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domingo - 19/07/2015 - 15:12h

Martins de Vasconcelos sob a ótica de Câmara Cascudo

Por Marcos Pinto

A  cidade  de  Apodi  tem  sido, em  todos  os tempos, um  celeiro  de  intelectuais,em sua maioria  exportados  para  outros  meridianos  da  geografia  brasileira.  Neste  elenco  destacam-se  Francisco  Isódio  de  Souza, Valter  de  Moura  Cantídio, Públio  Lopes  Filho, Maria  Gomes de  Oliveira, primeira  mulher  a  ocupar  o  cargo  de  Reitora  no  Brasil, Newton  Pinto,  Folclorista  José  Martins  de  Vasconcelos,  dentre outros  nomes  de  similares  importâncias  no  contexto  da  intelectualidade  potiguar.

O  historiador  e  maior  expoente  mundial  do  folclore , Câmara Cascudo, em  sua  “Acta Diurna”  de  12  de  Janeiro  de  1948, traçou  o  perfil  biográfico  do  ilustre  Apodiense, em  depoimento  valioso  para  os  anais  da  história  deste rincão  Oeste-potiguar.  Ei-lo:

JOSÉ  MARTINS  DE  VASCONCELOS, homem  do  Apodi. Morador no Mossoró, devia  ser  maior  de  setenta  anos  ao falecer.  Baixo, moreno, lento, a  face  serena era  iluminada por dois  olhos  vivos, perguntadores, inquietos, ardendo, como  lumes  de  aviso  e  de  alerta,  denunciando  vida  interior.

Realizou a  figura  sugestiva  do  autodidata  sertanejo, preso  à  terra,  como  o  caramujo  à  sua  concha, gravitando  ao  redor  de  interesses  pobres, num  raio  melancólico  de  ação.  Mas  esse  movimento, direção  e  força  que  o  animavam  foram  sempre  as  mais  nobres, num  plano  superior  de  pensamento.

Aprendeu  sozinho  a  ser  professor  e  advogado.  Chegou  a  dirigir  o  próprio  Grupo  Escolar de  Mossoró  e  ir   à  tribuna  forense  como  Promotor  Público.  Sabia  músicas,  compunha.  Musicou  uma  revista  teatral  do  Prof.  Eliseu  Viana, denominada de  ‘Mossoró  por  dentro’. Fundou, dirigiu, ajudou  a  viver  a  dez  jornais  mossoroenses.  Publicou  dois livros  de  verso  e  uma  de  prosa.  Neste “Histórias  do  Sertão”  reuniu  material  folclórico, costumes, mitos, tradições  da  Chapada  do  Apodi.

Quando  estudei  o  “Ciclo dos  Monstros”,   retirei  de “Histórias  do  Sertão”  o  documentário  de  um  deles, o raro  e  horrendo  Labatut,  para  a  ‘Geografia dos mitos brasileiros’.

Nunca  deixei  de  procurá-lo  quando  visitava  Mossoró  e  ouvi-lo conversar  na  redação  do  “Nordeste”,  jornal  que  durou  tantos  anos. José  de  Vasconcelos, na  sua  tipografia, parecia  um   pesquisador  num  laboratório.  Imprimia versos  populares, espalhando  pelo  sertão  os  folhetos  registradores  da  vida  provinciana, da  gesta  heroica  dos  cangaceiros,  dos  desafios  tempestuosos,  guardando  a  vida  nossa  literatura  tradicional   e  popularesca.

Vez por outra recebia  eu  uma  boa  remessa  desses  folhetos. Assim  viveu  sempre  entre  livros, aspirando  cheiro  de  tinta  de  imprensa, sonhando  jornais, sociedades  literárias,  reuniões  de  todas  as  alegrais, tão  raras,  do  convívio  intelectual.

Sobre  o  túmulo  humilde  do jornalista  sertanejo  sem  títulos  universitários,  podíamos  escrever  o mesmo  epitáfio  de  Oliveria Lima,  no sentido  de  Mount Olivet:

–  Aqui jaz um amigo dos livros.

Nasceu  na  antiga  Rua da Aurora,  atual  Rua  Antonio  Lopes  Filho, em  Apodi,  a  11  de  Novembro de  1874, filho legítimo  de  Gaudêncio  de  Góis  Vasconcelos (Da  família  NOGUEIRA, do  sítio  “Olho  D’água da  Garrafa” – várzea  do Apodi)  e  de  Antonia  Maria  da  Conceição.

Ainda muito moço foi para Mossoró a fim fé procurar trabalho e estudar. Ali iniciou sua vida, desenvolvendo atividades modestas: foi vendedor de jornais, alfaiate, músico, para depois ingressar no jornalismo, dedicando-se ao mesmo tempo a serviços tipográficos, instalando uma tipografia, “O Nordeste”.

Participou ativamente de todos os movimentos literários e políticos de sua época, fundou jornais, fez teatro, criou bandas de músicas, escreveu e publicou os seguintes livros: “Saltérios de Saudade” (poesias), “Renovos D’Alma” (poesias), Histórias do Sertão (contos), “Goivos” (poesia).

Em 1915, Martins criou o seu primeiro periódico, intitulado “A crise”. Todavia, após fundar “O Nordeste” em 16 de novembro de 1916 é que começou realmente a mostra o valor de sua emocionada e justiceira pena, em defesa do que ele achava justas reivindicações.

Este jornal de circulação bimestral circulou até o ano de 1934.

Faleceu sua residência em Mossoró, na Rua 30 de Setembro, nº 46. no dia 22 de dezembro de 1947, aos 73 anos de idade, onde viveu e desenvolveu suas atividades de jornalistas, poeta, músico, comerciante e intelectual.

Martins Vasconcelos foi sócio do Instituto Histórico e Geográfico do RN (IHGRN) e membro efetivo da Academia Norte-riograndense de Letras (ANL),  e patrono da Academia Apodiense de Letras (AAL), cadeira nº 30.

É o autor do Hino de Apodi.

Casou-se em primeiras núpcias com Francisca Libânia Vasconcelos. Com o falecimento desta, a 25 de setembro de 1903, casou-se com Dona Silvia Freire de Vasconcelos, com os seguintes filhos: Maria Silvia, Francisco, Rubem, Djalma, Selma, Luzia, Eponina e José. José Martins foi um dos únicos autodidata completo, porque aprendeu a ler e tudo mais, sozinho.

É  imprescindível, pois, que  as  escolas  de  Apodi   façam  o  resgate  da  importância  deste  eminente  vulto  Apodiense, considerado  como  o  segundo  maior  folclorista  do  Rio  Grande  do  Norte,  com  intensa  produção  e  densidade  neste  ramo  dos  costumes  e  das  lendas  sertanejas.

Marcos Pinto é escritor e advogado

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. naide maria rosado de souza diz:

    José Martins de Vasconcelos era polivalente. Sim, importante resgatar sua memória.

  2. David Leite diz:

    Ótimo e merecido resgate…
    Parabéns Marcos Pinto!

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