domingo - 18/05/2025 - 11:52h

Renato

Por Bruno Ernesto

Bonecas num quarto do Palácio D´Ouro, em Ouro Preto/MG Foto: do autor da crônica)

Bonecas num quarto do Palácio D´Ouro, em Ouro Preto/MG Foto: do autor da crônica)

A última crônica de Marcos Ferreira publicada neste espaço no domingo (11) – veja AQUI – foi certeira, ao abordar a idiotização das pessoas no que diz respeito à predileção política.

Não digo nem ideológica, porque nos últimos anos – pelo menos nesse aspecto- não há lógica alguma.

Quando alguém tenta me doutrinar politicamente ou religiosamente, sempre me lembro de um ditado muito pertinente: nunca lute com um porco. Os dois irão se sujar, mas o porco vai adorar.

Por sinal, a carne suína é a minha preferida.

Agora, Darwin, estamos diante de um novo projeto de idiotização. Certamente você embarcaria de volta no HMS Beagle e passaria longe do Brasil, se hoje viesse.

Quem diria que uma figura tão importante para a infância de qualquer menina seria elevada à condição de crachá de idiotização.

Não, não tenho nada contra o bebê Reborn. Muito pelo contrário. Quando minha filha tinha quatro ou cinco anos até comprei uma. Ela adorava. Por sinal, naquela época, e fase de desenvolvimento dela, acharia estranho se não gostasse.

De uns sete dias para cá, todavia, explodiu no noticiário uma infinidade de situações nas quais essas bonecas hiperrealistas tomaram a lucidez de algumas pessoas que as tratam como se de carne e osso fossem.

Talvez a Síndrome do Ninho Vazio pudesse explicar certos comportamentos. Não sei.

Que saudade da época em que as bonecas nos davam era medo de tão medonhas que eram. A fantasia das crianças eram mais que normal e, acredite, condizentes com a realidade.

Meu xará, Bruno Betellheim, em sua obra magna “Psicanálise dos Contos de Fadas” dizia que essas estórias, ainda que infantis e perturbadoras, ao final, permitiam as crianças aprendessem a lidar com seus conflitos interiores, seus medos e suas falhas.

Por meio dessas narrativas, a criança vislumbrava maneiras de lidar com seus medos e suas falhas, que eram verdadeiros obstáculos para o seu desenvolvimento.

Quero crer, então, que não passe de uma grande alucinação coletiva.

Eu mesmo já estou olhando atentamente para qualquer recém-nascido e, confesso, é muito difícil lidar com esse conflito de realidade.

Compreenda, caro leitor, não é o boneco renato. É a transmutação da realidade que nem mesmo uma criança de idade biológica consegue distinguir e, sobretudo, compreender.

Vive-se hoje uma realidade tão paralela que já não conseguimos distinguir o que é sanidade, dissociação da realidade ou fuga da realidade.

Quem sabe, realmente, devêssemos viver em outro mundo só para depois perceber que ser normal tem suas desvantagens.

Talvez, diante de certas circunstâncias, devêssemos agir como os gatos: olhar, fingir que não é com você e sair de perto.

Bruno Ernesto é advogado, professor e escritor

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Odemirton Filho diz:

    Excelente crônica, meu dileto amigo, excelente crônica.
    Um forte abraço e uma abençoada semana.

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