Por François Silvestre
…Mais um desmanche do passado. E como dói. Não doem os músculos nem o coração, é o passado que dói.
Quando cheguei ao Ginásio Diocesano Seridoense, que depois virou Colégio, em 1961, o diretor era Monsenhor Walfredo, que eleito vice-Governador no ano anterior, foi substituído pelo Padre Itan Pereira. Padre Ausônio Tércio de Araújo era o professor de francês. Depois assumiu a direção.
Padre João Agripino, de matemática. Também ensinava matemática o professor João Diniz, o admirável João Bangu, como era conhecido. E sua mulher, dona Neta. Plácido Saraiva, o bode rouco, lecionava português. Padre Balbino, latim. Professor Guerra, geografia. Dona Iracema, história. Padre Antenor, religião.
Quase todos já se foram, e em homenagem aos vivos eu me curvo reverencialmente ante à inapelável sina do todos nós. Parte agora o Padre Tércio. Com quem mantive ao longo de toda a vida uma relação de amizade e afeto. Era um educador no sentido mais completo e extensivo da palavra.
Vejo agora, pelo olhar turvo da memória aqueles corredores guarnecidos de arcadas da mais simples nobreza, como sói ser a simplicidade do que é verdadeiramente nobre. As salas de aulas, os dormitórios, o refeitório e suas freiras adocicadas de humildade, a capela que separava o ginásio do seminário, o campo de futebol e os bebedouros em fila numa parede azulejada.
E vejo Padre Tércio, irado, após uma pichação que eu e Murilo Diniz fizemos criticando o Colégio. Ele entrou na sala de aula e nos apontou: foram vocês dois.
Quando alguém perguntou como ele sabia, sua resposta foi: “Pela péssima caligrafia e a má feitura das frases”.
Saudade…muita saudade!
François Silvestre é escritor
Ótimo.
Formidável, François Silvestre. As boas lembranças precisam morar em nossos corações.