domingo - 07/08/2011 - 11:12h

Soutinho, um bosque espesso por inteiro

Francisco Souto Filho, o “Soutinho”, ontem em sua casa, em festa de aniversário (Ricardo Lopes)

Por Carlos Santos

Ele quebra o conceito aristotélico, lá da antiguidade, que colocava o indivíduo diferenciado numa medida que tolerava o lado “b”, ou seja, talvez até o mal: “A virtude está no meio”. A moderação com Francisco Ferreira Souto Filho, o “Soutinho”, é diferente.

Não há nele essa composição para fazê-lo alguém “normal”. Soutinho é exageradamente do bem.

Discreto, trabalhador infatigável, polido, leal e acima de tudo decente. É assim o perfil inquestionável de Soutinho, que hoje aniversaria. Chega aos 83 anos.

Como antes, num passado de maior envergadura econômica de banqueiro e industrial, ele não se abre ao deslumbramento. Fecha-se no seu eu. Repete-se numa obviedade que mesmo assim não o faz comum. É acima de tudo um homem de bem, como fora à época em que muitos só o viam pela lente do ter. Pelos bens.

A frivolidade e a pompa nunca desmancharam sua espinha dorsal. Impassível sem se permitir passivo.

O poder, paixões e o radicalismo da política, que viveu ao lado da amada Edith, também não conseguiram desfigurá-lo na manada de contendores, Verdes contra Encarnados. Continuou assim: “souto”. Aqui o sobrenome é tratado intencionalmente como substantivo, extraído de sua origem latina, que significa “bosque espesso”.

Soutinho também não é diminutivo. Parece mesmo um aglomerado florestal. Uníssono, fonte de vida, multiplicador e base de um ecossistema que pode se renovar a partir de sua existência profícua, no sentido mais sublime desse termo, ou seja, a seiva moral.

Revela-se imperecível, inquebrantável, atemporal e umectado de honradez.

Imagino que alguém simultaneamente à leitura desta crônica se pergunte o porquê da homenagem que faço. É simples. É-me uma questão de crença.

Continuo devotado ao humano, não obstante deslealdades, ingratidões e leviandades comuns à natureza do bicho homem. Soutinho é um indivíduo real, em meio a postiços e tartufos, diante da ralé ou do aristocrata.

Recorro a Fernando Pessoa para enxergá-lo no todo, sendo apenas o que é: “Para ser grande, sê inteiro”.

Só isso.

* Texto originalmente publicado no Blog do Carlos Santos no dia 7 de agosto de 2009, em homenagem a Soutinho, que neste 7 de agosto de 2011 chega aos 85 anos.

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Honório de Medeiros diz:

    Belo texto, Carlos. E oportuno. Soutinho é um homem digno, alguém a quem devemos respeitar e admirar. Cultivemos, como o faziam os gregos antigos – tão sábios – aqueles a quem queremos como exemplo para hoje e amanhã, para continuarmos a luta por um mundo melhor.

  2. Hermiro Vieira Gurgel Filho diz:

    Calos Santos,
    Sem palavras.
    Não conheço pessoalmente o senhor F. Souto. Tem um funcionário do mesmo que mora no Vingt Rosado conhecido como Luiz do Sal e conversando com o mesmo sobre Soutinho ele sempre diz o seguinte: homem de bem, mantenedor de sua palavra.
    Discreto, trabalhador infatigável, polido, leal e acima de tudo decente.
    Verdes contra Encarnados ou Capim contra o Touro, pergunte a ele.
    É o que penso!

  3. fernando fla diz:

    SEM PALAVRAS. NOTA, DEZ.

  4. zeroberto diz:

    KKKKK!
    Além de tudo,flamenguista,daqueles que sabem a escalação da equipe,do goleiro ao ponta esquerda,para alguns,o seu único defeito.
    Mengoooo!!

  5. fernando fla diz:

    O homem é genial e, além do mais é flamengista.

  6. Isaías Garcia diz:

    Conheço-o de vista. Não tenho amizade com ele. Realmente é um senhor respeitado, mesmo enfrentando vários processos, tanto na Justiça Civel e na Criminal com competencia do Tribunal do Júri. Belo artigo velho CS.

  7. janio diz:

    eita muito bom texto e o personagem.

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