Deus não me prive da paixão pela escrita; vontade diária, permanente, perene, continuada.
Escrevo, logo existo. Assim sou feliz com outros.
Assim posso me manter vivo, inteiro, na luta.
Jornalismo com Opinião
Deus não me prive da paixão pela escrita; vontade diária, permanente, perene, continuada.
Escrevo, logo existo. Assim sou feliz com outros.
Assim posso me manter vivo, inteiro, na luta.
Se toda vez que a gente for se relacionar com alguém, começando pela exumação do seu passado, é melhor ficar em casa com uma boneca inflável.
Mas até ela enche.
Também!
Um dos destaques do primeiro dia de atividades do XIII Congresso Científico da Universidade Potiguar, em 27 de outubro (quinta-feira), será a mesa redonda que debaterá “A explosão dos blogs jornalísticos no RN”, sob a coordenação da jornalista e professora Stella Galvão.
Começará às 17h, na UnP da Avenida Roberto Freire.
Entre os convidados, estão os jornalistas e bloqueiros Ailton Medeiros, Carlos Santos, Carlos Barbosa, os três com blogs homônimos, e Franklin Jorge, do blog O Santo Ofício. Eles vão relatar e debater uma experiência acumulada no ofício de apurar, editar, republicar e influir decisivamente no trânsito de informações lidas e comentadas diariamente.
A atividade iniciará por uma exposição da pesquisa conduzida pela professora sobre a proliferação de blogs em todo o estado, e a consolidação de alguns deles como mídias que competem e eventualmente pautam o noticiário nos meios tradicionais.
Tradicionais
Os blogs estariam, portanto, no emergente rol de “meios sociais de comunicação”, contrapondo-se aos veículos tradicionais marcados pela difusão centralizada e hierarquização das notícias.
Alguns autores consideram que a interatividade propiciada pelos blogs resultou em seu maior diferencial, com um modelo de comunicação horizontalizada no qual a figura do receptor passivo é substituída por aquele que comenta, questiona, critica e propõe temas.
A pesquisa já foi apresentada em dois eventos, no XIII Congresso das Ciências da Comunicação na Região Nordeste (Intercom NE), realizado em junho, em Maceió em junho, e no lX Politicom – Congresso Brasileiro de Marketing Político, realizado em agosto na Universidade Mackenzie, em São Paulo.
Neste, o tema desenvolvido no grupo de Internet foi “Blogs jornalísticos e simultaneamente políticos: Uma imbricação de campos”, destacando-se a íntima relação entre a proliferação dos endereços online e uma série de mudanças que se interpõem na produção e difusão de notícias em períodos eleitorais.
Com informações da UnP
Costumo falar o que penso, sinto e imagino saber.
Posso, nem sempre acertar sobre o que penso, sinto e imagino saber, mas continuo fazendo o que penso, sinto e imagino saber.
É de minha natureza.
Se eu mudar, desabo.
Atendo convite, hoje, do programa Cenário Político da TV Cabo Mossoró (TCM).
Às 18h45 estarei no estúdio principal da emissora, para conversar com os jornalistas Carol Ribeiro e Julierme Torres.
O tema nuclear desse bate-papo é a crise político-administrativa no Governo Carlos Augusto Rosado (DEM)-Rosalba Ciarlini (DEM).
Você pode acompanhar o programa pela Internet AQUI.
Por Carlos Santos
Não sei o tempo que me resta aqui na terra.
Mais um dia? Alguns meses? Podem ser vários anos.
O certo é que não farei, do tempo, um resto de vida.
Tem que valer a pena. Tem valido.
Cada segundo é precioso. Respirar apenas, não me basta.
Preciso existir nos outros, pelos meus atos e não apenas com a palavra que lapido no meu trabalho.
A imortalidade é o que deixamos no coração dos que ficam. Enquanto ele bater, pulsará também pelo o que fizemos de bom e útil.
Imortal!
Minino, não sou cabra da peste, muito menos ajegado.
Sou nordestino amatutado mermo.
Nem pense que sou de butar buneco, metido a presepeiro ou das valentia.
Tenho juízo no quengo, ainda mais nesse mormaço do meu sertão.
Cê sabe que hoje é o Dia do Nordestino!? Devia de saber, homi!
Pisando esse chão rachado, puxando o fôlego da terra empoeirada e amuquecado debaixo do Juazeiro, não nego minha origem.
Sou do Nordeste; tenho orgulho de ser daqui. É meu lugar, onde estou embiocado desde tantinho assim de gente, ó!
Já pensei em arribar, dar adeus a meu povo, renegar minha origem e até procurei falar chiando. Fiquei enfatiotado, botei loção melhor e até uns sapatos lustrosos como pão-doce.
Mas não adianta ficar apoquentado, mandar ninguém pros raio que os parta, mudar o que é minha nascença.
No bisaco, protegido com meu gibão, em cima dessas alpercatas e com minha fala cheia de rudeios ou não, não nego meu naturá.
Lembro do pastoril, choro por um mungunzá, arroz-de-leite e rapadura. E ainda ouço Gonzagão bradar: “Só deixo o meu cariri, no último pau-de-arara…”
Tomo água friinha da quartinha pra limpar a goela e empurro a rede branca no alpendre, pra lá e pra cá. Mas caía bem uma bicada de cana-de-cabeça, pra criar coragem e fazer uns prometidos à muié amada!
Fico a matutar se eu arribasse daqui… Como seria cuidar da espinhela caída, sobreviver ao quebranto, curar o gôgo ou a pereba?
Pior seria o farnizim, a dor da saudade. Conviver com a distância de tudo. Não é lundum ou munganga, não. Dá até um nó nas tripas só de pensar.
P´ronde o pau-da-venta apontar, eu vou. Mas digo logo: só se for bem ali, onde a vista alcançar. Num quero demorar, não. Já imaginou se a morte me pega nas lonjuras?
Tô calejado! Medo mesmo só de papa-figo e papangu, quando eu era pichototinho. Depois dos mininos criado, só num quero apagar os olhos longe do meu lugar.
E pra isso num tô avexado! Quero mais um tempinho aqui nesse terreiro de meu Deus. O bastante para contar muito miolo de pote, fazer uns cabimento com as moça feita, empanzinar o bucho com o que gosto, folhear umas letras e me aperrear vendo futebol.
Se ficar brocoió, tantã, quero demorar não! Pra quê? Com esses cambitos apregado no corpo, um rapaz velho encruado só vai dar trabalho. Num carece, não.
Ora de capar o gato!
Por Honório de Medeiros
* Talvez o conceito do sociólogo judeu-alemão Norbert Elias não o abarque, mesmo tangencialmente. Não importa. Vou me apropriar do termo e utilizá-lo para o fim visado.
Claro que poderíamos dizer: ele é um gauche, nos lembrando de Carlos Drummond de Andrade. Aplica-se, aqui, o mesmo raciocínio anterior. Prefiro outsiders, à Elias, pelo significado etimológico que o dicionário estudantil, o Michaelis, mostra: s. estranho, intruso.
Os outsiders – todos eles -, como eu já disse em outro tempo e lugar, em algum momento de suas vidas foram moídos por aqueles no meio dos quais conviviam. Foram mastigados, deglutidos e vomitados. Seus jeitos de ser o sistema não assimilava. Não se tratava de oposição externa ou interna ao Poder. Não se tratava de irridência, sublevação, contestação por contestação.
Nada disso.
Nada mais seus jeitos de ser eram que estranhamento em relação ao estamento ao qual, até então, o outsider pertencia, apesar de outsider. Ser tal qual foi sua glória e sua tragédia. Fez com que fosse deglutido e depois expelido. Deglutido graças ao talento, à competência individual – nada que se assemelhe à conseqüência de um compadrio, de um afilhadismo, de um parentesco qualquer.
E expelido porque impossibilitado, graças ao que seria uma excentricidade moral, ou psicológica, ou filosófica, ou todas juntas, de acompanhar a carneirada e sua vocação para ser usado pelos lobos ao custo de balangandãs, bijuterias, penduricalhos materiais ou simbólicos. Pois Carlos Santos é assim, talvez porque nascido no território imagético composto pelas ruas cujo epicentro é a histórica Capela de São Vicente, coração da Mossoró libertária – não a outra que o Poder tornou sem substância há quase ruins cem anos.
Território com população pequena e selecionada por uma dessas felizes circunstâncias que a história mostra ser tão rara, e soberania construída via permanente e anárquica tensão afetiva entre o matriarcado implícito/patriarcado explícito e a insubmissão das gerações mais novas. E logo fez parte da geração que se distanciou da infância, entre alegre e triste, a golpes indisciplinados de leituras de todos os matizes e para todos os gostos, nos anos 70.
Fez-se e se diz repórter, Carlos. Nada mais, segundo ele.
Podo ser, mas há controvérsias. Embora conheça tudo de jornal – até fundou um -, é engano o que diz, e esse dizer nasce de um exercício crítico da razão tolhida pela modéstia e certo laivo de manha.
Como todos nós que nascemos na nossa República Independente de São Vicente, tem Carlos uma base comum sobre a qual construímos, ao longo do tempo, nossas distinções de personalidade, muito mais que de caráter: aquela educação ministrada pelos exemplos, tradição dos mais antigos, consolidada por intermédio de orações e devaneios à luz mortiça da Capela, nas longas noites das novenas de Santo Antônio, a cantar as ladainhas e aspirar o doce aroma do incenso que o turíbulo aspergia conduzido por nossas ciosas mãos de meninos.
Qualidades morais, mas há as outras, para além da decência de suas atitudes, que o expõem como muito mais que repórter, entretanto louvado e respeitado seja esse mister.
Por que naqueles dias nos quais o homem que cada um de nós seria amanhã ia sendo produzido nas leituras, bate-papos e discussões – às vezes aguerridas – havia, como que permeando sutilmente nosso presente e preparando o futuro, uma romântica angústia metafísica por Justiça (assim mesmo, com J maiúsculo) nascida do olhar sensível e da razão aguçada que percebiam, mas ainda não entendiam o que se passava no nosso entorno, sorvida nos rios literários nos quais nos dessedentávamos, aguardando uma práxis qualquer que nos tornasse mais Sanchos Panças e menos Quixotes largando mão da retórica adolescente contra os moinhos de vento da Ditadura.
Era um tempo no qual o máximo de ousadia consistia em ouvir, antes da meia-noite, as transmissões da Rádio de Moscou. Falávamos mal dos que não estavam na Oposição. Criticávamos o Regime.
Ansiávamos por mudar o mundo e as pessoas.
Então cada um foi para o seu lado, sempre Quixotes, quase nunca Sanchos. Encruzilhadas, conquistas, fracassos.
Da nossa geração, da nossa República, tivemos políticos, escritores, empresários, de tudo um pouco, até mesmo alguns, tão especiais que o Céu, cedo, os levou. E tivemos jornalistas como Carlos, que também é escritor, pois escolheu ler, escrever e pensar as coisas e as pessoas, as pessoas e as coisas, cada uma no seu tempo, cada tempo uma vez ou tudo.
E de suas crenças construiu respeito; de suas idéias, a admiração; de suas escolhas, o afeto, sem perder a sede por Justiça.
Quem o lê, diariamente ou não, em seu blog, logo percebe tal e se gratifica com suas análises políticas e algumas esparsas crônicas, mas anseia por outras incursões literárias, tais quais ensaios, críticas, que tenham sua assinatura, algumas guardadas – ainda não tornadas públicas – junto aos livros que, aos poucos, tomam os espaços restantes do seu bunker, mas não esquece, também, outra faceta sua: o talento com o qual, como ele mesmo diz ao descrever “Só Rindo 2,” retrata disparates, rompantes inteligentes, gafes homéricas e cenas picarescas em narrativas condensadas, como se fossem esquetes teatrais.
Pelo que diz, e como diz, já temos uma noção da qualidade do texto. Daí porque um jornalista que é escritor; um escritor que é jornalista.
Claro que quereremos mais, nós que o lemos sempre. É esse seu débito para conosco, no geral.
No particular, a República deseja que se mantenha no que escreve, mesmo quando cuida de advertir divertindo, com esse compósito de profundidade e ironia – a boa ironia – esculpida a pinceladas incisivas, rascantes, argutamente postas, celebrando a vida no que ela tem de flores e lama: desde o homem que ascende para além dos limites de suas circunstâncias até o homem que mergulha no opróbrio de seus instintos vis de predador social.
Pois a Justiça de ontem em seu coração é a Justiça de hoje em sua razão.
Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN
* Texto de apresentação do livro “Só Rindo 2 – A política do bom humor do palanque aos bastidores”, de autoria do editor e criador deste Blog
Natal, aguardo-a a partir das 19h de hoje no restaurante La Tavola (Rua Rodrigues Alves, 44, Petrópolis).
Lanço o meu segundo livro. É o “Só Rindo 2 – A política do bom humor do palanque aos bastidores”.
O prefácio é do reitor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), professor Milton Marques. O professor, escritor e ex-secretário do Estado do RN e da Prefeitura do Natal, Honório de Medeiros, faz a apresentação. As editoras Herzog e Sarau das Letras são responsávaeis pela edição.
O projeto gráfico de Augusto Paiva, ilustrações de Túlio Ratto, fina impressão da Gráfica Expressão de Fortaleza (CE), este livro tem 160 histórias hilariantes que revelam o “lado B” dos políticos e aquelas figuras que gravitam em torno do poder.
A coletânea tem acontecimentos atemporais que envolvem personalidades conhecidas do universo político potiguar, em tiradas inteligentes, micos etc.
Espero um número incalculável de meia dúzia de pessoas por lá. Não falte. Precisamos fazer número.
Afinal de contas, um escritor mundialmente desconhecido como eu não pode perder a chance de “vitimá-lo” com o Só Rindo 2.
Até mais tarde.
Veja AQUI reportagem do Nominuto.com sobre o lançamento.
Eis-me, Natal. Inteiro ao seu dispor.
Cheguei há poucas horas. Devo ficar pelo menos até o dia 28 (domingo).
Até lá, muito trabalho, lançamento do livro “Só Rindo 2 – A política do bom humor do palanque aos bastidores”, dia 25 (quinta-feira), no Restaurante La Tavola, em Petrópolis, além de conversa jogada fora, com os amigos.
Aguarde.
Xarias e canguleiros, tirem a tristeza do caminho que quero chegar a Natal com o “Só Rindo 2 – A política do bom humor do palanque aos bastidores”.
O lançamento desse meu segundo livro na bela capital potiguar será no dia 25 próximo, às 19h, no Restaurante La Tavola, Petrópolis.
Na condição de um escritor “mundialmente desconhecido”, minha expectativa é de juntar um incontável número de meia dúzia de amigos por lá.
Então, não falte.
Espero “vitimá-lo” a tempo e à hora.
Inté!
Por Carlos Santos
Ele quebra o conceito aristotélico, lá da antiguidade, que colocava o indivíduo diferenciado numa medida que tolerava o lado “b”, ou seja, talvez até o mal: “A virtude está no meio”. A moderação com Francisco Ferreira Souto Filho, o “Soutinho”, é diferente.
Não há nele essa composição para fazê-lo alguém “normal”. Soutinho é exageradamente do bem.
Discreto, trabalhador infatigável, polido, leal e acima de tudo decente. É assim o perfil inquestionável de Soutinho, que hoje aniversaria. Chega aos 83 anos.
Como antes, num passado de maior envergadura econômica de banqueiro e industrial, ele não se abre ao deslumbramento. Fecha-se no seu eu. Repete-se numa obviedade que mesmo assim não o faz comum. É acima de tudo um homem de bem, como fora à época em que muitos só o viam pela lente do ter. Pelos bens.
A frivolidade e a pompa nunca desmancharam sua espinha dorsal. Impassível sem se permitir passivo.
O poder, paixões e o radicalismo da política, que viveu ao lado da amada Edith, também não conseguiram desfigurá-lo na manada de contendores, Verdes contra Encarnados. Continuou assim: “souto”. Aqui o sobrenome é tratado intencionalmente como substantivo, extraído de sua origem latina, que significa “bosque espesso”.
Soutinho também não é diminutivo. Parece mesmo um aglomerado florestal. Uníssono, fonte de vida, multiplicador e base de um ecossistema que pode se renovar a partir de sua existência profícua, no sentido mais sublime desse termo, ou seja, a seiva moral.
Revela-se imperecível, inquebrantável, atemporal e umectado de honradez.
Imagino que alguém simultaneamente à leitura desta crônica se pergunte o porquê da homenagem que faço. É simples. É-me uma questão de crença.
Continuo devotado ao humano, não obstante deslealdades, ingratidões e leviandades comuns à natureza do bicho homem. Soutinho é um indivíduo real, em meio a postiços e tartufos, diante da ralé ou do aristocrata.
Recorro a Fernando Pessoa para enxergá-lo no todo, sendo apenas o que é: “Para ser grande, sê inteiro”.
Só isso.
* Texto originalmente publicado no Blog do Carlos Santos no dia 7 de agosto de 2009, em homenagem a Soutinho, que neste 7 de agosto de 2011 chega aos 85 anos.
Por Carlos Santos
Poderia ser outro prenome: Antônio, Francisco, José, Pedro, Paulo. Mas era João. “Seu” João, como a boa educação recomenda na reverência aos mais velhos, como forma de tratamento.
Há anos ele não me via. Mas lembrou. “Sim, é aquele seu amigo magrinho, né?” Em seguida, complementou: “Andava muito lá em casa”.
Testemunhou-nos impassivo, por incontáveis vezes, ouvindo Fagner, Alceu Valença e clássicos internacionais, nos paupérrimos cômodos de sua casa. Acolhedor, via com a maior naturalidade nossos fígados juvenis se enpanzinarem com aguardente. Felizes ou “roendo”. Inconsequentes, como nos cabia.
Corpo mirrado, cabelo liso e ralo, pele tostada por anos de trabalho sob sol causticante, instrução elementar. Poucas eram suas palavras. O sorriso escapava, sem nunca se transportar à gargalhada tão corriqueira a seu filho, meu amigo desde reta final da adolescência.
O câncer o alcançara há algum tempo, sem lhe tirar a serenidade. Seria resignação, uma fé sobrenatural ou desconhecimento da real dimensão do problema? Perguntei-me algumas vezes, mas não quis insistir na caça à resposta. Nem me lancei na impertinência do questionamento às claras.
Só após sua morte, descobri o porquê. Assim, naturalmente, no desabafo do próprio filho, com olhos marejados de lágrima, mas orgulhoso da origem, encontrei o porquê de tanta força no duelo contra o câncer dilacerante.
O nordestino de fibra, afeito à cultura da palavra, impregnado de valores que vão se escasseando, guardara para si e raras testemunhas, uma justificativa para continuar brigando pela vida. Lutava bravamente contra aquela moléstia que o humilhava, rasgava suas artérias e o consumia por dentro, em nome de um compromisso que assumira com sua biografia.
Indiretamente, era parte da herança que deixaria para a família, em especial para o filho amado.
Fez-me recordar Machado de Assis. O escritor de “Dom Casmurro” guardou uma frase conclusiva de livro, em “Memórias póstumas de Brás Cubas”, que por muitas vezes me deixara pensativo:
– Não tive filhos; não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.
“Seu” João agiu, pensou diferente. Não permitiu que as poucas posses materiais fossem motivo para negar-se à continuidade, através de um filho. Nem desonrou a própria história a contaminar seu herdeiro.
Bem além do personagem machadiano, João, “seu” João, João Félix de Medeiros, era aquele ser humano que podia ter jogado tudo para o alto e se render. Fez diferente, para transmitir a herança da coragem em vez da compreensível covardia e desesperança. Não entregou os pontos.
A morte o tornou mais forte.
Machado não teve a benção da paternidade, por motivos de saúde – dizem seus biógrafos. Mas nem assim definhou ao lado de sua Carolina, a mulher amada. Nem fiquemos a imaginar que Cubas seja seu alter ego, alguém que falava por ele na literatura.
Bem, mas cá estou a digressões literário-filosóficas e termino fugindo da prosa inicial. Fico a reler e reinterpretar a cabeça de Machado de Assis, folhear seus textos, passear pelo Rio de Janeiro imperial e republicano. Esbarro no Cosme Velho, vendo-o sem filhos, sem Carolina que morrera um pouco antes. Doente.
João, “seu” João – sem qualquer projeto ou mania de grandeza -, conseguiu no anonimato de sua vida, ser machadiano. Simplório, sem ser simplista. Puro. Intenso.
O filho, herdeiro do mundo que “seu” João não engrandeceu com qualquer título honorífico, comenda ou ato de bravura em campos de guerra, sabia o que fizera seu pai suportar tanta dor. A confissão tinha sido feita a outro interlocutor da família:
– Eu só estou fazendo esse tratamento e aguentando tudo isso por ele! Meu filho.
Carlos Santos é criador e editor do “Blog do Carlos Santos”
Às 19h30 de hoje, na Câmara Municipal de Areia Branca, lanço o livro “Só Rindo 2 – A política do bom humor do palanque aos bastidores”.
A iniciativa foi desencadeada pelo vereador Aldo Dantas (PMDB), presidente da Câmara de Areia Branca.
O livro mostra situações inteligentes, embaraços e acontecimentos jocosos ambientados na política. Tudo é narrado em 160 histórias, com ótimo conteúdo gráfico-editorial.
O evento é aberto ao público em geral, não apenas de Areia Branca, mas de cidades circunvizinhas como Grossos, Tibau, Porto do Mangue e Serra do Mel, além de Mossoró.
Em Mossoró, o lançamento aconteceu no último dia 21, na TV Cabo Mossoró (TCM), com sucesso considerável.
Então, até lá.
P.S – Um grupo de amigos de Mossoró já avisou que sai em comboio, “boquinha” da noite, para reforçar a confraria em torno do “Só Rindo 2”. Òtimo. Já me sinto em casa, em Areia Branca, imagine com esse reforço afetivo.
Por William Vicente (TCM) e Redação do Blog do Carlos Santos
O lançamento do livro “So Rindo 2 – A política do bom humor do palanque aos bastidores” levou políticos, jornalistas, artistas, empresários e outras pessoas dos mais diversos matizes sociais às dependências da TV Cabo Mossoró (TCM)), à noite de autógrafos nesta terça-feira (21).
O evento se dilatou até próximo de meia-noite, devido fila para dedicatórias do autor. Nem a chuva que banhou a cidade em boa parte do período arrefeceu o fluxo de pessoas, que prestigiaram a iniciativa, em ambiente de descontração.
Estavam presentes à cerimônia personagens da política local, como os vereadores Genivan Vale (PR), Francisco José Júnior (PMN) e Jório Nogueira (PDT); deputada estadual Larissa Rosado(PSB). O reitor da Universidade do Estado do RN (UERN), professor Milton Marques fez a apresentação da obra e autor.
O “Só Rindo 2” nasceu quase nove anos depois do primeiro título lançado por Carlos Santos. A nova publicação tem o mesmo perfil: resgata historias do universo político, especialmente do Rio Grande do Norte, da capital ao sertão. Retrata disparates, rompantes inteligentes, gafes e cenas picarescas, como se fossem esquetes teatrais.
No entanto, o livro não tem interesse no escárnio da imagem dos políticos, e sim, documenta o que o autor considera inusitado e pitoresco em 160 historias, extraído da cultura oral do meio.
O lançamento da obra será veiculado na TCM em formato de programa especial, em data e horário a ser definido.
No evento, em si, o marcante foi a informalidade, a partir do ceriomonial conduzido pelo jornalista Givanildo Silva, que atendeu a convite especial de Carlos Santos. “Ninguém aqui é autoridade. A proposta é realizarmos um encontro de amigos”, disse. E assim aconteceu.
Milton Marques destacou a tenacidade do jornalista, que gosta de ser tratado como “repórter”. Salientou a importância do trabalho em questão e elogiou-o pela capacidade de juntar tanta gente, dos mais diversos matizes sociais, para um evento dessa natureza.
Convidado especial para falar, o padre Sátiro Dantas foi aplaudido. Salientou que Carlos é “perseguido” por setores intransigentes, por “sua coragem” e por falar algumas “verdades”. Salientou que o “Só Rindo 2” tem a capacidade de juntar um apanhado de situações, de forma documental, para preservar esse lado da política local e regional.
Em seu discurso, também rápido como os demais, Carlos agradeceu a presença de todos, justificou a informalidade e desmitificou qualquer selo de “mártir”, “herói” ou “vítima” para si. “Sou apenas um repórter”, grifou.
Veja abaixo, em galeria de fotos, uma mostra do que foi o lançamento do “Só Rindo 2”. Basta clicar sobre qualquer uma delas e acionar a sequência pra frente ou para trás para ver todas.
Veja, clicando AQUI, crônica do autor sobre essa noite.
É hoje, amigo internauta, o lançamento do livro “Só Rindo 2 – A política do bom humor do palanque aos bastidores”. Será a partir das 19h30 nos jardins da TV Cabo Mossoró (TCM), em Mossoró.
O jornalista Givanildo Silva – amigo-irmão – será o cerimonialista, despido de maiores formalidades. O reitor da Universidade do Estado do RN (UERN), professor Milton Marques, fará a apresentação, naquele diapasão sereno de seu estilo.
Nosso encontro promete ser leve, em ambiente enxuto, como uma confraria à esquina de casa. Ah! não precisa levar cantil, encomendar uma quartinha, empunhar garrafinha com água mineral ou portar saco com gelo! Ninguém vai morrer desidratado: água e refrigerante serão fartos.
O livro é um trabalho que reúne 160 histórias ambientadas no universo político do Rio Grande do Norte, em especial.
Nele não há interesse no escárnio, não se busca o enxovalhamento da imagem de políticos, seus asseclas e anônimos e, sim, documentar o inusitado e pitoresco. É isso que procuro apresentar, ao assiná-lo.
O convite formal, por escrito, entregue solenemente em mãos, ficou a cargo de uma das editoras responsáveis pela edição, a “Sarau das Letras”, parceira do meu selo próprio – a “Editora Herzog”. Entretanto como é comum a quase toda produção do gênero, chegou “em cima da hora”, impedindo distribuição mínima.
Tudo bem.
A grande maioria dos meus convidados não tem rosto, não conheço pessoalmente; falta-me a intimidade da prosa à calçada, nem sei endereço físico. Se é gordo, magro; baixo, alto. Evangélico, cristão, islâmico, agnóstico…
São médicos, advogados, jornalistas, professores, comerciantes, empresários, engenheiros, políticos. Mas são também taxistas, frentistas, policiais, estudantes, donas-de-casa, engraxates, comerciários, desempregados etc.
É um mosaico humano, gente de todos os matizes, que ao longo dos últimos anos foi se reunindo por aqui, transformando esta página numa “ágora” grega, num fórum de debates.
Convidá-los um a um, impossível. Humanamente, impossível.
Quem não estiver presente, não estará ausente.
É! Meu novo filho nasceu. Outros virão. Cada um, em papel ou carne e osso, é único. Querido! Incensado. Com história própria. Título e subtítulo; nome e sobrenome. Feito em partilha, vivo para ser amado.
A paternidade responsável tem ônus e bônus. Topei fazer para me realizar sendo. Só isso.
Que belo dia para dizer “muito obrigado”.
Até mais tarde!
Você é meu convidado.
Falo sobretudo ao mais anônimo e humilde dos internautas, que acessa esta página com regularidade ou ocasionalmente. Não importa.
No próximo dia 21 (terça-feira), à próxima semana, às 19h30, nos jardins da TV Cabo Mossoró, estarei lançando meu segundo livro.
É outro filhote querido, concebido com enorme dificuldade; amado.
O “Só Rindo 2 – A política do bom humor do palanque aos bastidores” é uma coletânea de situações hilariantes, que envolvem políticos e outras figuras que formam esse universo.
A intenção não é promover o escárnio ou a ridicularização. Como o primeiro livro, esse mostra um “lado B” menos tortuoso da atividade política. Humanizado.
Aguardo-o por lá.
Seja bem-vindo.
Finalmente botamos o “focinho” fora. Ufa!
O novo Blog do Carlos Santos, que em verdade é nosso, meu e de cada um dos webleitores que o acessa, está no ar. A partir de agora, ele marcha nesse mundão de meu webDeus sob outra roupagem e com diversos mecanismos à melhoria da navegação, interação e fomento publicitário.
Nos próximos dias e semanas, nossa equipe – em parceria com a Zenitech (responsável por este projeto) – trabalhará em ajustes, testes e procedimentos técnicos, que objetivam a plena funcionalidade desta página. Muitas desconfigurações devem aparecer. Certas ferramentas teimarão em não funcionar.
A página está pronta, mas a renovação e o aperfeiçoamento são sempre obras inacabadas.
Perseguimos a utópica perfeição.
O que temos aqui é resultado de quatro meses de contínuos esboços, reuniões, questionamentos, concordâncias, discordâncias. Uma dialética em alto nível, com o intuito de produzir algo de excelência.
Bem, eis o novo Blog do Carlos Santos.
Como fora antes, ao longo de quatro anos, daqui para frente não será de outra forma: estamos todos juntos.
“A vida é combate”, lembra-me o poeta Gonçalves Dias.
Então, ao trabalho.
Mais uma vez tenho um oficial de justiça à minha porta. A batida ao portão, com o punho cerrado e em sequência tonitruante, não me deixa dúvida. Pergunto só para conferir mesmo:
– Quem é?
– Sou eu, Carlos Santos. É Otacílio, oficial de justiça.
Nem precisava a declaração oficial.
O “toque” de Otacílio é personalíssimo.
Tomo a liberdade, para não atrasá-lo, de sair em trajes quase sumários, com meu físico de pintassilgo resfriado, pernas de talo de coentro à mostra.
Uso apenas uma toalha contornando a cintura, dorso “atlético” à exibição, como um gladiador apolíneo, espécie de deus grego do semi-árido.
Tenho essa naturalidade, em face da frequência com que os oficiais de justiça aportam aqui em meu muquifo, sempre trazendo citações e intimações da patota que está no poder e, que, não é do ramo.
Pelo menos do ramo de governar, que se diga.
Suas manoplas têm outras habilidades.
Bem, mas voltemos ao ponto central desta prosa.
Surpreendi-me. Nem intimação nem citação.
O amigo Otacílio, de manhã ainda cedo, pede desculpas pelo suposto incômodo. Quer apenas uma informação sobre outra pessoa a ser citada judicialmente. Oriento-lhe, ajudo-o. E, lógico, coloco-me sempre à disposição para esse ou outro fim ao meu alcance.
Como jurisdicionado, até cobro tratamento diferenciado, pois me considero o melhor por essas plagas, sem nunca me esconder ou colocar qualquer embaraço ao prosseguimento processual, desde a simples citação.
Dessa vez, na pressa não deu para oferecer pelo menos um copo com água ao Otacílio. Mais não posso. A geladeira parece um chafariz: só tem água.
Fica para uma próxima.
– Volte sempre – intimo ao me despedir.
Por Carlos Santos
Eu tinha dúvida quanto ao ano. Confesso uma certa dificuldade para me situar no tempo, quando viajo cronologicamente, com uso apenas do recurso da minha memória. É um GPS inconfiável.
Bem, mas o ano não importava.
O que me parecia fundamental era o fato em si. Sua contextualização, pinçando-o para me situar, é o que me interessava mais.
Como alguém tem coragem de cortar o próprio pulso, com a lâmina de um canivete? Razões? Há-as para tudo, até mesmo para automutilação, raciocinava.
Tirou-me o fôlego a narrativa que ouvi à madrugada, em casa, com a TV sendo minha única fonte de luminosidade e companhia, incidindo sobre meu rosto opaco, num quarto lúgubre.
O sorriso de Aron Ralston, um jovem alpinista norte-americano, de braço erguido e parcialmente amputado, era um contraste com minha apatia. Uma sisudez tocada pela alegria de quem tinha acabado de perder parte do corpo e, assim mesmo, comemorava.
Sim, o ano… vamos a ele. Descobri que foi em 2003. Abril.
A TV era uma presença onipotente diante da cama, praticamente ligada 24 horas por dia. Hoje, não. Até de lá foi expulsa. Está entronizada na sala, sem qualquer pompa. Empoeirada.
Tempos difíceis, de transição, de muitas perplexidades e interrogações. Assim era meu 2003. Quase à beira de um ataque de nervos e em meio a constantes esbórnias. Meio “easy rider” (sem destino). Um Peter Fonda sem motocicleta.
Aron, ao contrário, tomado por um vigor maior, prometia voltar ao Grand Junction, um cânion no Colorado (EUA), que quase o sepultara. Não se intimidara com o infortúnio de ter sido preso a uma rocha, que o obrigou a se livrar de uma das mãos, após quase cinco dias imobilizado e sem ser localizado pelo resgate.
Admitiu que em vários momentos acreditou que não sairia vivo do lugar. Ficara entre a dúvida e a esperança. Mesmo após arrancar parte de seu corpo, ainda teve que rastejar, descer um precipício de 18 metros e andar 10 km, até ser socorrido.
A decisão veio de uma força espiritual, que não soube explicar. Conseguir sobreviver, para recomeçar e novamente encarar quem quase o engolira de vez, era uma segunda chance.
Seria uma sobrevida?
Na verdade, a lição que logo tomei para mim e não paro de rememorar, até hoje, é até simplista: para continuar inteiro às vezes é preciso arrancar uma parte de nós.
É uma medida drástica que por vezes somos obrigados a tomar, mas recuamos. Acovardamo-nos. Cortar a própria carne é morrer um pouco, sim. Contudo pode ser nossa única chance de ficar vivo. Renascer das cinzas, como a lendária Fênix.
Lembra um pouco a alegoria do “Mito da Caverna” de Platão. Continuamos na escuridão porque duvidamos da existência da luz. Limitamo-nos, somos limitados; conformamo-nos com as trevas.
Cometemos o pior dos erros humanos: o da omissão.
Somos levados a acreditar que não temos saída ou qualquer alternativa. Essa tal de felicidade fica por aí, no ar, pairando sobre nossas cabeças, como se fora um Zeppelin, aquele imponente dirigível. A qualquer momento, ela flutua e some, ou desaba em chamas.
Vivemos de ciclos. Para começar um novo é fundamental, em alguns momentos, extirparmos por completo o anterior. Toda escolha corresponde a alguma forma de renúncia.
Só chegaremos ao cume do Everest, o nirvana, abrindo mão de boa parte da “carga” amealhada desde o sopé da montanha. É uma espécie de tributo à vida. Impossível levarmos e termos tudo até o alto.
Talvez resida nesse aspecto, outro grande ensinamento à minha existência. Trato-o como “a parábola da montanha”.
Aron Ralston voltou tempos depois ao cânion, amputado, mas não mutilado.
Entendi assim, a mensagem que me chegara àquela madrugada, pelas “mãos” do alpinista.
O mais importante e conceituado site de jornalismo político do Brasil, o Congresso em Foco, produz hoje uma ampla reportagem analítico-opinativa, assinada pelo jornalista Sylvio Costa, seu fundador e diretor.
Nessa abordagem, ele fala do cerco a jornalistas que tentam exercer seu trabalho, vítimas de perseguição implacável de políticos que não conseguem conviver com a opinião contraditória.
Nesta matéria, Sylvio mostra especialmente o que acontece em Mossoró, ao editor do Blog do Carlos Santos.
Leia abaixo e tire você mesmo suas conclusões, webleitor:
Cuidado, jornalista: criticar pode dar cadeia
Blogueiro no Rio Grande do Norte sofre três condenações a prisão, por críticas à prefeita, numa história que é uma aula de Brasil
!!!!!!!!!!!!!
Pra entrar no clima, só abrindo com pontos de exclamação. Treze, pra afastar assombração. O velho Aurélio aqui ao lado, deliciosamente jurássico em suas amareladas páginas de papel, esclarece:
“exclamação. Ato de exclamar; voz, grito ou brado de prazer, alegria, raiva, tristeza, dor”
Tirando o prazer e a alegria, tudo a ver. Vontade de gritar. De tristeza, dor, raiva e, principalmente, de espanto. A história é uma aula de Brasil.
Você acha que é ofensa alguém dizer de uma autoridade pública, eleita pelo voto, que ela “paga o preço por seu despreparo”? Ou que anda “empazinada de ansiolíticos e com vida em boa parte reclusa”? E se, sem citar nomes, o sujeito fala que o “sumo pontífice e sacerdotisa da Seita Songamonguista do Reino Azul-turquesa” devem “ajustar seus rituais”? Ofensa?
A juíza Welma Maria Ferreira de Menezes, do Juizado Especial Criminal de Mossoró (Rio Grande do Norte), entendeu que as três afirmações eram ofensivas, sim. E, por causa delas, condenou a cadeia, em três processos diferentes, o blogueiro Carlos Santos, 47 anos de idade e 26 de atuação profissional como jornalista.
As punições foram iguais: um mês e dez dias de detenção, em cada uma das ações penais, com permissão para cumprir a pena fazendo doações (no valor de R$ 2.040,00 por processo) a entidades filantrópicas.
Sentença 1 – “Empazinada de ansiolíticos e com vida em boa parte reclusa”
Sentença 2 – “A ‘prefeita de direito’ paga o preço por seu despreparo”
Sentença 3 – “Sumo pontífice e sacerdotisa da Seita Songamonguista do Reino Azul-turqueza, ajustem seus rituais”
Mossoró é o Brasil.
Com cerca de 250 mil habitantes e uma das mais prósperas cidades do Nordeste, Mossoró é o segundo município do estado – só perde para Natal – em população e força econômica. Esta, derivada em especial do petróleo, da extração de sal, da produção de frutas, do comércio e do turismo.
Uma cidade situada a meia distância (entre 260 e 270 km) da capital potiguar e de Fortaleza e que se orgulha de ter importantes edificações históricas e uma indústria de comunicação expressiva: quatro jornais locais, dez emissoras de rádio e duas de TV aberta. Uma cidade que… vai que é tua, Brasil… é administrada há 63 anos pela mesma família.
Desde 1948, portanto. A família Rosado, a mesma da prefeita Fátima Rosado (DEM) e do seu irmão e chefe de gabinete, Gustavo Rosado (PV). E também da deputada federal Sandra Rosado (PSB), que lidera a oposição a Fátima. E, ainda, da governadora e ex-senadora Rosalba Ciarlini (DEM), que se elegeu prefeita em 2000 disputando contra a Fátima, mas a ela se aliou nas duas eleições seguintes (2004 e 2008), e a quem Carlos Santos exime de responsabilidade em relação ao calvário que enfrenta.
O chefe de gabinete, Fátima e seu marido, o médico e deputado estadual Leonardo Nogueira (DEM), elegeram Carlos Santos como alvo de nove interpelações e 27 ações judiciais (cíveis e criminais). Uma foi arquivada, as outras 26 estão em andamento. Somente no dia 23 de abril do ano passado o trio deu entrada em 11 processos contra o jornalista blogueiro. Que é um fenômeno da internet local.
Embora precária, quase heroicamente, Carlos consegue sobreviver com a publicidade que seu blog amealha. E o faz por causa da boa audiência, superior à de qualquer portal mantido na internet pelos tradicionais grupos de comunicação de Mossoró.
Seu sucesso lhe custa caro. Além dos processos judiciais, foi uma das principais vítimas de uma página apócrifa criada na internet, e retirada do ar pela Justiça em razão do sem-número de leviandades desferidas contra diversas personalidades da cidade.
Ao contrário dos responsáveis pela tal página, ainda anônimos e impunes, Carlos Santos dá a cara a tapa. Assina o que escreve, tem endereço conhecido e longa trajetória na imprensa do município. “Tenho relações respeitosas com praticamente todos os políticos importantes do estado, meu problema é com o Gustavo e a Fátima”, resume.
Ivanaldo Fernandes, gerente de comunicação social da Prefeitura de Mossoró, diz que a prefeita Fátima Rosado não teve outra alternativa: “O Carlos Santos tem um blog que é muito acessado, ele é muito capaz, escreve muito bem, mas passou do limite. A crítica a prefeita aceita. Mas o achincalhe, não. Por isso, ela recorreu à Justiça, que é o instrumento disponível para resolver essas questões numa democracia”.
Realmente, o jornalista blogueiro às vezes pega pesado. É, no mínimo, de gosto duvidoso, uma afirmação sua sobre a prefeita, cuja incompetência ele não cansa de apontar.
Carlos chegou a decretar que Fátima Rosado “não tem condições de gerenciar um fogão Jacaré, modelo camping de duas bocas, num piquenique escolar”. Mas, de mau gosto ou não, ele não tem o direito de manifestar sua opinião? Ou de dizer, como disse, que Leonardo, o marido da prefeita, tem um “olhar bovino”?
São motivos fortes o bastante para meter alguém no xilindró? Ah, sim. Deixemos por um instante as indagações conceituais, sobre o antigo dilema dos limites de liberdade de informação e direito à privacidade, para esclarecer a história do sumo pontífice.
Na nota publicada no blog, Carlos Santos escreveu: “Alunos da Faculdade Mater Christi (Mossoró) solicitam, fervorosamente, que o sumo pontífice e a sacerdotisa que comanda a Seita Songomonguista do Reino Azul-turquesa ajustem seus rituais”.
A mensagem cifrada fazia referência aos ruidosos encontros que Fátima (a sacerdotisa) e Leonardo (o sumo pontífice) fizeram em sua residência durante a campanha eleitoral do ano passado, na qual ele se reelegeu deputado estadual. “A casa da prefeita fica ao lado da faculdade, e o barulho que eles estavam fazendo, nessas reuniões, estava atrapalhando as aulas. Eram encontros para motivar as pessoas que iam às ruas pedir votos. Então eles gritavam, batiam palmas, e sempre terminava com foguetório”.
Marcos Araújo, advogado de Carlos Santos, entrará com recurso contra todas as condenações (duas delas sequer haviam sido publicadas oficialmente até ontem) e pedirá um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal em favor do seu cliente, que ele defende de graça.
Marcos fala que, além do inconformismo contra “a perseguição que o Carlos sofre”, tem interesse acadêmico pelo assunto. Seu mestrado em Direito Constitucional tratou exatamente do conflito entre o interesse da sociedade em informar e ser informada e os eventuais danos à imagem de pessoas.
Um dos aspectos que mais lhe incomodam é verificar como alguns veículos de Mossoró se associam à campanha contra Carlos Santos. “A cada ação que era formalizada contra ele”, conta o advogado, “o jornal dava destaque. O Carlos é um rapaz sério, que atira em todos os grupos. Ele é muito independente, e os independentes são problemáticos. Ele chegou a ter um jornal com um sócio. Como o jornal começou a se aproximar da prefeita, ele virou blogueiro. O uso da mídia na política é muito grande, e no Nordeste é maior ainda. Não tem um grupo de comunicação que não seja de um grupo político. E o Carlos acabou conquistando muita audiência por ser a única voz crítica à administração municipal”.
De acordo com o advogado, um dos processos surgiu porque Carlos relatou que a prefeita havia sido vaiada em um evento: “O problema é que, como é contra a prefeita, ninguém se dispôs a atestar. Ele é processado por expressar sua opinião. Por dizer que a prefeita é incompetente. Que ela é a prefeita de direito e quem é mesmo o prefeito é o irmão, e é um fato. A cidade toda sabe disso. Ele é o chefe de gabinete, mas é ele que vai a Brasília, que recebe o governador em exercício, reúne o secretariado. Juntei várias notícias de jornais mostrando isso, mas a juíza não aceitou”.
O Brasil é Mossoró
Juridicamente, enfatiza o advogado Marcos Araújo, Mossoró está na contramão da jurisprudência do STF. “Conforme voto do ministro Celso de Mello, incorporado ao acórdão do julgamento que derrubou a Lei de Imprensa, o agente público está sujeito a crítica. Havendo excesso nessa crítica, cabe no máximo a conversão da ofensa em indenização, jamais uma ação penal”. Pior: no caso em questão, o Ministério Público Estadual avalizou as ações criminais propostas por Gustavo/Fátima/Leonardo.
Há sinais, porém, de que, politicamente, Mossoró é um retrato do que rola no Brasil hoje. Desde 13 de novembro de 2009 os blogueiros Enock Cavalcanti e Adriana Vanhoni estão proibidos de emitir opinião sobre as mais de 140 ações em andamento na Justiça contra o presidente da Assembleia Legislativa do Mato Grosso, José Riva (PP). O jornal O Estado de S. Paulo é proibido desde 31 de julho de 2009 de divulgar informações sobre a Operação Boi Barrica (veja aqui a íntegra do inquérito), que investigou o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
Generaliza-se o hábito de políticos usarem a Justiça como instrumento para intimidar jornalistas e blogueiros, constrangendo assim a liberdade de informação assegurada na Constituição.
A coisa bagunçou de tal modo que o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) se sente à vontade para adotar uma curiosa estratégia. Patrono de indicações para Furnas Centrais Elétricas que se converteram em fatos no mínimo estranhos, ele se recusa a dar entrevistas ao jornal O Globo, que levantou a lebre, furtando-se à obrigação básica de todo representante eleito de contribuir para esclarecer assuntos de interesse público. “Procuramos o deputado antes de publicar todas as matérias que fizemos.
No começo, ele chegou a responder por e-mail, através da assessoria. Depois, nem isso”, conta Chico Otávio, repórter responsável pela cobertura. Curiosamente, o mesmo Eduardo Cunha que preferiu não se manifestar sapecou lá no Twitter, no último dia 4: “Incrivel tambem uma materia so com a versao do ataque.Vai fundo Chico Otavio e prepara o bolso.Vai trabalhar a vida toda para pagar a conta”.
Sylvio Costa – Jornalista, criou e dirige o site Congresso em Foco.
P.S – Veja clicando AQUI, a página original do Congresso em Foco, assinada por Sylvio Costa.
Relembro o poeta Gonçalves Dias em “Juca Pirama” para proclamar: “Meninos, eu vi”. Testemunhei duas enchentes épicas em Mossoró. Dois quadros, duas visões.
Em uma delas fui desalojado pela enxurrada; de outra resultou meu alojamento, de forma indireta, numa paixão: o jornalismo.
Vou contar o primeiro caso. Depois, quem sabe, abordo o outro, acontecido em 1985.
Situo-me em 1974. Estou nos arrabaldes do Santuário do Sagrado Coração de Jesus, Centro de Mossoró. Assisto o rio Mossoró banhar lentamente a rua Jerônimo Rosado, escalar as escadarias do adro desse templo e ocupar nossa casa sem resistência.
Sua água barrenta e devastadora produzia cenas incomuns aos meus olhos infantis: Homens com calças arregaçadas, outras crianças a nado, caminhões ou simples carroças transportando móveis e picuás da vizinhança.
A chuva incessante que engordou o rio nos empurrou para fora com a força de quem manda, sem pedir licença. Um poder onipotente. Mesmo assim, a água que quase batia à cintura de muitos ali bem em frente, me divertia, sem que eu soubesse medir os estragos ou pressentir os desdobramentos da cheia.
Sapos apareciam aos montes, como se fora reprodução de uma das dez pragas do Egito. Multiplicavam-se aos milhares, fazendo do enorme quintal uma Normandia no Dia D, só para anfíbios. Uma cena grotesca que nunca mais vi se repetir.
Canoas e pequenas lanchas navegavam à nossa frente; o rádio ligado noticiava a ampliação territorial do rio Mossoró. Estávamos ilhados, acuados, a cada dia.
O burburinho na rua e o alagamento continuado não me afligiam. A imagem diluviana era acima de tudo encantadora à minha avaliação limitada. Cinematográfica. Estimulava a imaginação cheia de aventuras e super-heróis da TV e quadrinhos.
Ruas, praças e avenidas estavam transformadas num marzão. Uma via só. Fluvial. Quase amazônica.
Só me toquei do pior com a convocação final: “Arrume suas coisas. Amanhã cedinho a gente vai embora”. Partimos para nunca mais voltarmos àquele endereço.
Lá ficou uma parte de minha infância e inocência: a pequena pracinha de seu João Cantídio, nosso Colégio Dom Bosco a tão poucos passos.
Para trás o presépio de Maria de Uriel, miniatura bíblica cheia de vida em todo Natal; a casa acolhedora de dona Fefita e seus netos, todos meus amigos, que vez por outra me convocavam para tumultuar seu sossego.
A padaria de seu Eliseu Costa e dona Julita nunca mais seriam meu endereço de fim de tarde. Seus pães e bolos deliciosos, enrolados com técnica apurada em papel madeira, continuam em meus olhos, olfato e paladar. Memória sensorial.
As confrarias noturnas à calçada, com o tititi do dia, quase sempre vetadas à presença de crianças curiosas, continuam gravadas. As famílias pareciam uma só, sem o temor da violência urbana, sem as aflições psicossociais deste século XXI.
Vários nomes e lugares mantêm-se memorizados, outros se dispersaram com o tempo, mesmo que a imagem deles, ainda turva, pulule até hoje em minha mente.
Vejo o casal Izete-Raílton; Moisés dos Portões, padre Américo Simonetti e suas concorridas missas no Coração de Jesus; o tenente e delegado Clodoaldo Meira aboletado num Jeep aterrorizando quem teimava em jogar bola na área, pronto para picotar a pelota.
A senhora Júlia Menezes absorta; as irmãs Ilná e Alaíde Nascimento; minha “Maura” sempre loquaz, festiva e amante da prosa com Nadir Brasil e tantos amigos e amigas. A professora exemplar Dagmar Filgueira e a serenidade do senhor Trajano Filgueira.
O sítio “Pica-pau” no beiço do rio; o Cine Cid tão perto e a lenda de que em seu subsolo existia uma baleia. Com chuva ou sol, enchente ou não, o barulho que vinha de lá nos fazia acreditar nesse “Moby Dick” subterrâneo, enredo que caberia numa aventura escrita por Júlio Verne.
Por aquele pequeno portão gradeado de ferro da casa em que eu morava, de batente alto, soltei meu barquinho tosco, de papel. Vi-o flutuar nas águas por alguns minutos, até que desaparecesse.
Só muito tempo depois descobri que “navegar é preciso”. Minha nau frágil, não tripulada, era também esperança.
Buscava outro porto seguro além-mar.