Querido amigo João Bezerra de Castro, saudações.
Desejo que esteja em paz e gozando de plena saúde.
Dou a mão à palmatória. Sei que estou em falta com você e com os nossos amigos e leitores, com os quais você gentilmente compartilha minhas crônicas domingueiras. Lamento pelo silêncio e falta de, ao menos, um sinal de fumaça. É muita coisa por aqui me roubando tempo e o pouco juízo que me resta.
O psiquiatra mexeu outra vez nos meus remédios; o neurologista decretou a volta do Rivotril. Passo a manhã quase toda fora de combate, hibernando, chapado. Não assumo compromissos nesse período. Exceto por força de um exame de sangue (naturalmente em jejum) ou por consulta médica que não consigo agendar para o horário da tarde. Existem ainda, afora a minha torturada escrita, os afazeres domésticos. Pois é. Parodiando o marketing daquela ex-primeira-dama da República, também sou recatado e do lar. Falta-me só a beleza física, mas isso é problema do espelho.
Tenho esse vínculo com o reputado blogue do Carlos Santos aos domingos, algo que valorizo bastante e que Natália não aceita desculpas de que estou sem a verve necessária, contudo eu lhe digo que atualmente o meu maior ardor nas letras é aquela literatura de ficção mais complicada: romances e contos.
Como não disponho de meios para bancar meus “best-sellers” confinados no notebook (pagar o serviço do diagramador e do capista, mandar imprimir essas produções em uma gráfica bacana), resta-me o peneirão de prestigiosos concursos literários do País para obras inéditas. Sim, amigo, eles existem. Mesmo em municípios muito menores que Mossoró e Natal. Então, além de publicar o livro vencedor, os certames nacionais costumam oferecer um bom prêmio em dinheiro ao literato.
Sabemos que ninguém, em raríssimos casos, assegura o pão de cada dia apenas escrevendo livros. Isso não quer dizer, todavia, que devemos silenciar, meter o rabo entre as pernas, e não cobrar dos governantes, dos gestores, ações que fomentem e promovam a produção e o engrandecimento da arte da palavra.
Neste RN de políticos (salvo exceções!) arrivistas e avarentos, donos de um vernáculo obtuso e uma lábia poderosa, não existem concursos literários. E quando aparece algum é oferecendo nonadas, mixaria, troféus e medalhas ordinários, pedaços de cartolina com uma suposta distinção de honra ao mérito. Vergonha! Mesquinhez! O escritor precisa ser recompensado na alma e também na carteira.
É isso, amigo João. A literatura, como outros ramos de arte, resistirá sob paus e pedras. Porque seguiremos escrevendo e escrever é preciso. O resto que se dane futebol clube. Eis agora um sinal de fumaça para você e nossos amigos Bernadete Lino, Francisco Nolasco, Evandro Agnoletto, Marcos Campos, Vânia Granja, Gilberto Monteiro, Raimundo Gilmar, Israel Carvalho, João Bosco Costa, Nivaldo Caravina, Julimar Mendonça e Fernando Costa Filho. Desculpe se me esqueci de alguém. Porque minha memória tem a durabilidade de um Sonrisal num copo d’água.
Fico por aqui. Já são quase cinco horas desta tarde de sábado e nem comecei a escrever a crônica de amanhã. O pior é que estou sem assunto. Acho que vou falar sobre a coqueluche do Big Brother. Melhor não tocar nesse vespeiro. Deus me livre! A lavagem cerebral foi muito bem-feita e é irreversível.
Depois eu mando outras fumacinhas.
Marcos Ferreira é escritor
Destaco bem as suas palavras, poeta: cidades menores que Natal e Mossoró. Destaco e as leio como quero: cidades que fazem de Natal e Mossoró aldeias selvagens. Nada, absolutamente, nada justifica o RN não está inserido na cultura anual dos concursos literários de destaque. Se bendito é aquele que semeia livros, maldito é o que dificulta a colheita. Os sinais de fumaça pegaram um desvio e chegaram também a mim. Abraço
Valeu, poeta… Isso tem mais valia que aquele abraço!
Satisfação em tê-lo de volta ao batente literário… Tomara que dias melhores cheguem, antes que o sol se ponha…
Bom dia Caro Amigo; uma missiva muito emocionante.
Espero que melhore logo.
Um fraterno abraçaço.
As crônicas do escritor Marcos são necessárias e imprescindíveis à espécie humana! Nós não podemos, não devemos esquecer isso. O óbvio ululante: lê-lo nos faz um bem grandioso. Digo mais: todos nós somos literatura, pois somos vida, por essa e precípua razão, precisamos dos seus textos, como uma espécie de alimento. E este se não o tivermos neste espaço dominical, pense bem: ficaremos atados, encarcerados, presos, em sinopse: estaremos à deriva. Não deixe de escrever, este é o seu maior, mais lindo e sublime ofício, sua mais nobre e plena causa. Beijo em Nat. Bom domingo a todos e bom dia.
Amei o sinal de fumaça! Chego a ficar preocupada quando você demora a dar o ar da sua graça! Sempre recorro ao João, meu grande amigo também, pra saber de você. Sei os percalços da vida de um escritor. Hoje os livros digitais estão quase de graça. Sei que os tempos mudaram e que livros físicos vendem pouco. Aqui e acolá, tomamos conhecimento de grandes livrarias, fechando as portas. Muito difícil a vida do escritor! Sabemos o quanto trabalha e entendemos que frustra-se por não obter o retorno financeiro necessário. Continue insistindo! Acredito em você! Não desanime e mande sempre, sinais de fumaça! Uma semana abençoada!
Dizer que gostei da crônica não é novidade. O escritor tem uma habilidade incrível em prender o leitor.
Quanto às dificuldades financriras e frustrações são quase uma regra na vida desses trabalhafores das letras. Entretanto, nada de desanimar, porque a fumaça é prenúncio do fogo.
Aqui na “Patria das águas” onde passo uma temporada, outrora os caboclos amazônicos venciam o rio no remo. Hoje, quase todos usam uma canoa puxada por um pequeno motor (o rabeta).
Assegurar o pão de cada dia no Brasil através das letras, infelizmente são casos fortuitos, raros, quiçá raríssimos!
Quem sabe um dia meu caro Poeta, Cronista e Escritor Marcos ferreira, tenhamos a satisfação de viver este sonho!
Forte abraço!