domingo - 09/08/2015 - 10:12h

República de Retalhos

Por François Silvestre

O Brasil não teve ainda uma República alicerçada na estabilidade ou duradoura em continuidade. Se o nosso Império foi superficial e pomposo, a nossa República tem sido um cipoal de fragmentos históricos que oscilam entre o populismo e o autoritarismo.

A vida republicana do Brasil está longe da maturidade política. Sem desmerecer por completo a historiografia, porém dando a ela rédeas curtas, o pesquisador de história política precisa manter acesa a chama crítica.

Deve-se valer das fontes historiográficas com parcimônia e cautela; pois a historiografia perde muito da compreensão dos fatos na mediada do seu controle pelo poder instituído.

Daí porque a colheita de informações nos depoimentos de contemporâneos de cada época; pensadores, políticos, jornalistas, memorialistas, textos literários, reportagens ou registros documentais merecem mais perquirição do que a historiografia curricular.

A cátedra de História, no Brasil, sobre a vida política brasileira ainda patina na adolescência da idade teórica. Mesmo que seja um país riquíssimo, como poucos, em contrastes e convulsões na sua vida. A historiografia confunde muitos desses episódios com revoluções. Um equívoco que merece reparo. Até Hélio Silva, o maior historiador da República, comete essa confusão. Houve levantes, golpes, convulsões. Revolução, nenhuma.

A inexistência de Revolução, aqui constatada, não significa diminuição de importância histórica. Pode-se afirmar que as revoluções, na história da humanidade, não trazem um currículo de dignificação humana.

A Revolução Francesa desaguou em Napoleão e no retorno a uma monarquia pior do que a anterior. A Revolução Russa deu no stalinismo e nas ditaduras corruptas do Leste europeu. A Revolução Chinesa produziu a Revolução Cultural que praticou um genocídio fratricida. A Revolução Cubana caiu na cilada do personalismo ditatorial.

Portanto, ao se falar que não tivemos Revolução, é apenas uma constatação histórica e não um juízo de valor ou desmerecimento da nossa formação política. Nunca fomos capazes sequer de enfrentar os riscos da História. Menos por fraqueza e mais por escassez de instrução.

A demagogia e a ganância rastejantes de poder tem dado o tom da nossa sinfonia política. Conseguimos a triste façanha de prostituir o alcance semântico da democracia, desmoralizar o significado da liberdade e enxovalhar a cidadania.

Trampolineiros contumazes a cobrar honestidade dos adversários. Demagogos notórios fazendo pregação patriótica e ladrões do erário exigindo respeito.

Esse quadro atual não é privilégio da atualidade. É continuação vocacional de uma prática política herdada da barbárie e exploração europeias. Só a educação, a ser política de Estado, pode nos tirar da movediça lama.

Té mais.

François Silvestre é escritor

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Edmiro diz:

    Belo texto. Disse muito em palavras polidas porém contundentes.

  2. João Claudio diz:

    Tudo no Brasil é tudo muito. É muita roubalheira, é muita pobreza, é muito analfabeto, é muita mentira, é muito cinismo, é muita cara de pau, é muito tudo. Tudo é gigantesco. É o país de tudo e que falta tudo. Tem uma natureza exuberante, tem um povo que nada inventa, mas que é criativo, tem um Hino grande, tem uma Bandeira cheia de cores que não combinam entre si, tem uma das maiores taxas de analfabetismos do mundo, ainda é gritante o índice de mortalidade infantil, tem um pífio IDH, tem um dos maiores impostos do mundo com uma péssima qualidade de vida, e avança para ser um dos primeiros do mundo em corrupção.

    E agora, tem uma das maiores rejeições do mundo a uma presidente que MENTIU para o povo durante a campanha nas ultimas eleições. Para não largar o o$$o, claro!

    O castigo pelas mentiras veio a bordo de um carro de Formula Um. Uma rapidez incrível. EU SABIA! “Ela” também! A maioria do povo, não! Deu no que deu!

    “Arrocha” Brasil. Se melhorar estraga.

  3. João Paulo diz:

    Mais um maravilhoso texto de François.

  4. ROBERTÃO diz:

    Muito bom,como sempre muito bom!

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