Ainda estamos aqui. Claro que estamos. Mas até quando? Não sei. Ninguém sabe. Por isso a importância de vivermos cada dia, cada hora, cada minuto com o máximo aproveitamento. O que não significa dizer com afobação, desespero nem de repente. Vivamos com alguma urgência, contudo sem pressa, sem desperdício.
Degustemos a vida que possuímos de maneira inteligente. Não permitamos que nossa agenda seja pautada por terceiros. Esse tempo livre nos pertence e a mais ninguém. Não deve ser negociado. Então não o gastemos à toa, à revelia. Tenhamos pulso.
É preciso discernimento, cuidado, para distinguirmos prioridades de frivolidades. Apuremos o paladar, agucemos os olhos e os ouvidos. Tudo pulsa, lateja, transpira e também embeleza este planeta a todo momento. Vejam os colibris beijando as flores, prestemos atenção nas borboletas sobre o jardim. Quantas formigas haverá naquele formigueiro ao pé do muro? Não me aventuro nesse cálculo.
Pode não parecer, no entanto aspectos dessa ordem têm um valor inestimável. Importam mais que um carro-forte cheio de papel-moeda ou rutilantes barras de ouro. Besteira, polução noturna dos que sonham e gozam pensando em dinheiro que não lhes pertence, reféns do vil metal.
A vida se constitui de outras joias além daquelas oriundas das minas do rei Salomão ou provenientes da Arábia Saudita. Grana é importante, mas não tanto quanto saúde e amizades sadias. Como disse o poeta Manoel de Barros, o cu de uma formiga é mais importante que uma usina nuclear.
Essas coisas miúdas, supostamente irrelevantes para os homens de corações empedernidos e almas azinhavradas, saltam aos olhos quando se começa a enxergar a vida com sensibilidade. Falo assim, talvez com ar professoral, porém não me tomem por cabotino, alguém que busca atrair para si certos holofotes. Não é isso. Hoje decidi expor gigantescas miudezas que ignoramos no cotidiano.
Peço, ademais, que não confundam esta página com literatura de autoajuda, muito menos produto de autopromoção. Não é nada pior nem melhor que velhas receitas para elevar o próprio espírito, acaso tal medida funcione. Ora exibo meu pensamento com o mesmo pudor com que os gatos ocultam suas fezes.
Marcos Ferreira é escritor