Por que será que os médicos, em geral, trabalham tanto? Um artigo sobre este tema foi publicado na respeitável revista científica The New England Journal of Medicine e deveria ser leitura obrigatória não só dos médicos, mas também de toda a sociedade.
Há uma crescente pressão social em torno do exercício da profissão médica. Cobra-se do profissional excelência de atendimento e constante atualização. Além do mais, a imagem social que se tem do médico é de um profissional rico, bem remunerado, intelectualmente acima da média, trabalhando em ambiente limpo, arejado e sofisticado.
Na realidade do médico, seu dia-a-dia é de exaustivo trabalho, geralmente dentro de unidades de atendimentos lotadas e em contato com pacientes que não melhoram por dificuldades muito mais sociais do que patológicas.
Não adianta prescrever medicamentos que não podem ser comprados… Não adianta aplicá-los para quem não tem o que comer e nem onde dormir.
Para piorar, os hospitais são sucateados, mal aparelhados. Culpa de diretores? Das gerências? Na grande maioria não! A grana vem lá de cima!
Os diretores de hospitais e prontos-socorros têm é muito jogo de cintura; tiram leite de pedra! E para completar existem as cidades parasitas, que “usam” suas cotas para saúde apenas para “transportar” doentes a hospitais de cidades maiores, se “livrando” da responsabilidade da saúde de sua população.
Com o uso abusivo, não há parede, porta, equipamento que aguente! Vira sucata mesmo! E a equipe de saúde se amontoa também nessa sucata! Os médicos convivem com os fantasmas da baixa remuneração dos seus serviços e das dificuldades de atualização e reciclagem pelos altos custos envolvidos.
E ainda tem a dificuldade de ser liberado dos plantões para participar de cursos! Pessoal insuficiente… Não tem substitutos… Não entendo, é inversão de valores… A vida da maioria dos médicos depende de escalas de plantões! Natal, Ano Novo, Carnaval… e por aí vai!
É disseminada na sociedade brasileira a falsa impressão de que ser médico é sinônimo de status social. As coisas não são bem assim. Hoje um médico tem, em média, três empregos. E faz pelo menos três plantões semanais. Portanto, há um grande descompasso entre aquilo que a sociedade pensa e o que o médico realmente é.
Entre os profissionais da medicina, os índices de alcoolismo, de depressão, de divórcio, de suicídio, de fadiga crônica, de hipertensão arterial e de úlcera péptica são altamente elevados. É o que chamamos de doenças profissionais.
O afastamento da família em virtude de sua extensiva carga horária é o fator principal de problemas emocionais intensos. E para piorar as coisas, o médico também se vê às voltas com processos na Justiça e frequentemente sofre agressões verbais ou físicas por parte de pacientes ou de familiares descontrolados em seu desespero.
Em minha opinião, é preciso que a sociedade se envolva mais nos problemas da classe médica. Não apenas para criticar ou para cobrar excelência no atendimento, mas também para exigir do governo, em contrapartida aos altos impostos pagos, mais dinheiro para a compra de equipamentos e de medicamentos, treinamento adequado de pessoal, construção de novas unidades de atendimento e uma política justa de remuneração dos profissionais da área de saúde.
O atendimento ao usuário pode não ser de todo bom, todos sabemos. Mas a culpa não deve ser colocada nos profissionais de saúde, que são apenas parte da engrenagem defeituosa. E não se contam as vidas salvas, as doenças curadas, as seqüelas evitadas. Só se contam as perdas.
Médico não é Deus, é humano, também erra. O erro inadmissível é negligencia, isso não! A sociedade brasileira precisa se perguntar se é ou não justo remunerar um médico como se remunera outras categorias profissionais equivalentes.
“Qual a que medicina que queremos?” seria um ótimo tema a ser debatido.
Oferecendo infra-estrutura e boa remuneração, todos saem ganhando, principalmente quem não pode pagar pelo atendimento. Um sonho? Sim, um sonho. Mas não é um sonho impossível.
Vamos à luta!
Daniela Maia é médica pediatra, Pós graduada em MBA em Gestão.
Parabéns pelo artigo. Muito bem escrito, extremamente relevante e deveras pertinente para o quadro da Saúde vigente no nosso cotidiano. Ajuda a tirar a aura do chamado sacerdócio, que afirma que o profissional com graduação em nível superior – no caso – o médico, tem que trabalhar de qualquer jeito para “salvar“ as pessoas, e se não “salvar“…
Daniela dissertou com extrema sensibilidade sobre a realidade do profissional de saúde do nosso país, não apenas do médico.”Mexeu na ferida”! Há uma enorme diferença entre a vida profissional que temos e a que a sociedade “imagina”. Quem dera podermos ter apenas um emprego, condições satisfatórias de trabalho e consequentemente, realizarmos bem nossa tarefa. Quem dera sermos reconhecidos sempre pelo esforço que fazemos para desempenhar bem nossas funções na estrutura de saúde “falida” que dispomos no Brasil. “E não se contam as vidas salvas, as doenças curadas, as seqüelas evitadas. Só se contam as perdas.”
Em minha profissão, cirurgiã-dentista há quase 20 anos, ainda temos que lutar contra a “lei da oferta”, que nos obriga a ganhar salários pelo menos 40% mais baixos do que o dos médicos, apesar de igual carga horária. Há anos pleiteamos isonomia salarial entre todos os profissionais de saúde. Não entendo porque em uma equipe de ESF (Estratégia de Saúde da Família), p. ex, os salários do médico, do cirurgião-dentista, do enfermeiro, são diferentes. Afinal de contas, não são todos profissionais de nível superior? pois a justificativa para a diferença injusta é a “tal” lei da procura/oferta…
E nós ainda temos que no “divã” em que não raramente transforma-se nossa cadeira, convencer um paciente a não trocar um tratamento endodôntico (canal) por uma exodontia (extração). E haja psicologia!!!
Daniela,meus sinceros parabens.
Nós médicos estamos exaustos e temos a cada PACIENTE QUE ATENDEMOS MOSTRAR EXCELENCIA DE ATENDIMENTO E NUNCA “ERRAR”.
Aos interessados, atualmente, aproximadamente 40% do tempo dos congressos médicos são dedicados a defesa profissional,ou seja,prevenção de possíveis “erros ” médicos.
Ser médico,salvar vidas ,aliviar sofrimentos, sofrer com os nossos pacientes,suas doenças e ser anteparo da dores de seus familiares tambem nos fazem sofrer a cada paciente como se familiar nosso fosse.
Congressos médicos caríssimos, em torno de 6.000 reais de investimentos,consultas defasasdas,planos de saúde que agridem ao médico com consulta a 30 reais. SUS que pagam uma consulta ambulatorial a 7,50 reais(sete reais e cinquenta centavos) nas consultas das especialidades médicas em Mossoró.
No famoso PSF, há 08 anos que não há reajuste.Plantões ídem.
Médico é salvar ,é amor ,é compaixão,é dedicação.É TRABALHAR 24 HORAS do dia.
Médicos dispoe de seus descansos com seus familiares para fazer plantões e salvar vidas.A MAIS HUMANA DAS PROFISSÕES.
Sacerdócio sem batina,que tem que ser valorizado.
MÉDICO bem remunerado ,tão somente isso,REMUNERAÇÃO AO MÉDICO,será um gigantesco passo a o surgimento de uma sociedade JUSTA à maioria dos brasileiros.
A luta começou e não é só dos médicos mas de toda sociedade que diariamente necessita de atendimento médico.
Parabéns oelo artigo- lúcido, coerente e informativo
Obrigado Carlos Santos por nos presentear com “as palavras” da doutora Daniela Maia.
medico, juiz e padre, tem que ganhar muito bem , justamente para nao pensar em dinheiro…( da nossa escritora de natal)
Parabens, Daniela!!! Você conseguiu descrever muito bem a vida dos medicos, entre plantões, exigencias, renuncias… Somos tão pouco reconhecidos… Tenho 05 anos de formada ( apos longos 06 anos de faculdade e mais 03 de residencia) e, as vezes, me pergunto se valeu a pena tanto esforço… Somos injustamente desvalorizados, maltratados e mal remunerados.
Parabéns à Dra. Daniela pelo seu comentário.
Quero apenas acrescentar que se tivéssemos a Saúde Pública funcionando bem na base, muita coisa teria maior resolutividade.
O nosso cidadão (nós todos) precisamos fazer uma coisa BÁSICA controle social dos impostos que pagamos.
Parabéns.
legal