Por Josivan Barbosa
Após uma temporada difícil para os melões espanhóis, os primeiros carregamentos de melão e melancia brasileiros chegaram para dar início a temporada de exportação de frutos para a Europa da safra 2021/22.
As informações que chegam da Europa é que a qualidade do melão brasileiro está bem acima do concorrente europeu, a Espanha. A qualidade do melão espanhol já estava deixando muito a desejar e o espaço de mercado passa a partir de agora a ser ocupado pelo melão brasileiro.
O preço do melão Galia está na faixa de 9 -9 euros/caixa. O melão amarelo e o cantaloupe estão sendo vendidos por 9 – 10 euros/caixa. Também já há algum volume de melancia brasileira no mercado europeu, a qual atinge valores de 10 – 11 euros/caixa, ao passo que as melancias sem sementes atingem 12 – 13 euros/caixa. A Espanha também coloca melancias sem sementes na Europa e concorre com a melancia brasileira.
O preço da melancia sem semente pode ainda ser recuperado ao longo da temporada, pois no início ainda há muita melancia sem semente fornecida pelo produtor espanhol.
O preço do transporte marítimo não sofreu baixa, o que dificulta a abertura do mercado de exportação para novos exportadores. Com os custos elevados do frete marítimo, só compensa exportar com segurança de mercado.
O importador europeu tem sido informado que a temporada brasileira tende a fornecer menos melão do que na temporada passada, mas ele sempre desconfia de que não passe de mais uma estratégia de mercado dos exportadores brasileiros.
Pitaya
Já defendemos neste espaço que a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado do RN poderia em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) implantar um programa de cultivo de pitaya no Médio e Alto Oeste do RN, pois é uma região desértica no que diz respeito ao cultivo de frutas. Como a água é o principal fator limitante para a agricultura irrigada naquela região, o cultivo de pitaya pode ser altamente lucrativo para o produtor. Nesta semana o quilo de pitaya estava sendo vendido em Mossoró a R$ 35,00.
Para exemplificar que o projeto pode ser uma boa oportunidade, usamos o exemplo do Peru, um dos principais países exportadores de frutas do mundo.
Os produtores peruanos das comunidades de Sullana e Piura estão articulando a formação de uma cooperativa agrária para exportar pitaya. As áreas serão de pequenos produtores com até três hectares.
Um projeto dessa natureza precisa de apoio do Estado, pois os custos para implantação de um hectare de pitaya são elevados.
No Peru os custos para a instalação de um hectare oscilam entre 40 mil e 50 mil dólares.
Outra alternativa poderia ser apenas a Secretaria de Agricultura estabelecer um canal de comunicação com ONGs internacionais que tenham interesse no financiamento do projeto. Essa alternativa está sendo usada pelo Peru com uma ONG holandesa.
A pitaya é um fruto que é altamente valorizado em toda a Europa. Outro grande produtor de pitaya é o Equador.
Engenharia de Energia
Em 2007 tivemos a felicidade de constituir uma comissão formada por três docentes para instalar na UFERSA o primeiro curso de Engenharia de Energia do Norte/Nordeste e o terceiro do país.
Após pouco mais de uma década, o Nordeste se transforma na principal região exportadora de energia sustentável para o Sudeste e passa a precisar dos nossos engenheiros de energia.
Há 70 anos foram definidas as diretrizes para o setor elétrico brasileiro, a partir de grandes usinas hidrelétricas. Naquela ocasião, o Brasil possuía cerca de 4 mil MW de potência instalada. A solução então desenhada funcionou bem por 50 anos. Graças às grandes hidrelétricas, dominamos tecnologias de construção de barragens e erguemos um parque produtor de equipamentos.
Nos últimos 20 anos, por vários problemas, sujamos a nossa matriz de geração, enfrentamos um racionamento e estamos a caminho – quase inevitável – de outro.
Tais problemas imediatos, porém, são pequenos face ao desafio de neutralizar nossas emissões de carbono até 2050. Para que isso seja possível, governo e sociedade civil devem acordar e começar imediatamente a adotar um conjunto de medidas para aumentar a participação de fontes não poluentes na matriz energética brasileira.
A capacidade instalada resultante para atender o crescimento orgânico do consumo de eletricidade e as substituições da energia tradicional em 2050 serão de cerca de 450 mil MW (atualmente são 170 mil MW). Dos 450 mil MW, cerca de 340 mil MW seriam oriundos de novas fontes limpas, parte intermitentes (eólicas e solares) e parte de geração de base.
As fontes intermitentes limpas eliminariam não só todas as emissões de gases de efeito estufa do setor de energia elétrica, metade ou mais das emissões do setor de óleo e gás e ainda criariam um poderoso instrumento de gestão territorial, cuja inexistência hoje é responsável por 2/3 das emissões de carbono brasileiras. E assim, o Nordeste, que até o século passado exportava mão de obra para o Sudeste, agora para a exportar energia solar e eólica.
A eficiência dessas neo matrizes energéticas dependem muito dos técnicos que vamos formar nas nossas universidades, como é o caso dos nossos engenheiros da área de energia.
Águas do Velho Chico
As perspectivas não são boas para os usuários das águas do Velho Chico. Nos próximos meses será intensificado o uso das águas para a geração de energia para ser exportada para o Sudeste.
Uma das ações tomadas nesta semana pelo Ministério de Minas e Energia, que acabou sendo ofuscada pelo aumento da bandeira tarifária e pelo bônus dado aos consumidores para uma redução voluntária da demanda, foi liberar mais água das usinas hidrelétricas no curso do São Francisco. Com isso, o objetivo do governo é gerar mais energia na região Nordeste e transferir esse excedente para o subsistema Sudeste/Centro-Oeste, onde está a pior situação dos reservatórios no país.
A decisão do Governo Federal fez com que o Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, que tem governos estaduais e usuários do rio entre seus integrantes, criticasse duramente as mudanças de vazão nas usinas hidrelétricas do Velho Chico a fim de ampliar o fornecimento de energia do Nordeste para o subsistema Sudeste/Centro-Oeste.
Após essa decisão do Governo Federal cai por terra qualquer tentativa de instalar novas áreas de agricultura irrigada no Polo de Agricultura Irrigada RN – CE que dependa das águas da transposição.
Mais uma fábrica de cloro-soda
A Prefeitura de Mossoró e o Governo do Estado precisam de sintonia para que a região seja escolhida como sede da nova fábrica da Unipar Carbocloro que planeja operar uma nova fábrica no país, na região Nordeste. A quarta unidade da companhia, que já tem operações no Sudeste e na Argentina, poderá ser construída do zero – um projeto “greenfield”, mediante investimentos de algumas centenas de milhões de reais.
A intenção da Unipar é produzir o cloro e explorar as oportunidades que virão com o novo marco. Não está nos planos acoplar uma linha de produção de PVC à futura unidade, ao menos inicialmente. A decisão final de investimento provavelmente será tomada em 2022.
Josivan Barbosa é professor e ex-reitor da Ufersa
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