sexta-feira - 31/12/2010 - 12:28h
Para 2011

O primeiro dos melhores anos de nossa vida

(…) Este é o exemplo da vida,
para quem não quer compreender:
Nós devemos ser o que somos,
ter aquilo que bem merecer.
(Estrada da Vida, Milionário e José Rico, letra de Jair Cabral)

Impossível não desabar em lugares-comuns no último dia do ano. Em qualquer direção que olhamos nos deparamos com obviedades.

E daí?

Que seja óbvio, desde que sincero.

Já fui preso ao dogmatismo do alheamento, o “tô nem aí”, “tanto faz”, “é um dia como outro qualquer…”

Mas já flertei também com a conversão à data. Vesti-me de branco, fechei os olhos e, compungidamente, pedi “saúde e paz, Senhor!”

Fiz planos e mandei o ano velho “vazar”. Chorei, confesso. Perdi o fôlego. Vi gente sumir. Olhei pro céu infinito e agradeci.

O que sou hoje?

Um pouco disso tudo, fruto de uma vivência que oscila entre os extremos para chegar à moderação.

Não foram os livros de auto-ajuda, um volver na direção de minha fé ecumênica ou alguém que transformou a visão desse tudo, que tenho agora, neste 31 de dezembro de 2010.

Há uma carga de vida vivida, vida louca, vida intensa; vida por viver. Há falta, tenho lacunas. Há vida a preencher.

Nesse pedaço de dia, filigrana na linha do tempo histórico, não há o que satanizar ou incensar. Mesmo assim não estou sentado, vendo a banda passar – “tocando coisas de amor”, como diz Chico Buarque.

Começo o inventário do ano. Borbulham planos. Rabisco metas. Nem otimista nem pessimista: realista. Cartesiano.

Iemanjá, não espere minhas oferendas.

Vem aí o primeiro dos melhores anos de nossa vida.

Feliz 2011!

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Categoria(s): Crônica
quarta-feira - 24/11/2010 - 19:13h

A “metrópole” do livro “no metro” e seus valores fúteis

 

Por Carlos Santos

Como são estúpidos os parâmetros que o grosso da sociedade mossoroense tem adotado, para dimensionar sua ascensão social. Tudo baseado na superficialidade e babaquice do “parece ter”.

Estamos medindo esse novo status nos prédios que sobem, nos milhares de carros que invadem ruas, avenidas e ocupam até calçadas. Naqueles que muitas vezes para subir, precisam descer aos subterrâneos.

Ontem eu tive mais um testemunho do atraso e da distância em que nos encontramos, da inversão de valores e confusão em que nos metemos, em nome do hipotético progresso.

Fuçando livros em um sebo, seu proprietário me fez um relato que fica entre o bizarro e o jocoso. Vamos a ele.

Há algum tempo, esse sebista foi procurado por uma “nova rica”, interessada em comprar “um metro de livro”. Isso mesmo. Não era um título específico, coleção ou tomo de encadernamento especial. Tinha que ser no metro, sim.

Explico, reproduzindo o que ouvi: a deslumbrada precisava preencher um espaço em estante desenhada por sua arquiteta, sendo recomendada a colocar livros com a mesma dimensão estética. O espaço disponível pro “enfeite”? Um metro. Um metro de livros simetricamente alinhados.

Mossoró, até o início do século passado, vivia a influência europeia do movimento conhecido como “art nouveau” – daí nascendo até a corruptela de sua área de prostituição, transformada em “Alto do Louvor”, décadas depois.

Era uma cidade com requintes em roupas, moveis, arquitetura, mas também na cultura, desde o teatro ao hábito da leitura e música. Tínhamos cerca de 100 pianos. E as moças bem educadas tocavam. Eles não serviam apenas de ornamento na decoração.

Falar francês era normal para os jovens de ótima extração. Muitos eram poliglotas. Os janotas transitavam sempre impecáveis e ser rico, em verdade, era transformar dinheiro em bem-estar e referência de conteúdo.

Hoje testemunhamos a “Metrópole do Futuro” exultante com seu “crescimento” baseado em carrões pra exibição, TV de LCD e home-theater na sala do apartamento, gente mal-educada saracoteando ao som de “lapada na rachada” e enchendo  sacolas com bugigangas de grife.

Os que se salvam dessa manada são tratados como estranhos e afetados, ou seja, anormais.

Portanto não é por acaso que da atividade produtiva à política, estejamos “dominados” pela ignorância que mesmo rica, não reluz.  É opaca ou furta-cor, mas certamente abobalhada e fútil.

Empobrecemos, em verdade, porque na ânsia de ser diferente, a grande maioria é apenas mais um  nessa multidão pasteurizada, uniforme, feita em escala industrial: modelo standart. Faz da aparência a sua essência, da borra cosmética a sua alma.

Acredita que Paris é “a cidade luz” por ser muito iluminada; toma Old Parr com Coca-cola, mas preferia um legítimo “Odete”, por ser mais barato.

A propósito, bota uma bicada de Serra Limpa aí, amigo. O sertão é aqui.

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Categoria(s): Crônica
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