Por Odemirton Filho

Pavilhão Vitória ficava na Praça Rodolfo Fernandes, sendo ponto de encontro durante muitos anos (Fotomontagem BCS)
Benfazejas são algumas lembranças; fazem-nos recordar momentos e pessoas especiais. Sim, aprecio e fico feliz quando os leitores navegam comigo nesse mar de tempos idos.
Por quê? Porque o cotidiano é tão repleto de dificuldades, sobretudo de silenciosas batalhas subjetivas, que reviver momentos singulares acalma o coração. Quem não gosta de relembrar pessoas queridas? Pessoas que se foram, deixando uma lacuna imensa em nossas vidas? Pois bem, sempre procuro trazer a este blog textos livres, leves e soltos.
Sei que aqui e acolá faço alguma crítica. Contudo, faço de forma geral, sem ofender a honra de quem quer que seja. Já bastam a intolerância e o ódio disseminados diariamente nas redes sociais.
No entanto, cada pessoa tem o seu estilo de escrever, o que respeito, diga-se de passagem. Mas prefiro cultivar na alma, paz, apresentando aos leitores uma crônica suave, que aqueça o coração.
Assim, inspiro-me em crônicas que falam sobre o simples da vida. Exemplo? Um trecho de uma das belas crônicas do inigualável Jornalista Dorian Jorge Freire, a seguir transcrito:
“Procurar a Mossoró de ontem, procurei (…), tirei do baú o meu terno de linho irlandês diagonal, branco, passado com muita goma, mandei engraxar por Chico Doidinho os meus sapatos Fox de bicos finos, passei Glostora nos ralos e raros cabelos e subi a 30 de Setembro a procura da Vigário Antônio Joaquim. (…) Digam onde estão os charutos de padre Mota, a gargalhada de Motinha, o riso bom de Manuel Leonardo, o cafeísmo de Negus, os comícios do velho João Leite? Benício Gago, seu reco-reco e seu jumento”?
E continua o mestre Dorian:
“A praça Pé Duro, depois Praça do Pax, virou Rodolfo Fernandes e perdeu sua dignidade. Porque perdeu, na avalanche, o Pavilhão Vitória, a voz de Jorge Pinto anunciando deslumbrantes tecnicolors, o bozó do Bar Suez, onde se vendia a cerveja mais gelada do mundo”.
Percebe-se que ele escreve sobre um tempo distante, do dia a dia de uma Mossoró ainda com ares de cidade interiorana. Talvez, poucos leitores tenham vivido esses momentos e conhecidos referidas pessoas.
Ademais, costuma-se dizer que antigamente o tempo passava devagar, quase parando, porquanto as pessoas tocavam a vida sem a correria dos dias atuais. Sentavam-se nas calçadas, na boquinha da noite, para jogar conversa fora e falar da vida alheia; aos domingos, reuniam-se em família para saborear um lauto almoço.
Por isso, veio-me à memória um texto do poeta Mario Quintana: “havia um tempo de cadeiras na calçada. Era um tempo em que havia mais estrelas. Tempo em que as crianças brincavam sob a claraboia da lua. E o cachorro da casa era um grande personagem. E também o relógio da parede. Ele não media o tempo simplesmente: ele meditava o tempo”.
O tempo deve ser um aliado; jamais, inimigo.
Odemirton Filho é colaborador do Blog Carlos Santos












































