Por Carlos Santos
Ele tomou-me por “Patrão”, no exercício do diálogo que, quase cotidianamente, travamos por e-mail ou dispositivos de redes sociais na Internet. Tem sido assim há anos. Trata-me por superior, para atenuar cobrança que lhe faço, como intermediário da vontade de milhares de webleitores.
Enfim, lança mão de um velho “truque índio”, que deve ter aprendido nos tempos do bangue-bangue na TV em preto e branco, lá pros anos 70, em Mossoró. Tempos, também, da enciclopédia “Tesouro da Juventude”.
— Homem, deixa de moleza! Escreva; faça um artigo ou crônica, se não deixo de lhe pagar aquele “soldo” robusto — chego a pressioná-lo, em nome do Blog Carlos Santos (www.blogcarlossantos.com.br).
Doutrinou-me a cobrá-lo, como se patrão eu realmente o fosse, ou, no mínimo, um editor bravo. Nem uma coisa nem outra. Insisto: manifesto apenas o desiderato daqueles que leem seus escritos.
Na verdade, Francisco Edilson Leite Pinto Júnior, como ele mesmo faz questão de cunhar, sem qualquer abreviatura, fez-me seu amigo a distancia, mesmo que só tivéssemos um único contato pessoal em anos de amizade. Nada mais do que isso.
Relembro bem. Trocávamos contatos pela Internet e por telefone. Ele já adotara minha página na Web como ancoradouro de seu verbo. Marcamos bate-papo, ao vivo e em cores, para um shopping em Natal. Seria prosa rápida. Seria.
Passado um tempo, que não sei precisar, agarrado a um surrado celular, Edilson justificou que precisaria ir embora. Tinha obrigações de médico e professor à sua espera, que, mesmo no corre-corre, não lhe tiravam o apetite pelos livros.
Livros. Falamos sobre eles. Eles, os livros, estão sempre em nossas conversas, isso quando Francisco Edilson Leite Pinto Júnior não me provoca com picardias contra o meu Fluminense. Coisa de flamenguista, que se diga.
Fácil percebermos o fervor com que se envolve em suas paixões: da família à literatura; da docência à medicina. Olhos que brilham ao falar. Entusiasmo permanente, chama que parece o Farol de Alexandria, guiando argonautas muitas vezes perdidos.
Indivíduo humanista, médico humanitário, o autor tem a compaixão na palavra e no gesto. O que parece impossível, como rolar uma rocha montanha acima, tem nele a força apaixonada. Uma força que parece loucura, por ainda acreditar que chegará ao cume. E não chegará só.
Na condição de um escritor “mundialmente desconhecido”, estou sem credencial suficiente para descrever autor e obra. Contudo não tenho a preocupação em fazê-lo, para tentar me perpetuar num cantinho de seu título.
Prefiro manifestar o que sinto. Sou inspirado pelo próprio Sísifo apaixonado. Impulsiona-me aquele fervor que percorre cada linha, cada parágrafo, cada artigo ou crônica deste livro.
“Sim e quantos ouvidos precisará um homem ter até que ele possa ouvir o povo chorar? / Sim e quantas mortes custará até que ele saiba que gente demais já morreu?” — reproduz o autor, lembrando Bob Dylan.
Essa capacidade de se indignar, de se manter vivo na luta, é algo que emociona e estimula a leitura dos textos do autor; incapaz de se acomodar com o vilipêndio, o desleixo, a ingratidão e todas as formas de opressão do homem pelo homem.
Se lhe faltam as palavras, ele recorre aos seus guias. Encontra sempre inspiração em Guimarães Rosa, Nietzsche, Fernando Pessoa, Sócrates, Darcy Ribeiro, Jesus Cristo ou em nosso poeta Paulo de Tarso Correia de Melo:
— Somos todos pastores de palavras. Principalmente e apenas isso. No entanto, com elas criamos o mundo.
Como me faltam mais palavras para retratar o seu mundo, Edilson, ou Francisco Edilson Leite Pinto Júnior, faço da inspiração poética de Paulo o meu jeito de dizer “muito obrigado”.
Seja bem-vindo, Sísifo apaixonado.
Carlos Santos é jornalista, editor do Blog Carlos Santos e escritor mundialmente desconhecido
* Texto que prefacia o livro “Sísifo apaixonado“, da Editora Sarau das Letras, autoria de Francisco Edilson Leite Pinto Júnior. A publicação foi lançada no último dia 26 de Março, em Natal.
Beleza de texto, Carlos. Sucesso para “Sísifo apaixonado”. Pelo prefácio, deve ser ótimo!