Por François Silvestre
Quando assumi a presidência da Fundação José Augusto (FJA), decidi não ser apenas um traseiro numa cadeira confortável. Era confortável e suja aquela cadeira. Sujeira do tempo, do uso de esfregação de inúmeras nádegas antecessoras. A ficar nela, recebendo gratificação, sem nada fazer e sendo bajulado, sairia de lá sem nada ter feito e guardando no currículo o sossego que oferecem os órgãos de controle público do Estado a quem nada faz.
Abandonar não é improbidade.
Comecei visitando os próprios que hospedavam equipamentos culturais. Patrimônio entregue ao descaso. Começo por um desses próprios. A Pinacoteca do Estado, hospedada no Palácio Potengi.
Observei, com orientação técnica da própria Fundação, que ali estava um acampamento de risco. Ambiente com cavaletes de madeira, telas de pano e tintas inflamáveis. E o pior; uma linha do teto, de maçaranduba, posta e envergada, quase caindo, sobre o comando do ar condicionado geral.
Bastava uma piúba de cigarro, ou outra fagulha qualquer, após o contato da linha com a central de refrigeração, para tudo virar cinza. Sem salvação. Um barril de pólvora, exposto à incúria do poder público. Adiei até hoje o sinistro, mas não sei até quando.
Convoquei a Coordenação de Obras da Fundação e determinei a imediata solução do problema. Combinada com uma restauração completa do Palácio. E assim se fez. Ninguém reclamou ou cobrou “correção de rumos”.
Passado o tempo, os órgãos de controle, diga-se Ministério e Tribunal de Contas, me processaram por improbidade administrativa. Porque não fiz licitação com empreiteiras. Usei a Coordenação da Fundação José Augusto, no sistema de administração direta.
Imagino alguém, no Rio, ter feito o mesmo pra salvar o Museu Nacional. Seria processado pelo MP carioca e pelo Tribunal de Contas de lá. O gaiato é que o relatório do TC de lá teria de ser assinado por Conselheiros na cadeia, por corrupção.
No caso daqui, tanto o MP quanto o TCE argumentam que dispensa de licitação carece de emergência para sua configuração. E cuidar de cultura ou instrumento cultural não é uma emergência. É uma “bobagem supérflua”, como consta num dos processos.
Emergentes são os corredores dos hospitais, os quais também estão abandonados.
A diferença é que, na pátria supérflua, os humanos mortos nos hospitais são corpos novos sem apelo antropológico, e os equipamentos culturais são destruídos sem respeito histórico.
Acompanhe o Blog Carlos Santos pelo Twitter clicando AQUI e o Instagram clicando AQUI.
Diante do incêndio devastador que presenciamos aqui no RJ, o MP e o TCE que lhe chamaram a responder por Improbidade Administrativa, devem estar encolhidos diante de tal sacrilégio.