Por Marcos Ferreira

Registro em arquibancadas do Maracanã, em jogo de Brasil 0 x 1 Argentina há poucos dias (Foto: O Globo)
Entendo tanto de futebol quanto de engenharia atômica. Sei que esse tipo de expressão é um lugar-comum, mas deixo como está. Porque hoje quero falar um pouco sobre esse assunto tão rico de fanatismo e tão pobre de bom senso. Vejam. Houve uma época, até não muito distante, em que me sentia atraído por esse mundo da bola. Isto quando se tratava de Copa do Mundo e Seleção Brasileira. Angustiei-me, torci de coração aos solavancos pelo nosso time e talvez até tenha chorado por causa da eliminação daquele elenco fantástico com Zico, Júnior, Sócrates e companhia.
Eram outros tempos e outros craques bem diferentes dos de hoje. Também quero revelar que em algum momento da minha vida contraí uma certa simpatia pelo Flamengo. Não sei dizer por qual motivo tal coisa aconteceu, já que o meu pai era botafoguense. Quanto ao Flamengo, portanto, decerto por puro reflexo, informo que nunca (em mais de meio século) comprei nem vesti uma camisa do rubro-negro. Existe outro detalhe que talvez contribua para isso: meu medo da violência.
Não coloco, por dinheiro nenhum, meus pés em uma arena dessas para ver uma partida de futebol. Perdemos a conta de quantas pessoas já foram agredidas e até mortas apenas por estarem vestindo camisa de um determinado clube. Trata-se de uma rivalidade criminosa, doentia, animalesca. Casos desse tipo têm acorrido, principalmente, na saída de vários estádios, como no gigantesco Maracanã.
O quebra-quebra nas arquibancadas durante o jogo entre Brasil e Argentina no dia 21 deste mês, ocorrido justamente no Maracanã, foi um espetáculo vergonhoso, deplorável. A pancadaria, segundo um repórter da Globo à beira do campo, teria se iniciado porque os brasileiros começaram a vaiar o hino nacional argentino durante a execução deste. Se de fato foi essa a razão que deu origem à briga generalizada, o mínimo que posso dizer é que a nossa torcida deu um golpe baixo, apresentou uma atitude rasteira. À mercê dos brigões, alguns com as caras cheias de sangue, estavam famílias com crianças que tentavam desesperadamente fugir de tanta selvageria.
A Polícia Militar exagerou no uso da força para conter o tumulto. Então baixou o pau um pouco mais, quem sabe, nos que vestiam camisa da Argentina. Por pouco a partida não foi cancelada. Lionel Messi e demais jogadores deixaram o gramado e foram para o vestiário. Porém voltaram. Eu, que já torcia pela Argentina antes da bola rolar, vibrei com o gol do zagueiro Otamendi. Achei bastante justo.
Torci por outras grandes equipes da Seleção Brasileira, como aquelas que tiveram Romário, Bebeto, Dunga, Ronaldinho Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho e mais alguns que no momento minha memória não permite citar. Mas, depois que o futebol brasileiro se tornou puramente, salvo exceções, comércio de pernas de pau, perdi o gosto, o encanto. Não dá (falo por mim) para torcer por uma Seleção que tem insistido em convocar e endeusar um medíocre e mau-caráter como Neymar. Com mais de trinta anos de idade, temos narradores e comentaristas de futebol sem noção que ainda o chamam de “o menino Ney”. Ora! Como diria Marcos Pinto, é de lascar.
Existe mais uma situação irritante. É esse hábito, senão um delírio, que possuem os referidos narradores e comentaristas, também há exceções, de afirmarem algo desse tipo: “Enquanto houver uma criança com uma bola em qualquer lugar do Brasil, o futuro do nosso futebol estará garantido”. Além disso, para completar esta minha narrativa do contra, causa-me náusea quando esse pessoal da imprensa esportiva chama esses milionários jogadores de futebol de “os nossos heróis”.
A meu ver, heróis sãos professores, policiais que estão aí nas ruas enfrentando o crime, médicos e enfermeiros que salvam vidas tanto por meio do SUS quanto em hospitais particulares. Heroica, no meu ponto de vista, é essa gente humilde que sobrevive com um salário mínimo para alimentação, água, luz, aluguel, etc. Dessa maneira, portanto, digo que esses são os verdadeiros heróis deste país.
Marcos Ferreira é escritor