Por Marcos Ferreira
Bom dia, senhoras e senhores. O sol ainda custará a nascer, considerando o momento em que escrevo estas linhas, porém lhes desejo bom dia assim mesmo. Porque é madrugada do sábado para o domingo e despertei com a ideia desta crônica na cabeça. Examino o relógio no canto inferior direito da tela do notebook e obtenho esta informação precisa: duas horas e treze minutos. Se não me faltar engenho, o que não é difícil, falarei certas coisas sobre o algarismo 13.
Nos acréscimos do segundo tempo, portanto, procuro escrever esta crônica retardatária e prolixa. Careço enviá-la o mais rápido possível para o guapo jornalista Carlos Santos, comandante em chefe do Canal BCS. Dessa forma, sustentando a peteca e a periodicidade, não sofrerei redução no pró-labore que meu editor me paga mensalmente. Soldo este que recebo há mais de um ano.
A grana não é lá grande coisa, contudo o espaço é honroso. Não conheço na imprensa local um veículo que reúna (dominicalmente) tantos escrevinhadores. Segundo o cronista Inácio Augusto de Almeida, os também cronistas Odemirton Filho e François Silvestre, mais antigos na casa, ganham um pouco melhor que eu e Inácio e contam até com plano funerário. Trata-se de um adicional de periculosidade que, a depender dos assuntos abordados, considero necessário.
Brincadeiras à parte, em se tratando dos cronistas mencionados, penso que escrever (exceto no caso de autores sem opinião, neutros e que jamais discordam de nada nem de ninguém) é um ofício perigoso. Sim. Escrever é uma atividade de alto risco, um longo passeio na corda banda sem cabos de segurança ou rede de proteção; um trabalho cuja única certeza que temos é o tombo.
O Canal BCS, portanto, reúne aos domingos a nata (perante a qual me sinto uma espécie de coalho) da intelectualidade mossoroense, exibindo articulistas de outros locais do estado e alhures. Não bastasse, e é preciso que se diga, os leitores que seguem o Blog Carlos Santos são de ótimo nível, uma plateia fidedigna e interessada no Canal desde as primeiras horas do domingo, especialmente porque nosso editor costuma disponibilizar algumas colaborações já na madrugada.
A exemplo dos demais, então, eu me encontro motivado e honrado em fazer parte desse elenco de beletristas e preciosos leitores, muito embora a tarefa, a aventura e os perigos de escrever com periodicidade rígida — ainda que semanalmente — representem uma travessia nem sempre bem-sucedida. Isto porque existem as pedras, os empecilhos e outros desafios ao longo do caminho.
Hoje, todavia, não me proponho a discorrer acerca dos apuros, dores e delícias do exercício literário. Não. Creio que já carreguei demais nas tintas sobre tal assunto, e os leitores devem estar de saco cheio do meu cabotinismo, circunlóquio ou tapeação. Se houver tempo e o sono não me jogar na lona, seguirei queimando pestanas com o propósito de expor algumas peculiaridades relativas ao número 13, que pode ser apresentado aqui na forma cardinal ou por extenso.
Escolhi tal assunto porque minutos antes sonhei que ganhava um bom dinheirinho no jogo do bicho apostando vinte reais no galo, cujo número é o 13. Tal coisa aconteceu de verdade há muito tempo, quando eu tinha apenas treze anos. Joguei uns tostões no galo e ganhei. Foi a primeira e única vez. Daí surgiu a minha simpatia pelo 13, que está sempre presente nas minhas apostas lotéricas.
Quem sabe, por capricho ou tolo preciosismo deste escrevinhador, que tem o mórbido hábito de metrificar até parágrafos, eu lhes submeta alguns pormenores e curiosidades envolvendo o número 13. Antecipo, no entanto, que nada será particular ou exclusivo meu. De modo algum. Todas as informações que pretendo lhes submeter são facilmente encontráveis, por exemplo, no infindável almanaque do Google e na vastíssima enciclopédia audiovisual do YouTube.
Há muita superstição e até folclore em torno do 13, como a pecha atribuída às sextas-feiras que possuem esse número, associadas a desgraças e má sorte. Não bastasse o lastro histórico ou imaginoso, o cinema americano consagrou a sexta-feira 13 como tenebrosa com a personagem Jason Voorhees, assassino serial com fortes traços sobrenaturais que atacava nessa data específica.
Conta a lenda que a superstição à volta do 13 teve origem na mitologia nórdica. Odin, rei da Escandinávia, a fim de celebrar os rituais religiosos e predizer o futuro, convidou doze deuses para um banquete no Valhalla. Aí o invejoso Loki, deus do fogo, despeitado com a beleza de Balder, deus do Sol e filho de Odin, fez com que Hodur, o deus cego, assassinasse Balder. Isto gerou a crendice de que reunir treze pessoas num jantar é receita infalível para o infortúnio.
— Água de sal! — dirá Orlando Cocotinha.
História semelhante, segundo as Escrituras, está relacionada à ceia que Cristo realizou com os doze apóstolos, entre os quais estava o dedo-duro Judas Iscariotes, que, de acordo com os evangelhos canônicos, traiu o unigênito do Altíssimo por trinta moedas de prata. Após a crucificação do Nazareno, entretanto, não suportando o peso da sua consciência de chumbo, Judas se enforcou.
O 13, que uns repudiam e outros apreciam, é emblemático, repleto de conotações e significâncias. No Apocalipse, o 13 informa sobre o Anticristo e o número da Besta. Em nível planetário, os literatos são homenageados aos 13 de outubro, data reverenciada como o Dia Mundial do Escritor. Existe até uma palavra por demais escalafobética para denominar aqueles que têm medo do 13: triscaidecafóbicos. Para fugir do azar, alguns edifícios não possuem o 13º andar.
Há notícias desse tipo em obras como o Dicionário de Símbolos, de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant; Dicionário do Folclore Brasileiro, de Câmara Cascudo, e I Ching: O Livro das Mutações, de Richard Wilhelm. Nove anos atrás, videntes previam que o mundo acabaria em 2013. Não acabou. Aqui estamos vivinhos, apesar da pandemia e do Grande Percevejo da Casa de Vidro.
Digo que o numeral 13, com perdão do meu entusiasmo, é o pop star entre os algarismos. Mais célebre até mesmo que o 666, suposto número da Besta. O mito da sexta-feira 13 é pura história da carochinha, diálogo flácido para acalentar bovinos, ou seja, conversa mole para boi dormir. Mas ninguém pode mudar a cabeça de certas pessoas supersticiosas, muito menos no tocante às sextas-feiras 13, vistas pelo imaginário popular como símbolo de azar e mau auspício.
Outra vez eu consulto o relógio e deparo com esta coincidência: quatro horas e treze minutos. Momento de usar o ponto final e enviar estas páginas ao Carlos Santos. Seria bom que o “rapaz velho e encruado” programasse esta crônica, por exemplo, para o horário das cinco e treze. Quem sabe o 13 venha a ser o número da sorte deste país. Vejam também que escrevi 1113 palavras.
Marcos Ferreira é escritor
Hoje acordei mais cedo. Coisas da idade, talvez. Como de costume faço a minha oração e leio este Blog. Deparei-me como a crônica dominical do nosso artesão da palavra, Marcos Ferreira. Para variar, brinda-nos com um belo texto.
Pois é, Marcos, nesses tempos de greves aqui e ali, estou pensando em iniciar uma. Apesar de ter plano funerário, o nosso editor ainda não concedeu o reajuste anual nos nossos vencimentos. Vou aguardar só mais uns dias. Vamos nos reunir e deliberar sobre o assunto lá no Restaurante Prato de Ouro, sob o olhar atento de Rocha Neto. Claro, deixaremos a conta para o editor pagar.
Abraços, meu querido. E, mais uma vez, parabéns pela crônica. Uma excelente semana.
Homem, faça esta reunião no Barriga Cheia.
Quanto a plano funerário não me preocupo. Até porque desconheço vaidade maior do que se preocupar com o próprio enterro.
O medo da morte não me apavora. O que me assusta é ver tantos corruptos, alguns com penas anuladas, outros nem isso, candidatos a cargos eletivos e tudo dentro da lei.
Seguir vivendo para quê? Para assistir ao triunfo dos maus?
Viver por viver é viver?
Viver e não conseguir apoio do Liions, Rotary, Maçonaria, Igreja, OAB, CDL ou sei lá de quem para fazer o adesivo EU NÃO VOTO EM CORRIPTO, causa-me profundo desânimo e me leva a pensar que dinheiro público existe para ser furtado.
Parabéns ao MF pela cŕõnica e ao Odemirton pelo comentário.
A todos um bom domingo.
////=
A CÂMARA MUNICIPAL DE MOSSORÓ COMPROU NUMA LICITAÇÃO, 16/12/2020, MAIS DE 143 MIL REAIS DE COENTRO, PIMENTÃO,ALHO ETC.
NUNCA SE SOUBE QUEM RECEBEU ESTE COENTRO E SOMENTE EU INSISTO EM DESVENDAR ESTE MISTÉRIO.
Bom dia…
Admiro todas as crônicas, aja vista que sempre discorrem sobre um assunto que nos leva a muitos outros e uma boa reflexão. Essa sobre o numeral 13 não poderia ser diferente. Só discordo do seu fechamento, quando o autor diz: “Quem sabe o 13 venha a ser o número da sorte deste país”. Pois se já deu “azar” uma vez, o melhor é nem tentar novamente. Como costuma dizer o grande jornalista François Silvestre, “Tá Dito”!
21 DIAS ESPERANDO UMA CONSULTA OFTALMOLÓGICA.
A REQUISIÇÃO ESTÁ NA UBS SINHARIAZINHA BORGES.
O DINHEIRO DO SUS NÃO SEI ONDE ESTÁ.
ESTA É A ADMINISTRAÇÃO DO PREFEITO ALYSSON BEZERRA.
A CIDADE É MOSSORÓ-RN.
TENHO 76 ANOS DE IDADE E IMAGINAVA NO BRASIL EXISTIR ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AOS IDOSOS.
CADÊ A ABIN?
Olá, Marcos!
Até tenho algumas superstições, mas nada com o “13”… Parabéns! Ótima crônica!
Abraços
e mimos para a Pituchinha!
Não seríamos humanos se, por acaso, não tivéssemos superstições. o invisível, o irreal, faz parte do nosso cotidiano. Sonhar, por exemplo, para jogar – e na certeza de que ganharemos no bicho – é inerente aos que acreditam na sorte sem que haja um lastro para isso. A minha filha nasceu no dia 13 de agosto. E isso não lhe trouxe nenhum mal. A minha esposa, tudo dela tem que conter, trazer, ou estar inserido o número 13. E assim é a vida. O bom é que serve, inclusive, para um belo texto.
E veja lá, amigo Ferreira!
Hoje deu 13, galo Mineiro na cabeça.
Galo 8×7 Flamengo.
Incrível essa crônica cronometrada envolvendo o número 13 .Penso em muita paciencia e devoção pela palavra escrita. E, vejo acima de tudo a disciplina na brincadeira que eboluiu fé modo lúdico e interessante. Gostei!!!!
Mais um dia bem iniciado com a leitura desse belo texto. Obrigado meu amigo.
Só sei que em outubro, para dá muita sorte ao Brasil, mais uma vez eu apertarei na urna eletrônica, o número 13. Boa sorte amigo Marcos Ferreira!