Por François Silvestre
Mais uma personagem de uma época que começa a ficar deserta. A última vez que estive com ela foi na sua casa. Cortez me transmitiu o convite dela, e eu fui. Lá estavam o Juiz Antônio Lúcio de Góis e outros amigos do casal. Cachaça, tira-gosto de milho cozido e feijoada.
Num determinado momento, eles chamam uma adolescente e mandam que ela me dê um abraço. Dona Aída diz: “Essa é a criança que eu levava na barriga naquela tarde de Domingo, na Casa do estudante”.
Papo boníssimo. Cortez era um conversador cativante, erudito sem ser posudo. Fora meu professor, com quem mantinha discussões acaloradas, em sala de aula. Até o assunto do meu discurso na Casa do Estudante, quando dona Aída foi até lá fazer a entrega de uma Kombi, saiu.
Discurso que me rendeu uma prisão e condenação na Auditoria Militar, em Recife. Ela me visitou, na cadeia. No depoimento dela, na Polícia Federal, ela negou que tenha sido agredida. Disse: “Ele parecia recitar”.
Período Médici, governador não tinha força para prender nem prestígio para soltar. Dona Aída Ramalho Cortez era uma figura doce. Saudade de uma época de trevas e sonhos, loucura e esperança.
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O que motivou minha prisão foi eu dizer que Médici era um ditador fascista, cujo governo, com seu conhecimento, torturava e matava estudantes. Só isso.
E que Cortez era apenas um fantoche, nomeado, e que dona Aída estava ali para dar esmola. E que o filho que ela levava na barriga teria vida de nababo, diferentemente daqueles estudantes que ali estavam. Aí o ajudante de ordem do governo, um coronel, desligou o som. E eu continuei dizendo que naquele Salão Nobre, da vetusta Casa, nós falávamos sem ajuda de autofalante. Apenas isso.
Meus sentimentos à família.
Tive o previlégio de assistir uma Palestra de Cortez Pereira; fiquei imprecionado.
Como já falei muitas vezes, adoro música.
Nunca vi tão atual a letra e música do Chico Buarque. “Apesar de Voce”
Que na época do lancamento, “achava apenas um samba legal”.
Um abraçaço.
Conheci e convivi com o casal Dr Cortez/Aida Ramalho, não por via da política, mais como funcionário do Projeto Camarão da CIRNE em Macau-RN, pois alí era o apêndice do projeto criado pelo Governador José Cortes Pereira, que também criou o projeto Serra do Mel e Boqueirão, todos extintos pelos seus sucessores principalmente Tarcísio Maia e Lavoisier Maia. Esta história está gravada no pen drive humano, tudo contado por Dr Cortez lá no escritório da CIRNE, inclusive por mais de uma vez Dr Cortez chegou as lágrimas… depois passei a visitar sua residência em Natal, e ali também era muito bem recebido por dona Aida, na mesa da residência do casal escutei muitos desabafos inerentes a ingratidão humana. Acho que ali fiz meu mestrado inerente ao comportamento oriundo das pessoas, e hoje vejo o quanto me valeu o bom relacionamento que mantivemos por um longo período. Obrigado Dr Cortez e dona Aida, hoje livres dos perigos e ofensas dos que aqui padecem diante a ingratidão. Que Deus os abençoe na permanencia eterna da bem-aventuraça.