Tomou um gole do café, ainda fumegante. Vestiu-se e foi para mais um dia de trabalho. Estava cansado da rotina. Há anos que sua vida era a mesma. De casa para o trabalho; do trabalho para casa. Quase não saía para passear ou viajar, embora tivesse condições financeiras.
Morava sozinho. Estava separado de sua mulher; não tiveram filhos. Os seus pais eram falecidos há tempos. O único irmão não queria conversa com ele. Tinha um ou dois amigos, mas quase não se encontravam para jogar conversa fora.
O percurso para o seu trabalho era de três quarteirões de onde morava. No caminho, observava o corre-corre das pessoas. Tudo como sempre foi. As lojas do comércio com os vendedores à espera de clientes; as paradas de ônibus lotadas de pessoas para irem aos seus destinos.
No rosto da maioria, desânimo. Com certeza, muitos estavam com problemas. O dinheiro pouco, talvez com famílias desestruturadas, desempregados; sem perspectiva de dias melhores.
Ele, ao contrário, tinha um bom salário, trabalhava em um escritório de uma empresa multinacional. Morava num excelente apartamento; um bom carro na garagem, ambos quitados.
Entretanto, reclamava de tudo e de todos. Era um “chato de galochas”, como diziam os colegas de trabalho. Nada o agradava. Nunca participou das festas de final de ano da empresa.
Certa vez, numa noite fria, ia do trabalho para casa; caía uma garoa. No caminho encontrou um homem sentado na calçada, o qual lhe pediu algum trocado. Com cara de poucos amigos, meteu a mão no bolso e deu ao pedinte uma cédula de dez reais. O homem sorriu e agradeceu.
“O chato de galochas”, para não perder a oportunidade de reclamar, perguntou:
– O que deseja desta vida ingrata, meu senhor?
– Ah, meu amigo, eu só queria saúde, um emprego e uma casa, respondeu o pedinte.
Ele ficou em silêncio; seguiu para o seu apartamento, pensativo. Ao deitar na cama, depois de anos deu valor a tudo o que tinha, agradeceu a Deus, principalmente a saúde.
E chorou. Chorou copiosamente.
Odemirton Filho é bacharel em Direito e oficial de Justiça
O que temos e não nos damos conta, muitas vezes é o sonho de vida do outro! O aprendizado pode estar na esquina, na figura de um pedinte!
Perfeito, Bernadete Lino. Exatamente assim.
Obrigado pela leitura e comentário.
Tenha uma semana abençoada.
É isso mesmo, meu caro Odemirton Filho.
Mais uma vez, com sua sensibilidade e competência, você nos brinda com uma página belíssima. Pois esse é um tema que sempre me toca e emociona. Eu que a tanta gente sou grato quanto grato sou à própria vida. Ótimo domingo para você.
Abraços.
Meu caro Marcos Ferreira, poucas são as pessoas que possuem o nobre sentimento da gratidão. Muitos vivem a reclamar, quase nunca agradecem. Somente as almas generosas, sensíveis, conseguem fazê-lo.
Obrigado pela leitura e comentário.
Um fraternal abraço. Fique bem.
Em tudo dai graça; porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.
Este versículo encontra-se em Tessalonicenses, e diz tudo o quanto devemos agradecer pelo tudo que damos e recebemos, pois viemos ao mundo para sermos servos e filhos de um só Pai. Deus Eterno e Supremo.
Por isso, amigo Odemirton, a Deus somos grato por sua vida e inteligência ímpar de nos fazer ler e entender realmente O VALOR DA GRATIDÃO.
Texto irretocável. Parabéns!
Obrigado por suas palavras, meu caro Rocha Neto. Que Deus nos abençoe e que continuemos a cultivar o sentimento de gratidão.
Abraços!