Por François Silvestre
regimes ditos socialistas a individualidade é rebotalho do “coletivo”, para justificar a falsidade social do regime. E em nome da fantasiosa igualdade todas as brutalidades contra o indivíduo são consumadas. E o coletivo é apenas o ajuntamento de indivíduos atrofiados.
Nos regimes “democráticos” do capitalismo a diferença é de retórica. A prática muda apenas de feição e de feitura. O indivíduo cantado e decantado do liberalismo é tão somente um seguidor do manípulo.
Manípulo é um pequeno feixe da capim, amarrado na ponta de uma vara, que o condutor põe à frente da carroça para enganar o burro condutor. O pobre animal tenta alcançar a ração, que nunca chega ao seu alcance.
O Estado brasileiro é a fisionomia dessa aberração. Qual capitalismo é o nosso? Que nem consegue oferecer as poucas vantagens do capitalismo.
Vejamos: A iniciativa e propriedade privadas são princípios liberais do capitalismo. O indivíduo possui esses dois bens? A iniciativa privada só é bem sucedida no conluio promiscuo com o Estado. Grandes empreiteiras corruptoras aliciando o Estado passivamente corrupto. E vice-versa.
O médio e pequeno empresário é prisioneiro da insegurança, da burocracia e da rapinagem tributária.
Proprietários efetivos só ladrões, assaltantes e trambiqueiros. O posseiro honesto apenas pastora a posse precária do “seu” patrimônio. Sob o risco permanente da bandidagem privada e da roubalheira pública.
O Estado atual é o estuário da legalidade corrompida. A Lei é mãe para os donatários do Estado. E madrasta para o restante, que só é parte do todo nas obrigações. O indivíduo é a barata de Kafka.
Povo só é substantivo concreto na presença repressiva do Estado. No momento dos direitos e garantias individuais o Poder transforma a regra constitucional num rolinho de papel higiênico. Que vai limpar o concreto monossilábico.
O resto do todo, que se reparte em pessoas concretas, vira abstração na privada. Cada um de nós é um substantivo abstrato, ante a concretude repressiva do Estado.
O Estado brasileiro é uma patifaria sócio-institucional. Legalista sem a segurança da legalidade.
A mesma Constituição que “garante” a dignidade da pessoa humana como seu esteio, atribui poderes de falsa ética a quem nega a prescrição fundamental. Fica o dito na parte fundamental descartado pela esperteza do secundariamente estabelecido.
O Anarquismo aponta o dedo acusador contra a bagunça instituída. Contra essa cavilação hipócrita de que os tribunais são condutores das soluções estruturais.
É o Estado resultante da anarquia institucional, triturador do indivíduo. O dito “interesse público” é o disfarce para a opressão individual. Somos burros de carroça, sem saber pra onde nos leva o manípulo. Constituinte Originária já.
Té mais.
François Silvestre é escritor
* Texto originalmente publicado no Novo Jornal.
Dói ler isso…dói. combina com o que ouvi na TV. “Somos um país sem representatividade.”