São muitas as teorias, em boa parte com base em preferências e repulsas, que tentam explicar o baixo desempenho de Mossoró na eleição de nomes à Assembleia Legislativa e à Câmara dos Deputados. São muitas as razões que se somam e estabelecem esse quadro desolador de 2022.
Apenas a deputada estadual Isolda Dantas (PT) conseguiu vitória nas urnas, ou seja, sua reeleição. Em 2018, ela e o também estreante Allyson Bezerra (Solidariedade) tinham sido eleitos. O outro político com base local, deputado federal Beto Rosado (Progressistas), fracassou ao tentar chegar ao terceiro mandato consecutivo.
Que fique claro: não faltaram candidatos à peleja de acesso a essas duas casas legislativas. Ao mesmo tempo, não se pode reclamar da ausência de certa dose de bairrismo do mossoroense.
Entre os oito primeiro colocados à Assembleia Legislativa em Mossoró, todos são desse município. Em relação à Câmara dos Deputados, os três mais votados são de Mossoró. A partir daí, aparecem em 7º, 8º, 11º, 12º e 14º lugares outros concorrentes nativos.
Mas, por que o município que já elegeu quatro deputados estaduais em 1974 e três em 1990, 1998 e 2002 (veja AQUI), agora chegou a esse resultado pífio?
Por que zerou sua representação na Câmara dos Deputados, depois de já ter conseguido eleger três deputados num único ano (1998) e dezenas de mandatos desde 1945 (veja AQUI)?
Fracasso como gênese
O ponto de partida à compreensão está no próprio fracasso de quem dominou a política de Mossoró por mais de 70 anos: a oligarquia Rosado. É a gênese. Seu enfraquecimento continuado até a queda livre este ano, não elegendo ninguém, revela a perda de um mando que privilegiava apenas seus membros.
Sempre houve escassa oportunidade de prosperidade eleitoral a qualquer outro não-Rosado local ou de fora. Os fatos falam por si.
Com o vácuo, surgem não apenas candidaturas viáveis e propósitos ousados, mas também uma diversidade de nomes e projetos que ambicionam seu quinhão em terra arrasada. Muitos são aventureiros e sonhadores, mas mesmo assim fracionam bastante os votos.
Estadual – Mossoró
1º lugar – Jadson (Solidariedade) – 17.781 votos – R$ 174.500,00
2º lugar – Cabo Tony Fernandes (Solidariedade) – 15.647 votos – R$ 186.964,04
3º lugar – Isolda Dantas (PT) – 15.489 votos – R$ 551.814,54
4º lugar – Jorge do Rosário (Avante) – 6.861 votos – R$ 234.500,007
5º lugar – Isaac da Casca (MDB) – 6.520 votos – R$ 18.000,00
6º lugar – Zé Peixeiro (PMN) – 5.957 votos – R$ 57.386,08
7º lugar – Larissa Rosado União Brasil) – 5.796 votos – R$ 776.107,13
8º lugar – Marleide Cunha (PT) – 5.342 votos – R$ 181.346,80
Federal – Mossoró
1º lugar – Lawrence Amorim (Solidariedade) – 33.303 votos – R$ 782.5000,00
2º lugar – Pablo Aires (PSB) – 14.997 votos – R$ 513.636,00
3º lugar – Beto Rosado (Progressistas) – 11.136 votos – R$ 1.295,650,00
7º lugar – Samanda Alves (PT) – 4.216 votos – R$ 792.565,45
8º lugar – Sandra Rosado (União Brasil) – 3.254 votos – R$ 1.336,934,13
11º lugar – Fernandinho das Padarias (Republicanos) – 2.598 votos – R$ 553.405,74
12º lugar – Heliane Duarte (MDB) – 2.573 votos – R$ 546.277,14
14º lugar – Gideon Ismaias (Cidadania) – 1.589 votos – R$ 124.900,00
*Natália Bonavides (PT), com 10.290 votos; Fernando Mineiro (PT), com 6.963 votos e General Giral (PL), que empalmou 6.193 votos votos, ocuparam respectivamente a 4ª, 5ª e 6ª posição entre os mais votados. Major Brilhante (Progressistas) ficou em 9º com 3.233 votos; Carla Dickson (União Brasil) foi a 10ª com 3.141 votos e João Maia (PL) o 13º com 1.761 votos.
*Números financeiros atualizados até o dia 8 de outubro de 2022.
Esse abalo sísmico no modelo político meramente familiar, da oligarquia, tem eco forte e consequências diversas. O surgimento e a consolidação de sistemas de substituição não são instantâneos. Não é uma mero processo de reposição de peça avariada por algo novo ou recauchutado. O tempo e as urnas vão fazer essa maturação.
Fundão, nominata, concorrência
Outro ponto que passa despercebido à maioria, é a competitividade financeira proporcionada pelo Fundão Eleitoral. Diferentemente do passado de décadas, pequenos partidos e candidatos de menor posição econômica conseguem fazer campanhas eficazes, com visibilidade e meios à conquista do eleitor.
O quadro acima nesta postagem mostra, por exemplo, os dados financeiros e de votações oficiais disponibilizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sobre candidatos a deputado estadual e a federal com origem mossoroense. Fácil perceber, que pela primeira vez em décadas um Rosado não é primeiro lugar nas duas disputas. Tem posições secundárias.
Nessa contabilidade, não se deve esquecer que Mossoró é município polo e todos procuram votos no seu acervo. Dos 187 candidatos oficiais a deputado federal, apenas 12 não foram votados em suas urnas. Dos 320 disputantes à Assembleia Legislativa, 49 não obtiveram nada num total de 129.956 válidos a estadual e 131.239 a federal.
Outro grau de dificuldade à eleição, seja federal ou estadual, foi a complexidade de montagem das nominatas, sob novas regras da minirreforma política, sem coligações, com cada partido se virando para fechar lista com bem menos candidatos do que em pleitos anteriores.
Voto em casa/voto fora
Vencer um pleito de dimensão estadual é uma campanha de guerra. Regionalizada ou estadualizada, mas de enormes exigências em termos de planejamento, organização e ação. No caso de Isolda Dantas, por exemplo, a grande maioria dos seus votos foi obtida fora de Mossoró. Somou 15.489 votos em Mossoró e 57.046 no estado. Venceu. Sua candidatura era uma das prioridades partidárias e foi trabalhada sob esse prisma.
Consciente que teria baixa no seu capital de votos em solo mossoroense, sem Rosalba Ciarlini (Progressistas) na prefeitura como antes, Beto Rosado apostou pesadamente na sua nominata (que não correspondeu), distribuição de emendas parlamentares em dezenas de municípios e deixou Mossoró em segundo plano. Colheu bons resultados fora e votação sofrível em sua terra. Foram 11.136 votos em Mossoró e 83.968 votos em termos gerais. Não se reelegeu.
Em relação ao grupo do prefeito Allyson Bezerra, os números da votação paroquial são muito bons. Seus candidatos foram campeões. Adiante, a performance não foi igual. Não se elegeram.
Faltaram votos além dos limites de Mossoró para a eleição de Jadson (Solidariedade) e Lawrence Amorim (Solidariedade), candidatos respectivamente a estadual e federal. Jadson conseguiu 17.781 votos em Mossoró e 27.763 no RN. Lawrence bateu um recorde com maior votação da história no município, a federal. Foram 33.303 votos. No plano estadual, ele recebeu 57.598 votos.
Erro capital: o governismo local ficou à mercê dos interesses próprios da cúpula partidária e chapa majoritária ao Governo do RN, em Natal, que tinham como prioridades a reeleição da deputada estadual Cristiane Dantas e a eleição de Luiz Eduardo à AL, além da candidatura do atual deputado estadual Kelps Lima à Câmara Federal. Só falhou a ascensão de Kelps, comandante-em-chefe do partido no estado.
Rescaldo
O ano de 2022 é emblemático. Vira a chave e arrima as condições primárias de uma nova era política em Mossoró. Todavia, é ainda muito vago o que deixa em números, para que possamos enxergar o que virá adiante e compreendermos completamente as mensagens das urnas.
É preciso um período de rescaldo, estudos, avaliação de cenário pós-eleições, para leitura mais precisa da voz do povo.
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