terça-feira - 22/11/2011 - 08:39h
Bem-querer

Universo particular de quem amamos

Recife-PE (ou Santa Cruz-RN) é “bem ali”, diria o sertanejo, em meio às veredas, árvores retorcidas e sol escaldante do meu sertão.

Mesmo assim, parece uma lonjura, quando a gente sente saudades.

“Filho é pro mundo,” diz uma máxima que atravessa o tempo. Mesmo assim, concordando com ela, tenho meus filhos num universo particular.

Só eles brilham, para que eu assim possa continuar “iluminado”. Beijos!

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domingo - 20/11/2011 - 12:07h
À luta, mesmo assim

Não se preocupe com a vida… você não vai escapar vivo

New Orleans (EUA) dos negros, da pobreza, mas também do jazz, do rio Mississipi, piratas e corsários, poliglota; da indústria do petróleo, do arrasador furacão Katrina (2005) e multicultural, inspirou o jornalista-escritor Truman Capote. Em muitas de suas crônicas ela era o ambiente. A atmosfera.

Num café, “o menos frequentado de New Orleans”, ele descreve em 1946, o jeitão da proprietária, senhora Morris Otto Kunze: “não parecia se importar; passava o dia sentada atrás do balcão (…), e só se movia para espantar as moscas”.

Mas foi lá, que ele captou num mural rococó, em espelho quebrado e sujo,  uma frase que imprimia justificativa à vida do lugar: “Não se preocupe com a vida… você não vai escapar dela vivo mesmo!”

Esse olhar largado, quase entregue ao determinismo, é uma versão mais antiga do “deixa a vida me levar… vida leva eu”, do sambista carioca Zeca Pagodinho. Tem funcionado para ele.

Comigo tem sido diferente, mesmo sabendo que não vou escapar vivo dessa vida. Eu cuido do meu destino e da minha própria felicidade.

Não os passei a terceiros. Não os entrego a outrem.

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sábado - 19/11/2011 - 08:53h
Além das baladas

A conjugação do verbo “sarrar”

Divertir-se à noite já foi “curtir um baile”. Houve tempo que era uma “tertúlia”.

Ah, não esqueçamos das “discoteques” (discotecas).

Podia ser uma “festa” tão somente, com bandas que tocavam de tudo: de Supertramp a Luiz Gonzaga.

“Boate” continua em evidência, mesmo que por lá quase ninguém consiga conversar a dois, outros prefiram quebrar braço de mulher e não tenhamos músicas como no passado. Impera o império do forró.

Mas a palavrinha mágica, da moda, para definir a noitada, é mesmo “balada”. Ir para a balada é uma espécie de senha para uma suposta felicidade.

A linguagem muda, mas não muda o desejo: “à noite, todos os gatos (gatas) são pardos”, diria a sabedoria popular. Por isso – talvez – que tudo esteja tão parecido.

Na ânsia de ser diferente, muitos de nós acabamos fazendo parte de uma engrenagem de iguais, sozinhos na multidão. “Sociáveis” na ânsia de sermos aceitos. Assombra-nos o medo de sermos descartados por não termos os mesmos gostos dessa ou daquela “tribo”.

Será que pelo menos sobrou o “sarro”. Sobrou? Dizem que não existe mais, porque tudo chega logo aos “finalmentes”. É uma ejaculação precoce coletiva.

Quando descobrirem a conjugação do verbo “sarrar”, talvez entendam melhor o que estou dizendo.

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domingo - 13/11/2011 - 16:23h

Cravo e canela e o fruto da maturidade

Por Carlos Santos

Tropical como somos, temos uma infinidade de frutas a mexer com o paladar nacional. Muitas, agora, na versão mulher. Há algum tempo, quase não existem mais daquelas de carne e osso. “Tá em falta”, diria o feirante da Ceasa.

Sobram principalmente as de bundas enormes e peitos siliconados, vendidas como “piriguetes” ou “modelos”. No fundo, é bom que esclareçamos: seu “consumo” é subjetivo e virtual, ou cabe apenas na conta de uma minoria endinheirada para rápida “digestão”.

Pelo visto, começa a escassear a mulher-mulher, daquelas que são apenas loura ou morena, branquinha ou negra, que gostam de ser amadas e não apenas “comidas”.

Como toda mulher normal, ela tem dúvidas quanto aos seus próprios encantos.

Raramente são autosuficientes como as “frutas” e ainda se enternecem com as flores e a música que fala de amor, símbolos atemporais do bem-querer.

Costumam repetir que “todo homem é igual”, numa generalização tão errônea quanto à adotada pelo sexo oposto, de que “toda mulher é a mesma coisa”.

Que bom, você existe! Sinuosa no olhar, cintilante. Com uma beleza brejeira, quase infantil. Cândida. Que irrompe a vida de cara limpa, sorriso maroto, como se fosse nascida de um romance de Machado de Assis, Guimarães Rosa ou Jorge Amado.

Menina? Mulher? Menina-mulher.

É cravo e canela.

Para aqueles que se movem por apetite lascivo, em sua direção, só aparecem seus contornos de mulher. Sem aguçada serenidade e percepção, jamais vão descobrir os traços de ninfa, nem seu vigor como gente que não aceita dizer “sim”,  cavilosamente, porque  aprendeu cedo a dizer “não” por livre-arbítrio.

Essa mulher é recheada de dúvidas, oscila entre amar e se esconder, mas não se entende como objeto. Chora, angustia-se. Fecha-se ensimesmada. Sorrir para dizer que as lágrimas não lhe fazem mal, porque fertilizam seu peito e serão o sopro de renovação da vida em seu útero.

Ela sabe que partilhar rima sempre com amar. Que distância fere e limita movimentos, mas é uma ponte, se os extremos querem chegar a outra margem.

Com essa mulher é diferente. Ainda bem. Não deixa de ser menina, roendo unhas, rindo de tudo, dando rabiçaca com a cabeça, lambuzando-se de sorvete e saindo por essa vida aventureira repleta de sonhos.

Amuando-se para ser, de novo, afagada. Mimada para se descobrir menina; carregada no colo para ser mulher.

Olhos de Capitu, desconfiados; olhos de Diadorim, vítreos, reluzentes; olhos de Gabriela, de um negro intenso… não importa. Seu olhar é sempre ponto de partida ou porto seguro. Um paradoxo em si. Arquipélago que nos puxa do alto mar à terra firme, como vigorosos fios de cabelo.

Cabelos que encobrem um rosto ruborizado, em que lábios proeminentes se contraem, a prender o fôlego e sufocar palavras. Assim, ajudam a traçar uma moldura entre o inocente e o travesso. Cativante imagem que é um convite ao vinho, com pés desnudos, prontos ao carinho.

Muitos perdem o apetite pela descoberta, depois de certas experiências e tempo. Até confundem mulher com fruta, volume com conteúdo. O escritor Truman Capote descreveu bem o que é maturidade para separar delírio de brilho:

Depois de certa idade ou certas noções, torna-se muito difícil o deslumbramento; ele funciona melhor na infância; depois, se a pessoa der sorte, encontra uma ponte até a infância e a atravessa.

Carlos Santos é criador e editor desta página

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sábado - 05/11/2011 - 08:30h
Sobre a partilha

Irmão sol!

Pena, muita pena, daqueles que acham ser possível ser feliz no singular. A partilha além de espraiar a alegria, amplifica-se em quem a dilatou.

Falei ontem ao celular, com a mãe de um amigo aprovado pro curso de Medicina da Universidade do Estado do RN (UERN). Ela, em Pernambuco, ao ouvir minha voz, disse: “Sei quem é! É você, Carlos!”

(…)

Em mim, a impressão de que ouvira minha mãe, depois de tanto tempo.

As mães parecem iguaizinhas, mesmo que únicas. Ouvir a mãe do amigo, vencedor, remeteu-me à minha que foi embora dia 4 de dezembro de 2009, deixando uma parte maior em mim.

Se existe vida passada, não sei. Há vida pro futuro, sim. Semeamos, colhemos. Tem gente tão afinada conosco que parece irmão em outra vida.

Nesta, a certeza: Irmão sol!

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quarta-feira - 02/11/2011 - 08:22h
Por ontem, hoje e amanhã

Meu muito obrigado

Obrigado a todos pelo dia de ontem. Meu jeito, reservado, não é sinal de desapreço, suposta frieza ou desdém.

Nem faço “tipo”.

É meu jeito. Só.

P.S – Em especial, meu agradecimento aos amigos da academia. Desembarquei nos bancos escolares em busca do saber, à cata de uma forma de ocupação terapêutica, mas encontrei mais, muito mais.

Renovo-me a cada dia, por osmose, pela convivência com as diferenças e semelhanças.  Pela oportunidade de aprender e doar um pouco do que a vida me ofertou.

Assim, amadureço. Reinvento-me.

Sigo minha missão, ainda incompleta.

Que assim seja!

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segunda-feira - 31/10/2011 - 10:57h
Para Drummond

A ‘dádiva’ de não ser poeta

“Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.” (Carlos Drummond de Andrade)

O gosto pelas letras chegou cedo. Em casa, entre os mantimentos diários acomodados num balde de alumínio, um jornal. Era assim, diariamente.

Tínhamos as revistas Seleções, O Cruzeiro. Depois apareceram outras notivades da escrita, num tempo em que a televisão não era tão soberana e onipotente.

Revistas em quadrinhos foram centenas, sob o combate da mãe zelosa, que não via nelas qualquer atrativo à minha formação. Enganara-se. Pelo menos dessa feita, enganara-se.

Drummond, mais do que um “José”

E o que dizer da coleção Tesouros da Juventude? Todos os clássicos infanto-juvenís estavam lá. Alexandre Dumas em seus enredo de capa-e-espada, Júlio Verne futurista.

Nesse tempo eu queria escrever. Seria escritor. Jornalista, não. Poeta, quem sabe, heim?

Nem escritor nem poeta. Um repórter provinciano, é o que sou. É o que posso ser, sem perder a admiração por quem o é.

Drummond, Quintana (meu preferido), Manuel Bandeira, Thiago de Mello, Leminski, Castro Alves, Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Patativa, Olavo Bilac…

Os nossos, próximos, Marcos Ferreira, Antônio Francisco, Cid Augusto, Cefas Carvalho, Paulo de Tarso Correia de Melo, Luiz Campos…

Aceito, passivamente, a “dádiva” de não ser poeta. Se o fosse, o que seria de mim? Um bardo sem prumo. Coube-me o gosto pelo verbo lapidado por esses e tantos outros escultores. Eu, como um Michelangelo tosco, apenas imploro diante de Moisés: “Parla!”

Enquanto isso, vou-me nessa vida aventureira, um “gauche” sem a poética que anseio. Em busca do paroxismo da frase perfeita.

* Minha homenagem a Carlos Drummond de Andrade, que hoje estaria completando 109 anos: 1902-1987.

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domingo - 30/10/2011 - 23:43h

Pensando bem…

“Em tudo que faço, um pouco de mim é-me inteiro para ser completo. Se escondo uma parte, não sou um todo”

Carlos Santos

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domingo - 30/10/2011 - 03:39h

Reflexão para ser feliz IV

Eu mudei? Não, engano seu.

Amadureci.

Lembra da Teoria da Evolução da Espécie?

Darwiniana. Humana!

Sobreviverão os que melhor se adaptarem às exigências do mundo, numa “seleção natural”.

Não falo de ser esperto ou expert, um especialista em sobrevivência na “selva”. O que não podemos admitir, é sermos um espectro de gente.

Subsistir é muito pouco. Bom é existir.

Só existem os que evoluem.

A maioria apenas aparece na foto: subsiste.

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quinta-feira - 27/10/2011 - 04:10h

Reflexão para ser feliz II

Deus não me prive da paixão pela escrita; vontade diária, permanente, perene, continuada.

Escrevo, logo existo. Assim sou feliz com outros.

Assim posso me manter vivo, inteiro, na luta.

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quarta-feira - 26/10/2011 - 09:17h

Reflexão para ser feliz

Se toda vez que a gente for se relacionar com alguém, começando pela exumação do seu passado, é melhor ficar em casa com uma boneca inflável.

Mas até ela enche.

Também!

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quarta-feira - 26/10/2011 - 04:02h
Em Natal

“Blogs jornalísticos” no RN geram debate em universidade

Um dos destaques do primeiro dia de atividades do XIII Congresso Científico da Universidade Potiguar, em 27 de outubro (quinta-feira), será a mesa redonda que debaterá “A explosão dos blogs jornalísticos no RN”, sob a coordenação da jornalista e professora Stella Galvão.

Começará às 17h, na UnP da Avenida Roberto Freire.

Entre os convidados, estão os jornalistas e bloqueiros Ailton Medeiros, Carlos Santos, Carlos Barbosa, os três com blogs homônimos, e Franklin Jorge, do blog O Santo Ofício. Eles vão relatar e debater uma experiência acumulada no ofício de apurar, editar, republicar e influir decisivamente no trânsito de informações lidas e comentadas diariamente.

Stella provoca discussão científica em Natal

A atividade iniciará por uma exposição da pesquisa conduzida pela professora sobre a proliferação de blogs em todo o estado, e a consolidação de alguns deles como mídias que competem e eventualmente pautam o noticiário nos meios tradicionais.

Tradicionais

Os blogs estariam, portanto, no emergente rol de “meios sociais de comunicação”, contrapondo-se aos veículos tradicionais marcados pela difusão centralizada e hierarquização das notícias.

Alguns autores consideram que a interatividade propiciada pelos blogs resultou em seu maior diferencial, com um modelo de comunicação horizontalizada no qual a figura do receptor passivo é substituída por aquele que comenta, questiona, critica e propõe temas.

A pesquisa já foi apresentada em dois eventos, no XIII Congresso das Ciências da Comunicação na Região Nordeste (Intercom NE), realizado em junho, em Maceió em junho, e no lX Politicom – Congresso Brasileiro de Marketing Político, realizado em agosto na Universidade Mackenzie, em São Paulo.

Neste, o tema desenvolvido no grupo de Internet foi “Blogs jornalísticos e simultaneamente políticos: Uma imbricação de campos”, destacando-se a íntima relação entre a proliferação dos endereços online e uma série de mudanças que se interpõem na produção e difusão de notícias em períodos eleitorais.

Com informações da UnP

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Categoria(s): Comunicação
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segunda-feira - 24/10/2011 - 16:50h

O que penso, sinto e imagino saber

Costumo falar o que penso, sinto e imagino saber.

Posso, nem sempre acertar sobre o que penso, sinto e imagino saber, mas continuo fazendo o que penso, sinto e imagino saber.

É de minha natureza.

Se eu mudar, desabo.

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segunda-feira - 24/10/2011 - 12:07h
Hoje

Crise no Estado num bate-papo na TV Cabo Mossoró

Atendo convite, hoje, do programa Cenário Político da TV Cabo Mossoró (TCM).

Às 18h45 estarei no estúdio principal da emissora, para conversar com os jornalistas Carol Ribeiro e Julierme Torres.

O tema nuclear desse bate-papo é a crise político-administrativa no Governo Carlos Augusto Rosado (DEM)-Rosalba Ciarlini (DEM).

Você pode acompanhar o programa pela Internet AQUI.

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domingo - 23/10/2011 - 13:32h

A imortalidade

Por Carlos Santos

Não sei o tempo que me resta aqui na terra.

Mais um dia? Alguns meses? Podem ser vários anos.

O certo é que não farei, do tempo, um resto de vida.

Tem que valer a pena. Tem valido.

Cada segundo é precioso. Respirar apenas, não me basta.

Preciso existir nos outros, pelos meus atos e não apenas com a palavra que lapido no meu trabalho.

A imortalidade é o que deixamos no coração dos que ficam. Enquanto ele bater, pulsará também pelo o que fizemos de bom e útil.

Imortal!

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sábado - 08/10/2011 - 13:23h
Dia do Nordestino

É meu sertão, meu pedaço de chão…

Juazeiro frondoso e generoso do nosso sertão

Minino, não sou cabra da peste, muito menos ajegado.

Sou nordestino amatutado mermo.

Nem pense que sou de butar buneco, metido a presepeiro ou das valentia.

Tenho juízo no quengo, ainda mais nesse mormaço do meu sertão.

Cê sabe que hoje é o Dia do Nordestino!? Devia de saber, homi!

Pisando esse chão rachado, puxando o fôlego da terra empoeirada e amuquecado debaixo do Juazeiro, não nego minha origem.

Sou do Nordeste; tenho orgulho de ser daqui. É meu lugar, onde estou embiocado desde tantinho assim de gente, ó!

Já pensei em arribar, dar adeus a meu povo, renegar minha origem e até procurei falar chiando. Fiquei enfatiotado, botei loção melhor e até uns sapatos lustrosos como pão-doce.

Mas não adianta ficar apoquentado, mandar ninguém pros raio que os parta, mudar o que é minha nascença.

No bisaco, protegido com meu gibão, em cima dessas alpercatas e com minha fala cheia de rudeios ou não, não nego meu naturá.

Lembro do pastoril, choro por um mungunzá, arroz-de-leite e rapadura. E ainda ouço Gonzagão bradar: “Só deixo o meu cariri, no último pau-de-arara…”

Tomo água friinha da quartinha pra limpar a goela e empurro a rede branca no alpendre, pra lá e pra cá. Mas caía bem uma bicada de cana-de-cabeça, pra criar coragem e fazer uns prometidos à muié amada!

Fico a matutar se eu arribasse daqui… Como seria cuidar da espinhela caída, sobreviver ao quebranto, curar o gôgo ou a pereba?

Pior seria o farnizim, a dor da saudade. Conviver com a distância de tudo. Não é lundum ou munganga, não. Dá até um nó nas tripas só de pensar.

P´ronde o pau-da-venta apontar, eu vou. Mas digo logo: só se for bem ali, onde a vista alcançar. Num quero demorar, não. Já imaginou se a morte me pega nas lonjuras?

Tô calejado! Medo mesmo só de papa-figo e papangu, quando eu era pichototinho. Depois dos mininos criado, só num quero apagar os olhos longe do meu lugar.

E pra isso num tô avexado! Quero mais um tempinho aqui nesse terreiro de meu Deus. O bastante para contar muito miolo de pote, fazer uns cabimento com as moça feita, empanzinar o bucho com o que gosto, folhear umas letras e me aperrear vendo futebol.

Se ficar brocoió, tantã, quero demorar não! Pra quê? Com esses cambitos apregado no corpo, um rapaz velho encruado só vai dar trabalho. Num carece, não.

Ora de capar o gato!

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domingo - 04/09/2011 - 10:31h

Carlos Santos é um outsider

Por Honório de Medeiros

* Talvez o conceito do sociólogo judeu-alemão Norbert Elias não o abarque, mesmo tangencialmente. Não importa. Vou me apropriar do termo e utilizá-lo para o fim visado.

Claro que poderíamos dizer: ele é um gauche, nos lembrando de Carlos Drummond de Andrade. Aplica-se, aqui, o mesmo raciocínio anterior. Prefiro outsiders, à Elias, pelo significado etimológico que o dicionário estudantil, o Michaelis, mostra: s. estranho, intruso.

Os outsiders – todos eles -, como eu já disse em outro tempo e lugar, em algum momento de suas vidas foram moídos por aqueles no meio dos quais conviviam. Foram mastigados, deglutidos e vomitados. Seus jeitos de ser o sistema não assimilava. Não se tratava de oposição externa ou interna ao Poder. Não se tratava de irridência, sublevação, contestação por contestação.

Nada disso.

Nada mais seus jeitos de ser eram que estranhamento em relação ao estamento ao qual, até então, o outsider pertencia, apesar de outsider. Ser tal qual foi sua glória e sua tragédia. Fez com que fosse deglutido e depois expelido. Deglutido graças ao talento, à competência individual – nada que se assemelhe à conseqüência de um compadrio, de um afilhadismo, de um parentesco qualquer.

E expelido porque impossibilitado, graças ao que seria uma excentricidade moral, ou psicológica, ou filosófica, ou todas juntas, de acompanhar a carneirada e sua vocação para ser usado pelos lobos ao custo de balangandãs, bijuterias, penduricalhos materiais ou simbólicos. Pois Carlos Santos é assim, talvez porque nascido no território imagético composto pelas ruas cujo epicentro é a histórica Capela de São Vicente, coração da Mossoró libertária – não a outra que o Poder tornou sem substância há quase ruins cem anos.

Território com população pequena e selecionada por uma dessas felizes circunstâncias que a história mostra ser tão rara, e soberania construída via permanente e anárquica tensão afetiva entre o matriarcado implícito/patriarcado explícito e a insubmissão das gerações mais novas. E logo fez parte da geração que se distanciou da infância, entre alegre e triste, a golpes indisciplinados de leituras de todos os matizes e para todos os gostos, nos anos 70.

Fez-se e se diz repórter, Carlos. Nada mais, segundo ele.

Podo ser, mas há controvérsias. Embora conheça tudo de jornal – até fundou um -, é engano o que diz, e esse dizer nasce de um exercício crítico da razão tolhida pela modéstia e certo laivo de manha.

Como todos nós que nascemos na nossa República Independente de São Vicente, tem Carlos uma base comum sobre a qual construímos, ao longo do tempo, nossas distinções de personalidade, muito mais que de caráter: aquela educação ministrada pelos exemplos, tradição dos mais antigos, consolidada por intermédio de orações e devaneios à luz mortiça da Capela, nas longas noites das novenas de Santo Antônio, a cantar as ladainhas e aspirar o doce aroma do incenso que o turíbulo aspergia conduzido por nossas ciosas mãos de meninos.

Qualidades morais, mas há as outras, para além da decência de suas atitudes, que o expõem como muito mais que repórter, entretanto louvado e respeitado seja esse mister.

Por que naqueles dias nos quais o homem que cada um de nós seria amanhã ia sendo produzido nas leituras, bate-papos e discussões – às vezes aguerridas – havia, como que permeando sutilmente nosso presente e preparando o futuro, uma romântica angústia metafísica por Justiça (assim mesmo, com J maiúsculo) nascida do olhar sensível e da razão aguçada que percebiam, mas ainda não entendiam o que se passava no nosso entorno, sorvida nos rios literários nos quais nos dessedentávamos, aguardando uma práxis qualquer que nos tornasse mais Sanchos Panças e menos Quixotes largando mão da retórica adolescente contra os moinhos de vento da Ditadura.

Era um tempo no qual o máximo de ousadia consistia em ouvir, antes da meia-noite, as transmissões da Rádio de Moscou. Falávamos mal dos que não estavam na Oposição. Criticávamos o Regime.

Ansiávamos por mudar o mundo e as pessoas.

Então cada um foi para o seu lado, sempre Quixotes, quase nunca Sanchos. Encruzilhadas, conquistas, fracassos.

Da nossa geração, da nossa República, tivemos políticos, escritores, empresários, de tudo um pouco, até mesmo alguns, tão especiais que o Céu, cedo, os levou. E tivemos jornalistas como Carlos, que também é escritor, pois escolheu ler, escrever e pensar as coisas e as pessoas, as pessoas e as coisas, cada uma no seu tempo, cada tempo uma vez ou tudo.

E de suas crenças construiu respeito; de suas idéias, a admiração; de suas escolhas, o afeto, sem perder a sede por Justiça.

Quem o lê, diariamente ou não, em seu blog, logo percebe tal e se gratifica com suas análises políticas e algumas esparsas crônicas, mas anseia por outras incursões literárias, tais quais ensaios, críticas, que tenham sua assinatura, algumas guardadas – ainda não tornadas públicas – junto aos livros que, aos poucos, tomam os espaços restantes do seu bunker, mas não esquece, também, outra faceta sua: o talento com o qual, como ele mesmo diz ao descrever “Só Rindo 2,” retrata disparates, rompantes inteligentes, gafes homéricas e cenas picarescas em narrativas condensadas, como se fossem esquetes teatrais.

Pelo que diz, e como diz, já temos uma noção da qualidade do texto. Daí porque um jornalista que é escritor; um escritor que é jornalista.

Claro que quereremos mais, nós que o lemos sempre. É esse seu débito para conosco, no geral.

No particular, a República deseja que se mantenha no que escreve, mesmo quando cuida de advertir divertindo, com esse compósito de profundidade e ironia – a boa ironia – esculpida a pinceladas incisivas, rascantes, argutamente postas, celebrando a vida no que ela tem de flores e lama: desde o homem que ascende para além dos limites de suas circunstâncias até o homem que mergulha no opróbrio de seus instintos vis de predador social.

Pois a Justiça de ontem em seu coração é a Justiça de hoje em sua razão.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN

* Texto de apresentação do livro “Só Rindo 2 – A política do bom humor do palanque aos bastidores”, de autoria do editor e criador deste Blog

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quinta-feira - 25/08/2011 - 11:06h
Só Rindo 2

Convite especial de um escritor mundialmente desconhecido

"Só Rindo 2", hoje no La Tavola

Natal, aguardo-a a partir das 19h de hoje no restaurante La Tavola (Rua Rodrigues Alves, 44, Petrópolis).

Lanço o meu segundo livro. É o “Só Rindo 2 – A política do bom humor do palanque aos bastidores”.

O prefácio é do reitor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), professor Milton Marques. O professor, escritor e ex-secretário do Estado do RN e da Prefeitura do Natal, Honório de Medeiros, faz a apresentação. As editoras Herzog e Sarau das Letras são responsávaeis pela edição.

O projeto gráfico de Augusto Paiva, ilustrações de Túlio Ratto, fina impressão da Gráfica Expressão de Fortaleza (CE), este livro tem 160 histórias hilariantes que revelam o “lado B” dos políticos e aquelas figuras que gravitam em torno do poder.

A coletânea tem acontecimentos atemporais que envolvem personalidades conhecidas do universo político potiguar, em tiradas inteligentes, micos etc.

Espero um número incalculável de meia dúzia de pessoas por lá. Não falte. Precisamos fazer número.

Afinal de contas, um escritor mundialmente desconhecido como eu não pode perder a chance de “vitimá-lo” com o Só Rindo 2.

Até mais tarde.

Veja AQUI reportagem do Nominuto.com sobre o lançamento.

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sábado - 20/08/2011 - 14:44h
Desembarcando

Em Natal e ao trabalho

Eis-me, Natal. Inteiro ao seu dispor.

Cheguei há poucas horas. Devo ficar pelo menos até o dia 28 (domingo).

Até lá, muito trabalho, lançamento do livro “Só Rindo 2 – A política do bom humor do palanque aos bastidores”, dia 25 (quinta-feira), no Restaurante La Tavola, em Petrópolis, além de conversa jogada fora, com os amigos.

Aguarde.

 

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terça-feira - 16/08/2011 - 11:12h
Lançamento em Natal

Tire a tristeza do caminho… o “Só Rindo 2” vai desembarcar

Xarias e canguleiros, tirem a tristeza do caminho que quero chegar a Natal com o “Só Rindo 2 – A política do bom humor do palanque aos bastidores”.

O lançamento desse meu segundo livro na bela capital potiguar será no dia 25 próximo, às 19h, no Restaurante La Tavola, Petrópolis.

Na condição de um escritor “mundialmente desconhecido”, minha expectativa é de juntar um incontável número de meia dúzia de amigos por lá.

Então, não falte.

Espero “vitimá-lo” a tempo e à hora.

Inté!

 

Convite oficial do lançamento do "Só Rindo 2" em Natal, no La Tavola

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domingo - 07/08/2011 - 11:12h

Soutinho, um bosque espesso por inteiro

Francisco Souto Filho, o “Soutinho”, ontem em sua casa, em festa de aniversário (Ricardo Lopes)

Por Carlos Santos

Ele quebra o conceito aristotélico, lá da antiguidade, que colocava o indivíduo diferenciado numa medida que tolerava o lado “b”, ou seja, talvez até o mal: “A virtude está no meio”. A moderação com Francisco Ferreira Souto Filho, o “Soutinho”, é diferente.

Não há nele essa composição para fazê-lo alguém “normal”. Soutinho é exageradamente do bem.

Discreto, trabalhador infatigável, polido, leal e acima de tudo decente. É assim o perfil inquestionável de Soutinho, que hoje aniversaria. Chega aos 83 anos.

Como antes, num passado de maior envergadura econômica de banqueiro e industrial, ele não se abre ao deslumbramento. Fecha-se no seu eu. Repete-se numa obviedade que mesmo assim não o faz comum. É acima de tudo um homem de bem, como fora à época em que muitos só o viam pela lente do ter. Pelos bens.

A frivolidade e a pompa nunca desmancharam sua espinha dorsal. Impassível sem se permitir passivo.

O poder, paixões e o radicalismo da política, que viveu ao lado da amada Edith, também não conseguiram desfigurá-lo na manada de contendores, Verdes contra Encarnados. Continuou assim: “souto”. Aqui o sobrenome é tratado intencionalmente como substantivo, extraído de sua origem latina, que significa “bosque espesso”.

Soutinho também não é diminutivo. Parece mesmo um aglomerado florestal. Uníssono, fonte de vida, multiplicador e base de um ecossistema que pode se renovar a partir de sua existência profícua, no sentido mais sublime desse termo, ou seja, a seiva moral.

Revela-se imperecível, inquebrantável, atemporal e umectado de honradez.

Imagino que alguém simultaneamente à leitura desta crônica se pergunte o porquê da homenagem que faço. É simples. É-me uma questão de crença.

Continuo devotado ao humano, não obstante deslealdades, ingratidões e leviandades comuns à natureza do bicho homem. Soutinho é um indivíduo real, em meio a postiços e tartufos, diante da ralé ou do aristocrata.

Recorro a Fernando Pessoa para enxergá-lo no todo, sendo apenas o que é: “Para ser grande, sê inteiro”.

Só isso.

* Texto originalmente publicado no Blog do Carlos Santos no dia 7 de agosto de 2009, em homenagem a Soutinho, que neste 7 de agosto de 2011 chega aos 85 anos.

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Categoria(s): Crônica
domingo - 10/07/2011 - 10:59h

A herança da coragem

Por Carlos Santos

Poderia ser outro prenome: Antônio, Francisco, José, Pedro, Paulo. Mas era João. “Seu” João, como a boa educação recomenda na reverência aos mais velhos, como forma de tratamento.

Há anos ele não me via. Mas lembrou. “Sim, é aquele seu amigo magrinho, né?” Em seguida, complementou: “Andava muito lá em casa”.

Testemunhou-nos impassivo, por incontáveis vezes, ouvindo Fagner, Alceu Valença e clássicos internacionais, nos paupérrimos cômodos de sua casa. Acolhedor, via com a maior naturalidade nossos fígados juvenis se enpanzinarem com aguardente. Felizes ou “roendo”. Inconsequentes, como nos cabia.

Corpo mirrado, cabelo liso e ralo, pele tostada por anos de trabalho sob sol causticante, instrução elementar. Poucas eram suas palavras. O sorriso escapava, sem nunca se transportar à gargalhada tão corriqueira a seu filho, meu amigo desde reta final da adolescência.

O câncer o alcançara há algum tempo, sem lhe tirar a serenidade. Seria resignação, uma fé sobrenatural ou desconhecimento da real dimensão do problema? Perguntei-me algumas vezes, mas não quis insistir na caça à resposta. Nem me lancei na impertinência do questionamento às claras.

Só após sua morte, descobri o porquê. Assim, naturalmente, no desabafo do próprio filho, com olhos marejados de lágrima, mas orgulhoso da origem, encontrei o porquê de tanta força no duelo contra o câncer dilacerante.

O nordestino de fibra, afeito à cultura da palavra, impregnado de valores que vão se escasseando, guardara para si e raras testemunhas, uma justificativa para continuar brigando pela vida. Lutava bravamente contra aquela moléstia que o humilhava, rasgava suas artérias e o consumia por dentro, em nome de um compromisso que assumira com sua biografia.

Indiretamente, era parte da herança que deixaria para a família, em especial para o filho amado.

Fez-me recordar Machado de Assis. O escritor de “Dom Casmurro” guardou uma frase conclusiva de livro, em “Memórias póstumas de Brás Cubas”, que por muitas vezes me deixara pensativo:

Não tive filhos; não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.

“Seu” João agiu, pensou diferente. Não permitiu que as poucas posses materiais fossem motivo para negar-se à continuidade,  através de um filho. Nem desonrou a própria história a contaminar seu herdeiro.

Bem além do personagem machadiano, João, “seu” João, João Félix de Medeiros, era aquele ser humano que podia ter jogado tudo para o alto e se render. Fez diferente, para transmitir a herança da coragem em vez da compreensível covardia e desesperança. Não entregou os pontos.

A morte o tornou mais forte.

Machado não teve a benção da paternidade, por motivos de saúde – dizem seus biógrafos. Mas nem assim definhou ao lado de sua Carolina, a mulher amada. Nem fiquemos a imaginar que Cubas seja seu alter ego, alguém que falava por ele na literatura.

Bem, mas cá estou a digressões literário-filosóficas e termino fugindo da prosa inicial. Fico a reler e reinterpretar a cabeça de Machado de Assis, folhear seus textos, passear pelo Rio de Janeiro imperial e republicano. Esbarro no Cosme Velho, vendo-o sem filhos, sem Carolina que morrera um pouco antes. Doente.

João, “seu” João  – sem qualquer projeto ou mania de grandeza -, conseguiu no anonimato de sua vida, ser machadiano. Simplório, sem ser simplista. Puro. Intenso.

O filho, herdeiro do mundo que “seu” João não engrandeceu com qualquer título honorífico, comenda ou ato de bravura em campos de guerra, sabia o que fizera seu pai suportar tanta dor. A confissão tinha sido feita a outro interlocutor da família:

Eu só estou fazendo esse tratamento e aguentando tudo isso por ele! Meu filho.

Carlos Santos é criador e editor do “Blog do Carlos Santos”

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