Tenho visto muitas interpretações ‘definitivas’ sobre as eleições deste ano no país. Menos de 24 horas após a apuração do segundo turno em 57 municípios do país, sendo 18 capitais, muita gente já tem opinião formada sobre o fim desse ou daquele partido.
Também sabem tudo sobre o futuro: quem ganha e quem perde o pleito presidencial de 2022.

A campanha deste ano e seus números não põem fim na polarização, mesmo com avanço de partidos de centro (Foto: web)
É precipitado, por exemplo, se afirmar que o PT está próximo do fim. Os números realmente são desalentadores, pois pela primeira vez desde a chamada redemocratização, não conseguiu eleger um único prefeito em nenhuma capital. Porém, nenhum partido à esquerda tem tanta capilaridade nos estados e nomes de expressão, mesmo enfrentando o fantasma do antipetismo, que segue dilapidando seus votos.
Segundo levantamento do G1 (veja AQUI), a legenda elegeu apenas 183 prefeitos (foram 254 em 2016) em todo o país, num total de 5.570 municípios. Bem diferente do salto dado em 2012, quando teve 630 prefeitos, ficando atrás do sempre campeão MDB (1.015) e do PSDB (686). Ficou apenas como o 11º colocado entre partidos que mais elegeram nomes para executivo municipal.
Alguns conceituados analistas políticos da chamada Grande Imprensa também antecipam o fim da polarização entre PT e o bolsonarismo, por exemplo. Um olhar que talvez esteja carregado pela pressa da análise e tende a não se confirmar.
Com um governo minimamente equilibrado, sobretudo no aspecto econômico, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) seguirá favorito à disputa à sua reeleição em 2022, mesmo com desempenho pífio de candidatos alinhados ao seu discurso, por todo o Brasil. Foram raras as exceções de vitória com uso de sua marca.
O bolsonarismo é ele mesmo. O PT é Lula, acima de tudo, mas tem organização, massa eleitora e militância regular em praticamente todo o Brasil.
Eleito em 2018 com o discurso da antipolítica, contra o tradicionalismo e a esquerda, Bolsonaro segue açulando sua plateia e sua militância formada àquele tempo ainda. Nas urnas, essa força em 2020 praticamente não apareceu, até porque ele mesmo não concorreu para promover um resultado diferente. Não tem sequer filiação partidária.
Logo que assumiu a presidência, Bolsonaro arengou em várias frentes e terminou o primeiro ano de gestão dando sopapos no PSL, legenda microscópica que amparou sua postulação e ganhou força descomunal no Congresso Nacional com as eleições de 2018.
Apesar dessa relação conflituosa, o seu ex-partido conquistou 90 prefeitura, uma elevação de 200%, haja vista que em 2016, sem Bolsonaro ainda, somou 30. Entretanto, nenhuma capital. É o 16º apenas no ranking dos que mais ganharam prefeituras, perdendo até para siglas como Solidariedade (94), Podemos (102), PSC (116) e Cidadania (139). O PT atropelou-o de lavada com 183.
O DEM foi a sigla que mais cresceu em números absolutos na comparação com quatro anos atrás. Saltou de 266 para 464 – o que equivale a uma subida de 75%, assinala o mesmo G1. Em boa parcela, ocupou um espaço alternativo entre os polarizadores, surgindo como uma opção de centro e à direita, em relação aos discursos mais cáusticos. Em sua conta ainda tem quatro capitais.
“A tal nova política ficou velha muito rápido”, comentou dia passado o presidente nacional do DEM, prefeito de Salvador – ACM Neto. Insisto: é cedo para assertivas dessa ordem. As eleições 2020 continuaram solapando as estruturas e forças tradicionais, como ocorreu em 2018. Não houve uma guinada à esquerda, por exemplo. Não ocorreu um contrafluxo.
E é bom lembrarmos que partidos como PT e PSL, mesmo abarrotado de dinheiro do Fundo Eleitoral, não fizeram valer esse ativo nas urnas. Por todo o país, não faltam casos de eleitos com poucos recursos, derrotando forças infinitamente mais armadas, exemplo de Mossoró, com a eleição de Allyson Bezerra (Solidariedade).
A luta presidencial tem outro perfil, diferente em boa parte do que vimos nas contendas paroquiais, onde as necessidades comezinhas e litígios pessoais, históricos e de cores são muito mais presentes.
* Essa postagem é a primeira de uma série que vamos produzir sobre as eleições 2020.
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