domingo - 29/03/2015 - 04:14h

O homem lobo do homem

Por Honório de Medeiros

Os ingênuos creem que um iluminado possa assumir qualquer Governo e os conduzir ao melhor dos destinos possíveis. É mais ou menos como crer que Emerson Fittipaldi pudesse ser campeão do mundo de Fórmula 1 dirigindo um fusca. Ou que um time de várzea, com Pelé nele jogando, pudesse vencer a Seleção Brasileira.

Mas o mundo é assim mesmo, que seria dos espertalhões se não existissem os ingênuos?

E a única arma possível contra a exploração do homem pelo homem, qual seja o pensamento crítico, que a maioria dos acadêmicos confunde com crítica ao pensamento por não saberem a diferença entre conhecer e se instrui, até onde se sabe, desde Sócrates, passando por Jesus Cristo, não faz qualquer sucesso junto aos espertalhões, tampouco entre os ingênuos.

Ai dos ingênuos! Pois é, pensamento crítico não é o mesmo que crítica ao pensamento, muito embora não se possa fazer este último sem aquele primeiro.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e Estado do RN

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domingo - 08/03/2015 - 09:44h

Para que servem as palavras

Por Honório de Medeiros

As palavras valem também para isso, dar alguma existência aos nossos delírios.” (Raduam Nassar, em  “Cantigas d’amigos”, Cadernos de Literatura Brasileira, Ariano Suassuna)

Ariano, entrevistado pelo Cadernos de Literatura Brasileira diz, em certo momento: “não sou um escritor de muitos leitores; costumo dizer que sou um autor de poucos livros e poucos leitores -, (…) Mesmo que eu não publique, tem um círculo de leitores que sempre lê o que escrevo.”

Retruca o Cadernos: “Este é um circuito antimoderno, o circuito da comunidade interessada.”

Assim é, assim será, dado o caráter dos tempos atuais, no qual a imagem evanescente e superficial é tudo e as palavras, quando delírios, manjar para poucos. Aqui a palavra é arte.

Relendo “O Crime do Padre Amaro” do imenso Eça, lá encontro essa idéia pela voz do seco Padre Notário:

– Escutem, criaturas de Deus! Eu não quero dizer que a confissão seja uma brincadeira! Irra! Eu não sou um pedreiro-livre! O que eu quero dizer é que é um meio de persuasão, de saber o que será passa, de dirigir o rebanho para aqui ou para ali… E quando é para o serviço de Deus, é uma arma. Aí está o que é – a absolvição é uma arma.

Recordo que dizia para meus alunos de Filosofia do Direito ser a confissão um inteligente serviço secreto, a serviço da aristocracia, para a manutenção dos interesses de classe.

A palavra: arte ou instrumento. Às vezes tudo isso ao mesmo tempo. Não somente a palavra escrita, mas também a falada, dá existência aos nossos delírios.

Natal, em 7 de março de 2015.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN

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domingo - 15/02/2015 - 07:22h

Agora vou tomar meu rumo…

Por Honório de Medeiros

Estamos de partida. Na bagagem, alguns livros e duas garrafas de Serra Limpa.

Essas duas danadas vão para combinar com os finais-de-tarde lá nas terras de Gil, Annica, Gabriel e Ana Maria, a Fulô da Pedra, quando estivermos escutando o canto dos passarinhos, a toada do vento, o farfalhar das folhas nas árvores e o barulho dos grilos enquanto a noite chega.

Vez por outra o relinchar dos cavalos e o mugido de um ou outro boi. E vendo as luzes das estrelas se acendendo no céu e sentindo o cheiro de mato invadir o alpendre da Casa-Grande.

Nada de celular, televisão, computador, ar condicionado, paredão de som ou som-ambiente. Nada.

Vez por outra um pouco de silêncio logo interrompido pelas risadas ocasionado por algum dito gaiato ou o converseiro de todos irmanados pelos antigos laços de fraternidade que somente a mãe-terra proporciona de mão-beijada a quem lhe ama.

Mais tarde, depois da refeição simples, mas substancial, uma fogueira para chamar estórias de trancoso e estreitar cumplicidades de almas enquanto o sono não vem.

Quando vier, virá acalentado pelo ruído do vento nas frestas das telhas e se haverá de dormir o sono dos inocentes até o chamado do galo, na hora do sol nascer.

Até mais ver…

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN

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domingo - 25/01/2015 - 15:18h

O curandeiro virou “coaching”

Por Honório de Medeiros

Abro a rede social e sou inundado por uma maré de anúncios de “coaching”. E de comentários de “Coachs” e “Coachees”, ou seja, os treinadores e os treinandos. Fico perplexo com o que leio.

A propaganda do treinamento é sumamente pretensiosa; o preço, salgadíssimo, e o resultado, bom o resultado é fabuloso para quem ganha dinheiro com isso.

Diz lá a propaganda que o “Coaching” é um“processo que utiliza técnicas, ferramentas e recursos de diversas ciências. Algumas pessoas dizem que Coaching é ciência, mas na realidade é um cocktail, um mix de recursos e técnicas que funcionam em ciências do comportamento (psicologia, sociologia, neurociências) e de ferramentas da administração de empresas, esportes, gestão de recursos humanos, planejamento estratégico e outros.”

Não pude deixar de me divertir com a pretensão desse pastiche de auto-ajuda típico da virada do século. Quer dizer que o treinador entende de psicologia, sociologia, neurociência e administração? É um portento, a criatura.

Quer dizer que o “coaching” se não for ciência, é um mix de recursos e técnicas que funcionam em várias áreas do conhecimento.

Ah, meu Deus… Diverti-me ainda mais quando li a propaganda de um dos cursos afirmando que todo homem poderia encontrar, em si, o macho-alfa que ele é. Bastaria querer e fazer aquele “coaching”. Outro pretendia apresentar o treinando a sua verdadeira essência. Verdadeira essência.

O que danado é verdadeira essência? Tem essência que não seja verdadeira?

A capacidade de ser iludido é infinita, no ser humano. E o dom de iludir, também, é o que parece. Penso que é inerente à espécie. Só pode ser.

Vai ano, vem ano e tudo se repete como farsa. Muda a roupa, mas o corpo é o mesmo.

Na literatura – entendida esta em seu sentido mais lato – o registro da atividade dos “coachs” é muito antigo: tanto aqueles de antigamente quanto os de hoje trabalham a partir de um insumo básico: aparentam saber em profundidade algo que não sabem, e mistificam astuciosamente alguns “standards” do senso comum, tal qual faziam e fazem cartomantes, numerólogos, terapeutas holísticos, pregadores, magos da “auto-ajuda”, mentalistas, em proveito próprio.

Os “coachs” exalam auto-confiança. Andam sempre muito bem “empacotados”, lustrosos, sorriso fácil, simpatia à flor da pele.

Querem passar a imagem de vencedores a todo custo. Dominam alguns truques óbvios do mentalismo de salão, tais quais técnicas de memorização, para pegar os incautos.

São versados na arte de dizer o óbvio de forma sofisticada. Falam em “atitude quântica”, “mentalidade holística”, “seleção do mais apto”. Ou seja: aparentam saber, para saber aparentar.

Não por acaso os melhores, dentre eles, são verdadeiros artistas da mistificação. Alguns até mesmo fundam seitas… E então, das pessoas que lhes impressionaram, caro leitor, durante os anos de sua vida, seja em que área seja, qual delas mesmo fez o curso de “coaching”?

João Paulo II, talvez? Barak Obama? Stephen Hawking? Pelé? Henry Ford?

O último prêmio nobel de literatura? Lula?

Acho que Lula fez!

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN

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domingo - 18/01/2015 - 09:32h

Da tragicomédia humana

Por Honório de Medeiros

O Poder Político enquanto fenômeno é o parâmetro fundamental para o estudo da tragicomédia sócio-humana. Poder Político: capacidade de impor pela força, em última instância, uma vontade.

Ele está por trás de tudo, na vida social: engendra as soluções para transpor os obstáculos que lhe possam surgir; constrói estratégias adaptativas.

Não há vazio no espaço social, em termos de Poder Político, porque o Poder Político está sempre presente. É onipresente.

Mudam seus titulares por razões múltiplas, circunstanciais, mas o Poder Político não desaparece.

Tudo é prolongamento ou instrumento desse fenômeno.

O que há para além dele? Melhor: o quê o instaura, faz surgi-lo?

Ernst Becker diria: o medo da morte.

Darwin diria: a necessidade de sobreviver.

Marx diria: a luta de classes.

E quanto a Freud? A nostalgia da autoridade paterna.

Isto é, queremos o Poder Político por querermos deixar nossa marca na história; ou queremos o Poder Político para assegurarmos a sobrevivência dos nossos gens; ou o queremos para nos apropriarmos do excedente produzido pelos explorados, qual seja, o lucro; ou o queremos para restaurarmos a autoridade paterna.

Que importa?

Sejamos positivistas: não há Sociedade sem Poder Político. Por isso o anarquismo é uma utopia, um delírio.

Eis o ponto de partida.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e Estado do RN

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quarta-feira - 07/01/2015 - 09:31h
Homenagem

Adeus, Júnior Barreto

Por Honório de Medeiros (Blog Honório de Medeiros)

Quantos já foram, Jânio Rêgo? Você sabe dizer, Carlos Santos? Não sei se vocês sabem, mas não suporto mais a hora do crepúsculo na calçada de minha casa em Mossoró.

O sol se punha, vocês se lembram, e nós pegávamos a bola e corríamos para o meio-da-rua enquanto nossos pais colocavam as cadeiras nas calçadas e ficavam tomando o fresco, como se dizia antigamente, ou seja, pegando o vento Nordeste que espantava o calor e as muriçocas, e apartando as brigas que surgiam, inevitáveis.

Depois o tempo nos levou cada um para seu destino, mas ser amigo de infância significa não haver qualquer cerimônia quando dos reencontros. Estamos sempre à vontade entre nós.

E a conversa surge e segue fácil, adoçada pelas lembranças comuns. Assim foi quando eu encontrei Júnior pela última vez, na caminhada noturna da Alexandrino de Alencar, em Natal, onde tantos mossoroenses dão as caras, de quando em vez.

Conversamos um bom pedaço.

Ele não sabia que eu sabia de sua doença. Eu não podia, portanto, dizer a ele o quanto desejava que ele se curasse, o quanto lhe tinha afeto.

Quando acontece algo assim, se estou em Mossoró, olho para a frente da casa dos meus pais e não suporto a saudade da infância; olho para os lados e não suporto as ausências. Foram-se muitos da nossa República Independente da São Vicente; foram-se meus pais, os seus pais, Jânio, os seus pais, Carlos Santos, os pais de Roberto Fausto, os de Valério, os de Júnior Barreto…

E agora se vai Júnior Barreto, uma flor de pessoa, cordial, gentil, educado, um cidadão irreprochável, uma unanimidade, como bem definiu Delevam. Um de nós, da nossa República amada, da turma do patamar da Igreja de São Vicente. Não era para ir. De forma alguma era para ir.

Júnior era uma criança, tinha muito ainda para viver. Mas foi.

Dê lembranças aos nossos velhos, amigo. Beije todos eles.

E abrace e beije cada um dos nossos amigos que lhe antecederam: Cipriano, Pérsio, Marcos, Luis Artur, Toninho…

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domingo - 04/01/2015 - 10:05h

Há buracos de balas em Barcelona

Por Honório de Medeiros

Nas madrugadas de Barcelona as largas calçadas acomodavam, em dezembro, o frio, os jovens cheios de vinho que passavam cantando, bicicletas, scooters e motos em lugares apropriados, que não impediam a passagem dos pedestres. Conto para Carlos Santos das calçadas tomadas por esses meios de transporte mal chega a noite.

Ele ri e me fala de uma cadeira em ruínas acorrentada em plena Praça do Codó, condenada à prisão para não ser furtada tão logo o dono lhe dê as costas.

Cadê a polícia, pergunto ao Georgiano taxista, setentão, que me conduz. Ele responde que não precisa, basta chamar, e todo mundo chama se alguma coisa está errada, e a polícia chega imediatamente, e, de fato, mal vi a polícia em Barcelona.

O Georgiano me pergunta de onde sou. Eu lhe digo que sou brasileiro, e ele sorri, e me fala em Pelé e Garrincha. Garrincha?, pergunto, sim, Garrincha, Garrincha, diz ele, o grande Garrincha, hoje a sua seleção, me desculpe, eu não assisto.

E o senhor largou a Geórgia por quê? Putin me diz ele, um homem muito mal, como Stálin, que era da Geórgia, mas nunca fez nada por ela.

Muito mal, repete, very bad, very very bad, um homem sem pai, sem mãe, criado em orfanato, depois foi para a polícia, cruel, e meus pais perderam tudo e vieram embora, e eu vim também, mas a casa de meus pais ainda existe lá, fechada, na bela Geórgia, e eu vou lá, e tomo vinho, a Geórgia tem um vinho muito bom, e a casa fica fechada, mas quando eu vou, abro a casa e tomo muito vinho, falo muito minha língua, e durmo.

Continuamos seguindo e eu vou vejo as bandeiras catalãs postadas nas janelas dos apartamentos, e me lembro do livreiro que tem um sebo em frente ao Palau de la Musica Catalana onde tantos famosos se apresentaram, e de seu olhar ressabiado quando lhe pedi um livro com a história da Catalunha em espanhol, e ele me respondeu, ríspido, em espanhol: “Eu não tenho, tenho em Catalão”.

E como eu lhe disse que infelizmente não lia Catalão, mas acidentalmente tinha aberto o casaco no qual estava escrito “The Catalan Way of Life”, ele lamentou não ter esse livro de história da Catalunha escrito em espanhol e acrescentou mordaz, que não sabia se havia algum que não fosse ruim.

É, Barcelona é algo muito especial, muito especial mesmo. Fico pensando enquanto caminhava, dias antes, no rumo da cidade gótica, pela qual me apaixonei sem resistência, querendo parar em cada obra de arte encontrada por seus caminhos tortuosos, escuros e estreitos, em cada igreja gótica, ouvir os músicos que tocavam em todos os lugares. Tal qual aquele que executara uma suíte arcaica em violino e parecia ausente de todos que o escutavam e depositavam moedas em seu chapéu, pois tocava de olhos fechados, como se estivesse ausente daquela realidade barulhenta, multicolorida e de muitos idiomas que lhe cercava, até chegar à minha pracinha predileta, tão pequena, tão impossível de descrever, em cujas madrugadas eram executados os republicanos, contra as paredes do colégio e igreja que lhe estabelecem os limites, nos anos terríveis da guerra civil.

Que diria François se estivesse ali?

Olhe aqui, me disse a mineira, está vendo as marcas das balas nas paredes, claro, digo eu, pois perceba, alguns buracos são muito altos, não atingiriam ninguém, sabe por quê?, claro que não, é porque, continua ela, naquele tempo, todo mundo se conhecia em Barcelona, e alguns dos carrascos eram amigos das vítimas. Meu Deus penso eu…

Ah, Barcelona… A gaúcha que nos acompanhou à Montserrat pareceu interessada quando lhe contei acerca da cruzada que a igreja empreendeu contra os cátaros no século XIII. São Luiz, pergunta, sim, São Luiz, tudo era uma questão de poder e terras disputada entre os nobres do norte, liderados por ele, contra os do sul, liderados pelo poderoso conde de Toulouse, fomentada pela igreja que temia o surgimento de uma nova religião a partir daquela doutrina perigosíssima, eu lhe disse, e, veja, continuo, o Santo Graal está aqui, em Montserrat, é, eu sei, diz ela, Hitler mandou seus soldados liderados por Himmler, mas eles não encontraram nada.

Sei onde está, sabe?, pergunta ela, claro, respondo, olhe aquelas rochas, você vê um perfil?, sim, eu vejo, então, continuo, o nariz aponta para uma fissura na rocha, é lá, ela olha e depois olha para mim e fica sem saber se eu brinco ou sou louco, e muda de assunto: você não fala em Gaudí quando fala em Barcelona.

Ah, Gaudí, eu digo, o delírio de Gaudí, como posso gostar de Gaudí, tão distante do homem comum, não bebia, não fumava, não jogava, não dançava, não tinha mulher, era carola, morava nas obras da Igreja da Sagrada Família, é tudo muito bonito, mas irreal, eu gosto de Gaudí, mas ele era pouco humano e somente o humano me interessa, e viva Terêncio, que disse isso muito tempo atrás.

Do que você gostou, ela me pergunta, com aquele sotaque do interior do Rio Grande do Sul, das obras de arte escondidas em cada recanto. Digo eu, dos músicos de rua, da fé que os Catalães têm na Catalunha, de tantos imigrantes, tal qual o coreano que trabalha dezoito horas por dia no seu mercadinho próximo do apartamento no qual eu estava; do cuidado com os idosos, pois as ruas são pensadas a partir deles e para eles; das espanholas tão sensíveis a elogios à sua beleza, desde que feitos como se fosse uma rendição, nunca uma tentativa de conquista, da simpatia dos catalães para com os brasileiros; do bairro gótico, da elegância dos caminhantes. Das crianças que brincam felizes e despreocupadas em todos os cantos da cidade; da ausência da polícia e do respeito à lei, da história da nação catalã, da relação da Catalunha com a Provença francesa…

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN

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domingo - 21/12/2014 - 05:26h

De usinas do mal e Lampedusa

Por Honório de Medeiros

O ministro Barroso, do STF, deu uma entrevista na qual afirmou que “o sistema político brasileiro é uma usina do mal”. O ministro parece não saber o que é “sistema”, tampouco “política”.

Ou está fazendo jogo-de-cena.

Ministro, um sistema político está para o Poder assim como a espuma está para as ondas do mar. Simples assim.

Tal é o animismo moderno, que evoluiu da concepção de que as coisas têm vida, para a concepção de que as abstrações têm vida. Algo muito primitivo, sem dúvida, mas que presta um enorme serviço a quem detém o Poder.

Sua expressão máxima é o funcionalismo americano. É algo mais ou menos como imaginar que a culpa dos pneus estarem descalibrados é inerente a eles mesmos, e, não, às estradas ruins.

Troca-se o pneu e está tudo bem.

Dessa visão do mundo nasce a nossa medicina, na qual os seres humanos precisam apenas melhorar as peças de reposição, que tudo fica otimizado.

Uma variante humorística – e crítica – de uma percepção funcionalista da realidade está na estória do homem que flagra a esposa em adultério. Revoltado, desfaz-se da cama onde ocorreu a traição.

Assim está fazendo o ministro: não podendo se desfazer dos corruptos, quer modificar o sistema político.

Como se em cada sistema político não existissem corruptos. L

eia Lampedusa, ministro, leia Giuseppe Tomasi di Lampedusa.

É dele, em “Il Gattopardo“, essa frase célebre:

– Tudo deve mudar para que tudo fique como está…

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN

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quarta-feira - 17/12/2014 - 09:33h
Fatos e Gente

Gerais… Gerais… Gerais… Gerais

O Sindicato do Comércio Varejista de Mossoró (SINDIVAREJO) fará confraternização na próxima quinta-feira (18), às 20h, no Restaurante Cândidu´s. O tesoureiro Tarcilinho Vidal reforça convite à boa confraria. Ô luta medonha!

Dia de parabenizar Inês Clemente por mais um ano de vida. Saúde e paz, querida. Deus ilumine-a sempre. Amém!!

O Tenda Music Club (Mossoró) prepara festa para o dia 24 de dezembro, véspera de feriado natalino. Terá como atração o cantor André Luví com as músicas tops que marcaram o ano de 2014 e fizeram história. Quem também sobe ao palco com um repertório que não sai da cabeça dos mossoroenses, é Gianinni Alencar. Uma balada que tem início às 23h com Dj Juninho e não tem hora para acabar. Senhas antecipadas no Restaurante Tenda.​

Convidado para integrar a equipe da próxima presidente do Tribunal Regional do Trabalho (TRT/RN, Joseane Dantas, como Diretor-Geral, o ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN Honório de Medeiros viu-se impossibilitado de aceitar o convite. Sua esposa é servidora comissionada do TRT/RN. Isso caracterizaria nepotismo. Nota do Blog – Doutora, que perda! Um abraço mesmo assim. Depois vamos botar a prosa em dia com o vetusto – mas competente – amigo comum à mesa. Sucesso.

Honório: convite para o TRT/RN

SAÚDE, SAÚDE – Salve, salve Tácio Garcia, da Gondim & Garcia. Hoje ele aporta em Fortaleza-CE, para se submeter à nova bateria de exames. O ano de 2014 tem sido de muitas situações delicadas à sua saúde, mas haverá superação. Temos fé, “Negróide!”

Apesar do atraso, nossos parabéns para os cantores Dayvid Almeida e Aline, pelo nascimento de Iara. Bençãos para a família que cresce e canta feliz.

O Oba Restaurante “se vira nos 30” para acomodar a crescente procura do seu espaço privilegiado, em Mossoró, para confraternizações de final de ano. Contatos podem ser feitos por este número: (84) 8800-1111. É só falar com o Ribamar Freitas.

Rafael Negreiros, o “Rafaelzinho da Agrotec“, entregou a Medalha Mérito Comercial Gabriel Negreiros (seu pai) em evento domingo, no Teatro Municipal Dix-huit Rosado, ao agraciado com a honraria pela Associação Comercial e Industrial de Mossoró (ACIM), empresária de moda Lucineide Dias.

Fernando Virgílio, dirigente estadual do Senac, esteve em Mossoró no último domingo (14). Participou de solenidade no Teatro Municipal Dix-huit Rosado,  promovida pelo Sistema Fecomércio.

Com ornamentação que nos remete à imagem de uma tapera nordestina, o restaurante Fogo e Brasa, na principal avenida do Abolição IV em Mossoró, é um endereço que aposta na culinária do sertão para atrair bom público. Merece ser visitado.

Obrigado a leitura deste Blog a Rita Farias (Natal), jornalista Oliveira Wanderley (Natal) e jornalista Mário Ilo (Tibau).

O professor, médico oncologista e escritor Francisco Edison Leite Pinto Júnior prepara mais um livro. Vem aí “Sísifo apaixonado”. Este “patrão” aceita e promete atender o convite do autor para rabiscar o prefácio da publicação. Paciência. Farei.

réveillon do Hotel Thermas vem aí. Sua assessoria informa que haverá uma decoração especial com predomínio da cor branca e será animado por três atrações que vão embalar os convidados, o cantor André Luvi, banda Samvibe eDJ segundo farão o show da virada. Outro ponto alto da festa é a gastronomia, o Restaurante Pinga Fogo será responsável pela elaboração de todo o cardápio do réveillon. Também está incluído no pacote o serviço de open bar com bebidas nacionais e importadas, berçário e kids club além de  um grande show pirotécnico.

A banda Aviões é atração confirmada para o Carnaval de Tibau, a ser promovido pela iniciativa privada, com apoio da municipalidade. O anúncio foi feito pelo cantor Xandy, em apresentação no último dia 12 em Mossoró.

Foi levado a sepultamento na manhã de ontem o corpo do médico João Carrilho de Oliveira. Ele havia falecido no dia passado. João Carrilho era de uma geração dos médicos de antigamente em Mossoró se ombreando com Leodécio Néo, Rosado Cantídio, César Alencar, Maltez Fernandes e tantos e tantos outros. Nossa solidariedade aos seus familiares. (Emery Costa, O Mossoroense).

A Prefeitura de Areia Branca, com apoio de empresas locais, vai instalar Internet com Wi-Fi aberto (grátis) na Praça da Conceição, centro da cidade. Serão 10 megas para os usuários utilizarem. Ótima iniciativa-piloto.

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domingo - 14/12/2014 - 08:41h

Nunca fale com estranhos

Por Honório de Medeiros

Ela falou: “minha mãe me disse que eu nunca falasse com estranhos”.

Ele riu. Não se desculpou. Não podia deixar de rir.

Não falar com estranhos, ou desconhecidos?

Podia ser um desconhecido estranho, mas também podia ser um conhecido estranho. Não importava.

“É verdade que você não me conhece, mas não sou estranho a você. Somos, ambos, seres humanos, vivemos no mesmo País, temos amigos em comum, partilhamos alguns interesses que nem vale a pena elencar, de tão óbvios. Temos afinidades idênticas, inclusive: desejar o melhor para a humanidade que integramos, o fim das guerras, da fome, das doenças, nutrir esperanças em relação ao futuro…”

Em mim pulsa a mesma centelha de vida que pulsa em você. Temos tristezas, alegrias, decepções, como qualquer um…

Como posso lhe ser estranho? Desconhecido, talvez. Pois bem, é acerca disso que quero lhe falar.

Diga a sua mãe que não é possível não falar com desconhecidos. Antes que você conheça alguém, esse alguém lhe é desconhecido. Se você não fala com desconhecidos, como não há de ser uma ilha?

Sua maior amiga, por exemplo: era uma desconhecida até que você rompesse a recomendação de sua mãe e, em rompendo, começasse a construir esse vínculo afetivo que lhe é, hoje, tão caro.

Imagine, por instantes, você vivendo em um mundo em que não lhe fosse permitido falar com desconhecidos.

Como seria isso?

Como seria em supermercados, restaurantes, cinemas, shoppings…

Falemos, então, um com o outro, mesmo que seja para você me dizer que não gosta de mim.

Isso eu posso entender. E perdoar.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN

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  • Art&C - PMM - Climatização - Agosto de 2025
domingo - 07/12/2014 - 09:26h

Mundo pequeno, pequeno mundo…

Por Honório de Medeiros

No cruzamento da Avenida Afrânio de Melo Franco com a Avenida General San Martín, pleno Leblon, eu tinha deixado as duas Bárbaras e Joseane na beira-mar para irem ver o pôr do sol no Arpoador, eis que escuto alguém me chamando.

Surpreso me deparo com Carlos Eduardo Gomes, gentil companheiro de jornadas do Cariri Cangaço. Desde 2011 não nos víamos.

Colocamos a conversa em dia. Me confessou que daqui a uns seis anos, para mais ou menos, vai se mudar para Poty do Alferes, encantadora cidadezinha serrana próxima de Vassouras onde acarinha um plantio de madeiras nobres. Voltará nos finais-de-semana para o Rio, posto que ninguém larga esta maravilha de uma vez por todas.

Colocou-se à minha disposição, quando soube que eu estava de férias e, antes de partir, deu-me alguns bons conselhos acerca do que fazer enquanto por aqui estiver.

Abração, Carlos.

Muito obrigado.

Depois de deixá-lo tomei o rumo do Shopping Leblon, na busca de um livro de Murakami, “Kafka à Beira-Mar”.

E na livraria encontrei uma brilhante ex-aluna minha, Mariana Brandão, neta de uma ex-professora minha, advogada tributarista, e sua mãe, e logo encetamos uma agradabilíssima conversa acerca das coisas da vida, Direito inclusive, mas principalmente Filosofia.

Mariana é um nome a se guardar com respeito, para o futuro, nas letras jurídicas.

Muito bom reencontrá-la, Mariana.

Fica marcado nosso café em Natal, quando for por lá.

Mundo pequeno, pequeno mundo…

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e Estado do RN

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domingo - 16/11/2014 - 10:28h

RN – De Pacto Social à Reforma de Estado

Por  Honório de Medeiros

Tendo em vista as informações que vão surgindo na mídia acerca da alarmante situação financeira do Estado, não enxergo outra alternativa, para o futuro Governador do Estado, a não ser liderar a construção de um novo Pacto Social no Rio Grande do Norte para alavancar a urgente, imprescindível, fundamental, Reforma do Estado.

Pacto Social, vez que todas as forças da Sociedade, representadas pelos poderes constituídos, precisam participar diretamente, sob a legítima liderança do futuro Governador do Estado, da elaboração de uma Carta de Princípios que nortearia a Reforma de Estado, Reforma de Estado que permita a reconstrução do Rio Grande do Norte social, econômica e financeiramente, estabelecendo os parâmetros necessários a serem seguidos pelos poderes constituídos para assegurar o desenvolvimento do Estado.

Uma vez estabelecidos esses instrumentos fundantes da nova realidade política, social e econômica, todas as medidas necessárias a serem tomadas estarão naturalmente legitimadas e contarão com o apoio da Sociedade.

É o que se espera de alguém que foi escolhido pelo povo para derrotar todas as forças políticas tradicionais do Estado.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e Governo do Estado

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segunda-feira - 27/10/2014 - 11:06h
Servidor público

O grande nó górdio que Robinson precisa desatar

Por Honório de Medeiros (Blog Honório de Medeiros)

Diz a lenda que o rei da Frígia morrera sem deixar herdeiro e que, ao ser consultado, o Oráculo anunciara a chegada, à cidade, do sucessor, num carro de bois. Um camponês, de nome Górdio, foi coroado.

Para não esquecer de seu passado humilde ele colocou a carroça, com a qual ganhou a coroa, no templo de Zeus. E a amarrou com um nó impossível de desatar, a uma coluna, e que por isso ficou famoso. Górdio reinou por muitos anos e quando morreu seu filho Midas assumiu o trono.

Midas expandiu o império mas não deixou herdeiros.

O Oráculo foi ouvido novamente e declarou que quem desatasse o nó de Górdio dominaria toda a Ásia Menor.

Em 334 a.C Alexandre, o Grande, ouviu essa lenda ao passar pela Frígia. Intrigado com a questão foi até o templo de Zeus observar o feito de Górdio. Após muito analisar, desembainhou sua espada e cortou o nó em dois, desatando-o.

Lenda ou não, o fato é que Alexandre se tornou senhor de toda a Ásia Menor poucos anos depois.

Pois bem, o nó Górdio que Robinson Faria terá que desatar quando assumir o Governo do Rio Grande do Norte diz respeito ao servidor público estadual. O Rio Grande do Norte tem aproximadamente 3,4 milhões de habitantes. Desses, 102.841 são servidores do Estado.

Multiplicando cada servidor por cinco, que é a média histórica de dependentes diretos seus, teremos um total de 514.205 norte-rio-grandenses. Esse número, entretanto, não dá a verdadeira dimensão da importância da remuneração do servidor público para a sobrevivência daqueles que vivem em seu entorno.

Se diretamente a média é em torno de cinco pessoas para cada servidor, de forma indireta podemos, sem medo, multiplicar cada servidor por dez. Ou seja, temos mais ou menos um milhão de pessoas vivendo às custas da remuneração de cada servidor público estadual no Rio Grande do Norte.

Parece exagerado?

Pense em um servidor público e relacione seus familiares, seus empregados, aqueles que lhe prestam serviços, e assim por diante, e conclua. Pois bem, a influência política de cada servidor sobre seus dependentes diretos e indiretos é muito forte. E a influência do conjunto dos servidores públicos estaduais sobre a política partidária maior ainda.

Aqui no Rio Grande do Norte dois Governadores, de forma mais expressiva, foram atingidos diretamente pela revolta do servidor público: Geraldo Melo e Rosalba Ciarlini. Certos ou errados, desde o início de seus governos abriram um contencioso tenso contra os servidores e amargaram índices muito altos de rejeição popular no final do mandato.

Esse nó Górdio, em relação a Robinson, é ainda mais complexo dada a peculiaridade de seu futuro Governo: com uma mão terá que administrar uma pesada herança de natureza financeira, fruto de gestões passadas, e, com outra, demandas incisivas dos servidores, historicamente espoliados, e dessa vez apadrinhados por quem praticamente lhe deu a vitória, o PT.

Demandas cada vez maiores face à inflação oficial alta e extra-oficial altíssima (inflação de serviço), e a compressão salarial. Medidas paliativas, ou de negaceio, historicamente utilizadas, não resultarão em nada favorável. Caso sejam utilizadas em muito breve hão de dilapidar seu patrimônio de legitimidade política. E confrontos, bem como a inércia do servidor “emburrado”, vão paralisar sua administração.

Há soluções?

É possível.

Um primeiro e importante passo é enfrentar o problema imediatamente, admitindo sua existência e o tratando com a importância que ele sempre teve e merece. Como não pode deixar de ser, alguns passos têm natureza político estratégica. Alguns outros são de natureza essencialmente técnica…

Esse é, apenas, um dos primeiros passos que precisam ser dados para que o Governador eleito possa estabelecer uma diferença essencial em relação aos governos anteriores. Há muito outros, claro.

Entretanto como se trata de algo que afeta profundamente as finanças públicas do Estado, e atinge diretamente um número expressivo de seus habitantes que têm forte poder de replicação, é possível considera-lo o verdadeiro nó Górdio das administrações públicas estaduais.

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terça-feira - 21/10/2014 - 08:13h
Ponto de vista

Nada vale uma indignidade

Por Honório de Medeiros (Blog Honório de Medeiros)

Estamos no fim da corrida eleitoral. Neste espaço, apesar de minha posição firme em defesa dos meus candidatos, creio não ter perdido, em qualquer momento, o respeito por quem discorda de mim.

Este é o testemunho que eu almejo de quem me leu.

Entretanto, lamento, e lamento muito a sociedade dividida que a eleição vai deixar como legado.

Lamento esse clima de ódio gratuito, típico de quem não compreende que tudo passa, e o tempo é implacável.

Lamento pelas amizades perdidas, as incompreensões, os desentendimentos.

Culpo os líderes, sua ânsia de poder, sua incompreensão do verdadeiro papel de alguém que momentaneamente está à frente do caminho.

Nada vale uma indignidade.

Às vezes uma derrota é tudo quanto precisamos para crescermos enquanto humanos.

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domingo - 14/09/2014 - 11:43h

A opressão do Estado que se move contra um ser humano

Por Honório de Medeiros

Nada tão opressivo quanto o Estado se movendo contra um ser humano. A opressão chega dissimulada por leis, sejam elas constitucionais, complementares, ordinárias, regulamentações, portarias, ofícios-circulares, etc, usadas à exaustão por inocentes-úteis ou jagunços a serviço da máquina de moer gente.

Com que prazer um servidor público nega, baseado em uma portaria, um direito de um cidadão, mesmo que esse direito esteja amparado em uma lei maior…

De quando em vez me deparo com a notícia de alguém que luta, de todas as formas possíveis e imagináveis para provar que está vivo! Isso mesmo: que está vivo. Está vivo mas está morto para o Estado, a burocracia assim determinou.

Contra o atestado do seu óbito, emitido erroneamente pelo Estado, sequer valem suas impressões digitais e um certificado de qualquer médico do SUS afirmando que aquele cidadão que lhe procurou tem todos os sinais vitais em perfeito funcionamento.

O cidadão sequer desconfia do quanto é oprimido. Bestificado, anulado, alienado pelo circo multimídia que o Estado lhe proporciona, segue sua vidinha chinfrim até o último suspiro, dando satisfação de seus atos a todos quanto possam ameaçar sua paz de ameba.

Vive de salamaleques ao chefe próximo ou distante. Salamaleques comprados pelos reais a mais em sua conta bancária, o afago condescendente do detentor do Poder…

Quando não é a rotina massacrante, toda manipulada pelo Estado, que lhe assegura pagar o personal-trainer, o cirurgião-plástico, o veículo importado, o vinho francês, a vaidade tola.

Ai de nós…

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Governo do RN

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domingo - 07/09/2014 - 11:26h

Feudalismo, coronelismo e cangaço

Por Honório de Medeiros

Convido-lhes a empreender, comigo, uma ousadia.

Para tanto precisamos recordar o que sabemos acerca do feudalismo, esse nicho histórico que começou com a queda de Roma – gosto de imaginar a cena de Hipona, da qual Santo Agostinho era bispo, incendiada pelos bárbaros enquanto ele agonizava, como sendo o verdadeiro marco inicial – e terminou com o início da idade moderna, mais precisamente, segundo vários historiadores, com a descoberta da América por Cristovão Colombo e o início do absolutismo, cujo primeiro momento, e ninguém há de me convencer do contrário, ocorreu quando Felipe, o Belo, criou seu próprio papa, o de Avignon, e dizimou os templários, fortalecendo a instituição do Estado.

O feudalismo – sabemos todos – calcava-se na propriedade da terra e na rígida divisão da Sociedade em nobres, clero e servos das glebas. Os nobres e o clero eram aliados, claro, para espoliar o povo.

O epicentro dessa estrutura de poder era o Barão feudal, latifundiário, em cujo entorno gravitavam seus vassalos, ou seja, proprietários de terra de menor importância, e a nobreza eclesiástica. A ele pertencia o direito de aplicar o baraço e o cutelo – ou seja, de criar, interpretar e aplicar as leis ou costumes. Sua vontade era lei.

A IGREJA exercia papel fundamental nesse sistema, por vários motivos: em primeiro lugar era detentora de muitas riquezas; em segundo lugar sua nobreza era formada pelos filhos segundos dos senhores feudais – os primeiros seguiam o caminho das armas; e, em terceiro, a ela cabia a formatação ideológica que assegurava o domínio da nobreza e do clero, bem como a fiscalização de possíveis desvios – instrumentalizada por intermédio da confissão e delação – bem como a punição dos recalcitrantes via inquisição.

Brigavam muito entre si, os nobres, disputando terra e prestígio político.

Quem tinha terra, tinha Poder; quem tinha Poder, tinha terra. Por exemplo: a primeira cruzada não foi à Terra Santa, como comumente se crê. Foi contra os Cátaros, uma heresia que ameaçava dominar todo o Sul da França, sob o beneplácito do Conde de Toulouse.

Contra os Cátaros levantou-se a Igreja, ameaçada em sua soberania ideológica, e os barões feudais do norte da França, liderados por São Luis, ou Luís XI, como queiram. Na verdade o pano de fundo dessa cruzada foi a disputa pelas ricas terras do sul da França. Nada mais.

Para essas brigas mobilizavam os nobres seus vassalos, seus servos, bem como exércitos de mercenários. À toda mobilização acompanhava a Igreja, abençoando ou punindo, conforme o caso.

Pois bem, embora ainda haja muito o que se dizer acerca do feudalismo, façamos uma parada estratégica e utilizemos o “desenho” – chamemo-lo assim – de sua estrutura de poder para analisar o nicho histórico brasileiro ao qual denominamos de coronelismo.

Há alguns, para não dizer vários, autores que dizem não ter havido feudalismo no Brasil. Eu, pelo meu lado, com fulcro em Raymundo Faoro, Gustavo Barroso e Câmara Cascudo, penso que tal não procede. Analisemos.

O coronelismo também se calcou na posse da terra e no prestígio político. O coronel – verdadeiro senhor feudal – era o epicentro de uma estrutura de poder.

Lampião (centro), símbolo de uma discussão controvertida (Foto: reprodução)

Também ele tinha, enquanto senhor feudal, seus vassalos, os proprietários menores de terra, a si ligados por laços de compadrio e interesses mútuos, que lhe prestava vassalagem. O coronelismo dependia, ideologicamente, da igreja, que tratava de fiscalizar e punir desvios da ortodoxia, como o demonstra tudo quanto ocorreu com Padre Cícero.

E dependia da confissão e delação, principal forma de obtenção de informação por parte da igreja, e sempre à disposição, seus resultados, do coronel que a mantinha. Quem não lembra da estreita relação do Coronel com o Padre, em o Alto da Compadecida, de Ariano Suassuna?

O coronel tinha os seus servos da gleba, empregados que viviam às custas dos sobejos do grão-senhor. E da mesma forma que no feudalismo, a vontade do Coronel era lei.

Ele era senhor de baraço e de cutelo. Claro, brigavam entre si disputando terra e prestígio, briga essa que arrebanhava vassalos – os compadres; servos da gleba, os jagunços; e mercenários, os cangaceiros, como nos demonstra a rica história do Cariri cearense.

Agora talvez os senhores estejam se perguntando: e qual a relação entre tudo isso e Chico Pereira? A relação é a seguinte: Chico Pereira, assim como Jesuíno Brilhante, o mais remoto, passando por Antônio Silvino, Sinhô Pereira, Lampião, Corisco, e outros menores, tal qual Cassimiro Honório, e por aí segue, não eram servos da gleba.

Eram proprietários rurais em maior ou menor escala. Todos ligados a coronéis, todos ligados a alguma estrutura de Poder detendo parcela dele. Ou seja, os grandes líderes cangaceiros estão mais próximos da nobreza da terra que do proletariado.

Em sendo assim, não faz o menor sentido a teoria do banditismo social, de Hobsbawn quanto aos cangaceiros. Pensa assim, por exemplo, aproximadamente, Luiz Bernardo Pericás, em “Os Cangaceiros”.

Tampouco faz sentido a teoria que aponta os cangaceiros enquanto desviantes, da qual faz uso Frederico Pernambucano de Mello.

Muito menos a teoria marxista da luta de classes, calcada em Althusser, de tantos outros.

O cangaço é resultante de brigas intestinas entre famílias que dispunham de terra e prestígio. A briga era no seio do coronelismo. Era o coronelismo. Todo líder cangaceiro, com raras e honrosas exceções – até mesmo Sabino Gore, por exemplo, está inserido nesse contexto.

O referencial teórico aqui talvez seja Gaetano Mosca e sua teoria da classe política, enquanto situação limite em um plano mais complexo, ou seja, a teoria darwiniana. Nesse sentido concluo propondo o seguinte:

1) que se faça o estudo do cangaço a partir do coronelismo, ambientando o epifenômeno no fenômeno;

2) que se estude Chico Pereira, por exemplo, a partir do panorama político de sua época, no Sertão paraibano.

Chico Pereira não era um bandido social, e embora fosse um desviante, no sentido de que se voltou contra o sistema legal de sua época, essa informação nada acrescenta quanto a entender causa e efeito de sua existência enquanto cangaceiro.

Por fim, lembro uma consequência imediata da assunção desse modelo teórico: a verdeira história do ataque de Lampião a Mossoró é a história da briga entre coronéis paraibanos e coronéis norteriograndenses por prestígio político no Oeste e Alto Oeste potiguar.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Governo do RN

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domingo - 31/08/2014 - 08:13h

Filhos, melhor tê-los…

Por Honório de Medeiros

Conhecidos, tenho muitos. Muitos, mesmo. Não sei se em decorrência do tempo vivido, dos meus defeitos ou qualidades, se é que tenho algumas. Talvez uma mistura disso tudo.

Amigos, entretanto, tenho poucos. Conto nos dedos. Alguns, antigos. Outros, mais recentes. A todos dispenso o mesmo afeto que pretendo gentil e leal. Pretensão? Talvez.

Entretanto tenho isso como certo posto que recebo, de volta, além do que mereço.

Percebo que, com o passar dos anos fico mais ensimesmado, o que pode parecer, para alguns, distanciamento, sem o ser. Ao contrário. Nessa amiudada conversa comigo mesmo há sempre muito espaço para o afeto tão especial que é a amizade.

Mas agora já não há a necessidade juvenil do contato pessoal constante, tão comum nos anos em que precisávamos viver todos os dias como se não houvesse um depois-de-amanhã. Digo tudo isso tendo em vista que para eles, meus amigos, escrevo essa notícia singela, dando conta de uma semana, já passada, especialmente feliz em minha vida.

Vai dessa forma, fora do tempo exato: em mim a maturação das coisas do coração é lenta. Tão feliz que eu quis partilha-la, e, ao mesmo tempo, também quis que todos os outros pudessem saber desse partilhamento. Em assim sendo, tratei de publicá-la onde quem me conhece sabe que pode encontrar algum texto meu, caso queira se dar ao trabalho de me ler.

É que meu filho se formou.

A se crer em sua história pessoal, vai cuidar das pessoas, enquanto médico, com o mesmo carisma que o torna, aos meus olhos de pai, afetuosos, mas de forma alguma pouco críticos, tão querido pelos que o cercam.

Mais que sua formatura em Medicina louvo, nele, a ética, a fé, o foco, e a disciplina que o levaram a realizar um sonho de criança. Orgulhoso constato, nele, qualidades que eu não tenho, ao mesmo tempo que faço vista grossa para os defeitos meus que porventura tenha herdado. Tenho certeza que o tempo vai cuidar de esmerilhá-lo.

Creio nele, enquanto pessoa, e aprendi a respeitar sua angústia com a impossibilidade de fazer mais do que gostaria e pode fazer. Peço a Deus que o mantenha assim, sempre refém de um caráter sem mácula.

E minha filha ingressou, aos dezesseis anos, na mesma semana das festas do seu irmão, no curso de Direito, após uma batalha judicial e burocrática que tentou impedir sua inteligência viva, instigante, sua voraz capacidade de leitura, sua habilidade natural para os idiomas, de pousar no ambiente apropriado para quem anseia, como ela, por entender o mundo no qual vive para melhorá-lo, ou seja, na Academia. Não pude deixar de me emocionar quando a vi subindo lentamente os degraus que conduzem ao curso de Direito da mesma Universidade Federal onde estudei, fiz política estudantil nos estertores da Ditadura, e me formei.

Naquele momento se fez presente, além de qualquer outro, a consciência da velocidade com o qual o tempo nos aniquila e nos pereniza por intermédio dos filhos. E em assim sendo, após comunicar a vocês, meus queridos amigos, o que se passou nesses dias tão felizes para mim, eu lhes peço que compartilhem, comigo, esse sentimento singular, tão humano, que é a felicidade de se sentir, talvez em um dos aspectos mais importante de todos, de certa forma realizado.

Fosse eu poeta, não tendo feitos a contar, anônimo que sou, e cada dia mais feliz com essa condição, mas livre na justa medida em que um homem pode ser em tempos que tais; sem dever a ninguém, exceto ao meu próprio esforço, o pão, o teto, e o transporte que são meus, escreveria para eles um poema tão belo quanto possível para lhes dizer do meu orgulho e da minha alegria, nestes dias que correm rápidos, em tê-los como filhos, em partilhar com eles minha história, e em ser testemunha de tudo quanto estão a construir honradamente.

Como não sou, bastei-me nessas linhas que se mal-traçadas, são sinceras, e termino agradecendo a atenção dos amigos e desejando, aos meus filhos, que Deus lhes torne, sempre, seu caminho cada vez mais leve.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e Estado do RN

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domingo - 20/07/2014 - 08:56h

De pai e mãe: os meus

Por Honório de Medeiros

* Para Elza Sena, onde ela estiver.

Para quem não gosta de adjetivos, aviso logo: não leia o texto. Aliás, não sei por que essa neurose contra adjetivos.

Um adjetivo é um instrumento: se mal usado, compromete; se bem usado, acrescenta. Texto somente com substantivos é igual à mulher sem um toque de batom, um ajeitado no cabelo, um olho delicadamente delineado, uma gota de perfume. Falta poesia.

Pois bem, a minha mãe era extrovertida, determinada, solar; meu pai, por sua vez, introvertido, cismarento, noturno. Antípodas. Completavam-se. Entendiam-se pelo olhar. Conversavam pouco entre si falando.

Tinham longas conversas em silêncio. Poucas vezes os vi amuados um com o outro. Anos depois, já maduro, minha mãe me confessou que muito cedo tinham feito um pacto: se brigassem não dormiriam sem se beijar e desejar boa noite. “Quebrava logo o gelo”, dizia ela.

Lá em casa as tarefas eram bem demarcadas: ela, administração; ele, o financeiro. Quem lidava, por exemplo, com o pessoal que vinha fazer algum serviço na nossa antiga casa às margens da Igreja de São Vicente, era minha mãe. Dura, detalhista, sem papas na língua, amenizava tudo isso tratando os trabalhadores por igual e os convidando a partilharem nossa mesa comum.

Papai, discreto, observava tudo de longe. E ficava fazendo contas, controlando o parco orçamento doméstico, providenciando o pagamento.

Demonstravam afeto de formas bastante diferentes: mamãe abraçava, beijava, ficava arrodeando cada um de seus filhos e sobrinhos, perguntando, dando conselho, participando diretamente.

Papai somente me beijou uma vez, em toda a sua vida, quando me viu sair de casa, aos quatorze, em busca das ilusões da cidade grande. Beijou-me na testa. Marejou os olhos. Fiquei abismado.

Engoli meu choro. Amava de longe, de forma mansa, mas intensa. Chegava na hora certa, maneiroso, solidário. Mas não era de demonstrações afetivas.

Profundamente religiosos, assim o eram, também, de forma muito diferente: enquanto ela cria de uma forma bastante prática, manifestada por intermédio de sua participação em tudo que dizia respeito à Igreja de São Vicente, do coral às novenas, ele, pelo seu lado, movia-se silenciosamente nos meandros da fé.

Quando morreu, era Ministro da Eucaristia. E, ao contrário de minha mãe, era dado às orações solitárias, conversas particulares entre ele e os santos de sua estima.

Ambos de famílias antigas, tradicionais, sequer pegaram o fim do fausto familiar. Foram, desde o início, e com muita dificuldade, da pequena classe média: minha mãe funcionária pública, meu pai empregado de uma empresa familiar de beneficiamento de algodão.

No final, dois aposentados, contando cuidadosamente o dinheiro mirrado que o Governo depositava em suas contas bancárias no final de cada mês. Mas nada relevante lhes faltou: a casa era antiga, mas boa, a mesa era farta, os filhos estudavam em bons colégios.

Tinham, até mesmo, um fusquinha comprado zero quilômetro com o dinheiro do FGTS da aposentadoria de meu pai.

Eram respeitados e queridos na cidade que escolheram para viver e morrer.

Penso, hoje, que minha mãe foi feliz, vivendo sempre o momento presente, de sua forma intensa, visceral. O mesmo não sei dizer de meu pai. Terá sido ele feliz?

Acho que ter se afastado da sua viola amada, por injunções familiares, e trabalhado anos a fio no mesquinho e hostil ambiente da empresa onde era empregado, acentuou sua melancolia de nascença. Entretanto tinha orgulho dos filhos. E seus olhos claros, esquivos, brilhavam quando chegavam as boas notícias que cada um de nós lhe levava. Aparecia um sorriso rápido no rosto. E sua doçura natural se acentuava.

Desisti de me questionar acerca da existência de Deus. Qual minha mãe acredito e pronto. Ponto final.

Penso como Pascal: em crer, mal não há. Talvez haja, também, um fio de esperança a alimentar minha crença: a de que, em morrendo, possa reencontrá-los, sentir o abraço com cheiro de lavanda de minha mãe e o sorriso de meu pai em sua cadeira de balanço enquanto dedilha a viola.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN.

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  • Repet
domingo - 29/06/2014 - 06:46h

“Durmo novo e acordo velho”

Por Honório de Medeiros

* Para François Silvestre

Seu Antônio de Luzia, oitenta e seis anos, sentado em sua cadeira de balanço, na calçada de sua casa, no Sítio Canto, em Martins, é o próprio símbolo da passagem inalterável das manhãs, tardes, noites, madrugadas, do ritmo lento dos dias que se sucedem bucólicos, tais e quais as contas debulhadas do rosário de Sinhá, oitenta e poucos não admitidos, que deslizam por entre seus dedos, à hora do ângelus, enquanto seu pensamento vagueia nos limites de sua circunstância, e nada escapa do seu olhar dardejante e de seus ouvidos “de tuberculoso”, como me confidenciou.

Pergunto a Seu Antônio acerca das coisas que estão mudando mundo afora, em uma rapidez vertiginosa, impossível de serem acompanhadas. Lembro a ele a chegada do homem na Lua, o computador, o celular…

Ele fica calado um bocado de tempo.

Quando penso que esqueceu o assunto, ergue um pouco o braço e aponta com o dedo um passante, quebra o silêncio do final-de-tarde e me diz: “desde que o mundo é mundo, podem as coisas ter mudado, mas o homem, meu filho, é o mesmo de sempre”.

“Quando eu era de menino para rapaz”, continua, “pensava que as pessoas lá fora eram diferentes. Viajei, corri légua, vi e ouvi muitas coisas que eu prefiro esquecer, e voltei. Fico comparando o homem que vive lá fora com o homem que vive aqui, e não vejo diferença. Lá se mata, como aqui; lá se bebe, como aqui; lá se trai, como aqui; lá se rouba, como aqui. Tudo que existe lá fora, maior, existe aqui, menor”.

Fez-se silêncio, novamente, durante algum tempo.

“Eu às vezes penso” prosseguiu, “que tanto faz como tanto fez, o homem se engana demais com as coisas, é como a roupa que a mulher veste: pode ser de qualquer tipo, mas ela é sempre a mesma”.

E, depois de beber um gole de café, arrematou: “lá fora o tempo passa e eu não vejo: durmo novo e acordo velho; aqui, eu vejo que o tempo não passa: faz uma eternidade que estou vivo!”.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e Governo do Estado do RN

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domingo - 22/06/2014 - 20:51h

De criminalidade

Por Honório de Medeiros

Diferente da corrente majoritária hoje nas análises sociológicas acerca das causas da criminalidade e suas consequências, defendo uma abordagem, acerca do tema, de caráter darwinista. Ou seja, penso que está mais que no tempo de superar a falida postura de atribuir às condições sociais, à pobreza, por assim dizer, o surgimento da criminalidade.

A pobreza não é causa, é um dos ambientes do surgimento da criminalidade.

Para o senso comum, principalmente o brasileiro, é fácil entender essa hipótese: basta acompanhar, diariamente, o noticiário acerca da corrupção. Existe uma lógica perversa, típica, por trás da difusão e aprofundamento dessa manobra diversionista que é atribuir á pobreza o surgimento da criminalidade.

É uma lógica de gueto, secessionista, da qual se apropriam os interessados em usufruir da confusão que ela origina. Acerca desse tema tive oportunidade de escrever um artigo que submeto à atenção do leitor: //honoriodemedeiros.blogspot.com.br/2012/10/o-que-leva-o-jovem-ao-crime.html.

Em relação ao reconhecimento desse “ethos da hipermasculinidade”, ou seja, trocando em miúdos, “a busca do reconhecimento por meio da imposição do medo”, a literatura também se manifesta, mesmo que obliquamente, no sentido de reconhecê-la como uma das causas da criminalidade.

Leiam atentamente o trecho a seguir, pinçado de “Maigret hesita“, do genial Georges Simenon, escrito em 1968:

“É provável que lá também encontrasse um pobre sujeito que havia realmente matado porque não podia agir de outro modo, ou então um jovem delinquente de Pigalle, recém-chegado de Marselha ou da Córsega, que eliminara um rival para se fazer crer que era um homem.”

Ai está o senso comum e a literatura mais uma vez mostrando de forma inequívoca por qual razão deve ser um ponto-de-partida para o conhecimento.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN

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domingo - 01/06/2014 - 07:57h

De gentileza, cortesia, polidez e hipocrisia

Por Honório de Medeiros

As pessoas confundem gentileza com fragilidade. Acham, embora não externem, que quem é gentil é fraco.

Elas não expressam o que sentem, às vezes, porque não conseguem abstrair a sensação que lhes acomete. Mas agem como se o conseguissem. Origina-se, daí, a condescendência, o menoscabo. É fácil entender essa situação.

A gentileza é um degrau além da cortesia que, por sua vez, está acima da polidez.

Esta pressupõe um distanciamento, um desinteresse pelo interlocutor, embora, talvez, um certo respeito cético pelas convenções humanas.

A cortesia direciona a atenção das pessoas para seus interlocutores, podendo resvalar, se não houver algum cuidado, em plena hipocrisia. Já o gentil é, em todos os aspectos, realmente interessado e respeitoso com seus interlocutores.

Poderíamos dizer que o gentil é um romântico; o cortês, bem-educado; e o polido, distante, até mesmo frio.

Tudo isso para dar razão a um amigo que cansado de ser confundido com alguém a quem se possa tratar com condescendência, anda migrando lentamente para a polidez. Embora não o faça, ainda que por um pouco de hipocrisia, em sua mente, da mão que estende aos outros somente vai a ponta dos dedos.

Indagado acerca de sua mudança por aqueles que lhe são próximos, culpa, sarcasticamente, o avassalador crescimento da hipocrisia ingênua, aquela que o vulgo batizou de falsidade, tão diferente da hipocrisia irônica, na qual quem fala sabe que quem o escuta percebe facilmente que ali somente se vive um jogo, sutil, cujo resultado é sempre uma soma zero.

Eu, pelo meu lado, penso que na verdade o que acontece é que esse meu amigo vai, a marcha batida, no rumo do ceticismo.

Nada mais que isso.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e Governo do  RN

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domingo - 18/05/2014 - 11:05h

Copa do vexame?

Por Honório de Medeiros

O Presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Augusto Nardes, escancarou o que muitos já dizem aos berros nos quatro cantos deste País sem eira, beira, nem cumeeira: “o Brasil vai passar vergonha na Copa”

Ele não estava se referindo ao futebol, muito embora isso também possa acontecer. Referia-se às obras inacabadas, apesar dos rios de dinheiro despejados nos bolsos dos espertos de sempre.

Ora, ora, não é que o Presidente Nardes foi contido? Muito contido. Deveras contido. Sequer mencionou, por exemplo, essa vergonha nacional que é o menosprezo com o qual somos tratados pelas operadoras de telefonia.

Fazem o que querem conosco. Não são punidas. E quando o são, devem rir da punição recebida. Como se explica que continuem a fazer o que fazem, sem que as autoridades tomem providências? Será corrupção? Não são essas autoridades acometidas dos mesmos problemas que nós, os reles mortais?

Conseguem elas ligar quando querem e manter a ligação durante a conversa?

Nem mencionou a (in)segurança pública. Hoje somos reféns dos bandidos, que nos encurralam em nossas casas, e furtam, roubam, matam, estupram, em escala cada dia maior, mas, também, do aparelho policial-militar que, ao cruzar os braços com seu oportunismo grevista, passa a senha para o crime surgir dos esgotos e atacar à luz do dia.

Tampouco mencionou a saúde pública. O povão, aqui, além da classe média, está se acostumando ao caos que é a saúde pública. As autoridades lidam com a questão de tal forma que já se espraia, nos corações e mentes, a sensação de que tudo isso é assim mesmo, não tem como mudar, e se mudar, é para pior.

Enquanto isso somos espoliados pela máquina de arrecadação do Estado em níveis cada dia mais cruéis. Ou seja: pagamos cada dia mais, por cada dia menos e pior.

Também não mencionou a corrupção generalizada, onipresente, no nosso dia-a-dia. Nada, hoje, no Brasil, parece funcionar sem corrupção. Nada. Essa face horrenda do País estará à disposição dos turistas que vierem, em massa, acompanhar a Copa do Mundo, desde seu contato inicial com os motoristas de táxi, passando por momentos inesquecíveis nos bares, restaurantes e similares.

Torçam, eles, para não terem que manter contato com a burocracia nacional. Torçam muito. E torçam ainda mais para não terem que manter contato com o aparelho repressor do Estado.

Enfim e por fim, não mencionou o Ministro que nem mesmo o brasileiro – pelo menos os das grandes cidades – é mais esse primor de cordialidade e hospitalidade que o Governo apregoa e espera reinar durante o evento. Muito pelo contrário. O brasileiro anda muito mal humorado. E com razão.

Seu dia-a-dia – excluo os bem nascidos -, o dia-a-dia da imensa maioria dos brasileiros, piorou, vem piorando, vai piorar, e a esperança é, hoje, mercadoria em falta.

Não resta a menor dúvida: o Ministro Nardes foi muito comedido…

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN

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