quarta-feira - 09/01/2013 - 08:35h
Distância

Bateu saudades, ora!

Conversando agora há pouco pelo bate-papo do Facebook, com um amigo que está em Fortaleza-CE, bateu saudades.

Saudades dos meus filhos. Por quê? Porque os amo, ora!

Vez por outra essa distância fere, mas não esgarça sentimento.

Distância não é para separar, porque ela me aproxima ainda mais daquelas pessoas que gosto.

Parece um paradoxo. Não é.

Distância não é hiato, fosso, vácuo. É ponte. Ponte sobre o Volga, o Bósforo, Sena, Tâmisa…

Uma ponte sobre o abismo.

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Categoria(s): Crônica
domingo - 06/01/2013 - 08:38h

Tão tranquila que…

Por Carlos Santos

Minha cidade está tão tranquila que os passarinhos que gorjeiam, logo cedo à minha janela, também sumiram.

Devem estar também em veraneio, creio.

Ah, agora ouço um cão que late sem muita convicção, lá longe, como se apelasse contra o silêncio ou a solidão de uma casa só sua!

Foi ouvido, mas não terá minha solidariedade à barulheira. Que fique bem claro.

Cadê aquela rapaziada com seu som ensurdecedor, sempre reverberando forró e outras músicas que falam em “aí, mãinha”?

Deram um descanso aos nossos tímpanos, nesse domingo de calmaria.

Faz verão mesmo é aqui, com o sol lá fora, ainda que minha vontade esteja voltada pro aroma da chuva.

Chuva que teima em não cair, ironizando-me por esses últimos dias com escassas neblinas e nuvens – carregadas.

É seu jeito cinza de me iludir.

A noite deu-me o orvalho. Esparramado sobre o teto do carro, ele ganha o formato de uma manta de incontáveis bolhas, ressecadas logo ao amanhecer.

Pela manhã, o silêncio. O silêncio que o cão teima em não aceitar.

Teclo devagar para não lhe parecer solidário. Cravo minha repulsa a seu alarido, sem ênfase – que se diga.

Se daqui sair uma crônica, ótimo! O máximo que lhe concedo, meu caro cão desconhecido, é um lugar nessa história boba.

Tão boba que passarinhos desapareceram e respostas jornalísticas básicas – Quem? Quando? Onde? Como? Por quê? – são ignoradas.

Coisa que só uma manhã tranquila, despojada, pode estimular. Tão tranquila que… quase escrevo uma crônica.

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domingo - 06/01/2013 - 06:22h

O casamento entre o direito e a arte

Por Marcos Araújo

Na história da humanidade, o Direito e a Arte sempre foram comensais da mesma mesa. Aliás, o processualista italiano Francesco Carnelutti já descrevera essa relação no livro intitulado “Arte do Direito”.

Em sua obra, ele mistura, com uma análise toda particular, a arte no sentido clássico da expressão (pintura, escultura, música, poesia, literatura, etc.) com a arte de quem emite uma lei. Todos, diz o autor, artistas e cultores da lei, somente produzem boas obras quando trabalham com amor.

Esta associação do Direito como Arte já vinha dos antigos romanos. Eles, inspirados filosoficamente nos gregos, criaram o Direito como arte autônoma, relativamente livre da álea fugaz da sorte política.

Realmente, quem trabalha com o Direito, assim como um artista, sente com a alma, vibra com o espírito, acalenta sonhos, incensa esperanças… Direito e arte andam juntas, são irmãs siamesas do espírito libertário do homem.

É por isso que o operador do Direito também é um artista. Não raro é ele um poeta, um esgrimidor de frases, um construtor de idéias e um célebre rebotador dos vagalhões de outras contra-idéias, tudo em defesa dos interesses e das causas que abraça.

Não é nenhuma novidade o profissional do Direito ser escritor, poeta, pintor, cantor, compositor, ou até bordador de panos.

Dizem que Rui Barbosa, o mais famoso dos advogados brasileiro, foi prendadamente ensinado na arte dos bilros por sua avó Ana. É sabido também que a música brasileira tem em seus quadros um bom número de artistas que, de uma forma abrangente, podem ser chamados de profissionais do Direito.

Podemos citar que se formaram em Direito: Ary Barroso, Mário Reis, Mário Lago, Vinícius de Moraes, Nei Lopes, Alceu Valença, Taiguara, Edu Lobo.

Mário Lago advogou por algum tempo, ficando mais conhecido como roteirista de peças para o teatro de revista.  Vinícius de Morais se formaria em Direito nos anos 30, e seria diplomata até ser defenestrado pelo Itamaraty, em meio a acusações de ociosidade. Vitória da música brasileira…

Artistas como Alceu Valença, Taiguara e Edu Lobo também foram acadêmicos do Curso de Direito.

Tendo em vista o viés repressivo que, em diferentes momentos, permeou o Estado Brasileiro, muitos passaram da arte do Direito para o direito de fazer Arte.

François Silvestre e Honório Medeiros são exemplos da convivência entre o Direito e a Arte. Cumulam as dádivas de amarem o Direito e serem amantes da Arte, especialmente a da escrita. Advogados brilhantes, altivos, irretorquíveis homens de bem, intolerantes com a injustiça, cultivam o Direito e esculpem como ninguém a palavra, acalentando os nossos espíritos e inflamando as nossas almas de leitores.

Carlos Santos segue na mesma trilha.

Pouca coisa nos alegra neste início de novo século. A esperança anda acovardada pela inação e indiferença humana. Somente animados pela fé em Deus, por amor pela Arte, ou pelo Direito, podemos superar esses angustiados tempos de tantas bobagens nas redes sociais; do modismo imbecil que chamamos de “veraneio” quando vivemos em plena seca, sem direito a conhecer as demais estações; da falta de compromisso social dos nossos governantes; da insensibilidade coletiva aos que padecem por falta d´água; da irracionalidade e intolerância que implica no aumento da violência; da despreocupação com a droga que tem destruído as nossas famílias…

Captemos a mensagem que nos vem de dentro do espírito: ame ao próximo, dedique-se ao Direito e aclame o artista! É a lei da sobrevivência.

Marcos Araújo é professor e advogado

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segunda-feira - 24/12/2012 - 09:17h
24 de Dezembro de 2012

Mesmo que eu não o conheça, Feliz Natal

O que eu desejo para o Natal?

Respondo-lhe:

– Tudo que é comum a outros dias, em minhas manifestações. Bastam saúde e paz.

Não sei quem você é? Talvez não lembre do seu rosto, menos ainda do seu nome. És um estranho, provavelmente.

Sem problema. Nada me impede de continuar lhe desejando saúde e paz.

O caso não é um arroubo próprio do que costuma ser definido como “espírito natalino”. É até mais simples. Diria que é um mantra, resposta pacífica aos que resmungam, vomitam impropérios e que acabam o mundo em sua volta a cada amanhecer, sendo Natal ou não.

O Natal tem uma atmosfera ambivalente. É misto de alegria e melancolia, caldeirão de sentimentos. Soma e perda, um pouco do que quero e tenho; a certeza do que perdi e me falta.

Como resistir à criança com olhos cintilantes, que ronda a árvore enfeitada de sonhos?

Impossível não ser tocado pelo sorriso dos que nada possuem e que são lembrados hoje, mesmo que esquecidos logo amanhã, pela ‘caridade sazonal’ de alguns mais afortunados.

Os sabores e aromas mexem com nossos paladar e olfato. Atiçam todos os nossos sentidos.

Eis as luzes, o colorido, a mesa posta…

O presépio continua na minha infância nos arrabaldes da Capela de São Vicente e Igreja do Coração de Jesus, em Mossoró. A casa de dona Maria de Uriel transformada em Belém, nossa Galileia em miniatura, ao alcance da mão traquina.

A espera de Papai Noel está atualíssima, mesmo que agora sem mistério. Causava insônia. Dali nascia a tentativa de simular o sono para flagrá-lo exatamente àquela hora em que deixaria meu brinquedo embaixo da rede.

Ele, o bom velhinho, enfim descoberto. Um espectro na escuridão, de silhueta conhecida, cometia o inafiançável crime da perpetuação da felicidade.

Eu, cúmplice, prometi a mim mesmo nunca entregar sua real identidade.

Crescido, com a vida indo bem além do Cabo das Tormentas, não é o lúdico que me instiga nesta data. Entre o profano e o sagrado, tento ser indiferente ou pelo menos cumprir o ritual exigido para o bom convívio social.

Oscilo entre a alegria da atmosfera dos festejos e a própria deprê que paradoxalmente esse período provoca.

Bom, me conheço. Um velho amigo, Diassis Linhares, até emendaria com sapiência: “Algumas pessoas amadurecem, outras apodrecem”.

Amadurecer é estar pronto no tempo certo, uma forma de sempre nascer. Aí o Natal se encaixa perfeitamente. Palavra de origem latina, Natal vem de “nativitas”, que significa “nascimento”.

De algum modo renasço e sobrevivo às minhas perdas nos olhos daquela criança boquiaberta e encantada, diante do presépio de Maria de Uriel e à espera do Papai Noel. Meu presente – hoje – é ter passado.

O brinquedo embaixo da rede é apenas um detalhe. O que vale é o vulto dos meus bons velhos diante de mim, a cada amanhecer. A cada dia, outro nativitas.

Saúde e paz.

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quinta-feira - 20/12/2012 - 11:47h
Ainda há tempo...

Declaração universal antes do fim do mundo

Declaro, para os fins de direito, que amo a vida;

Declaro que não dedico um tantinho assim de segundos, diários, a pessoas que me fazem ou fizeram mal. Não tenho tempo a perder e elas não possuem a importância que imaginam ter;

Declaro que quantas vezes caí, consegui forças para me levantar. E nunca estive só na tarefa de me soerguer;

Declaro que minha fé não é inabalável, contudo inalienável e ecumênica;

Declaro que acredito no ser humano, apesar de às vezes ele ser humanamente perverso;

Declaro que tenho feito da amizade um de meus sustentáculos, cônscio de que ela pode me desapontar, mas jamais me consumir pela completa descrença;

Declaro que em muitos momentos tive a vaidade do ter, para parecer ser alguém;

Declaro que pessoas eu lustro, coisas eu uso;

Declaro que tentei ser alguém como outro indivíduo, mas me descobri único sendo eu mesmo. Nem melhor nem pior do que outrem;

Declaro que já sofri muito ao tentar mudar o mundo e a outros indivíduos, porém me encontrei no necessário mergulho no meu eu. Posso melhorar o mundo e meu universo, melhorando como gente;

Declaro que ódio, rancor, mágoa e outros sentimentos menores me assaltam, sem que consigam me desvirtuar. Sou melhor e mais forte sem eles. Por isso, melhor e mais forte;

Declaro que se amo, proclamo; se não gosto, distancio-me e ignoro;

Declaro que faço o que gosto, tenho paixão pelo o que faço e sinto-me realizado por fazê-lo dessa forma;

Declaro que se me falta algo, é porque não fiz o esforço devido a merecê-lo. É justo não possui-lo;

Declaro que faço tudo por meus filhos, jamais qualquer coisa;

Declaro que acredito em ação e atitude, nunca em blá-blá-blá e incenso;

Declaro que minha família é o mundo, cada parte daqueles que me ouvem e sabem me escutar. Estamos juntos, não obstante diferentes;

Declaro que tenho algumas desculpas a manifestar, viagens a fazer, sonhos possíveis e perguntas ainda sem respostas;

Declaro que ao chegar ao fim – amanhã, o mundo não me obriga a fazer nada hoje de forma especial e açodada. Estou de bem com ele e comigo;

Vamos embora, antes que essa joça vá pelos ares! Se der tudo errado, a gente volta e tenta melhorá-la um pouco.

 

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terça-feira - 20/11/2012 - 23:52h
Impressões óbvias

Rio Grande Sem Sorte

Do Blog Brasília Urgente (Luís Fausto)

Trinta, quase 40 dias no estado potiguar, zanzando principalmente entre Natal e Mossoró, me fazem acreditar cada vez mais no que diz e repete há alguns anos o amigo e sumido blogueiro Carlos Santos: o Rio Grande do Norte é um Rio Grande sem Sorte.

Em Natal, a antes bela e acolhedora capital, o desgoverno criminoso da prefeita Micarla de Sousa (PV) tardiamente brecado pela Justiça provocou o caos absoluto, a desordem total, um desmantelo tão grande e tão grave que só milagres continuados e permanentes farão o novo prrefeito eleito, Carlos Eduardo Alves (PDT), recuperar a cidade e devolvê-la à normalidade.

Em Mossoró, o que se vê e o que se sente é a perpetuação de uma história com o mesmo refrão e os mesmíssimos capítulos de ontem, de tresantontem, de sempre. Os personagens não mudam, apenas se revezam. E o pior, o mais grave, é que os laços familiares estão se profissionalizando, se capitalizando, consequentemente se fortalecendo.

E no estado, a governadora Rosalba Ciarlini (DEM) caminha a passos largos e lépidos para transformar a sua administração (?) na pior da história do Rio Grande do Norte e sem Sorte. Já há quase dois anos no Palácio Potengi, continua de olhos vidrados no retrovisor, não tem meia dúzia de obras para chamar de suas, mantém uma equipe de auxiliares absolutamente incompetentes e tropeça mais e cada vez mais em ações desastrosas e perigosas.

É uma pena.

O Rio Grande do Norte merece melhor sorte.

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sexta-feira - 12/10/2012 - 07:38h
Às crianças

Os meninos cresceram, foi?

Ao telefone, pergunto: “Cadê os meninos?”

Nem percebo: eles cresceram. São timoneiros da própria vida.

Mas mesmo assim, meninos. São meninos.

As crianças pichototinhas estão esticadas, situadas como gente adulta nesse mundo que herdam de nós, repleto de novidades, mas cheio de armadilhas.

Ainda estão sob minha proteção, mesmo que não percebam. Cuido delas, compartilho de seus sonhos, norteio seus passos, sou leão-de-chácara e também menino.

O que desejo de verdade, como antes, lá bem atrás no tempo, é que sejam felizes.

Os meninos cresceram, foi?

Brincadeira. Quem disse que filhos crescem? Continuam nossos pequeninos.

O que seria de mim se eles crescessem? Continuo um Gullliver, no meio daquela algazarra na ilha de Lilliput.

* Minha homenagem a todas as crianças em seu dia, que se renova a cada dia, à eternidade.

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quinta-feira - 27/09/2012 - 08:55h
À reflexão

Um “não”, lá atrás, contra a intolerância de hoje

A Rui Nascimento e tantos outros webleitores deste Blog,

Meu caro Rui, sei de casos de amizades de infância-adolescência desfeitas após décadas, devido baixarias, ressentimentos e o besteirol de provocações na atual campanha eleitoral.

Quanta intolerância. Quanta insensatez.

Sei de casal que trocou tapas num shopping, com plateia à vista, também devido a radicalização dessa campanha em Mossoró. A família em xeque, por nada.

Meu Blog é um termômetro disso.

Diariamente chegam postagens – boa parte com nomes falsos – promovendo agressões etc. Muitas são feitas contra mim e até familiares meus. Lamentável.

Gente incapaz de ouvir, geralmente não fala: rosna e late. Pode morder também.

Quem não tem argumentos costuma atacar o argumentador. Como o leão, não para de rugir para intimidar, na crença de que tem razão sempre, por parecer que tem a força para sempre.

Pobres diabos!

A sabedoria que vem da África, atravessa o Atlântico, para nos auxiliar na compreensão ou no entendimento de tanta estupidez.

Meu pai sempre dizia: não levante a sua voz, melhore seus argumentos (Bispo Desmond Tutu, Nobel da Paz, uma voz em defesa da igualdade, contra o apartheid na África do Sul).

Recordo que há vários anos eu circulava entre gôndolas de um supermercado, em Mossoró, e vi uma criança de no máximo dois a três anos dando um espetáculo de choro, espichada ao chão. Contorcia-se, avermelhada, à cata de atenção da mãe. Ela ignorava-a.

De repente, vendo que não teria o iogurte pedido em tom de pressão emocional, pura chantagem, a criança emudeceu. Beicinho desfeito, pegou novamente a mão de sua mãe e continuou o périplo de compras.

Pensei comigo: essa menininha crescerá entendendo o que é “limite”; saberá bem o significado do “não”; será tolerante.

A mãe, orgulhosa, vai afirmar: “Essa é minha filha!”

Boa parte de tanta virulência tem explicações no passado. Os intolerantes – quase sem exceção – cresceram acreditando que podem tudo, que merecem tudo, que nada pode lhes barrar. Não aceitam ser contrariados.

Um “não”, lá atrás, poderia nos poupar de muita agressividade que testemunhamos hoje. Preservaria amizades, por exemplo.

Ah, por favor, não me venha com aquele raciocínio: “Fulano faz isso porque tem um cargo; tem o que perder…!”

Existem dezenas e centenas de pessoas com cargos comissionados, com privilégios, fartas vantagens em jogo, mas nem todas – ou a grande maioria – não desce ao lamaçal, mesmo tendo o que perder.

O problema não é o que se tem a perder, mas o que não se conquistou antes: a capacidade de ouvir.

Um “não”, lá atrás, poderia nos poupar das agressões.

Agressão não se rebate. Revida-se. Ou não.

No meu caso, o silêncio e a indiferença são infalíveis diante dos que espumam de ódio e vassalagem doentia. Como aquela criancinha, o indivíduo hidrófobo deseja chamar a atenção. Quer notoriedade, para que lhe façam os gostos. O gosto de ser visto e paparicado como algo melhor e superior.

Ao me calar, não manifesto consentimento. Digo, sem voz, que não troco juízo com estúpidos.

Continuarão esperneando, esparramados no pântano em que vivem há tempos, como vermículos. Esse é seu ambiente. Lá ficarão.

É isso, Rui e demais amigos webleitores.

Abração.

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sexta-feira - 07/09/2012 - 23:53h
A morte

A eternidade de cada segundo

Quando a gente começa a enterrar os amigos tem a clara sensação de estar na “fila”. Com um desejo implícito: não há interesse em furá-la.

Acho que a morte nos humaniza mais.

Nos apequena ou nos deixa no exato tamanho do que somos: um átomo. Somos uma partícula do universo.

Ao pó retornaremos, descobrimos aos poucos.

É um retorno que passa obrigatoriamente pelos laços da infância. Serpenteamos por aquele labirinto de memórias em que nos deparamos com o Minotauro, reencontramo-nos com os amigos e constatamos que muito já se foi.

O que nos falta?

A eternidade de cada segundo.

Como átomos.

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domingo - 08/07/2012 - 03:37h

De onde vem minha força

Por Carlos Santos

À Dona Maura.

Confesso-lhes: não há um único dia de minha vida que não lembre de minha mãe – dona Maura.

Passam dias, anos começam a se distanciar, eu assim mesmo não a vejo ao longe. Parece tão perto, aqui do lado, que nem computo a partida como perda. Não nos largamos. Estamos mais próximos.

Se dificuldades parecem intransponíveis, o ar teima em faltar, nem a perturbo. Poupo-lhe de minhas angústias. Sei que de algum modo virá a luz. Dela. Tem sido assim.

Mas se estou alegre, exultante com alguma vitória, aí sim a procuro: é para dividir minha alegria. É também sua. Partilho.

Nos últimos anos fui sitiado, tenho sofrido as mais profundas vilanias; nem meus filhos foram poupados da má-fé. Mesmo assim não capitulei ou caí na armadilha de ser, como eles são, para legitimar o que fazem.

Dona Maura não gostaria que eu fosse como eles, para deixar de ser como ela me formou. É principalmente pela senhora que optei não reagir à altura. Vem daí minha força silenciosa, meu autocontrole.

O mal sempre volta às mãos de quem o arremessa. É um juiz infalível. Não precisarei levantar a mão.

“(…) Se eu curvar meu corpo na dor
Me alivia o peso da cruz
Interceda por mim minha Mãe, junto a Jesus.”

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domingo - 01/07/2012 - 03:32h

Minha crônica para viver mais

Por Carlos Santos

Vi em algum lugar do Facebook, uma pergunta instigante. Indagava: “O que você faria se tivesse apenas mais um dia de vida?”

Nem hesitei. De chofre, o click: iria para o computador e escreveria uma crônica. Escrever tem sido minha atividade laboral há quase 30 anos; é-me oxigênio.

Seria meu último sopro de existência. Mesmo assim, comum. Feliz.

Nela agradeceria o tempo que pude ter, o tempo que foi possível ter, o tempo em que fui capaz de converter o ter no ser. Bradaria que venci a luta contra o não-ser.

Diria “obrigado” pela benção de ser humano – carregado de sentimentos, exageradamente intenso, completamente apaixonado.

Atestaria que sou incompleto. Que bom não ser superior! Completo, sim, na graça de poder encarar qualquer pessoa de frente, sem medo de olhar para trás.

Nem pensaria em me despedir. Desnecessário. Sei que continuarei pulsando no coração de quem tem um lugarzinho no peito para me guardar. Se for só tantinho assim e, em poucos, não importa. É o suficiente.

É minha crônica para viver mais.

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domingo - 17/06/2012 - 11:55h

Nosso relativismo moral em nome do ‘sucesso’

Por Carlos Santos

Ídolo no Brasil, o ex-jogador de futebol Zico conseguiu um feito maior do outro lado do mundo: ser unanimidade. No Japão, a terra do ‘sol nascente, ajudou a difundir e consolidar o esporte, sendo uma instituição à reverência do povo japonês. Atuou como atleta e foi treinador.

O que fez Zico para tanto? Dessa distância que parece infinita, as informações disponíveis apontam para o seu sucesso como reflexo do talento como jogador e treinador do esporte mais popular do mundo. Parece evidente. Diria o cronista-dramaturgo tricolor Nelson Rodrigues que é o “óbvio ululante”.

Apresso-me em assinalar, que Zico é-me uma admiração, apesar dos aborrecimentos que me causou com a camisa do Flamengo, fazendo vários gols contra meu Fluminense. À minha memória, recorro à sua imagem para fazer digressões sobre a convivência humana e os questionamentos que fazemos quanto ao que é moral ou não. O certo, o errado, o válido para vencer.

Numa entrevista à televisão brasileira, coisa de muitos anos atrás, Zico retratava a rigidez de valores da sociedade japonesa, que também eram preservados no futebol. O esporte não era um mundo à parte; era microcosmo do próprio Japão milenar, em que a honra não é uma exceção, mas regra.

Zico identificou – relatando fatos na entrevista – que na cabeça dos jogadores nativos era incompreensível o uso da esperteza, o famoso ‘jeitinho brasileiro’, para tirar vantagem sobre o contendor. Narrou um caso específico: na cobrança de falta, as regras do futebol estabelecem que a barreira de jogadores adversários deve ficar a uma distância de 9 metros e 15 centímetros da bola.

Orientados por Zico de que deviam avançar ardilosamente para dificultar o chute adversário, os japoneses relutavam. Pareciam não compreender a instrução. Entreolhavam-se e resistiam. Não se tratava de conflito linguístico entre o português e a fala oriental. Era um atordoamento da esfera moral. Para os jogadores, era inadmissível aquela malandragem.

A capacidade de absorção de orientações técnico-táticas, a dedicação a treinos, a disciplina, a tenacidade e a perseverança caracterizavam os atletas japoneses. Difícil era fazê-los compreender que certos “macetes” não seriam uma desobediência à norma, mas uma engenhosidade – como é comum a esse povo que renasceu das cinzas após a capitulação na 2ª Guerra Mundial.

Enfim, essa malemolência brasileira, que poderia ser sintetizada pelo personagem “Macunaíma” de Mário de Andrade, “um herói sem nenhum caráter (anti-herói)”, esculpe muitos de nós de uma forma real. Não seria inteligente ser correto – define seus apologistas. A mesma natureza do personagem “Paulo Maurício Azambuja”, típico malandro carioca: ex-jogador de futebol, ex-sambista e trambiqueiro por excelência. Chico Anysio deu-lhe vida ainda nos anos 70.

“Quem anda na linha é trem”, fala a sabedoria de botequim. “O mundo é dos espertos”, proclama outra leva de brasileiros, com pinta de ‘171’ (artigo do Código Penal Brasileiro que trata do estelionato).

Essas e outras frases de efeito viraram lugares-comuns do ardil de um povo. Seriam parte de nossa identidade miscigenada, tropical, inventiva. Poderiam ser sintetizadas na famosa “Lei do Gérson”, que a propaganda brasileira ofereceu como contribuição imaterial à nação de arrivistas que tem caracterizado o Brasil.

Para chegar ao topo vale qualquer mutreta. “Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também, leve Vila Rica,” defendia o ex-jogador de futebol Gérson, nessa propaganda (1976), com um ar asséptico, citando a marca de cigarros. A partir daí, toda bandalheira com o dinheiro público, principalmente, passou a ter o selo de ‘qualidade’ da Lei do Gérson.

Na CPI do “Carlinhos Cachoeira”, há poucos dias, o empresário Walter Santiago soltou um risinho sarcástico e friccionou um dedo indicador contra polegar, para dizer que eram umas “coisicas de nada” R$ 1,4 milhão usados por ele para comprar uma casa do governador goiano Marconi Perillo (PSDB). Só não lembrava a origem da grana. Tinha a bufunfa em casa. “Coisicas de nada”, repito.

Normal, tudo normal. Faz parte de nossa cultura, de nosso cotidiano multissecular, desde os remotos tempos do Brasil Colônia. Chegou com as caravelas portuguesas, podem diagnosticar alguns estudiosos, imputando aos lusos esse peso. Escapismo.

O relativismo moral de boa parte dos brasileiros tem incontáveis explicações. Elas saem da antropologia, da psicologia social ou da sabedoria das ruas. Mesmo assim, lançam mais dúvidas do que certezas, isso sim. Ser inteligente, então, não pode ser confundido com “ser sabido”.

O alpinismo social, financeiro e político imprime a obrigação – para muitos – de ser trapaceiro. “Feio é perder”, garantem os seus mais legítimos representantes. Não ter palavra, para se dar bem, “é assim mesmo”, repetem tantos porta-vozes da iniquidade.

Para quem tem obrigação de educar provoca embaraço. Por vezes a gente se depara com dúvidas, que produzem uma bifurcação abstrata no campo dos valores humanos. Cá um exemplo: à mesa de uma conversa amistosa, com dois amigos, um deles – com pouco mais de 40 anos, solteiro, sem filhos, admite a preocupação prévia com a paternidade, com as crias que não têm:

– As coisas estão tão difíceis que não sei se vou ser pai um dia. Se for, eu devo educar meu filho para ser esperto ou ser um idiota, fazendo tudo certinho? É minha dúvida – resmungou ele.

Arqueei-me, com braços sobre a mesa, para me aproximar mais do meu interlocutor e falei sem muito alarde o que realmente pensava sobre tudo isso:

– Eduque seus filhos para serem felizes. Só isso!

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sexta-feira - 01/06/2012 - 22:13h
Tudo ou nada

A última e decisiva batalha na ‘guerra das moscas’

A administração do Mossoró West Shopping (MWS) está com uma missão quase impossível: colocar fim à ‘esquadrilha de moscas’ que diariamente ocupa seu ambiente interno, da Praça de Alimentação às suas lojas de produtos/serviços diversos.

A tarefa não é fácil. E não se pode dizer precipitadamente que não tenha ocorrido empenho à eliminação desse incômodo inaceitável num equipamento mercantil com tais características. O esforço é cotidiano e frenético, mas sem êxito.

Desde sua inauguração há mais de quatro anos, o MWS teve pelo menos duas empresas especializadas em pragas e detetização – com conceito no mercado – atuando no local. Sem sucesso. Perderam feio a guerra para esses “dípteros” (animais que possuem duas asas).

A praga, de fazer inveja às maldições que teriam assolado o Egito, conforme contam as sagradas escrituras, tem demonstrado enorme resistência. Fazem acrobacias e transitam soberanas, imponentes, de ‘nariz empinado’. Não parecem se incomodar com a impertinente presença humana, coabitando o mesmo espaço comercial.

As moscas tornaram-se habituês do lugar. Revelam um lado refinado e chique, como se fossem de uma nova espécie: a ‘Musca Patricinha’.

Sentem-se bem entre mármores, escadas rolantes, granitos, colunas e vitrines iluminadas. O que não chega a ter a concordância da clientela capitalista, obrigada a dividir mesas, cadeiras e os espaços físicos do shopping com esses insetos gosmentos. Eles, de graça; o consumidor, pagando.

Fala-se no shopping, na contratação de uma terceira empresa, sob custo não revelado, para finalmente bani-las. Colocar um fim no problema. Se a nova tentativa falhar, o jeito é recorrermos à turma da lagoa: os sapos. A partir daí, passaremos a testemunhar uma batalha de caráter biológico, com esse exército saltitando entre nossos pés, em lojas e corredores, numa cruzada definitiva.

Predadores naturais das esvoaçantes moscas, os batráquios podem ser chamados a essa ‘deliciosa’ (para eles) refeição. Não duvidemos. Uniriam o útil ao agradável. Com sorte, podem até realimentar o lirismo dos contos de fadas, cedendo um beijo para quem acredita poder descobrir um príncipe encantado em seus lábios finos e gélidos.

Quem duvida, heim?

Princesas, candidatem-se! Moscas, cuidem-se!

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terça-feira - 15/05/2012 - 09:01h
Para Manoel Barreto

Imagens de uma ópera popular em vermelho e branco

Por Carlos Santos

Duas imagens fixaram-se em mim às primeiras horas de hoje. As duas em vermelho e branco. São imagens inesquecíveis, simbológicas. São desenhos rabiscados a partir de fatos reais do passado.

Com a morte do meu amigo Manoel Barreto, ontem, ex-presidente do Potiguar – tratado pela imprensa e pelos amantes do alvirrubro como “eterno presidente”, é difícil não ficar um pouco lerdo, grogue. Mas, me refaço na luta cotidiana, confessando – por exemplo – que sou todo sentimento.

Não escrevo uma crônica para ele – Manoel. É, também, para Manoel. Escrevo para ficar mais leve. É para mim. Escrever é uma forma de libertação, uma terapia existencial, válvula de escape. O que me faz vivo. Inteiro.

Resgato imagens, que aleatoriamente emergiram nesta manhã, quando me fixei diante do computador para começar a trabalhar.

Lembro-me de abril de 2004, ano em que o Potiguar ganhou seu primeiro título estadual sob a presidência de Manoel. A alegria esperada por décadas, que empanzinou o Estádio Nogueirão de gente, catalizou multidões diante da TV para ver o segundo jogo decisivo em Natal (contra o América) e invadiu a Avenida Presidente Dutra para receber os campeões.

Lembro-me do trajeto pela BR-304 – Mossoró a Natal – e a visão em Lajes, com dezenas de ônibus, vans, carros particulares e gente aos montes, avisando que aquele sábado seria do Potiguar, em Natal.

Ah, as imagens!

Nas minhas digressões, com as palavras sendo disparadas a esmo, quase esqueci das imagens. A narrativa até aqui serve para ambientar, contextualizar e exumar a atmosfera daquelas horas e dias.

A primeira imagem: numa cabine de rádio no Estádio Machadão, quando a segunda partida estava finalizada e o Potiguar erguia a taça. Acorri àquele espaço de pequenas proporções para abraçar Lupércio Luiz, comentarista esportivo, mossoroense, torcedor do Potiguar. Ele estava agarrado a uma bandeira do alvirrubro. Chorava como menino.

A mim, Lupércio fez a confissão de uma ausência, diante de uma multidão que ‘invadiu’ Natal e o Machadão, tomando praticamente a metade dos lugares no estádio. Eram quase 15 mil pessoas no ‘caldeirão’ alvirrubro.

– Meu pai não viu o Potiguar ser campeão estadual, Carlos!

– Ele está vendo agora, por seus olhos, Lupércio – confortei-o.

A segunda imagem: em Mossoró (domingo, 18 de abril de 2004), com um sorriso contagiante entre os jogadores campeões e diante de uma multidão em êxtase, Manoel é o resumo de uma ópera popular em vermelho e branco. Seu sorriso é incessante. Apesar do burburinho, ele localiza-me em meio às milhares de pessoas e brada uma palavra que resume a sua própria essência generosa. Uma conquista que era muito sua, Manoel deixava que também fosse minha e nossa:

– Conseguimos!

Nota do Blog – Naquele campeonato inesquecível para os torcedores do Potiguar, a decisão foi em dois jogos. No primeiro, em Mossoró, o Potiguar fez 4 x 0 contra o América (dia 13 de abril) e no jogo seguinte (17 de abril), o time mossoroense – que poderia perder até por três gols de diferença que ainda  assim seria campeão, foi derrotado por 0 x 1 em Natal.

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domingo - 06/05/2012 - 10:50h
Só Pra Contrariar

A arte do silêncio e a vingança pelo sucesso

Só o silêncio e o sucesso podem combater, à altura, a agressão vil. Agressão não se rebate. Revida-se.

A indiferença e o sucesso pessoal destroem qualquer agressor infame.

Eis a vingança. O revide.

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domingo - 08/04/2012 - 03:19h

Os holofotes que não me veem

Por Carlos Santos

O esporte nacional brasileiro não é o futebol, como muitos imaginam: é a ‘inveja’. Inveja-se não apenas o ‘ter’, mas também o ‘ser’. Daí vem a ira. Parte das depressões advém da mesma fonte.

Na rede social denominada de Facebook, por exemplo, virou mania reproduzir foto de celebridade que era pobre e descabelada e ficou rica e bonita. São punidas pelo sucesso. Pode?

Muitos esquecem que vários desses exemplares humanos apenas estão ‘caiados’ por fora, para que pareçam também belos por dentro. Faz parte do ‘show’. Precisam parecer melhores, verdadeiras divindades.

Mas, independentemente do que tenham de bonito por dentro, todos possuem o direito de melhorar por fora. Ou será que não é esse um exercício diário de cada um de nós, feios ou bonitos, diante do espelho?

Quem é ‘normal’ é assim: cuida da própria aparência físico-exterior. Os que pretendem ser melhores, priorizam o interior. E os dois zelos não são excludentes.

No fundo, essa atitude de condenação ao êxito alheio, é inconscientemente uma crise de identidade: não nos conformamos com a própria cara e biografia. É como se disséssemos que os holofotes estão apontados à pessoa errada.

“Olha eu aqui, ó! Por que não eu?”, rosna nosso ego ferido. A inveja latente, a mesma que levou Caim a eliminar Abel. Os dois, irmãos, eram paupérrimos e anônimos pastores de ovelhas.

Entre eles, onde não existia quase nada de bem material, havia a pior das pobrezas: a do espírito.

Caim não é um personagem bíblico. É um ser humano que habita muito de nós até hoje.

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quinta-feira - 05/04/2012 - 21:31h
Microcrônica

Um tempo de cura pelo afeto

Sou das antigas. Daquele tempo em que sentávamos à calçada, brincávamos de ‘tique’, ‘garrafão’, ‘queimado’ e trocávamos figurinhas.

Das figurinhas vinha o jogo de ‘bafo’, em que batíamos com a mão côncava sobre elas, tentando virá-las com o deslocamento de ar e certa malícia. Muita malícia.

Tinha jogo de botão e meu Fluminense, imbatível. Sob meu comando, claro.

A porta de minha casa ficava aberta. A dos nossos vizinhos, também. Crime hediondo, no máximo, era furto de galinha e aqui e acolá aparecia alguém morto: normalmente por violência passional, decorrente de bebedeira ou em em nome da honra.

Serpenteávamos de uma casa a outra e a TV não era tão atraente assim. Internet? Não existia nem nas aventuras futuristas de Júlio Verne, que eu já lia.

Éramos felizes. Inocentes. Talvez felizes por isso.

Até médico da família nós tínhamos. Era comum. A nossa casa tinha o seu, sempre vestido num branco impecável.

Médico que tomava café à cozinha e sabia o nome de todos, sem embaraços. A valize parecia trazer o milagre da cura. O estetoscópio rastreava e ascultava supostas mazelas cardíacas e respiratórias. Sua caneta deslizava sobre o receituário uma letra ininteligível, puro hieroglifo a meus olhos.

A medicina tinha o poder de curar pela atenção e afeto.

Mas faz muito tempo. Nem sei por que ainda lembro disso…

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sábado - 31/12/2011 - 20:15h
Ano Novo

Simpatia para ser feliz em 2012

Daqui a poucas horas, 2012.

O calendário é uma invenção humana. Ajuda-nos a realimentar esperança, reordenar projetos, fazer novos planos, nos situarmos no tempo. Misturamos espiritualidade com crendice e certos jogos lúdicos, que psicologicamente nos levam a acreditar que a felicidade pode estar em comer lentilhas ou pular sete ondas (com sete pedidos) à beira-mar, nesta noite.

Em se tratando de “simpatia”, prefiro o substantivo feminino. Nele, resumidamente, tem-se a ideia de afinidade e bem-estar transmitidos por outra pessoa.

A simpatia no sentido da supertição, não me atrai. Diverte-me. Mas evito o desdém diante de quem confia em mogangas, com suposta conexão celestial, para guiar o próprio destino.

Até me pergunto, como escapar a esse turbilhão de expectativa que se cria, ao final de cada ano, em forma de cores, gestos e rituais. Não custa nada festejar nossa cultura. Pelo menos, para não começar o novo período – do calendário – alimentando contrariedades bobas.

Para dar tudo certo, vá de branco, tá bom?

Chupe sete sementes na noite de Réveillon, embrulhe todas num papel e guarde o pacotinho na carteira para ter dinheiro o ano inteiro.

À meia-noite, para ter sorte no amor, cumprimente em primeiro lugar uma pessoa do sexo oposto.

Na primeira noite do ano, use lençóis limpos. Assim tudo começa desembaciado no ano novo.

Dê três pulinhos com uma taça de champanhe na mão, sem derramar nenhuma gota, e jogue todo o líquido para trás. Assim, tudo o que for ruim ficará no passado.

Ah, ia esquecendo: pule num pé só (o direito), à meia-noite, para atrair coisas boas.

Reforce-se para afastar maus fluidos, diante do mar. Pegue cinco ou oito rosas brancas (números de Iemanjá e Oxum), perfume de alfazema, fitas com as cores da harmonia (azul, amarelo, rosa, branco e verde), espelho, talco, sabonete e bijuterias. Forre uma cesta com celofane, amarre uma fita no cabo de uma flor e jogue um pouco de talco e de perfume por cima. Depois, coloque o espelho, o sabonete e as bijuterias na cesta e leve para o mar. Conte três ondas e, na quarta, ofereça a cesta à Iemanjá e a Oxum.

Assim, dizem, tudo vai dar certo no ano novo.

Huum!! Mas cá pra nós: simpatia mesmo é o gesto que cativa. A palavra amiga, o ombro solidário, o peito fraterno, o choro comum, o riso à vontade, o trabalho apaixonado e a suprema elegância do respeito às diferenças.

Que venha 2012. E não custa nada botar um galhinho de arruda preso à orelha para ajudar.

Amém!

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quinta-feira - 29/12/2011 - 15:47h
Jornalismo

Falando sobre política na FM 95

Às 18h40 de hoje, participo do programa Jornal 95 2ª Edição, da FM 95 de Mossoró.

À convocação que recebi, aceita de pronto, está adiantado que serei provocado a falar sobre o quadro político local e estadual neste 2011 e perspectivas para 2012.

O.K.

Então, até lá!

Acompanhe a FM 95 ao vivo clicando AQUI.

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quarta-feira - 28/12/2011 - 11:28h
Microcrônica

A felicidade e a infelicidade de Anna em Tolstói

Sei lá por que, mas de repente veio à minha mente a genial abertura de “Anna Karenina”, de Leon Tolstói:

“Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes o são cada uma à sua maneira”.

É uma leitura obrigatória. O romance de Tolstói remete-me à reflexão sobre família, felicidade, infelicidade.

Por ser feliz, não me privo da realidade dos que são infelizes. Eu também já fui um deles.

Somos iguais.

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domingo - 25/12/2011 - 11:28h
Microcrônica

A ausência do aniversariante

Senti um Natal em família.

Por onde circulei, gente reunida em casa, à calçada, celebrando.

Crianças enroscavam-se e esbaldavam-se com presentes.

Cores, música, aromas. Sorrisos. Noite feliz!

Só senti uma ausência na maioria dessas casas: do aniversariante.

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Categoria(s): Crônica
sábado - 24/12/2011 - 11:03h
Microcrônica

Um doce para o Natal

Uma dica àqueles que estão em dúvida se compram um presente ou uma “lembrancinha” para quem gosta, neste Natal:

– Seja doce!

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