A expectativa é que o setor petrolífero no Rio Grande do Norte demita cerca de cinco mil pessoas este ano. Desde 2010, os números são de queda vertiginosa na empregabilidade. Uma das saídas para atenuar o efeito dominó desse ‘desmanche’, defendida pelo deputado federal Beto Rosado (PP), é o aproveitamento dos chamados “campos maduros” pela iniciativa privada. À semana passada, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) confirmou essa decisão, indo ao encontro do pensamento e argumentos do parlamentar potiguar.
Ao Blog Carlos Santos, Beto Rosado dá entrevista falando sobre o assunto e arguindo que essa é uma saída para “compensar a retirada dos investimentos da Petrobras” na região. Presidente da Frente Parlamentar do Petróleo e Gás, que reúne deputados e senadores brasileiros, ele está otimista com a decisão. Veja nosso bate-papo abaixo:
Blog Carlos Santos – Como você recebeu esse anúncio de que a Petrobras irá vender os poços improdutivos?
Beto Rosado – Com muita esperança. É uma forma de compensar a retirada dos investimentos da Petrobras nos últimos anos, causando a demissão de sete mil terceirizados e o enfraquecimento da nossa economia. Vender para as pequenas empresas os poços que não são do interesse da Petrobras é a forma de retomar esses empregos e movimentar o comércio de todo o entorno, desde a capina, o setor de alimentação, segurança, transporte e outra série de atividades.
BCS – Haverá aproveitamento de bom contingente de trabalhadores?
BR – Mossoró tem uma mão de obra ociosa muito grande por falta de emprego nessa área, muita gente qualificada formada em cursos técnicos e instituições como a Universidade Potiguar (UnP) e Universidade Fedral Rural do Semiárido (UFERSA). Esses profissionais vão ser diretamente beneficiados por essa iniciativa.
BCS – Essa é a melhor saída ou a que temos à mão?
BR – É a menos danosa. É melhor ter um campo produzindo com um operador privado do que não ter produção nenhuma e emprego nenhum. A geração de emprego não depende de quem opera o campo, mas do nível de investimento que se faz no negócio. Se a Petrobras diz que não vai investir, não haverá emprego. É preciso deixar claro que os servidores da companhia não vão perder o emprego porque são estáveis, mas os terceirizados, que dependem do nível de investimento, sofrem muito com isso. Para um operador de sonda, um motorista de caminhão, um vigilante, um cozinheiro, um técnico de serviços especiais, não importa de quem é o campo. O que importa é que ele tenha emprego para trabalhar. É isso que vai acontecer, pois serão retomados os investimentos, na medida em que chegam novos operadores, que vão adquirir os campos com o objetivo de colocá-los para funcionar.
BCS – Se a Petrobras está deixando os campos de lado, vai haver interesse por parte das empresas?
BR – Vai e os últimos leilões já mostraram isso. Como as pequenas empresas tem uma estrutura mais enxuta e um custo menor do que a Petrobras, a produção nessas áreas ganha viabilidade. Temos dados de que em alguns campos o custo de produção do barril chega a U$8 dólares para os pequenos operadores, enquanto o custo da Petrobras se aproxima do preço de venda, que é de U$ 30 dólares.
BCS – O Sindicato dos Petroleiros diz que vai haver precarização do trabalho. É esse o seu entendimento?
BR – Isso é mito. O Brasil já teve a oportunidade de experimentar esse modelo numa escala menor e as informações são de que o número de acidentes de trabalho nos operadores privados é bem menor, enquanto a performance de produção é quase o dobro. Além disso, o país tem instituições que fiscalizam essas atividades, como a Justiça do Trabalho.
BCS – Existe projeção para o número de empregos que serão gerados?
BR – Recebemos um estudo feito pela Federação da Indústria da Bahia nos estados onde estão localizados os campos maduros. No Rio Grande do Norte, se em julho de 2015 os campos marginais estivessem sendo operados por empresas independentes, a projeção da produção era de 91 mil barris contra os 49 mil produzidos pela Petrobras. Isso representaria R$1,2 bilhão em royalties, sendo R$ 590 milhões somente para os municípios potiguares. Além disso, geraria 67,8 mil postos de trabalho. É a projeção técnica do quanto estávamos perdendo.
Acompanhe o Blog Carlos Santos pelo Twitter com notas em primeira mão clicando AQUI.