Por Carlos Santos
Há alguns meses, num bate-papo no rol de entrada de conceituado escritório de advocacia, em Mossoró, um dos interlocutores – de cultura estelar – me nomeou de instantâneo ao seu nível, deixando-me embaraçado: “nós, intelectuais, Carlos Santos…”
– Pelo amor de Deus, não me meta nisso – obstruí logo. “Não sou intelectual coisíssima nenhuma. Sei meu lugar e esse rótulo me causa problemas, meu caro. Li mais revistas em quadrinhos do que livros. Defina-me como uma pessoa que gosta de ler, gente com alguma leitura. Fico satisfeito e nem um pouco ofendido,” justifiquei.
Rimos juntos, sob o testemunho de outros, mas minha autodefesa foi convincente: “Veja bem… então está certo.”
Compreendeu-me e percebeu que não era caso de falsa modéstia, mas de bom senso. Posso provar. Esse fardo não carrego nem me ensejará punição por apropriação indébita.
Entender que todos têm direito à opinião e a expressar o que aspira, é o mínimo que a convivência civilizada e democrática ampara como princípio e dogma. E não importa, se é a palavra do homem de profundo saber ou de alguém de menor instrução que está em jogo.
Porém, separar o manifestação de vontade de opinião é uma das grandes dificuldades que testemunhamos nesses tempos de “lacrações”, em especial nas redes sociais. O ‘efeito manada’ é a repetição do célebre conceito do ‘maria-vai-com-as-outras’. Contudo, bem mais grave a partir dessa onipresença sem fronteiras e sem medidas que é a Net.
Por isso que notícia, versão, fato e fake news (informação mentirosa) se enroscam de tal maneira, que às vezes é difícil depurar, limpando tudo, para se chegar a um ponto de equilíbrio. A verdade é um achado para poucos.
O agravante é o exercício de autoridade por aqueles que são profundos desconhecedores do assunto tratado.
Nesse momento de polêmica em termos do Projeto de Lei Complementar 17/2023, que bota sindicatos, oposição e uma parte dos servidores municipais em choque com o Executivo mossoroense, é fácil identificar quem desconhece sobre o tema. Primeira reação é atacar o debatedor em vez do conteúdo. Vale o argumentum ad hominem (argumento contra a pessoa), a falácia de quem tenta desviar o foco do que é debatido vomitando agressões pessoais.
Se não destrói o argumento, a saída é tentar demolir o argumentador.
Tem quem fale com gênio colérico sobre algo que sequer leu ou folheou por alto. E, se o fizesse, provavelmente não entenderia bulhufas.
Talvez tenhamos que convocar o filósofo cínico, Diógenes de Sínope, com sua lanterna, para realmente localizar quem tenha o domínio do caso, para dissecá-lo com segurança. Nada de achismo ou ouvi dizer.
Carlos Santos é criador e editor do Blog Carlos Santos (Canal BCS)