Os bastidores da sucessão mossoroense são uma história à parte na disputa pela segunda maior prefeitura do Rio Grande do Norte. Ambiente de submundo, que se diga.
E, nesse espaço, o uso de pesquisa de opinião pública como instrumento de indução ao voto é um capítulo que beira a crônica policial, com péssimo odor e tonalidade rosa-choque. Ou azul-turquesa, como queira.
O mais novo episódio envolve novamente a Prefeitura de Mossoró e o jornal Gazeta do Oeste.
Durante várias horas ontem (sexta-feira, 21), a direção do Gazeta do Oeste foi pressionada a recuar da publicação da pesquisa do Instituto Cipec (veja postagem mais abaixo). Apesar do cerco, que incluiu ameaças veladas e explícitas, além de propostas ‘concretas’, a direção da empresa se segurou.
Gustavo Rosado (PV), chefe de Gabinete da prefeitura e irmão da prefeita de direito Fátima Rosado (DEM), a “Fafá”, foi informado por telefone por um jornalista do próprio Gazeta, com coluna no impresso, que a pesquisa realmente seria veiculada. A partir daí, ele entrou em diligência para sustar a matéria.
O estágio mais tenso e ostensivo foi impor sua presença na sede do jornal ao lado do deputado estadual Leonardo Nogueira (DEM), marido de Fafá, além do marqueteiro da campanha governista, jornalista Neto Queiroz – que é colunista no periódico.
Do lado de fora, outra frente de estresse. O grupo oposicionista da deputada estadual e candidata à prefeitura, Larissa Rosado (PSB), passou a monitorar pari passu a negociação no interior do jornal. Monitorar e agir em contraponto.
Torpedos e telefonemas eram trocados entre próceres da campanha oposicionista e representantes do jornal, em plena batalha de intramuros.
A pressão exógena, ou seja, de fora para dentro, deu certo. Mas existiam meios jurídicos em elaboração e em compasso de espera, para serem disparados em caso de sucesso de Gustavo e sua trupe na ‘negociação’ com o jornal.
Larissa
A pesquisa do Instituto Cipec, indicando quase 10% de vantagem de Larissa para a candidata a prefeito pelo governismo, vereadora Cláudia Regina (DEM), desabou como um balde de água fria na campanha do governismo.
A ideia era suprimir o material do Cipec, inoculando no jornal somente a pesquisa do Instituto Perfil, que seria usada pela campanha governista para motivar mobilização neste sábado, denominada de “Marcha da virada”.
Essa sondagem do Perfil foi oferecida (veja abaixo) há poucos dias ao Jornal de Fato, à publicação. Não houve acordo entre prefeitura e direção do diário impresso, que ficou ressabiada com números e problemas enfrentados pela empresa. O medo venceu os argumentos.
Recentemente, uma pesquisa Perfil foi proibida pela Justiça Eleitoral de divulgação devido suposto erro técnico (veja AQUI).
Mês passado, Gustavo e a diretora do jornal Gazeta do Oeste – Maria Emília Lopes, já tinham entrado em rota de colisão pelo mesmo motivo. A primeira pesquisa do Instituto Cipec esteve a ponto de não ser publicada, justamente por causa de seus números muito favoráveis à Larissa.
Sem acordo com Maria Emília, Gustavo passou a usar um atalho emergencial: aparelhou o PRTB do candidato a prefeito Edinaldo Calixto na tentativa de sustar a publicação. Um escritório de advocacia que serve ao esquema de Gustavo e ao deputado estadual Leonardo Nogueira (DEM) em demandas privadas foi acionado, mas a Justiça Eleitoral indeferiu a petição. A pesquisa foi veiculada.
Para atenuar a fratura nas relações político-comerciais entre jornal e esquema de Gustavo, dias depois uma pesquisa do Instituto Perfil encomendada pela prefeitura foi veiculada como forma de ‘compensação’.
Agora, eis mais uma recidiva traumática na convivência entre os parceiros de longos anos.
Fim de governo é sempre complicado. O jornal fica, mesmo que com algumas sequelas. Gustavo e sua trupe estão de saída… do governo e da história, pela porta dos fundos.
* Aguarde mais bastidores da política.