Por Odemirton Filho
“Escreva de forma simples, Odemirton, para as pessoas entenderem, não faça um texto extenso, escreva com o coração, dê um tempo, e depois corrija”.
Foi esse um dos muitos ensinamentos repassados pelo jornalista-escritor-boêmio-sonhador Inácio Augusto de Almeida. Eu o conheci através deste Blog. Li muitos dos seus comentários e crônicas neste espaço. E não foram poucos.
Ele era um guerreiro no combate à corrupção, gostava de dizer que “onde existe corrupção não existe salvação”. Às vezes, era duro em seus comentários, em razão disso, atraiu a antipatia de alguns; bom de briga, usava as palavras como arma.
Escrevia como poucos, sabia transmitir sentimentos e emoções em suas crônicas. No campo político-ideológico tínhamos as nossas diferenças, mas o respeito e admiração recíprocos sempre falaram mais alto.
Ano passado fui à sua casa, num domingo à tarde. Uma chuvinha gostosa molhava as plantas do seu quintal, enquanto tomávamos café e comíamos pão com queijo de coalho. Presenteou-me com três livros de sua autoria: Maranhão, Versos & Prosa e Liberdade Trancada. Contou-me várias histórias, inclusive um pouco sobre sua família.
Eu ouvi, atentamente, a sua inteligência singular.
O livro Maranhão teve alguns capítulos publicados no Blog. Entretanto, devido à sua dificuldade para escrever por causa das fortes dores, não conseguiu concluir. Semanalmente, ele me repassava as suas crônicas para que eu formatasse e remetesse para o editor do “Nosso Blog”. No finalzinho do ano passado, disse-me que não enviaria mais as crônicas. Estava cansado. Sentia que a hora do encontro final estava chegando.
Honrava-me a sua confiança. “Considero você um filho, Odemirton”, dizia.
Diariamente ele mandava mensagens para o meu “zap”. Na ultima semana, recebi uma ligação do seu celular. Não pude atender e, infelizmente, esqueci de retornar. Talvez fosse a sua mulher ou uma de suas filhas para me comunicar sobre a sua doença.
Calou-se a voz firme contra os corruptos. Para quem quiser apreciar um artesão das palavras, as suas crônicas estão eternizadas no Blog. A sua partida me deixou triste. Aliás, nos últimos tempos, perdi amigos queridos. Eu sei, é a vida. Mas, dói, como dói.
Pois é, mestre, desculpe-me se o texto não ficou do seu agrado. Contudo, escrevi com o coração. Poucas foram as palavras para agradecer todos os ensinamentos. Todavia, garanto que sobraram emoção e sentimento de saudade.
Conforta-me o fato de ter agradecido, por diversas vezes, quando ainda estava no plano terrestre.
Obrigado, Inácio, pelas lições e leveza da amizade.
Transcrevo, ao fim desta singela homenagem, um fragmento de uma de suas belas crônicas:
“Chego ao ocaso da vida com a tranquilidade dos que não se deixaram dobrar por um punhado de lentilhas. Breve partirei com a certeza do dever cumprido. Usei o cobertor que recebi para aquecer não só a mim nas noites de frio. Partirei tranquilo por não temer os deuses”.
Odemirton Filho é bacharel em Direito e oficial de Justiça