O "Caso Bruno" (goleiro do Flamengo-RJ), mesmo com facetas de sensacionalismo de setores da imprensa, muitas ilações e pouca coisa concreta, tem seu lado positivo. É chegada a hora de um debate sério sobre o papel do "ídolo" esportivo.
Fundamental que provoquemos controvérsia necessária sobre paradigmas, heróis, referências, numa sociedade imediatista, consumista e do "celebration".
O ídolo do futebol moderno é apenas aquele fora de série em campo ou precisa também ser uma referência além dos estádios? O crime que envolve Bruno mexe com isso.
O Caso Bruno é instigante, sob vários aspectos. Estudos, reportagens e debates estão muito centrados em aspectos criminais, que desembarcam na tentativa de se conhecer a cabeça do suposto psicopata e não do atleta e homem em si, além de sua relação com o torcedor, a massa.
Nessa questão do papel do ídolo, é lógico que o desportista precisa ser exemplo também fora dos campos. Para um "deus" do futebol, não basta ser mais um jogador excepcional ou quase isso.
Dizer que a vida privada só interessa a ele e que o cobrem em campo, não cabe. Porém é esse o lugar-comum do discurso de todo craque-problema, principalmente no futebol brasileiro, ainda longe do profissionalismo europeu.
O Caso Bruno mostra outra pressão que deverá ser ampliada daqui para frente: o poder econômico. O patrocinador do clube terá presença ainda mais forte na vida de jogadores do clube com sua marca.
Em poucas horas de exposição do goleiro Bruno, como principal envolvido no desaparecimento e eventual morte de Eliza Samúdio, a Olympikus, patrocinadora do Fla, parou de divulgar camisa do jogador e cessou fabricação do produto.
Cortou ainda seu patrocínio individual.
Já o Flamengo, suspendeu contrato e determinou que o advogado do clube – que o defendia -, Michel Assef Filho, saísse da causa. Segundo explicações de Assef, estaria existindo um "conflito de interesses" entre Flamengo e Bruno.
"Desovado"
Na verdade, há uma lógica mais simplista e cruel nesse distanciamento: o atleta, até então "patrimônio" do time mais popular do país, agora não tinha valor algum como tal. E como ser humano, menos ainda. Foi "desovado", assim como ele teria feito ao corpo de Eliza Samúdio.
Ninguém gosta de ser associado ao que é ruim. Em se tratando de capital, mais ainda. Bruno hoje é um problema para Flamengo, patrocinador etc.
Real Madrid, Manchester, maiores clubes do mundo, não contratam apenas um bom jogador. Visam o lucro e imagem vale ouro no balanço anual. Jogador brasileiro que não associou bom futebol a bom comportamento, logo foi descartado na Europa.
Aqui são paparicados e perdoados sempre.
Ìdolos que morriam em bebedeiras, cheiravam todas e que gostavam de noitadas, agora são substituídos por ídolos que matam, barbarizam e podem tudo. Assustador. Péssimos exemplos para crianças e adolescentes, que os encarnam sem separar o ser humano do "herói" mítico, que brilha nos estádios.
Bruno, algoz de Eliza, como o enredo que acompanhamos na mídia tem contado, também é vítima. Ele é reflexo de um sucesso quase instantâneo, precoce e recheado de milhões de reais, que o induziu a acreditar em superpoderes, como um semideus. Seria o senhor da vida e da morte alheias.
E não me venham falar em infância pobre e abandono maternal como explicação à barbárie. Esse quadro social ajuda a entender, mas não justifica o crime heriondo.
"Isso é coisa de gente de favela", ouço um rapaz comentar ao meu lado, depois de acompanhar reportagem sobre o assunto na TV. Ou seja, generaliza e abraça uma tese preconceituosa e cientificamente reprovada, para tentar esclarecer um crime bárbaro.
E assim, pegando atalhos e lavando as mãos, largamos Bruno e outros tantos como ele, à própria sorte. É mais fácil.
Santo Agostinho, um dos mais importantes teóricos do cristianismo, pregava que Deus não produzira o mal. Ele dera o livre-arbítrio ao homem e o mal seria a ausência, no indivíduo, desse lado: Deus-bem.
Mas outros pensadores vêem de forma diferente. Para o inglês Thomas Hobbes, "o homem é o lobo do homem". Em essência, mau. A vida em sociedade, com várias convenções e sanções, nos dariam limites e nos deixariam aparentemente menos ruins.
Jean-Jacques Rousseau, por sua vez, tinha pensamento diametralmente oposto: o homem "era bom por natureza". A vida em sociedade é que fazia aflorar, nele, o mal.
Bruno não é melhor ou pior do que cada um de nós.
De perto, ninguém é perfeito.
REALMENTE, TODOS NÓS TEMOS NOSSO LOBO NO INTERIOR DE NÓS MESMOS, MAS, ISSO NÃO TORNA DE MENOR SIGNIFICAÇÃO O ATO COMETIDO POR ESSE RAPAZ E CIA, QUE APESAR DE MERECER DEFESA , SE REALMENTE COMETEU UM CRIME TÃO HEDIONDO MERECE PAGAR POR ISSO E ELE PRÓPRIO É RESPONSÁVEL PELO QUE LHE ACONTECER, AFINAL, NO MOMENTO EM QUE DECIDIU-SE POR ESSE CAMINHO TEVE LIVRE ARBÍTRIO PARA SEGUIR UM CAMINHO CONTRÁRIO E EU ACHO ATITUDE DO FLAMENGO CORRETA E DEVERIA TAMBÉM TER AGIDO DA MESMA FORMA QUANTO AOS DESVIOS DE CONDUTA DE ADRIANO E VAGNER LOVE, PORQUE NO BRASIL OS ATLETAS SOBRETUDO DO FUTEBOL ACHAM QUE PORQUE SÃO IDOLATRADOS E MILIONÁRIOS, PODEM TUDO! SEMPRE!
Caro Carlos, tenho um filho de sete anos, que a exemplo de mim, é rubro-negro. Tem, o garoto, Bruno como ídolo e, a exemplo do atleta, joga também no gol e tem duas camisas nº 01 do mengão com o nome do jogador atrás. O que me espanta é a atenção e o desapontamento com que ele tem acompanhado o desenrolar dos fatos nos telejornais, quando o assunto é ventilado ele pára o que está fazendo e presta atenção a tudo. Ao chegar em casa além de me pôr a par dos acontecimentos, me pergunta:
_ Painho, por quê Bruno fez isso?
Fica difícil explicar o que ainda está muito nebuloso. De fato, nós pais, devemos acompanhar os filhos, conversar com os mesmos e, fazer vê-los como o mundo e as pessoas estão suscetíveis ao descontrole, aos desatinos e que, com uma base familiar sólida, educação, além de boas companhias se não evita, mas faz pensar duas, três vezes antes de praticar qualquer ato deste tipo.
Um abraço.
Antônio Carlos.