Por François Silvestre
No Cândido, François-Marie Arouet, o Voltaire, cria um personagem que resume em si o otimismo ao extremo da capacidade de enfrentar atropelos.
É Pangloss. Para esse personagem singular da literatura universal a desgraça é apenas um degrau que antecede uma ventura a vir. Mesmo que o degrau seguinte seja apenas a escalada de uma escada de desgraças supervenientes.
Nada esmorece em Pangloss o otimismo, que o move e modela. E segue durante toda a vida a colecionar desventuras. Na espera constante de uma ventura inalcançável.
Não se elenque Voltaire no rol dos otimistas. Contrariamente, ele faz a sátira do otimismo.
Da mesma forma como os apressados elencam Maquiavel na relação dos defensores das artimanhas do poder. Assim como Voltaire, sem a malícia refinada do francês, Maquiavel descascou a ferida do poder absoluto, apontando-lhe a ruindade miolar.
Voltaire nutria grande admiração por Leibniz, o precoce erudito de Leipzig, daí que muita gente remodela Pangloss situando-o no mundo teórico de Leibniz.
O Leibniz aqui referido trata do jovem bacharelado em Direito ainda adolescente. Depois, já maduro, Leibniz enveredou pelos labirintos da matemática, popularmente conhecido na formulação do Cálculo Diferencial, numa parceria a distância, de tempo e espaço, com Isaac Newton.
Em Leibniz, o otimismo é uma reflexão de crença. Em Pangloss, é a essência da ingenuidade.
O poder público, no Brasil, aposta na proliferação de Pangloss. Nada mais fácil e cômodo do que governar Panglosses.
Pangloss está para a superação dos atropelos assim como o Conselheiro Acácio, da pena de Eça de Queiroz, está para o simplismo das “reflexões” filosóficas. A pompa da bobagem.
Aliás, cá pra nós, na ponte aérea Rio/São Paulo/ Natal/Mossoró multiplicam-se os Conselheiros Acácios. Basta dá uma passada nos blogs, twitters, impressos e expressos, para colher os manás que descem dos céus, excretados pelos personagens de Voltaire e Eça.
Resta torcer pra que seja um agonia passageira, posto que o desencanto emperra ou impede a edificação.
Voltando ao texto, tá difícil ser otimista. E é chatíssimo ser pessimista. Ariano Suassuna inventou uma saída: “Para evitar a chatice do pessimismo e a ingenuidade do otimismo, eu sou realista esperançoso”.
O que danado ele quis dizer eu não sei.
Fui procurar a expressão no Cândido, não achei. Nem nas “máximas” do Conselheiro Acácio. Ariano conseguiu ser original, mesmo tirando uma casquinha nos dois modelos.
Cá na Serra, longe da civilização que reside em Natal e Mossoró, no sopé do Morro do Cumbe, onde ainda resistem os croatás, procuro minha definição.
Disse Stendhal que mudava de opinião para que ela não se tornasse o seu tirano. Faço o mesmo. Agora, eu sou ateu ecumênico.
Té mais.
François Silvestre é escritor
A SIMPLICIDADE IMORTALIZA.
Lendo este poema de Patativa de Assaré lembro-me das irmãs Griselda e Anastácia a oferecerem os seus grandes pés para o corte a fim de que o sapatinho de Cinderela pudessem calçar e assim casar com o príncipe.
É que enquanto alguns praticamente ficam soterrados por livros, que com sofreguidão consultam no desespero de produzir um texto rebuscado e terminam se perdendo no emaranhado de citações, outros, como que brincando, alcançam a imortalidade apenas com a genialidade que Deus lhes deu.
Patativa, um semianalfabeto, apenas colocava na sua poesia sentimento. Não tinha sequer preocupação em melhorar o que saía de dentro da sua alma. Sem buscar reconhecimento, alcançou os píncaros da glória e tornou-se orgulho de toda uma região.
ARTE MATUTA
Eu nasci ouvindo os cantos
das aves de minha serra
e vendo os belos encantos
que a mata bonita encerra
foi ali que eu fui crescendo
fui vendo e fui aprendendo
no livro da natureza
onde Deus é mais visível
o coração mais sensível
e a vida tem mais pureza.
Sem poder fazer escolhas
de livro artificial
estudei nas lindas folhas
do meu livro natural
e, assim, longe da cidade
lendo nessa faculdade
que tem todos os sinais
com esses estudos meus
aprendi amar a Deus
na vida dos animais.
Quando canta o sabiá
Sem nunca ter tido estudo
eu vejo que Deus está
por dentro daquilo tudo
aquele pássaro amado
no seu gorgeio sagrado
nunca uma nota falhou
na sua canção amena
só canta o que Deus ordena
só diz o que Deus mandou.
Vejamos agora até onde foi este homem que “SÓ CANTA O QUE DEUS ORDENA, SÓ DIZ O QUE DEUS MANDOU.”
1979 – Homenageado pela programação cultural do encontro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, SBPC, em Fortaleza;
1982 – Recebe o diploma de “Amigo da Cultura”, outorgado pela Secretaria da Cultura do Estado, pela “decidida atuação a favor do aprimoramento cultural do Ceará”;
1982 – Cidadão de Fortaleza, título aprovado pela Câmara Municipal;
1987 – Recebe a “Medalha da Abolição”, pelos “relevantes serviços prestados ao Estado”;
1989 – Cariri Ceará – Doutor Honoris Causa pela Universidade Regional de Cariri;
1989 – Inauguração da rodovia “Patativa do Assaré”, com 17 km, ligando Assaré a Antonina do Norte
1991 – Enredo da Escola Acadêmicos do Samba, de Fortaleza;
1995 – Fortaleza, Ceará – Prêmio do Ministério da Cultura na categoria Cultura Popular entregue pelo Presidente da República Fernando Henrique Cardoso no Teatro José de Alencar;
1998 – Recebe, dia 22 de maio, a “Medalha Francisco Gonçalves de Aguiar”, do Governo do Estado do Ceará, outorgada pela Secretaria de Recursos Hídricos;
1999 – Assaré, Ceará – Inauguração do Memorial Patativa do Assaré;
1999 – Título de Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual do Ceará – UECE;
1999 – Título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Ceará – UFC;
1999 – Prêmio Unipaz, VII Congresso Holístico Brasileiro, Fortaleza, dia 20 de outubro;
2000 – Na festa dos 91 anos, recebe o título de Cidadão do Rio Grande do Norte;
2000 – Título de Doutor Honoris Causa da Universidade Tiradentes, de Sergipe;
2001 – Terceiro colocado na eleição do “Cearense do Século”, promovido pelo Sistema Verdes Mares de Comunicação (o vencedor foi Padre Cícero);
2001 – Recebe o troféu “Sereia de Ouro”, do Grupo Edson Queiroz, no Memorial Patativa do Assaré, dia 28 de setembro;
2002 – Prêmio FIEC, “Artista do Turismo Cearense”, Fortaleza;
2003 – Prêmio UniPaz, V Congresso Holístico de Crianças e Jovens, Fortaleza;
2005 – Inauguração da “Biblioteca Pública Patativa do Assaré”, Piauí;
2004 – Título EFESO “Cidadão Empreendedor” (Escola de Formação de Empreendedores Sociais);[9]
2004 – Troféu MST (Homenageado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra);
2005 – Homenageado com Medalha Ambientalista Joaquim Feitosa;
2005 – Inauguração da Biblioteca Municipal Patativa do Assaré, Vila Nova, Piauí;
2005 – Título de Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN), Mossoró, Rio Grande do Norte.”
Se tem mais? Tem. Patativa de Assaré foi motivo de estudo na universidade de Sorbonne, Logo ele que só estudou quatro meses.
Só me falta aparecer algum intelectualóide, cuja fama não atravessa o rio Potengi, para dizer que Patativa do Assaré se repetia ao dizer que “só canta o que Deus ordena e só diz o que Deus manda.”
Ser simples não é ser simplório.
Um bom domingo a todos.
E os rios de Mossoró? Você critica algumas citações que acho cabíveis e enche duas laudas de citações…
Meu Deus, nem um rio de Natal se pode citar… Até onde vai esta rivalidade?
Transcrevi um poema de Patativa do Assaré para mostrar a beleza que existe na simplicidade da sua obra.
A outra transcrição foram os prêmios e títulos ganhos por Patativa.
No texto propriamente dito, que transcrição existe?
Mostre citações de autores e transcrições em outros textos meus.
Se existe uma outra maneira de se mostrar prêmios e títulos ganhos por um gênio, por favor, me ensine.
Mora em Mossoró, claro. Então vá, por favor, à biblioteca e pegue MARANHÃO, LIBERDADE TRANCADA ou qualquer outro livro da autoria destes WEBLEITOR. Lendo qualquer um deles não encontrará uma só citação de nenhum outro autor, muito menos transcrição de texto de quem quer que seja.
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QUANDO SERÃO JULGADOS OS RECURSOS SAL GROSSO?
O UNIFORME ESCOLAR NÃO FOI ENTREGUE EM MOSSORÓ.
POR QUE TOMAZ NETO NÃO MOSTRA A CÓPIA DO RELATÓRIO DA AUDITORIA?
Engraçado. “No Cândido, François-Marie Arouet, o Voltaire, cria um personagem que resume em si o otimismo ao extremo da capacidade de enfrentar atropelos.
É Pangloss. Para esse personagem singular da literatura universal a desgraça é apenas um degrau que antecede uma ventura a vir. Mesmo que o degrau seguinte seja apenas a escalada de uma escada de desgraças supervenientes”. É assim que inicio o texto. Isso é uma citação ou uma referência?
“Lendo este poema de Patativa de Assaré lembro-me das irmãs Griselda e Anastácia a oferecerem os seus grandes pés para o corte a fim de que o sapatinho de Cinderela pudessem calçar e assim casar com o príncipe”. É uma citação ou referência? Qual a diferença?
O Conselheiro Acácio era conciso.
Aliás, as citações são fundamentais para a instrução. Como disse Isaac Newton: “Eu vejo mais longe porque me ponho nos ombros de gigantes”. Carlos Santos no brinda diariamente com citações indispensáveis. A única ressalva é que tanto nas citações quanto nas referências é preciso declinar o crédito de autoria. A “Gata Borralheira”, por exemplo, tem sua primeira criação na China antiga. Depois foi recriada, nos tempos modernos, pelos irmãos Grimm. A diferença de citar para transcrever é só de forma. Numa, você lembra do texto. Cita-o e confirma a autoria. Noutra, que é a transcrição, você cola e copia. Cada um usa o método que mais aprecia. Eu prefiro citar a copiar.
NOTA DO BLOG – Bom dia, François. As citações que o Blog reproduz não ensinam verdades, mas estimulam a reflexão e a própria dialética. Só isso. Não são minhas verdades, também. Nas creio que podem ser importantes para muitos de nós.
Abração.
Escritor François Silvestre, com toda a profundidade e fundamentação do seu texto, fiquei muito feliz com a citação do nosso grande mestre nordestino : “Para evitar a chatice do pessimismo e a ingenuidade do otimismo, eu sou realista esperançoso”. Porque também sou assim, fácil de entender vivo dentro da realidade, mas não perco a fé a esperança de me tornar um ser humano melhor, que alguém melhore, de que as coisas melhorem, etc, etc, conclusão sou uma realista esperançosa, achei ótimo.
Meu distinto parente François, estou começando a ser acometido pela senilidade precoce, o que me faz solicitar a Vosmincê que me informe o título do seu artigo no qual você faz referências às famílias PINTO, ALENCAR, SUASSUNA etc. O pleito prende-se ao fato de que, com sua devida vênia, pretendo inserí-lo no contexto do meu próximo livro a ser publicado, com o título ” FAMÍLIA PINTO – DE PORTUGAL A APODI”. Quando você falar com o seu mano Silvestre, que é meu amigo dos tempos em que residí no estado do Tocantins, diga-lhe que envio um efusivo abraço. Receba Um abraçaço desse empedernido matuto e aruá encruado do pé da serra do Apodi.
Marcos, esse artigo eu publiquei no Novo Jornal. Faz tempo. Ele deve constar da arquivo do meu Blog. Vou procurara e lhe passar. Vou mandar esse seu cometário pra Siliveste dos Tocantins. Abração fraterno!
Iris Maia, que gostosa essa sua intervenção. Emocionou-me!
Marcos, encontrei o texto. Mande- me seu email. O meu é: fs.alencar@uol.com.br
ÕÔ Obrigadooo prezado primo François Silvestre ! Veja só o caráter do ego massageado pela vossa distinta atenção., característica comum da nossa família, com destaque para personagens do tipo meio-bicho meio homem-gente, contexto no qual me vejo compulsoriamente inserido – kkkkk. Veja que entre uma e outra postagem, a atenção, que vem acompanhada com o mesmo sabor do mel silvestre, colhido no tronco de uma imburana, após intenso fumegamento, em que, acompanhado pelo meu fiel escudeiro cão da valente raça com pedigree VLP (Vira-latas-puro) surge aquele saborosíssimo e inconfundível mel, já o promovi da categoria sertaneja de parente para PRIMO. INTÉ viu. Qualquer dia desses subo a serra do Martins levando comigo duas palhas de tucunarés da nossa Barragem Santa Cruz. Forte abraço.
Marcos, veja o recado de Silvestre, lá do Tocantins, pra você.
“Marcos Pinto residiu aqui na Cidade de Augustinópolis-TO, vizinha de Axixá-TO, ainda nos meados da década de 90, fizemos um júri, ele na assistência à acusação e eu na defesa do réu, nomeado como defensor dativo, naquela ocasião, ao me cumprimentar da tribuna do júri, ele citou o seu nome e fez referência a sua inteligência e a sua condição de grande poeta que você é, mano velho. Fiquei bastante lisonjeado e feliz, pois, mesmo sem os jurados conhecê-lo, as palavras de Marcos Pinto sobre minha família, sendo eu, como ele naquela época, ainda um forasteiro aqui, muito me ajudou na defesa do meu cliente, que por sinal era um cearense de Fortaleza, que igual a nós dois advogados, era também um nordestino embrenhado aqui nos confins do Tocantins, antigo norte goiano. Grande figura humana esse Marcos Pinto, pra quem eu mando um afetuoso abraço, desejando-lhe melhoria em sua saúde e sucesso ao seu livro “Família Pinto – De Portugal a Apodi”, que está em período de gestação. Gostaria de ser agraciado com um exemplar, quando da publicação, se for possível. Abraços pra você, Francisco Françuar……… Transmita a Marcos o meu afetuoso abraço”.