Por Odemirton Filho
Tomar um café e jogar conversa fora é um dos bons prazeres da vida. Para quem gosta, conhecer e frequentar cafeterias é sempre um momento agradável.
Em Mossoró, atualmente, existem várias cafeterias, para todos os gostos e bolsos.
Porém, na Mossoró do passado, existia o Pavilhão Vitória, localizado na praça do antigo Cine Pax (Praça Rodolfo Fernandes). Dizem, os que frequentaram, que era ponto de encontro, antes ou depois de assistir ao vesperal.
Segundo consta, o Pavilhão Vitória foi construído por volta dos anos 40 pelo Padre Mota, numa homenagem à vitória das nações aliadas sobre a Alemanha. Por lá se vendiam cafés, bebidas, doces e lanches. Existia até mesmo uma charutaria.
Creio que se conversava sobre tudo e se comentava o dia a dia da cidade. Talvez se falasse sobre a vida alheia. Tudo não muito diferente dos dias de hoje.
Pelas redondezas do Pavilhão Vitória existiam também o Bar Suez, a Sorveteria Oásis (com o famoso sorvete de abacate com mel), o Restaurante Umuarama, além de outros estabelecimentos.
Em tempos mais recentes existia, também, a lanchonete de Fenelon, onde se vendia o bolo Luiz Felipe acompanhado de uma “bananada”. Não podia faltar um cachorro-quente pra ser degustado com garfo e faca, como todo mossoroense da gema.
Ainda sinto o sabor do suco de maracujá e dos pastéis da lanchonete de Silvério, que ficava ao lado da Padaria Merçalba, do meu pai.
Pois é. O Pavilhão Vitória faz parte da história de Mossoró, com um dos seus recantos e encantos. Era um dos antigos imóveis que o “progresso” demoliu. Ainda bem que o fotógrafo Manuelito nos deixou o registro daquele ponto de encontro.
Como se sabe, cada prédio antigo da cidade que vem a ruir, perde-se um pouco de nossa identidade. Vai-se um pouco de cada um de nós.
O Pavilhão Vitória “não foi do meu tempo”. Os poucos fatos que aqui narrei foram contados pelo meu velho pai e proseando aqui e ali nas cafeterias da cidade.
Cabe, aos que lá frequentaram, reconstruir e manter viva as suas inúmeras histórias.
Por fim, permita-me parafrasear parte da coluna do articulista Mário Sabino, em O Antagonista:
Não há nada de triste ou depressivo no que escrevi. Sinto-me à vontade e alegre compartilhando impressões e sentimentos do que entrando na cacofonia (sons desagradáveis) da política. Pode não ser exatamente útil, mas quem sabe alguns temas abordados por mim lhe toquem a alma.
Odemirton Filho é bacharel em Direito e oficial de Justiça
Já está na hora de vc reunir estas crônicas em um livro.
Livro que, obrigatoriamente, vai chegar aos colégios para que a memória de Mossoró seja preservada.
Quem se lembra do Cine Jandaia, Farmácia dos Pobres etc?
A história da radiofonia mossoroense é riquíssima. Mas poucos ouviram falar que todos os anos era feito um trabalho mostrando a bravura do mossoroense enfrentando o bando de Lampião. Na época a televisão não existia e a radionovela tudo mostrava. Desta forma este grande feito não caiu no esquecimento das novas gerações.
Deus, Odemirton, lhe abençoou com a facilidade de bem escrever.
Faça uso do que Deus lhe deu e mantenha viva a memória desta cidade tão bonita.
Desculpe se o meu texto ficou aquém do merecido. É que escrevo deitado e sofrendo fortes dores. Artrose praticamente me inutilizou.
Mas sua bela crônica deu-me forças para expressar a minha satisfação com sua crônica.
Obrigado, meu amigo. Sabes o carinho que lhe tenho. És, para mim, um mestre.
Saúde. E um forte abraço.
Essas coisas teriam que ser demolidas pra na ofuscar o brilho do culto das personalidades da família que espalhou o seu nome na cidade.
Um abraço, Fernando.
Tudo de bom.
Beleza, Prof.Odemirton. Pois quando lembramos de coisas boas, elas nos visitam.
Sem dúvida, Naide. Abrasa a nossa alma.
Abraços!
Pra não.
É, amigo Odemirton, realmente Bartô Galeno tem razão! Isto quando gravou seu grande sucesso com o título de “SÓ LEMBRANÇAS “, eu ainda cheguei a frequentar as instalações do Pavilhão Vitória, ali se degustava um o melhor café da praça, o cachorro quente não era servido com o pão inteiro aberto, a carne do recheio era colocada na metade do pão, não existia suco de frutas, era refresco mesmo, e muitos chamavam de ponche, outra opção era pão com manteiga da terra. Ah sim, lá também existia os famosos refrigerantes Crusch, Guaraná Antártica, Wilson, Grapett…
eram muitos solicitados por aqueles adeptos do bolo de ovos ou orelha de pau (nome de um quadrado de massa feito com farinha de trigo água e sal), frito em óleo de caroço de algodão da marca Pleno, este produzido pela empresa mossoroense Tertuliano Fernandes, esta indústria ficava localizada aonde funciona o shopping Oasis e a Igreja de Cristo dos Últimos Dias (Av. Alberto Maranhão com a Rua Rui Barbosa), ao entorno do Pavilhão Vitória, compondo a Praça Rodolfo Fernandes, ficavam as seguintes residências familiares, casa de Bibiu Gurgel, Chavinho, José Matias, Elza Gurgel, além destas residências, os seguintes estabelecimento comerciais, Organização Anapor, Salão de Eurides Cabeleireira, Foto Ideal, Restaurante de Zeneide, Bar de seu João, pai de Eurides e Jaime, Edifício Marcelino, Sorveteria Oásis, Casa Santo Antônio, Lojas Paulista, Casa da Hora, Bar Suez, Consultório de Dr. Epitácio, Farmácia Central, Armazém Nova América, Casa Caxias (depois Armazém Narciso, até hoje), Consultório de Dr. Duarte Filho, Mendes & Cia. Revenda Ford, (depois o Bar Umuarama , Armazém São Jorge, Farmácia Limeira e Armazém do Povo.
Que bom você nos arremeter o passado da antiga praça Rodolfo Fernandes, o coração da velha Mossoró, palco de grandes acontecimentos sócio cultural da terra de Santa Luzia.
Grato, amigo.
NOTA DO BLOG – Estamos no aguardo de suas crônicas aqui nesse espaço. O quadro dos comentários está ficando pequeno para você.
No aguardo.
Abraços.
Pois é, Carlos. Já disse isso a Rocha Neto. Precisamos que ele escreva. Tem conhecimento de inúmeros fatos de nossa história e uma memória prodigiosa.
Mas, ô homem teimoso!
Abraços, Rocha.
Ixi, terminei escrevendo demais.
É a empolgação!!! Vc é culpado!
Gosto das reminiscências deste nosso torrão.
Caro Odemirton, mesmo de tenra idade à época, vislumbrava sempre o belo Pavilhão Vitória. No caminho entre a Drogaria Limeira, do meu pai, e o Cine Pax, onde eu, de posse de minha gorda (rsrs) semanada, não perdia os vesperais dos sábados. Meu pai, assíduo frequentador do Bar Suez e do Umuarama, também frequentava o pavilhão. Eu, toda sexta à tarde, ia na lanchonete de Fenelon, e comia pão da ´gua com pastel e uma senhora abacatad. São Fragmentos dos belos tempos, que não saem de minha lembrança.
Que bom, Marcos, que a crônica lhe trouxe boas lembranças.
Fico feliz.
Forte abraço.
Falaram muita coisa da praça Rodolfo Fernandes e esqueceram uma, a barbearia de Chico Linhares pai de Diassis Linhares. Lá, os assuntos predominantes eram, politica e futebol. Tudo isso puxado ao bom humor de cada um.
O maior pecado reside exatamente na omissão voluntariosa em mencionar os ‘assassinos da história’, dos que deveriam impedir que o abuso de autoridade triunfasse. Bastava que os Srs. Vereadores aprovasse um Projeto Legislativo inserindo dito imóvel na Lei do Tombamento Histórico, com a imediata comunicação e impedimento de demolição de tão importante imóvel historico. Nenhum dos comentaristas citaram o nome do prefeito-assassino da história, autor do massacre/demolição deste belo conjunto de arquitetura neocolonial. (Socorram-me os arquitetos, se pequei em referencial-padrão !). Imagine-se quanto de beleza panorâmica estaria a proporcionar aos transeuntes daquela memorável Praça. O nome do prefeito /assassino da história do monumental Pavilhão Vitória : ANTÓNIO RODRIGUES DE CARVALHO.
Benza Deus. Aqui tem véi que nem presta. Parece o Funrural.
Cuidado com a Covid, viu? O vírus adora um coroa.
BOA COMPANHIA NÃO É TUDO
Para Odemirton Filho
– Se só boa companhia fosse tudo, Judas teria sido leal.
– Como é mesmo, compadre?
Lopes riu. Riu e, pacientemente, resolveu explicar à comadre.
– Poderia haver no mundo alguém que andasse em melhor companhia do que Judas?
Quando não estava com Cristo, estava perto de alguém, outro apóstolo, comadre, terminou por vender o seu mestre, e sabe por que?
Socorro fazia uma cara embevecida. Cada vez a coisa se tornava mais clara, porém contrariava tudo o que tinha como verdadeiro. Às vezes o Lopes a deixava totalmente confusa.
– Quer dizer então que andar em boa companhia ou em má, tanto faz?
Lopes mais uma vez riu. E ficou feliz ao ver que Izaías atravessou a rua em direção ao bar.
Vai, senta, izaías. Tá gordo, hein, qualquer dia estas cadeiras de plástico não vão aguentar você.
– Vai , Lopes, qual foi a frase de hoje?
– Como é que você sabe?
– E não é assim há mais de quarenta anos, moço.
– O compadre tá dizendo, seu Izaías, que boa companhia não vale.
– Pera aí, Socorro. Não foi isso que eu disse. Eu falei que só andar em boa companhoa não quer dizer que a pessoa é boa.
– Então explique isso direito, do jeito que eu entenda.
– Um homem, comadre, está onde está o seu coração. Um homem, comadre, é o que é a sua alma. Coloque dentro de um seminário um homem de coração de pedra, uma alma negra. De nada vão adiantar as boas companhias.
– Cada vez o companheiro me deixa mais maluca.
Izaías abriu o sorriso tímido.
– Tá rindo, Izaías, tá? Olhe aqui, comadre, o exemplo ao contrario.
– Pare, compadre, você agora vai dar um exemplo ao contrario? Tudo de cabeca para baixo? Eu vou é embora. Vá adoidar quem você quiser. Eu, não!
Quando Socorro fez o gesto para sair, Lopes levantou-se da cadeira e a segurou levemente pelo braço. Izaías já não conseguia conter o riso.
– Calma, comadre, calma. Tá vendo aqui o Izaías? Você se lembra muito bem dele, do tempo que usava cabelo escovinha. Tempo, comadre, que ele vinha às vezes sem o dinheiro do copo de mingau, e você dava o mingau.
No bar o silêncio era total. O Lopes respirou e continuou.
– Tá dando para entender, comadre? Esse menino, na mais extrema miséria, não se desviou. E não pense a comadre que foi por falta de maus conselhos e da proximidade de gente que não presta. O que determinou a salvação dele foi ter pureza no coração, foi ter a alma branca. A boa ou má companhia influencia, sim. Influencia, mas não determina o caráter.
Izaías tinha ficado meio encabulado. Socorro se esforçava para entender tudo o que o Lopes falava. E o Lopes, após respirar fundo mais uma vez, continuou:
– Enquanto isto, tem corruptos que naquela época dormia em berço de ouro, estudava nos melhores colégios, comungava todos os dias e crescia para se tornar um ladrão.
Foi aí que um quase grito se ouviu
– Entendi agora a sua fala de Judas andar em boa companhia e…
– Não precisa dizer mais nada, Socorro. Eu sei que voce entendeu.
Os olhos de Lopes estavam marejados. Os de Izaías também.
Meu caro Inácio, você se superou. Que beleza de texto.
Imagino o esforço hercúleo para escrever, em razão de
seu problema.
Agradeço, do fundo d’alma.
Um forte abraço.
E saúde. Muita saúde.
Oi Carlão, grato pelo convite! Qualquer final de semana surpreende o mestre Odemirton. Vou abrir o baú e tentar dar felicidades àqueles que gostam das reminiscências desta nossa Mossoró.