Por Ailson Teodoro
Otto Lara Resende (1922-1992) e Nelson Rodrigues (1912-1980) construíram uma amizade que teve início em 1948, quando se conheceram na redação do jornal carioca O Globo. Eram diferentes, inclusive no apelido que um dedicava ao outro. Otto adesivava Nelson de “Idade Média”, e esse retroagia o amigo para mais perto no tempo, o tratando por “Século XIX.”
Otto, Mineiro de São João Del-rey, era brilhante jornalista, escritor, gramático e um memorialista de visibilidade nacional. Era afável e admirador de grandes intelectuais como Fernando Sabino e Rubem Braga.
Otto Lara Resende brilhou também como redator do Jornal Última Hora.
Por muitos anos, eles alimentaram uma amizade inabalável, mas que não teve fim pela prudência e razoabilidade de Otto, em especial diante da peça rodriguiana “Otto Lara Resende ou Bonitinha, mas ordinária”, de 1962.
Ela ficou cinco meses em cartaz e causou desprazer a Otto, que afastou-se um tempo de Nelson. Mas não colocou um ponto final na amizade.
Nelson, Pernambucano do Recife, destacou-se com inteligência inclinada a encantar seus leitores.
Nos trabalhos e obras que coordenou como diretor, dramaturgo, no teatro, no jornalismo e, principalmente, escrevendo “A vida como ela é…, ou suas crônicas sobre futebol, ele conseguia aguçar seus fãs com a magia que rebentava da sua genialidade.
Quando o tema é dramaturgia, mesmo tendo falecido há quase meio século, Nelson ainda é visto como o maior nome da dessa produção artística, em nosso país.
O Nelson, tido em grande conta como um ser nocivo, cético e pessimista, carregava o gosto amargo da derrota.
Em momento algum ele acreditava que algo em sua vida ia dar certo. Reclamava da vida e falava que a morte era um presente que recebíamos por termos vividos.
Um dos diálogos mais conhecidos com seu amigo e companheiro de redação, Otto, foi no Amarelinho, depois de longa jornada de trabalho:
Otto diz: “Eu fico triste quando lembro que um dia vou morrer. A vida é ótima. Acho uma merda quando sei que vou morrer”.
Rodrigues, já embriagado, responde: “Não, Otto, a vida é uma merda porque a gente tem que viver”.
Tolerante e fino – até determinado limite -, para quem já conhecia as numerosas tragédias que atingiram sua família, ele era também um fanfarrão. E entrou para história do nosso país deixando cunhadas uma série de frases que ficaram marcadas na história:
“Sou Reacionário. Minha reação é contra tudo que não presta”.
“Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos”.
“Invejo a burrice. Porque é eterna”.
Em minha visão, só existia amizade por parte de Otto Lara. Nelson “sacaneava” qualquer um, com rótulos e termos depreciativos e ultrajantes como fizera várias vezes com com o amigo de redação e vida.
Em relação àqueles anos, não podemos deixar de falar sobre Ditadura Militar. Olvidar ninguém consegue, é o fato de Nelson Rodrigues ter apoiado o regime, bajulando-o e o endeusando; glorificando e louvando aquilo que depois prendeu e torturou seu filho Nelsinho.
Era visto por vários colegas como cupincha do presidente e general Garrastazu Médici. No final da vida, revisou suas posições e defendeu com devoção canina anistia aos presos políticos.
A genialidade de Nelson era tão assombrosa, que ele escrevia em um só dia três colunas sobre futebol, política e “A vida como ela é…
Bem, essa foi minha singela contribuição sobre esses dois grandes escritores da literatura, teatro e dramaturgia nacional.
Agora, encerro esse alinhavado texto, pois não sou “Sapateiro das Letras”, nem possuo habilidade e vocação no trato das palavras como outros colaboradores do Nosso Blog.
Ailson Teodoro é bacharel em direito e Pós Graduado em Direito Constoticional.
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