Por Marcos Pinto
“Não aceito que ousem estrangular a inconfundível voz e eco do meu silêncio”. (Marcos Pinto).
Há uma célebre e contextualizante frase, de abissal teor emotivo, que traz uma rubrica eternizante, preceituando que “Quando uma lágrima contém o oceano e o minuto a eternidade, é porque o silêncio fala o que precisamos ouvir”. Não há como dissociar o silêncio sepulcral da imensidão de uma noite mal dormida, misteriosa, insondável e tocante.
Existem protagonistas e silêncios diversificados no cenário da solitude. Quantas vezes buscamos, de forma incontida, o famoso silêncio obsequioso ?. Quando as tribulações e vicissitudes são vividas em silêncio, DEUS nos honra com sua doce e sublime benção.
Na agitação cotidiana urge a premente necessidade de se buscar o refúgio de nossos problemas no indescritível silêncio das matas, onde o silêncio vende sonhos para montar um instante. Nesse ermo, distante do estafante e enlouquecedor burburinho das grandes cidades, encontramos a certeza incontestável e inexpugnável de que o silêncio tem como como protagonistas siameses o eco, a melodia, oceanos de indagações, a plenitude, a plenitude da lucidez, os mistérios e seus mistérios, a transcendentalidade, a ótica da ilusão, o escudo para a alma.
Alguém já frisou que “Sozinho é uma coisa, solitário é outra. Sozinho é com, solitário é sem”. Tenho como emblemático prazer visitar vetustos mosteiros e conventos seculares, onde interajo de corpo e alma, respirando como que um odor de santidade no contagiante silêncio predominante entre aquelas grossas paredes, guardiães de segredos indevassáveis.
Venero-os por serem redutos e guardiãs dos insondáveis mistérios de fé. Isento de total rasgo de identidade de culto religioso, posso afirmar que o silêncio é uma preciosa pérola lapidada por Deus. Não aceito, em nenhum hipótese, que ousem estrangular a inconfundível voz do meu silêncio. Tenho dito e reiterado.
Antes de iniciar sua vida pública, logo após ter sido batizado por João no rio Jordão, Jesus passou 40 dias no deserto. Esse retiro espiritual de Jesus mostra a necessidade que ele teve em se preparar para a missão que o esperava.
É na oração e no recolhimento que discernimos a vontade para nossas vidas. Jesus experimentou o encontro com o pai em sua totalidade, no silêncio e na solidão do deserto. Não resta dúvidas de que o silêncio é o melhor rebuço para quem se não quer revelar, ou fazer-se conhecer.
O celebrado historiador brasileiro Hélio Silva, autor de oitenta livros, optou por entrar para o Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro na década de 1990, assumindo o nome de Dom Lucas. Permaneceu na Ordem Beneditina até sua morte, ocorrida a 21.02.1995.
Até no perdão o silêncio se faz presente, uma vez que é “a gentileza do perdão que se cala”.
O renomado e introspectivo intelectual potiguar François Silvestre incorreu na mesma opção dos grandes Pensadores, volvendo, após merecida aposentadoria, seus olhos e seu coração pelo fantástico silêncio dos longes, predominante insuperável na sua serra do Martins, cujo reduto batizou-o com o venerado nome de “Mirante Mãe Guilhé”. É onde respira ar 100% puro e bebe paz espiritual no doce silêncio do ermo daquelas matas.
É, também, onde faz a tessitura quase perfeita da dialética convincente dos seus livros e artigos. É naquele misterioso rincão onde ele encontra a segurança dos argumentos.
Costumo me internar, no período invernoso, nas poucas matas nativas da serra do meu amado Apodi, quando então fico farejando o céu com o desvelo do suave silêncio. É certo que, às vezes, o silêncio mais parece um abismo com uma porta aberta. Nos momentos de tristeza cruciante assume a feição e o peso de uma âncora no peito.
Nesse diapasão, entra em sintonia com a alma, escorrendo dolente saudade no abismo imensurável das recordações.
Emoldura-se, assim, Alma, Coração e Vida, em perfeita sincronia com os emblemáticos mistérios divinos. Diante todas essas digressões espirituais, conforta-me a certeza de que o silêncio é um enigmático viveiro de eloquências invisíveis. INTÉ !.
Marcos Pinto é escritor e advogado
Parabéns Caro Colega Marcos Pinto pelo brilhante e envolvente artigo que muito bem, poderia se chamara A Doce Sinfonia de Seu Silencio, título do livro de autoria de Luciana Scotti;
Também gosto muito do silencio, silencio que não esqueçamos, representa a possibilidade única de nos propormos à reflexão e o equilíbrio em mundo tão raso, superficial e tão volatilizado pela automação e a rigidez dos horários que nos impõe o dia-a-dia da dita vida vida contemporânea.
Valorizo muito os momentos de solitude e reflexão.E a hora de suspirar fundo e ouvir a doce, profunda e fecunda sinfonia do nada.
É deitar na rede em noite escura, fitar a vastidão do espaço e ficar olhando dentro dos lindos e profundos olhos negros do infinito.
É, sobretudo poder mergulhar no oceano das nossa verdades, mentiras e contradições e, por conseguinte exercitar a autocrítica e negociar nossos conflitos com nossa engenhosa e atávica condição e formação autoritária.
UM baraço
FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
OAB/RN. 7318.
Muitíssimo obrigado nobre amigo e querido vizinho Fransuêldo. Confesso que fico até meio sem jeito Quanto as referências a minha pessoa. Abraço.
Amigo Fransueldo, com muita identidade espiritual faço de suas transcendentais palavras um fecundo e profícuo adendo ao meu despretensioso artigo. Abraçaço.
Deus do céu. Que beleza, Marcos Pinto e Fransuêldo Vieira de Araújo.
Sempre me questionei de onde tirara o “silêncio do bosque” que é o meu maior silêncio, em que, no mesmo espaço, estamos eu e eu e mais ninguém. Espaço no qual, nós duas, eu e eu mesma, podemos, caladas, responder a tudo que nos foi questionado ou cobrado ou o que censuramos em nossas atitudes. Não é uma questão de dupla personalidade. É contar comigo para me corrigir ou dizer que estou certa. Para isso preciso do “silêncio do bosque”. Para responder a uma ofensa, raro acontecer, recorro ao silêncio do bosque e, calada, ele fala por mim. Na ausência do som, a paz que me acompanha, que acompanha a mim e minha fiel escudeira, eu mesma.