• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
domingo - 11/07/2010 - 11:22h

O bem e o mal no “Caso Bruno” e o papel do ídolo

O "Caso Bruno" (goleiro do Flamengo-RJ), mesmo com facetas de sensacionalismo de setores da imprensa, muitas ilações e pouca coisa concreta, tem seu lado positivo. É chegada a hora de um debate sério sobre o papel do "ídolo" esportivo.

Fundamental que provoquemos controvérsia necessária sobre paradigmas, heróis, referências, numa sociedade imediatista, consumista e do "celebration".

O ídolo do futebol moderno é apenas aquele fora de série em campo ou precisa também ser uma referência além dos estádios? O crime que envolve Bruno mexe com isso.

O Caso Bruno é instigante, sob vários aspectos. Estudos, reportagens e debates estão muito centrados em aspectos criminais, que desembarcam na tentativa de se conhecer a cabeça do suposto psicopata e não do atleta e homem em si, além de sua relação com o torcedor, a massa.

Nessa questão do papel do ídolo, é lógico que o desportista precisa ser exemplo também fora dos campos. Para um "deus" do futebol, não basta ser mais um jogador excepcional ou quase isso.

Dizer que a vida privada só interessa a ele e que o cobrem em campo, não cabe. Porém é esse o lugar-comum do discurso de todo craque-problema, principalmente no futebol brasileiro, ainda longe do profissionalismo europeu.

Caso Bruno mostra outra pressão que deverá ser ampliada daqui para frente: o poder econômico. O patrocinador do clube terá presença ainda mais forte na vida de jogadores do clube com sua marca.

Em poucas horas de exposição do goleiro Bruno, como principal envolvido no desaparecimento e eventual morte de Eliza Samúdio, a Olympikus, patrocinadora do Fla, parou de divulgar camisa do jogador e cessou fabricação do produto.

Cortou ainda seu patrocínio individual.

Já o Flamengo, suspendeu contrato e determinou que o advogado do clube – que o defendia -, Michel Assef Filho, saísse da causa. Segundo explicações de Assef, estaria existindo um "conflito de interesses" entre Flamengo e Bruno.

"Desovado"

Na verdade, há uma lógica mais simplista e cruel nesse distanciamento: o atleta, até então "patrimônio" do time mais popular do país, agora não tinha valor algum como tal. E como ser humano, menos ainda. Foi "desovado", assim como ele teria feito ao corpo de Eliza Samúdio.

Ninguém gosta de ser associado ao que é ruim. Em se tratando de capital, mais ainda. Bruno hoje é um problema para Flamengo, patrocinador etc.

Real Madrid, Manchester, maiores clubes do mundo, não contratam apenas um bom jogador. Visam o lucro e imagem vale ouro no balanço anual. Jogador brasileiro que não associou bom futebol a bom comportamento, logo foi descartado na Europa.

Aqui são paparicados e perdoados sempre.

Ìdolos que morriam em bebedeiras, cheiravam todas e que gostavam de noitadas, agora são substituídos por ídolos que matam, barbarizam e podem tudo. Assustador. Péssimos exemplos para crianças e adolescentes, que os encarnam sem separar o ser humano do "herói" mítico, que brilha nos estádios.

Bruno, algoz de Eliza, como o enredo que acompanhamos na mídia tem contado, também é vítima. Ele é reflexo de um sucesso quase instantâneo, precoce e recheado de milhões de reais, que o induziu a acreditar em superpoderes, como um semideus. Seria o senhor da vida e da morte alheias.

E não me venham falar em infância pobre e abandono maternal como explicação à barbárie. Esse quadro social ajuda a entender, mas não justifica o crime heriondo.

"Isso é coisa de gente de favela", ouço um rapaz comentar ao meu lado, depois de acompanhar reportagem sobre o assunto na TV. Ou seja, generaliza e abraça uma tese preconceituosa e cientificamente reprovada, para tentar esclarecer um crime bárbaro.

E assim, pegando atalhos e lavando as mãos, largamos Bruno e outros tantos como ele, à própria sorte. É mais fácil.

Santo Agostinho, um dos mais importantes teóricos do cristianismo, pregava que Deus não produzira o mal. Ele dera o livre-arbítrio ao homem e o mal seria a ausência, no indivíduo, desse lado: Deus-bem.

Mas outros pensadores vêem de forma diferente. Para o inglês Thomas Hobbes, "o homem é o lobo do homem". Em essência, mau. A vida em sociedade, com várias convenções e sanções, nos dariam limites e nos deixariam aparentemente menos ruins.

Jean-Jacques Rousseau, por sua vez, tinha pensamento diametralmente oposto: o homem "era bom por natureza". A vida em sociedade é que fazia aflorar, nele, o mal.

Bruno não é melhor ou pior do que cada um de nós. 

De perto, ninguém é perfeito.

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Categoria(s): Fred Mercury

Comentários

  1. LIA QUEIROZ diz:

    REALMENTE, TODOS NÓS TEMOS NOSSO LOBO NO INTERIOR DE NÓS MESMOS, MAS, ISSO NÃO TORNA DE MENOR SIGNIFICAÇÃO O ATO COMETIDO POR ESSE RAPAZ E CIA, QUE APESAR DE MERECER DEFESA , SE REALMENTE COMETEU UM CRIME TÃO HEDIONDO MERECE PAGAR POR ISSO E ELE PRÓPRIO É RESPONSÁVEL PELO QUE LHE ACONTECER, AFINAL, NO MOMENTO EM QUE DECIDIU-SE POR ESSE CAMINHO TEVE LIVRE ARBÍTRIO PARA SEGUIR UM CAMINHO CONTRÁRIO E EU ACHO ATITUDE DO FLAMENGO CORRETA E DEVERIA TAMBÉM TER AGIDO DA MESMA FORMA QUANTO AOS DESVIOS DE CONDUTA DE ADRIANO E VAGNER LOVE, PORQUE NO BRASIL OS ATLETAS SOBRETUDO DO FUTEBOL ACHAM QUE PORQUE SÃO IDOLATRADOS E MILIONÁRIOS, PODEM TUDO! SEMPRE!

  2. Toni diz:

    Caro Carlos, tenho um filho de sete anos, que a exemplo de mim, é rubro-negro. Tem, o garoto, Bruno como ídolo e, a exemplo do atleta, joga também no gol e tem duas camisas nº 01 do mengão com o nome do jogador atrás. O que me espanta é a atenção e o desapontamento com que ele tem acompanhado o desenrolar dos fatos nos telejornais, quando o assunto é ventilado ele pára o que está fazendo e presta atenção a tudo. Ao chegar em casa além de me pôr a par dos acontecimentos, me pergunta:
    _ Painho, por quê Bruno fez isso?
    Fica difícil explicar o que ainda está muito nebuloso. De fato, nós pais, devemos acompanhar os filhos, conversar com os mesmos e, fazer vê-los como o mundo e as pessoas estão suscetíveis ao descontrole, aos desatinos e que, com uma base familiar sólida, educação, além de boas companhias se não evita, mas faz pensar duas, três vezes antes de praticar qualquer ato deste tipo.
    Um abraço.

    Antônio Carlos.

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