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domingo - 19/03/2023 - 10:28h

Obrigado, Inácio

Por Odemirton Filho 

“Escreva de forma simples, Odemirton, para as pessoas entenderem, não faça um texto extenso, escreva com o coração, dê um tempo, e depois corrija”.

outono da vida, folha seca, partida, varalFoi esse um dos muitos ensinamentos repassados pelo jornalista-escritor-boêmio-sonhador Inácio Augusto de Almeida.  Eu o conheci através deste Blog. Li muitos dos seus comentários e crônicas neste espaço. E não foram poucos.

Ele era um guerreiro no combate à corrupção, gostava de dizer que “onde existe corrupção não existe salvação”. Às vezes, era duro em seus comentários, em razão disso, atraiu a antipatia de alguns; bom de briga, usava as palavras como arma.

Escrevia como poucos, sabia transmitir sentimentos e emoções em suas crônicas. No campo político-ideológico tínhamos as nossas diferenças, mas o respeito e admiração recíprocos sempre falaram mais alto.

Ano passado fui à sua casa, num domingo à tarde. Uma chuvinha gostosa molhava as plantas do seu quintal, enquanto tomávamos café e comíamos pão com queijo de coalho. Presenteou-me com três livros de sua autoria: Maranhão, Versos & Prosa e Liberdade Trancada. Contou-me várias histórias, inclusive um pouco sobre sua família.

Eu ouvi, atentamente, a sua inteligência singular.

O livro Maranhão teve alguns capítulos publicados no Blog. Entretanto, devido à sua dificuldade para escrever por causa das fortes dores, não conseguiu concluir. Semanalmente, ele me repassava as suas crônicas para que eu formatasse e remetesse para o editor do “Nosso Blog”. No finalzinho do ano passado, disse-me que não enviaria mais as crônicas. Estava cansado. Sentia que a hora do encontro final estava chegando.

Honrava-me a sua confiança. “Considero você um filho, Odemirton”, dizia.

Diariamente ele mandava mensagens para o meu “zap”. Na ultima semana, recebi uma ligação do seu celular. Não pude atender e, infelizmente, esqueci de retornar. Talvez fosse a sua mulher ou uma de suas filhas para me comunicar sobre a sua doença.

Calou-se a voz firme contra os corruptos. Para quem quiser apreciar um artesão das palavras, as suas crônicas estão eternizadas no Blog. A sua partida me deixou triste. Aliás, nos últimos tempos, perdi amigos queridos. Eu sei, é a vida. Mas, dói, como dói.

Pois é, mestre, desculpe-me se o texto não ficou do seu agrado. Contudo, escrevi com o coração. Poucas foram as palavras para agradecer todos os ensinamentos. Todavia, garanto que sobraram emoção e sentimento de saudade.

Conforta-me o fato de ter agradecido, por diversas vezes, quando ainda estava no plano terrestre.

Obrigado, Inácio, pelas lições e leveza da amizade.

Transcrevo, ao fim desta singela homenagem, um fragmento de uma de suas belas crônicas:

“Chego ao ocaso da vida com a tranquilidade dos que não se deixaram dobrar por um punhado de lentilhas. Breve partirei com a certeza do dever cumprido. Usei o cobertor que recebi para aquecer não só a mim nas noites de frio. Partirei tranquilo por não temer os deuses”.

Odemirton Filho é bacharel em Direito e oficial de Justiça

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Naide Maria Rosado de Souza diz:

    Prof.Odemirton . O Sr.Inácio lhe admirava muito.
    Nada sabemos do pós morte. Se a vida continua noutro plano ele estará , emocionado, lendo suas linhas.

  2. Rocha Neto diz:

    Mestre Odemirton, parabéns pelo artigo em tela, como sempre você se supera.
    Se Inácio ainda estivesse no vale de lágrimas das terras de Poty com certeza estaria sendo contundente com suas análises cirúrgicas inerentes ao desmantelo da “segurança” pública do Rio Grande do Norte.

  3. Marcos Ferreira diz:

    Parabéns, Odemirton.
    Sua leve e sincera crônica expressa com nitidez o bem-querer que você nutria pelo senhor Inácio Augusto de Almeida. E vice-versa. Concordo quando você me disse que dificilmente teremos outro contestador do quilate de Inácio. Já está fazendo falta.
    Uma ótima semana para você.
    Abraço!

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