Por Marcos Araújo
Conta-se no mundo celestial que quando Padre Sátiro foi chamado aos céus, poucos dias depois pediu uma audiência direta com Deus, pretendendo fundar uma escola para santos. Inquieto como sempre, justificou ele junto ao Altíssimo que depois de ter estado com alguns virtuosos de sua devoção, escutara relatos quanto a incapacidade de entender algumas orações, preces e pedidos de intercessão feitos por devotos viventes na terra. Segundo ele, São Francisco teria lhe dito que frequentemente tem sido invocado por meio de mensagens ininteligíveis, como por exemplo uma “velinha” que se acende em aparelhos celulares, substituta da oração. Santa Catarina de Siena, apesar de analfabeta mas reconhecida como Doutora da Igreja pela beleza de suas preces, contou a Padre Sátiro que não entendia quase nada dos pedidos de intercessão que lhes eram dirigidos a partir de APP´s.
Santa Clara e Santa Luzia justificaram a falta de intervenção na cura e milagres na visão de muitos devotos por defeito de comunicação na prece. Simplesmente não sabiam o significado dos Emojis. A genuflexão não é mais uma prática comum aos cristãos, teria lhe confidenciado Santa Rita de Cássia, a santa das causas impossíveis, a quem são remetidas milhares de mensagens de APP´s, como se ela dispusesse de um leitor Android ou IOS lá pelo céu.
Após escutar atentamente Padre Sátiro, Deus relembrou que nem mesmo as missas, memoriais de sua existência, são vivenciadas presencialmente. Muitos católicos dão por cumpridas suas obrigações religiosas com a assistência do ato por um meio digital. Logo mais, pensou, esses fiéis podem passar a achar que as instituições religiosas já não são necessárias.
Assim, mesmo sabendo que os santos têm preclaridade para os assuntos espirituais, mas não são capacitados para os apetrechos tecnológicos da atualidade, nem mesmo ambientados para a linguagem que tem sido praticada entre os mais jovens, com abreviações e termos indecifráveis, anuiu à ideia de Padre Sátiro e criou a primeira escola de educação tecnológica e linguagem para os santos.
Achou que a tarefa seria melhor cumprida se colocasse também um jovem na missão. Prometeu a Padre Sátiro um novo santo para auxiliá-lo. Com sua clarividência, indicou Carlo Acutis como vice-Diretor. Contudo, tendo o nomeado apenas 15 anos, não tinha ainda a vivência técnico-pedagógica adequada.
Foi nesse momento que ouviu as preces de centenas de cristãos pela saúde de Padre Philipe Villeneuve, na frente de um hospital, e Ele percebeu que teria um jovem, um novo Santo a quem delegar a tarefa educacional. Foi por tal razão que Philipe foi chamado.
Amado, inteligente, vocacionado, talentoso, virtuoso, fez-se santo por convocação emergencial. Padre Sátiro nada sabia. Quando viu Philipe chegar no céu, questionou, argumentou, se insurgiu, lastimou…Foi à entrada e quis convencer São Pedro a devolvê-lo. “Pedro, ele é muito jovem! Tem muita coisa a fazer lá na terra. A Diocese de Mossoró, o Colégio Diocesano e Padre Charles necessitam muito de sua ajuda”.
Turrão como sempre, São Pedro nem titubeou diante dos apelos, só respondeu que era determinação do Altíssimo. De inopino, enquanto Padre Sátiro fazia aceno para Philipe voltar, São Pedro puxou-lhe pelo braço para que ele entrasse de vez.
Insurreto por momentânea surpresa, Padre Sátiro quis desistir da Escola de Capacitação da Linguagem para Santos, recém-aberta. Colocou uma placa na porta dizendo “Fechada”. Porém, não tinha mais jeito. Deus gostara da ideia. Obediente, Philipe não relutou. Já está trabalhando. Na primeira aula de recepção, já agradou. Padre Sátiro resignou-se. A Escola renderá frutos santificantes…
P.S. Às vezes, são tão insondáveis os mistérios de Deus, que somos forçados a imaginar um desígnio maior para os seus atos. Resta confortar-nos no texto de São Paulo em carta aos Romanos: “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém”! (Rm 11.33–36).
Leia também: Padre ordenado há menos de oito meses morre em Mossoró
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De todas as CRÔNICAS que tenho lido neste espaço, esta foi a que mais me prendeu e me conduziu ao ambiente discernido pelo autor. Adorei essa “viagem” por esse escrito. Fui totalmente abduzido pela leitura.
Parabéns!
Texto lindo, e diante de tanta comoção e tristeza, conforta se pensarmos que sim, esse foi o devido chamado pra esse padre tão Jovem de palavras tão sábias. Sabemos da excelência dessa escola com mestres e maestros tão aplicados e sábios. Que eles tenham o descanso eterno.
Conheci um pouco do trabalho de Padre Philipe, era tudo isso e, muito mais! Tinha um entusiasmo nas suas ações e palavras q, contagiava a todos! Como sempre Deus é mistério, mesmo sem compreender, nos resta confiar, acreditar! Parabéns pela crônica inteligente!
Eu achei lindo esse texto e muito bem pensado!
Eu me peguei rindo de algumas partes imaginando como seria a cena.
Padre Philipe, tão jovem, deixará um vazio em muitos corações.