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domingo - 22/09/2024 - 09:06h

O Atheneu do Rio Grande do Norte

Por Ivan Maciel de Andrade

Colégio Atheneu no prédio em que funciona até hoje foi inaugurado em 1954 (Foto: Jaecy/Fatos e Fotos de Natal Antiga)

Colégio Atheneu no prédio em que funciona até hoje foi inaugurado em 1954 (Foto: Jaecy/Fatos e Fotos de Natal Antiga)

Houve uma época em que o velho Atheneu Norte-rio-grandense tinha um quadro de professores formado por vários de nossos melhores intelectuais. Mas os professores do Atheneu não eram apenas intelectuais, embora esse referencial já fosse inesperada e surpreendentemente valioso para um colégio público de ensino médio. Eram professores acima de tudo brilhantes e cultos. Com projeção limitada à província mas com talento e conhecimentos que mereciam ser reconhecidos e valorizados numa exigente perspectiva nacional.

Cito nomes que me chegam de imediato à memória: Antônio Pinto de Medeiros, Esmeraldo Siqueira, João Medeiros Filho, Alvamar Furtado e Floriano Cavalcanti.

Lembro-me de Antônio Pinto em meio a grupos reunidos no Grande Ponto que o ouviam com silenciosa admiração. Um silêncio que era entrecortado por frequentes e boas risadas. Porque Antônio Pinto era um “causeur” irreverente e espirituoso. Características que ele transpunha para a coluna de crítica literária semanal que mantinha em um de nossos jornais. Seu carisma lhe garantia uma posição de liderança intelectual no Estado. Que somente cessou com a sua mudança para o Rio de Janeiro.

Fui aluno de Esmeraldo Siqueira. Suas aulas eram vibrantes e com muito sarcasmo: brandia com engenho e arte o afiado gume da crítica literária, social e política. Tinha cultura abrangente e diversificada. E usava a sua poderosa capacidade argumentativa para desmi(s)tificar “verdades” consagradas pela desinformação, intolerância e má-fé dos interesses dominantes. Apesar de manter uma distância asséptica da mediocridade e maledicência provincianas, não vivia isolado num claustro livresco. Posicionava-se com ardor e veemência diante dos problemas de sua época e de seu meio.

João Medeiros Filho não era propriamente um filólogo, porém dominava o nosso idioma, quer para utilizá-lo com grande força de convencimento, quer para ensinar em classe o seu uso correto. Ou seja, o vernáculo atualizado historicamente pela vivência popular. Qualidades que, associadas a extraordinários conhecimentos jurídicos, o situariam entre os maiores tribunos do Júri de nosso país.

Havia um grande conhecedor da História Universal, mas que era sobretudo um incrível contador de histórias: Alvamar Furtado. Com um raro dom de descobrir o tempero de humor oculto nas circunstâncias mais comuns ou mais insólitas. Capaz de reter com sua exuberante fluência verbal um círculo extasiado de espectadores.

Sua dicção escandida, que se impostava nas horas certas, era um recurso valorizador das saborosas digressões sobre os mais variados assuntos, inclusive o cotidiano das estripulias políticas. Copio o gosto dele por hipérboles: as suas narrativas eram cinematográficas!

Tivemos no país e particularmente em nosso Estado pouquíssimas vocações de estudiosos ou cultores da filosofia. Floriano Cavalcanti foi magistrado, professor do Atheneu e da Faculdade de Direito da UFRN. Tinha o gosto pelo estudo e aprofundamento dos temas filosóficos. Quando discorria em aula sobre filosofia do Direito assumia um tom eloquente, de esfuziante oratória que arrancava calorosos aplausos de alunos e até de professores que iam ouvir as suas belas preleções.

Ivan Maciel de Andrade é professor, advogado, escritor

*Crônica extraída de página do autor no Facebook

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Andreilson de Castro diz:

    Prezado Ivan Maciel.

    Saudar as lembranças de uma importante instituição de ensino, centenária por assim dizer, sem depor contra os abnegados profissionais que, ainda hoje, contribuem para a educação no Atheneu e para o nosso RN. Valorizar e relembrar o passado para compreender que no presente temos grandes intelectuais, pensadores, filósofos, professores, mestres e doutores que continuam o legado de quem os antecederam nesta grande instituição do Estado.

  2. Pedro Jales diz:

    Foi nessa instituição que fiz o ensino médio. Guardo boas recordações… Quando concluí, início dos anos 80, o diretor era meu colega de Casa do Estudante, o saudoso Edivan Segundo, originário de Lajes.

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