com a namoradinha crescia e sabia que, para casar, era preciso ter casa.
Desconhecia o golpe do genrinho bonzinho e sem sorte…
No trabalho não voltei a rezar. E os monstros da infância se perderam no tempo.
Só na maturidade comecei a perceber o erro cometido de deixar de rezar para afastar os monstros que me cercavam na subida do pau de sebo. Sem vocação para fera, de forma despercebida, virei cristão em tarde de Coliseu lotado.
Quanta inocência, quantos erros cometidos por conta de uma ingenuidade exagerada.
Hoje identifico os monstros, não pela aparência, mas pelos atos.
O ladrão que furta a merenda escolar e sonega o uniforme escolar das criancinhas.
O bandido que desvia o dinheiro da saúde e nega vacina aos acamados e mais pobres.
O lunfa que embolsa o dinheiro do saneamento.
Monstros que existem e nem mesmo Hércules consegue vencê-los.
Monstros que tomam parte dos salários dos servidores e fazem licitações absurdas.
Monstros que geram miséria e atraso por conta de uma ambição desmedida e da certeza de uma impunidade assegurada por leis frouxas.
Não rezem pedindo proteção contra estes monstros.
LUTEM!
Os monstros existem. As estórias contadas por nossos pais eram alertas para os perigos desta vida.
Nossos pais nunca mentiram.
OS MONSTROS EXISTEM.
Inácio Augusto de Almeida é jornalista e escritor
*Esta crônica eu dedico, como forma de agradecimento, aos defensores públicos que me prestaram apoio no mutirão de negociação de contratos acontecido na CDL.
Apesar de constatarem erros no contrato, e da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL não aceitar realizar nenhuma correção, os defensores públicos me orientaram a procurar a Defensoria Pública Federal.
Pelo apoio e pela orientação o meu muito obrigado a esses defensores públicos.
Obrigado, Carlos Santos, pela publicação da crônica e do agradecimentos aos defensores públicos.
Oh Inácio! Minha fraca memória me fez não menciona-lo, “perdoe esse pobre coitado, que de joelhos rezou um bocado”.
Realmente os monstro existem e são aloprados!
Doi mais ainda, pois tem quem os defendam!
Um abraçaço.