domingo - 26/08/2012 - 12:07h

O aviltamento da educação jurídica

Por Honório de Medeiros

Os cursos de Direito das Escolas Privadas estão sendo encaminhados, lentamente, por imposição do mercado, para se transformarem em cursinhos preparatórios a concursos e exames da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), comprometendo o pouco que restou da preocupação das elites, após a ditadura militar, com a formação humanística.

A pressão para que isso ocorra, vem de todos os lados, ainda difusa, e não é contida pela presença formal, no currículo dos cursos, de disciplinas pertencentes à área propedêutica, como Filosofia do Direito, Sociologia Jurídica, Teoria Geral do Estado e outras.

Incide essa pressão sobre os professores dessa área quando eles cobram os alunos, através de avaliações e presenças, e estes questionam apontando a pouca importância daquilo que lhes é ministrado em termos de mercado de trabalho; incide sobre os dirigentes institucionais, a quem se pede que obtenham o relaxamento dos educadores quanto ao desempenho dos educandos em Filosofia do Direito, por exemplo, mas, ao mesmo tempo, que sejam exigentes quanto ao que será ensinado pelos professores que proferirão as aulas ditas “práticas”; incide nos estudantes, vinda de seus pais, que estão de olho nos concursos públicos que seus filhos farão e acham que não adianta eles se preocuparem com o estudo de algo que não tem “utilidade”; incide insidiosamente em quem paga o curso dos seus rebentos, na medida em que são cobrados por parentes e amigos quanto ao futuro profissional de cada um deles.

O aparente renascer da Filosofia, que contrariaria o argumento acima exposto, constatado em alguns jornais e revistas de circulação nacional, não explora o aspecto “fashion” oculto na tardia opção de parcela da elite por algo tão obscuro e de difícil compreensão. Muito mais que curiosidade filosófica o que motiva essa elite é a necessidade de ser “in” em termos sociais, na medida em que ela possa falar, mesmo que superficialmente – é o que se permite em reuniões sociais – no nome de filósofos ou obras até então relegados às bibliotecas de alguns poucos excêntricos.

É isso mesmo, trocando em miúdos: esse renascer é aparente e decorrente da criação de mais uma forma alienada de se destacar socialmente, extremamente curiosa por que ela lida, concretamente, com o aparato intelectual – os livros e seus autores – que, em tese, em sendo utilizado corretamente, libertaria o alienado de sua alienação. Esse filme não é novo: posar de intelectual, há alguns anos, já teve seu charme…

O certo é que a proliferação de cursos de Direito oferecidos por instituições privadas vem acentuando o aviltamento do ensino.

As universidades querem poder estampar nos jornais a relação dos seus alunos aprovados em concursos para poderem captar mais clientes, e como, para eles serem aprovados, precisam submeter-se à lógica educacional própria dos cursinhos preparatórios, onde o superficial e contingente prepondera sobre o profundo e estrutural, está armado o cadafalso onde serão guilhotinadas gerações presentes e futuras de possíveis pensadores, humanistas e críticos substanciais da nossa realidade.

Tais alunos terminam construindo um perfil básico para si que é quase um padrão: agressivos, competitivos ao extremo, conhecedores de leis, jurisprudências e doutrinas específicas, hábeis em citações deslocadas do contexto de onde são arrancadas, restritos ao mundo jurídico, leitores de orelhas de livros de divulgação doutrinária em Filosofia do Direito, assíduos frequentadores de manuais jurídicos, todos com a profundidade de um pires com água.

Ressaltem-se, obviamente, as exceções que nos surpreendem e são verdadeiros outsiders por conseguirem pensar para além do viés técnico. Aliás, essa é a diferença entre o técnico e o pensador: enquanto aquele executa, aplica, este planeja, pensa.

Que os leitores apressados não suponham que estou a descrever algo estanque. Claro que não. Alguém que executa e aplica pode planeja e pensar. Entretanto, hoje, o contexto (palavra antipática), a correlação-de-forças impõe, cada vez mais, o fortalecimento das barreiras que estabelecem a segmentação que organiza a Sociedade capitalista selvagem na qual vivemos.

Não interessa ao modelo político vigente do qual o Estado é causa e consequência, uma realidade social na qual seus cidadãos não sejam alienados, ao contrário, possam refletir criticamente acerca do seu papel de correia-de-transmissão entre o topo e a base fortalecendo essas estruturas injustas que são nossa herança e virão a ser, ao que tudo indica, nosso legado.

Fatos como aquele ocorrido com um amigo meu, professor, que em sala de aula leu textos de Fernando Sabino, na tentativa de estabelecer com seus alunos a cumplicidade através do belo, e no final foi indagado acerca de em qual livraria seria encontrado “seu” livro fatalmente tende a ser um padrão, assim como aquele outro ocorrido comigo, no qual um aluno me comunicou, findo suas férias, que havia lido integralmente, nesse período, capa-a-capa, “O Positivismo Jurídico”, de Norberto Bobbio, e antes que minha alegria me levasse a usá-lo como exemplo em sala-de-aula, concluiu dizendo “mas não entendi nada”.

Que tempos, estes…

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e Estado do RN

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domingo - 29/07/2012 - 08:18h

Hercílio Pinheiro, o gênio esquecido

Por Honório de Medeiros

“Um dom dado por Deus”. Assim Seu Chico Honório começou a me falar de sua amizade com o grande cantador de viola e repentista Hercílio Pinheiro, de quem foi amigo pessoal, nascido em Luis Gomes, Rio Grande do Norte, no Sítio Arapuá, no dia 13 de novembro de 1918, e morto tão prematuramente em 9 de abril de 1958, aos quarenta anos de idade.

Hercílio, desde pequenino, versejava batendo em uma lata “desafiando” sua irmã. Cedo aprendeu as técnicas de sua arte através de Inocêncio Gato, com quem fez sua primeira cantoria. E cedo, também, veio morar em Mossoró, onde exerceu a atividade de locutor da Rádio Tapuyo até se entregar totalmente à viola.

Hercílio: pura arte

Seu Chico recorda suas primeiras cantorias – com Antônio de Lelé, na casa de Zé Honório, em São João do Sabugi; com Justo Amorim, na casa de Cabo Palmeira, patrocinada por Zuza Patrício; com Chico Monteiro na fazenda de Sinhozinho Crisóstomo, a cinco léguas de Alexandria, todas tiradas a cavalo, no novenário de Santo Izidro.

Eu o deixo divagar mergulhado nas lembranças de quase setenta anos atrás. Ele, entretanto, não demorada a repetir: “Hercílio foi um dom de Deus.”

“Hospedei Hercílio e Dimas Batista em Mossoró. Hercílio era um homem correto, digno, honesto. Transpirava honestidade. Morreu dezessete dias antes de você nascer. Foi o melhor cantador de viola do Brasil em sua época. Respeitava todos seus companheiros, mas, os superava em muito.”

“A grande teima, naqueles anos, era qual dos dois cantadores era o melhor: Hercílio ou Dimas.”

“Houve um desafio célebre, na década de cinqüenta, entre os dois, um desafio real, não esses de hoje, onde tudo é combinado, que começou de tarde, varou a noite e ganhou a madrugada e somente parou por que o juiz da cidade – Taboleiro do Norte, Ceará – deu por encerrada a peleja, dando-a como empatada.”

“Hercílio era irmão de João Pinheiro e seu sócio no bar “Irmãos Pinheiro” aqui em Mossoró. Esse bar é tradicional ponto de encontro de comerciantes, políticos, advogados, ainda hoje, mas a maioria de seus familiares mora em Taboleiro do Norte, no Ceará. Hercílio tinha entre um metro e setenta e um a um metro e setenta e seis. Era muito magro. Branco, calvo, cabelos finos, usava óculos com grau muito forte porque era quase cego em conseqüência de uma miopia. Fumava cigarro de palha ou de fumo cortado.”

“Eu o conheci quando era chefe de trem na linha Mossoró-Sousa. Como era seu admirador, terminei fazendo amizade com ele por conta das viagens que ele fazia para ir cantar. Na verdade devo a Hercílio minha vinda para a Igreja Católica. Um dia, quando já estávamos perto de Mossoró, ele me perguntou: Chico, você já fez sua Páscoa? Respondi-lhe que nunca tinha me crismado nem feito Páscoa”.

“Ele me ofereceu os livros que eu tinha que estudar e me disse que ia me levar a Frei Luis. Esse Frei Luis era um terror. No dia seguinte fui me confessar com Frei Luis, a mando de Hercílio, e lhe disse que nunca tinha me confessado. Levei um grande carão e ganhei uma penitência de sete padres-nossos de joelho. Até que não foi muito pesada. A segunda confissão foi com Frei Damião. Hercílio foi quem encaminhou. Novo carão e novas penitências.”

“Quando Hercílio vinha a Mossoró eu já sabia: de manhã, lá pelas dez horas, nós nos encontrávamos e a outros amigos na Praça do Pax, para conversar sobre cantoria, repente, cantadores, viola.”

“Hercílio era muito admirado, entre outras qualidades, por ter o que os entendidos chamam de “pulmão limpo”, ou seja, sem pigarro, um canto claro e bonito.”

“Uma vez, não me contive: Hercílio, quem é o cantador que você teme em uma disputa? Não temo ninguém, respondeu. Aliás, continuou, não disputo com ninguém, só comigo mesmo. Mas eu sempre me fiz respeitado na minha profissão. Agora respeito e sou respeitado por Dimas Batista.”

“Assim é o gênio”, conclui Seu Chico. “Estudou à luz de lamparina, mas seu dom, esse não tem como aprender, Hercílio nasceu com ele.”

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN

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domingo - 22/07/2012 - 10:15h

Estou pensando que não voto mais em oligarquias

Por Honório de Medeiros

Estou pensando que não voto mais em oligarquias, bem como não voto mais em quem apóia ou é apoiado por oligarquias. Qualquer oligarquia.

Na “Ciência política”,  oligarquia é a forma de governo em que o poder político está concentrado num pequeno número de pessoas identificáveis por interesses particulares tais como riqueza, laços familiares, empresas ou poder militar.

Estados em que isso acontece são muitas vezes controlados por poucas famílias proeminentes que repassam a sua influência ao longo de gerações.

Ressalvo, desde já, que já votei e, até mesmo, já trabalhei para algumas oligarquias. Assumo meu erro. O que eu não quero é continuar a errar.

Nada há de pessoal contra quem quer que seja nessa tomada de posição. Ela decorre de uma percepção amadurecida do processo político.

Trata-se de não mais crer que alianças táticas com o inimigo ideológico permitam algum tipo de avanço na luta pelo fortalecimento da Democracia e do bem-estar da Sociedade como um todo.

Ao longo dos anos foi essa minha crença, minha ilusão acalentada desde os bancos da Faculdade de Direito onde ingressei convicto da nossa possibilidade de mudar o mundo por dentro, jogar o jogo da elite política: torná-lo menos injusto.

Hoje, essa crença não existe mais.

A história demonstrou e demonstra, a cada dia, que os inimigos da Sociedade são muito mais perigosos do que supõe a nossa pretensão de entendê-los e combatê-los. Tais inimigos acreditam estarem certos em fazer, por si, e pelos seus, apenas, o possível e o impossível para sobreviverem no caos social no qual vivemos.

Nada pior que combater quem crê no que está fazendo, mesmo quando essa crença é uma distorção, um equívoco.

São eles, esses inimigos, predadores. Não têm consciência do mal que causam, ao longo do tempo, a si, aos seus, e aos outros, e quando o têm, cedem ávidos e velozes aos argumentos que pretendem legitimar suas ações equivocadas.

São elos de uma estrutura manipuladora, voraz, amoral, que os gratifica, aliena e lhes dá o amparo intelectual para seguirem em frente em sua cegueira existencial.

Os avanços que esses inimigos apresentam como progresso são armadilhas, apenas armadilhas para os desassistidos, que aparentam tudo mudar, para que tudo continue igual ao que era antes, no quê, aqui, parodio o Príncipe de Salinas, esse personagem canônico fundamental de Lampedusa e da literatura ocidental.

Não quero mais fortalecer essa estrutura.

Claro que meu gesto é uma gota d’água no Oceano da política, do jogo do poder. Demasiadamente pequena gota insignificante. Não importa. Convido outros a compartilharem, se for o caso, esse pequeno gesto.

Pode não resultar em nada, mas faz com que eu, hoje, me sinta mais limpo.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário do Natal e do Estado do RN.

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domingo - 01/07/2012 - 08:35h

Minha amada gosta das cidades grandes…

Por Honório de Medeiros

Para Bárbara Lima

Minha amada gosta das cidades grandes, do bulício das ruas elegantes nas manhãs de sol pálido que não lhe agrida a pele muito branca, quando se dedica às compras “virtuais” e compõe mentalmente, enquanto deambula, várias toilettes com as peças à mostra, da rotina dos cafés ao entardecer que são promessas de noite e despedidas do dia, das noites suavemente embaladas por uma discreta taça de vinho, à qual seguem, como um coroamento de um dia feliz, un dessert, e um sono tranqüilo, embalado pela confortante presença próxima do seu ateliê, onde se dedica à requintada arte do “scrap”, no qual obras de arte feitas à mão disputam espaço com as marcas sutis de sua presença diária.

Já lhe ponderei, diversas vezes, acerca das maravilhosas manhãs na Serra, quando a neblina propõe, aos transeuntes, um véu opaco com o qual os envolve enquanto o silêncio, companheiro de nossas caminhadas, somente é perturbado pelo ir-e-vir dos pássaros e o balançar dos ramos e galhos das árvores tangidas pelo vento matinal, e, também, das tardes pungentes tão típicas e plenas de uma profusão de cores cambiantes que esmaecem lentamente anunciando a noite, ah!, a noite, e o imenso céu estrelado, límpido, misterioso, inigualável, do Sertão…

Eu lhe prometi um espaço somente seu, amplo, no qual cada laivo de sua imaginação criadora tenha a condição de se transformar em realidade, separado do chalé com o qual sonho por um caminho margeado pelas flores das quais tanto gosta e pelas árvores das quais sou tão próximo, onde ela poderia receber as pessoas que a procurassem lhes oferecendo um café feito na hora a ser servido nas delicadas e herdadas xícaras onde despontam motivos florais finamente estampados, acompanhado de biscoitos da terra, de gosto suave, que facilmente se dissolvem na boca, ou, quem sabe, nos frios dias de julho, uma taça de chocolate quente enquanto a conversa fluísse animada.

Receio não lhe ter convencido, posto que o prosaico da vida sempre interfere nos sonhos de cada um: é a rotina do trabalho, a rotina dos filhos, a rotina dos compromissos que exigem nossa presença diária e nos impõem atividades que não gostamos, deveres que nos assoberbam, atenções que nos impedem de nos entregarmos plenamente à vida que passa tão rápida enquanto desperdiçamos nosso tempo a ranger os dentes de raiva pelo trânsito que não flui, a nos eriçarmos para o combate com nossos estressados semelhantes, a nos debater com a melancolia que nos assoma no final-do-dia pelo muito que é perdido quando constatamos que nada mais somos que apenas outra peça da engrenagem.

Quantos de nós, envelhecidos, eu não observo enquanto me desloco: são tão poucos os que sorriem! Será que neles há o fastio do acúmulo das horas inúteis, a consciência do tempo perdido com coisas vãs? Será que esse balanço de final-de-vida, quase sempre negativo, é que lhes colocou nos rostos esse olhar vazio, tão distante? Será que essa entrega derradeira, o abandono da condição de controle do próprio destino, é que constitui o caldo de suas amarguras? Como saber?

Enquanto penso dou razão à minha amada e me conformo, mas não perco a esperança. Enquanto espero, e os dias rolam na minha vida como as contas de um terço rolam nas mãos daqueles que rezam, escapo para o último andar do prédio onde moro, prédio entre prédios, subo a escada que conduz ao topo, e lá, derramo meu olhar descontente por sobre a cidade febril enquanto gulosamente sinto, sobre mim, o infinito do céu no qual os limites existente são o vôo dos pássaros e de um ou outro avião.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN

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domingo - 17/06/2012 - 03:45h

Graciliano Ramos e o cangaço

Por Honório de Medeiros

Graciliano Ramos e o Cangaço.

Ricardo Ramos ao ouvir seu pai contar acerca de quando Palmeira dos Índios se armara para enfrentar Lampião, ficara fascinado:

“Passara a meninice acalentado pelas estropolias dos cangaceiros, da polícia volante, duas pestes que nos assolavam.”

“E (lhe) contei de uma noite, após a ceia, em que, atraído por foguetes, sai à calçada e vi os caminhões, as cabeças cortadas, espetadas em estacas, de Lampião, Maria Bonita e mais dez outros, os soldados empunhando archotes, gritando vitoriosos, um cortejo macabro pelas ruas de Maceió”.

Graciliano lhe diz:

“- Eu escrevi sobre isso”.

“Não havia lido, era pequeno e estava fora do Rio. Bem depois, ao se reunirem as crônicas de Viventes das Alagoas (título sugerido por Jorge Amado), afinal encontrei “Cabeças”. Ou reencontrei minha antiga visão, bárbara, mas transporta no sarcástico perfil do tenente Bezerra, que se reformou coronel, o falante matador de Lampião, versado em frases feitas, sua retórica elementar de glorificado primário.”

“Havia mais, bem mais. O Fator Econômico no cangaço, crônica da propriedade que se mantém e cresce pela força, com pequenos exércitos de senhores rurais, sedentários, enquanto os cangaceiros se distinguem dos outros facínoras apenas por serem nômades, no regime de produção agrícola da caatinga.”

Corisco, uma crônica do diabo louro, seu conterrâneo de Viçosa, filho de decadente família de donos de engenho, forçado a decair, enlouquecido, o pequeno monstro baleado e decapitado, morto quase inédito porque havia a guerra na Europa, tantos crimes. Dois Cangaços, a crônica dos matutos indefesos diante de dois poderes, a volante e o cangaceiro, a primeira muitas vezes obrigando-os à segunda opção, ou o seu reverso, em todo o caso forçando-os a escolher, pela imposição sócia, ou pior ainda, pela econômica.”

“E Lampião e Virgulino, que buscam o perfil. Necessariamente fincado no agreste.”

“Graciliano nunca idealizou Lampião. Desde 1926, ao escrever do assédio a Palmeira dos Índios, sem mencionar a sua participação pessoal. Chama-o ‘bicho montado’, ‘horrível’, ‘sanguinário’, diz dele o animal ‘cruel’, que ‘queima fazendas’, capaz ‘de violar mulheres na presença de maridos amarrados’, e ‘se conservara ruim, porque precisa conservar vivo o sentimento de terror que inspira’, enfim ‘vemos perfeitamente que o salteador cafuzo é um herói de arribação bastante chinfrim’”.

“Por outro lado, não desconhecem a sua projeção lendária. ‘Lampião nasceu há muitos anos, em todos os estados do Nordeste’. E se refere à nossa tradição bandoleira, do remoto Jesuíno Brilhante ao envelhecido Antônio Silvino, para concluir: ‘Resta-nos Lampião, que viverá longos anos e provavelmente vai ficar pior. De quando em quando, noticia-se a morte dele com espalhafato. Como se se noticiasse a morte da seca e da miséria. Ingenuidade.’”

Obra citada: “Graciliano RETRATO FRAGMENTADO”; RAMOS, Ricardo; Globo; 2ª edição; 2011; São Paulo.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e Estado do RN.

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domingo - 29/04/2012 - 09:57h

Os livros nos escolhem!

Por Honório de Medeiros

Muito poucas foram as vezes em que entrei em uma livraria sabendo o que buscava. Ao contrário. A grande maioria das vezes entrei somente pelo prazer de entrar, de ver, de sentir o cheiro dos livros, de ouvir o murmúrio de outros apaixonados como eu para quem eles foram, desde sempre, um grande amor.

Poucas vezes saí sem nada nas mãos. Sempre – e isso é o que importa neste relato – fui buscado por algum ou alguns livros. Sim, porque são eles que nos escolhem.

Como poderia ser diferente se outra explicação não há para esse amor que surgiu quando minha mãe me colocava para dormir lendo estórias em quadrinhos do Pato Donald, enquanto nos balançava na rede, e, um dia, para sua surpresa, me pegou soletrando as sílabas?

Os livros dos meus vizinhos, abandonados, valeram-se de mim para saírem de sua solidão – em minha casa sequer Bíblia existia. Os livros, ah!, os livros, eles nos escolhem, e da minha infância para a meninice, lá estavam eles: “O Mundo da Criança”; “O Tesouro da Juventude”; e, depois, logo depois, Julio Verne, Alexandre Dumas, Victor Hugo, Edgar Rice Burroughs, Karl May…

Pois bem, é como digo, os livros nos escolhem. Chegam a nós das mais estranhas maneiras, desde o presente de um amigo, que pensa ter acertado na escolha por um motivo qualquer, muito embora tenha acertado por outro totalmente diferente, a aquele decorrente do inexplicável oferecimento visual ocorrido quando, cansados de perambular pela livraria, nos sentamos em uma poltrona, a única vaga, e – como se fosse algo inesperado – aquele livro que nos escolheu aparece imediatamente no nosso campo visual. Não há como resistir.

Ele estava nos esperando. Agradecidos pela escolha pegamo-lo carinhosamente, e o folheamos, sentimos seu cheiro inigualável, sua textura, passamos uma vista d’olhos por suas páginas e o levamos conosco, ambos muito felizes. Assim aconteceu certa noite quando, em um aeroporto qualquer, aguardando a hora de embarcar e vagando pela livraria, já imaginando que daquela vez eu teria que me contentar com as revistas – fraco sucedâneo – meus olhos foram atraídos por “Os Devaneios do Caminhante Solitário”, de Rousseau!

Quantas e quantas vezes não falara acerca do “Contrato Social” para meus alunos de Filosofia do Direito, ao lhes explicar em que crença se fundava nosso fé no Ordenamento Jurídico enquanto expressão da Vontade Geral da Sociedade. Antes Rousseau que Niklas Luhmann.

Antes Rousseau, que dera um lavor inigualável à genial intuição de Protágoras de Abdera… Agora, ali, outra vertente desse mal-amado e original filósofo francês, me convidava a, com ela, travar conhecimento. Abri o livro ao acaso. Li o que se me ofereceu aos olhos: “É dessa época que posso datar minha total renúncia ao mundo e esse gosto vivo pela solidão que não me abandonou desde então.”

“Como?”, me indaguei, “Vila-Matas escreve toda uma obra, Doutor Pasavento”, em homenagem à arte de desaparecer, que é a face mais exposta da renúncia, usando como pano-de-fundo a história de Robert Walser, e não cita Rousseau?” Segurando firmemente o livro de Rousseau tomei o caminho que me conduzia ao caixa para compra-lo e, em seguida, feliz por ter sido escolhido, entrar no avião onde me esperavam algumas horas de voo e de leitura.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN

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quinta-feira - 26/04/2012 - 14:43h
Fatos e Gente

Gerais… Gerais… Gerais… Gerais

A noite desse sábado, dia 28, promete ser caliente no Tenda Music Club com a Festa da Tequila a partir das 23h. A animação ficará por conta da banda Salsalada que apresentará um repertório pra lá de dançante. A noite conta ainda com o arrasta pé da banda Forró do Bode e dos hits de DJ Juninho.

Os veículos de transporte de estudantes da rede estadual, em Caicó, param segunda (30). Os meses de janeiro, março e abril não foram pagos e por isso teremos mais dificuldades para o alunado. Pobre Caicó, pobre Rio Grande ‘sem sorte’.

HONÓRIO – Saudações para o professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do Rio Grande do Norte, Honório de Medeiros. Aniversaria hoje e recebe os parabéns desta página e de um incontável número de meia dúzia de amigos e duas ou três abstenções. Saúde e paz, meu caro. Sei que tirando todos os defeitos, és gente boa. Para evitar embaraços, não assinalo neste espaço a sua idade paleontológica.

Honório, esse senhor bem mais velho, à esquerda, nas veredas do sertão de Doutor Severiano, comigo, dia 14 de janeiro de 2010 (Foto: Jânio Rego)

Sábado (28), tem música ao vivo com o cantor natalense Daniel Freire no restaurante Mariposa, na Rua Açu, no Tirol. Ele é licenciado em música pela UFRN e também dá aulas de violão e guitarra. São 12 anos de experiência em ensino aliados à prática de quem toca na noite. Já conhecido pelo circuito de bares e pubs da cidade, com seu repertório composto de clássicos e hits do Pop Rock nacional e internacional, o músico trabalha atualmente na divulgação de seu DVD – Som na Sala.

Faltando pouco mais de um mês para a realização da Feira Internacional da Fruticultura Irrigada – EXPOFRUIT 2012, que será realizada de 13 a 15 de junho, em Mossoró/RN, no Expocenter, a sua programação científica está com temas fechados. Eis os principais: Comércio Exterior e Relações Internacionais, A Cultura do Mamão, Técnicas de Pós-Colheita, Técnicas para a Aplicação de Defensivos Agrícolas, Empreendedorismo e Negócios, Boas Práticas de Cultivo para Frutas Tropicais, Georeferenciamento, Inovação Tecnológica, Impacto da Tecnologia do Controle Biológico na Fruticultura do Semiárido, Direito Ambiental: Entraves e Desafios, Licenciamento ambiental no agronegócio, Outorga de direito de uso de água e licença de obra hidráulica, entre outras.

Os amantes do rock têm uma boa opção de diversão em Mossoró. Nesta quinta-feira, a partir das 20h, o Sélect Nouveau oferece ao público um show que promete. A programação será composta pela apresentação da banda baiana Vivendo do Ócio e dos grupos potiguares Camarones Orquestra Guitarrística e Talma & Gadêlha.

Vitória Aparecida Martins, 8 anos, e Pedro Henrique Martins da Costa, de 4 anos, residentes no Conjunto Sonho Meu, Dom Jaime Câmara, em Mossoró, sofrem de uma doença genética e SEM CURA, chamada Epidermólise Bolhosa (mais conhecida por Epiderme Bolhosa), onde seus corpos ficam com bolhas e feridas, que coçam e sangram bastante. Filhos da Iva Ivete Martins, eles são de uma família sem condições financeiras e precisam de ajudas, para que sejam garantidos os cuidados de saúde necessários. Eis a conta-poupança para quem quiser ajudar, doando o que puder: CAIXA ECONÔMICA: Agência 0560; Operação 013; Conta: 31.484-3 de Iva Ivete Martins. A iniciativa dessa campanha é da Rádio Difusora de Mossoró.

GREVE – Em assembleia promovida à manhã de hoje, a Associação dos Docentes da Uern (ADUERN) aprovou o indicativo de greve para o dia 2 de maio. É a quarta-feira da próxima semana, a princípio definido no calendário da Uern como início do semestre letivo. Se até este dia o Governo do Estado não apresentar uma resposta positiva ao cumprimento de acordo firmado ainda ano passado com os servidores, será realizada mais uma greve na universidade. A do ano passado foi recorde, durante 106 dias.

É neste sábado (28) a festa para escolha da Musa do Estadual 2012 – no Oba Restaurante, em Mossoró, às 21h. Mesas e senhas podem ser adquiridas por este contato telefônico: (84) 8704-8116.

Obrigado a leitura deste Blog ao vereador mossoroense Flávio Tácito (Mossoró), Aline Morais (Recife-PE) e Fernando Silva (Alto do Rodrigues).

A mais nova edição do Jornal Central vai circular neste próximo final de semana na Região Central do Estado e em endereços influentes de outros municípios, Natal e Brasília. Por lá, a Coluna do Herzog. Meu caro diretor Aclecivam Soares, não esqueça o meu ‘soldo’.

O jornalista Emery Costa escreve em sua coluna no jornal O Mossoroense, que o cantor-compositor e produtor musical Oseás Lopes, nome artístico “Carlos André”, vai gravar uma música em homenagem ao radialista Canindé Alves, falecido  à semana passada. Ele teria sido um dos principais incentivadores da carreira do artista e de seus irmãos, que formaram o “Trio Mossoró” nos anos 60.

Investimento mais ousado fará nascer em breve a Livraria Saraiva no Mossoró West Shopping. Que beleza! Recentemente, em passagem por Recife-PE, novamente me esbaldei na Livraria Cultura, no Paço, um ambiente de acervo impressionante também em CD´s, DVD´s. Fica difícil controlar a tentação comum às traças.

Está confirmado para os dias 15,16 e 17 de maio, no Garbos Recepções e Eventos, em Mossoró, o Seminário Potiguar de Mídias Sociais. O evento promete ser bastante concorrido.

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domingo - 15/04/2012 - 21:45h

História da vida real

Por Honório de Medeiros

Nas Seleções do Reader Digest que meu pai colecionava na década de 40 eu lia, entre menino e adolescente, uma seção cujo título era “Histórias da Vida Real”. Não me lembro mais de qualquer das “histórias”, exceto uma: durante a Segunda Guerra Mundial, as moças americanas eram incentivadas a participarem do esforço comum americano escrevendo para seus compatriotas combatentes mundo afora.

Um deles começou a se corresponder com uma garota do interior de um daqueles estados americanos do Oeste. Passaram-se os anos e as cartas, que começaram cordiais mas distantes, assumiram um teor cada vez íntimo, com troca de confidências, sonhos, planos e tudo quanto diz respeito a, finalmente, uma correspondência amorosa.

Tudo correu perfeitamente bem exceto pela recusa obstinada da moça em enviar, para seu correspondente, uma fotografia e o nome da cidadezinha na qual morava. Todas suas cartas eram enviadas da Estação Central de Trem da capital do seu Estado. Ele argumentava dizendo que gostaria de ter, perto de si, não apenas suas cartas e tudo quanto de bom elas lhe traziam, mas, também, uma imagem sua para a qual pudesse olhar naqueles momentos terríveis pelo qual estava passando.

Ela lhe respondia, justificando-se, que o amor, entre eles, começara pelo espírito, e assim deveria continuar até o momento em que, finalmente, pudessem se encontrar frente a frente, e uma fotografia poderia lhe dar uma falsa impressão que a realidade viria desmascarar.

Finalmente a guerra terminou.

Ele lhe escreveu para combinar o encontro e ela lhe pediu que estivesse no dia e hora marcados, na Estação Central de Trem da capital do seu Estado, quando seria reconhecida por trazer, nas mãos, um ramo de rosas vermelhas. Esta seria a única forma de reconhecê-la que ele dispunha: não sabia como era ela, em qual cidade vivia, e, mesmo, se seu nome era real ou fictício.

Meio-dia em ponto, conforme combinado.

O trem para. Ele salta e olha, ansioso, para todos os lados. Há poucos transeuntes na Estação. Ninguém que aparente ser uma moça desacompanhada portando um ramo de rosas vermelhas nas mãos. Começa sua frustração.

Será que foi enganado ao longo de todos os anos? Será que tudo quanto ela lhe dizia por carta, o amor que nascera, os planos construídos, eram mentiras? Parado, a maleta aos pés, a expressão ansiosa, ele olhava em todas as direções tentando encontrar uma explicação para um possível atraso, como um acontecimento de última hora, um obstáculo inesperado…

O tempo passou. Uma hora depois, convicto que tinha sido iludido, ele começou a se dirigir para o guichê de vendas de passagens. Pretendia ir embora o mais rápido possível.

Quando se aproximou do guichê viu, sentada, próxima ao local, uma senhora de aproximadamente sessenta anos trazendo, em suas mãos, um buquê de flores vermelhas. “Então é isso?”, se perguntou. “Ela é esta senhora, e por essa razão não teve coragem de me enviar uma fotografia sua?”

Parado, perplexo, pensou em se esconder – não era possível aceitar que aquela senhora fosse sua amada! “E agora?” disse a si mesmo, “deveria honrar o amor espiritual com o qual se comprometera e que independia de idade ou poderia justificar sua fuga alegando ter sido manipulado?” Não resistiu.

Aproximou-se.

“Senhora, seu nome é Lucy?”, indagou usando o nome usado por ela nas cartas. “Não, ela me pediu para ficar aqui algum tempo, com essas rosas na mão, aguardando que alguém viesse a sua procura; ela está ali”, e apontou. Um pouco além, vindo em sua direção, com outro buquê de rosas vermelhas nas mãos, uma belíssima mulher lhe sorria, enquanto acenava discretamente.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN

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Categoria(s): Crônica
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domingo - 08/04/2012 - 06:40h

O que acontecerá com o livro

Por Honório de Medeiros

“A vida é líquida”, diria Zygmunt Balman, aludindo à consistência das relações entre nós e os outros, ou entre nós e as coisas e/ou fenômenos. Líquida, posto que essa consistência não tem forma definida, assume aquela que o recipiente (o contexto) impõe. Não somos estruturas rígidas que atravessam o tempo imutáveis ou pouco atingidos pelas circunstâncias, somos proteiformes, somos difusos, somos evanescentes.

Vivemos em uma época na qual as gerações mais novas escrevem tudo em uma linha. No máximo algumas poucas linhas. E somente lêem, e são treinadas pela realidade virtual com a qual convivem “full time” exatamente para isso, algumas linhas, umas poucas linhas.

Tal é o ser (e o dever-ser) que essa realidade virtual impõe: tudo é frenético, tudo é descartável, tudo é cambiante, imediato. É a maximização das potencialidades, negativas ou positivas, da nossa espécie sobrevivente e dominante, conforme descrito pela teoria da seleção natural.

O ensino, hoje, está em ruínas por vários motivos, mas desconfio que o modelo que ainda predomina está fadado ao fim, entre outras razões, mais ainda, em decorrência do descompasso com essa realidade que aos poucos se impõe, no qual não há mais espaço para uma educação que se estrutura a partir de livros, com textos pesados, longos e que exigem tempo e estudo profundo, e o tratamento do “pensar” típico dos escolásticos medievais que moldaram as bases do nosso ensino ocidental e cristão.

As gerações mais novas, que herdarão o mundo, ou o que restar dele, e sua forma de apreender e expressar a realidade, estão em processo de descompasso com aquela construída pelos nossos antepassados. Não se trata de estarmos certos e eles errados por não quererem ler livros como “Ulisses”, de Joyce, “Paidéia”, de Jaeger, ou “Em Busca do Tempo Perdido”, de Proust.

São elas, as gerações mais novas, mutações engendradas pelo meme que é a realidade virtual: caracterizam-se por viver em ritmo alucinante, pensar freneticamente, falar acelerado, em contraposição ao viver, pensar e falar arcaico, que vai sendo deixado para trás. O livro de papel sobreviverá, claro, como sobreviveu o ritual do chá no Japão moderno que a restauração Meiji instaurou, e atirar com arco-e-flecha, algo excêntrico, típico de verdadeiros “outsiders”, a partir do qual hão de se criar seitas e seus inevitáveis rituais iniciáticos.

Livros em ambientes virtuais existirão cada vez mais, óbvio. Mas nunca serão consumidos como o foram os livros de papel após Gutenberg. Assim como os monges que salvaram a civilização como nós a conhecemos, na Alta Idade Média, copiando os textos antigos e os deixando para a posteridade, será em ambiente monacal que os iniciados lerão obras como as que foram citadas acima.

O velho mundo está morrendo, viva o novo mundo, do qual serei espectador privilegiado, posto que, quando menino fui apresentado ao milagre da televisão quando já completamente cativado pelo livro de papel, e, agora cinquentão, me maravilho com as infinitas possibilidades de uma realidade sequer possível de ser imaginada antes, domínio e prisão dos que, hoje, ainda são apenas adolescentes.

Honório de Medeiros é ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN, professor e escritor

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sábado - 25/02/2012 - 10:06h
Fatos e Gente

Gerais… Gerais… Gerais… Gerais

A Poetas e Prosadores de Mossoró (POEMA) convoca e mobiliza poetas da cidade, sócios e não sócios da entidade assim como a classe artística de Mossoró de um modo geral, à presença em uma reunião na próxima terça-feira (28). Será às 19h, na casa do poeta Rogério Dias (à Avenida Dix-sept Rosado, 195, Centro, Mossoró/RN). Será discutida a programação alusiva às comemorações do dia 14 de março (Dia Nacional da Poesia). A entidade celebrará 15 anos de existência.

O blogueiro Samuel Júnior, arranchado nas ribeiras do Vale do Açu, avisa-nos que a Cooperativa de Desenvolvimento Sustentável do Vale do Açu (COOPS), através de sua usina de beneficiamento, colocará além de leite pasteurizado, queijo de coalho e bebida láctea à disposição da população da região. Saiba mais AQUI.

Bárbara: o belo também no verbo

Bárbara de Medeiros, não nega a origem. Filha do professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN Honório de Medeiros (com Bárbara Lima), ela lançará seu primeiro livro à próxima semana. A idade juvenil – 14 anos – faz brotar o título “O escritor de sonhos“. O lançamento será nesta segunda-feira (27), às 19h, no Restaurante La Tavola (Rua Rodrigues Alves, 44, Tirol, em Natal). Farei esforço concentrado para esbarrar por aí, meus queridos.

Um grupo de amigos saudou ontem o aniversário do representante comercial da área farmacêutica, João Bosco Souto, o “Bosquinho“. Meu abraço virtual. Mas ontem ainda arranjei um tempinho para fazê-lo pessoalmente. Você merece, meu caro.

É hoje às 17h, na Igreja São João – na Rua São João – em Lagoa Seca, Natal, a Missa de 7º Dia em lembrança de Cornélio Leite Filho, pai do fotógrafo Karl Leite. Aqui dessa lonjura, eis minha solidariedade, como já o fizera no dia do súbito acontecimento, usando a rede sociail do Twitter.

O casal amigo Naeide-Ribamar Freitas, do Oba Restaurante, avisa que neste domingo (às 16 horas), o melhor lugar para acompanhar o clássico Vasco e Fluminense, na decisão da Taça Guanabara, é em seu endereço. Portanto, façamos filas e torçamos por nossas cores. Aposto no Fluzão, modestamente.

Saúde e paz para Áurea Oliveira, sobrinha do meu querido amigo Toinho Oliveira, falecido ano passado. Ela aniversaria hoje. Dia de festa também, pelo mesmo motivo, para Westerley Cavalcante, que fará exame de Carbono 14 para tentar identificar a própria idade paleontológica. Saúde e paz, meu querido.

O rock alternativo toma conta do Sélect Nouveau (Nova Betânia, Mossoró) neste sábado (25), a partir das 22h. A banda natalense Desventura, cover de Los Hermanos, sobe ao palco durante festa denominada de ‘Todo carnaval tem seu fim’, título de uma das músicas do grupo carioca.

Se hoje é sábado, é dia de “Sêbado”, a melhor confraria cultural de Mossoró, no bairro Nova Betânia, a partir do meio-dia. Farei esforço concentrado para pelo menos dar uma passadinha rápida por lá. Guarde meu tamborete, doutor Marcos Almeida.

A mossoroense Maria Ângela da Silveira Borges – saudades do talento, amizade e alegria – será homenageada pela Prefeitura de Fortaleza, administração de Luisianne Lins, com uma Praça do Povo – Praça do Povo Ângela Borges. A inauguração está marcada para o dia 29 de fevereiro, às 15h30, na Secretaria Executiva Regional II. Em tempo: As Praças do Povo são locais de atendimento à população, instaladas nas sedes das secretarias executivas regionais, construídas para oferecer aos cidadãos de Fortaleza todo conforto e eficiência na oferta dos serviços públicos. (Da coluna de Paulo Pinto, em O Mossoroense).

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quarta-feira - 04/01/2012 - 11:20h
Fatos e Gente

Gerais… Gerais… Gerais… Gerais

Essa noite de terça-feira (3), aqui em Natal, serviu-me para aportar no Restaurante Saranda, à Avenida Praia de Genipabu, 2085, Ponta Negra (ao lado do Praia Shopping). Além do bom cardápio, preço e atendimento, oportunidade de prosear por um tempão com seus sócios, o casal Carlos Roseira-Genilda. A propósito, ele – ex-maitre do Abade – tem passagem pelo Cândidu´s em Mossoró. Meu caro, abração e boa sorte no empreendimento. Contatos por este fone: (84) 2010-1934.

Em minhas mãos, a revista Deguste Gastronomia de janeiro-2012, de Washington Rodrigues e Luís Benício Siqueira. Literalmente uma delícia. É um periódico consolidado e referência no setor gastronômico do Rio Grande do Norte.

Natal também deu-me a chance de reencontrar com o “negão” (ele não gosta de ser tratado como afrodescendente) Ciro Robson, apresentador da TV Ponta Negra. Está com um sucesso retumbante na Grande Natal, ratificando seu talento como comunicador, que foi apenas reconhecido – superficialmente – em Mossoró. Meu querido, vá em frente e conte com seu amigo velho.

Aldemir Souza – um dos bons gerentes da Caixa Econômica Federal (CEF) em Mossoró – revela-me que a instituição oferece vantagens diferenciadas para os servidores públicos que optarem pelo recebimento de seus salários na Caixa. A portabilidade da conta-salário oportuniza essa autonomia. “Os benefícios especiais que incluem o crédito imobiliário com as melhores taxas do mercado, limites pré-aprovados em operações de crédito comercial como Cheque Especial, CDC e Cartão de Crédito e condições especiais para Crédito Consignado, dentre outros”, diz-me. Faça contato neste número e saiba mais detalhes para bom uso de sua mufunfa: (84) 3216-4900.

O jornalista Alex Viana, que integra editoria política de O Jornal de Hoje está em férias. Mas seu Blog continua ativo. Veja AQUI.

A Praia de Pirangi vai ganhar uma nova opção em sua gastronomia nesta sexta-feira (6). Alexandre Capistrano conta-me que vai inaugurar o Bolinhos & Chopp Simpatia, com a culinária carioca no sabor. Fica no Espaço Beleza – Shockbar, com expectativa de atrair os que gostam de aguçar o paladar e ver o tempo passar. Quanto ao seu Jobim, na Praça das Flores em Natal, continua a pleno vapor de terça a sábado a partir das 18h. De quinta a sábado, com música ao vivo, de ótima qualidade. Povo assinar embaixo.

O jornalista Franklin Jorge revisa antigas entrevistas e levanta muito material de seus alfarrábios, mas não sinaliza com novo livro. Deve-nos muitos, em face de seu talento, esculpindo a palavra.

A Uberbrahman, empresa sediada em Uberlândia (MG), mas com atuação na região de Mossoró, focada na criação de bovinos daraça Brahman, firmou Termo de Cooperação Técnica com a Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA). Aposta na parceria para expandir bovinocultura na região do semiárido.

Ana e Hélio: depois a festa será maior

Apesar do atraso, vai daqui da lonjura de nossa capital, um abraço fraterno ao meu amigo e irmão-Sol Hélio Silva, acadêmico de Medicina da Uern. Aniversariou ontem e não deixou por menos: arrepiou. Quando eu voltar, vamos fazer um “aniversário fora de época”, com direito ao reforço de Ana e o infante Pedro Henrique. Abração.

Mossoró ganha endereço de referência, com profissional de enormes credenciais, no carente setor médico. Doutora Kaline Ferraz, dermatologista com especialização em câncer de pele – em Milão (Itália) -, no Instituto Europeu de Oncologia, passa a atuar na Clínica do Doutor Flaubert Henrique. Anote fone para contatos: (84) 3061-7746.

Emergencialmente, recorri ao Salão Arte Beleza Unissex ontem, na Avenida Antônio Basílio (Morro Branco, Natal, de frente ao Hospital da Unimed), para podar minha “crina”. Agora estou joiado. Pra eu ficar bonito falta apenas um Land Rover. Obrigado à cabeleireira pernambucana Neném Melo, pelo trabalho irrepreensível. Sucesso.

O veraneio parece mais efervescente do que nunca em São Miguel do Gostoso. A beleza natural, o jeito largadão dos seus circunstantes e a boa culinária saúdam a boa vida.

Meu caro Vicente Serejo, esse tabaréu das ribeiras do rio Apodi está de prontidão em Natal. Convite aceito, aguardo seu contato para botarmos a prosa em dia e dividirmos a boa culinária. Câmbio.

Está de cara nova o site do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informaçoes e Pesquisas do Estado do RN (SESCON). E não é só o visual que mudou, ele foi inteiro repensado e o sistema está muito mais prático para usar. Agora ficou rápido para encontrar as informações desejadas e acessar a área dos associados. Veja AQUI.

Emprestei “Um homem chamado Maria”, livro supimpa, para o professor Honório de Medeiros, ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado. Com dois “V´s”, claro: Vai e volta. Esse título é uma biografia diferente, que ambienta o jornalista Antônio Maria no Rio de Janeiro efervescente entre final dos anos 40 e início dos anos 60. Espetacular leitura.

Começa dia 21 de Janeiro próximo o primeiro Projeto Four Tattoo de 2012, em Mossoró, comandado pelo credenciadíssimo tatuador Domenico Demasi . Música, tatuagens e muita gente boa no circuito. Quem tiver interessado entre em contato por esses telefones: (84) 9991-1213 (oi), 9991-2209 (tim).

O Jornal das 6 da FM 96 de Natal, retornará ao seu ritmo normal na próxima segunda-feira (9). Ênio Sinedino, Marco Aurélio de Sá e Túlio Lemos recarregam baterias. Amigos, aquele convite talvez eu só possa honrar noutra jornada. É possível que eu tenha que voltar para meu sertão caboclo antes do previsto.

Obrigado a leitura deste Blog à acadêmica de Direito Thaísa Negris (Mossoró), economista Franklin Filgueira (Fortaleza-CE) e economiário Ivan Nogueira (Natal).

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domingo - 13/11/2011 - 07:46h

Como avaliar um governo?

Por Honório de Medeiros

Em “Desenvolvimento Como Liberdade” (Companhia das Letras; 2004; 4ª reimpressão; São Paulo), Amartya Sen, Premio Nobel de Economia, ex-membro da Presidência do Banco Mundial, ex-professor da Universidade de Harvard, esposo de Emma Rothschild – autora, por sua vez, de “Sentimentos Econômicos”, um denso ensaio acerca de Adam Smith, Condorcet e o Iluminismo – nos convida a percebermos o contraste entre “um mundo de opulência sem precedentes” e “um mundo de privação, destituição e opressão extraordinárias.”

Trocando em miúdos, Amartya Sen nos convida, isto sim, a entendermos o desenvolvimento como “um processo de expansão das liberdades reais que as pessoas desfrutam”, e, não, como algo a ser identificado com o crescimento do Produto Nacional Bruto (PNB), aumento de rendas pessoais, industrialização, avanço tecnológico ou modernização social.

Ao se referir à expansão das liberdades reais Amartya Sen se refere, por exemplo, aos serviços de educação e saúde – e aqui eu acrescento segurança pública – e aos direitos civis (a possibilidade de participar efetivamente do governo e das discussões e averiguações públicas em relação ao dinheiro do povo).

Aceitar esse ideário como premissa implica em compreender que somente podemos considerar desenvolvido ou em desenvolvimento um País, Estado ou Município no qual, à título de esclarecimento, e em termos bastante simplificados, o dispêndio com obras públicas, tais como calçamentos, praças, ruas, estradas, asfaltamento, prédios, pontes, açudes, barragens, estádios de futebol, somente ocorra como conseqüência necessária e comprovada da implantação de políticas públicas voltadas para o avanço em áreas como educação, saúde e segurança.

Políticas públicas essas estabelecidas claramente através de programas e projetos que tenham metas, prazos, alocação de recursos humanos e financeiros delineados claramente e possam ser acompanhados e questionados pela sociedade como um todo.

Óbvio que, no Brasil, a lógica é outra.

As obras públicas são sempre “vendidas” à sociedade como sendo essenciais para o desenvolvimento “sustentável”. Essa lógica, consciente ou inconscientemente, busca privilegiar quem há de se beneficiar direta e imediatamente com ela, ou seja, aqueles que detêm o capital em suas mãos e querem o retorno imediato do investimento realizado: comprova essa afirmação a relação estreitíssima, no Brasil, entre os governos, sejam estes federais, estaduais e municipais, e empreiteiros, construtores, empresários da construção civil, enfim, os quais, depois de realizadas as eleições, pressionam os candidatos aos quais apoiaram financeiramente a investirem em obras.

A constatação, também, daquilo que se afirma aqui pode ser feita por qualquer um: basta que nos perguntemos se com todo o investimento em obras ocorrido no Brasil, digamos, desde Fernando Henrique Cardoso, passando por Lula, até hoje, houve diminuição sensível na miséria, e melhoria significativa na educação, saúde, e segurança pública.

Façamos o mesmo quanto ao Rio Grande do Norte, Natal e/ou Mossoró. É claro que não. Muito ao contrário.

O que nós percebemos, nitidamente, é que o avanço, se é que houve, é um verniz que não resiste a uma visita individual ou coletiva a postos de saúde ou hospitais, escolas públicas e delegacias de polícia. Portanto a conclusão é óbvia: desconfiemos de qualquer obra que não esteja atrelada, comprovadamente, a uma política pública na área de educação, saúde ou segurança.

Uma comprovação que salte aos olhos, indiscutível. Para começo de assunto.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN

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domingo - 06/11/2011 - 09:03h

Uma obra a mais, uma política pública a menos

Por Honório de Medeiros

Há uma lógica perversa, induzindo a opção por privilegiar obras físicas em detrimento de políticas públicas, nos governos brasileiros, sejam estes quais sejam: municipais, estaduais, ou mesmo federal.

Tal lógica é ainda mais perversa por praticamente excluir a opção pelas políticas públicas, entendidas estas “como as várias funções sociais possíveis de serem exercidas pelo Estado, tais como saúde, educação, previdência, moradia, saneamento básico, entre outras”, no dizer de Antônio Sérgio Araújo Fernandes, Doutor em Ciência Política pela USP e professor de Políticas Públicas da UNESP/Campus Araraquara, em “Políticas Públicas: Definição, Evolução e o Caso Brasileiro”.

Em primeiro lugar, a opção por obras físicas, quando resultado dessa indução, é conseqüência de uma demanda específica: a das grandes empresas de construção civil e de serviços – e suas agregadas – que precisam recuperar o montante investido nos candidatos por elas apoiados e, também, convenhamos, como conseqüência do fato de seus proprietários, o mais das vezes, serem integrantes, através de laços familiares ou de compadrio, da elite política, quando não são o que comumente chamamos, no Brasil, de “laranjas”, ou seja, títeres dos próprios políticos.

Em segundo lugar, a opção por obras físicas é, também, conseqüência de outra demanda específica: a necessidade de encher os cofres vazios da elite política vencedora dos pleitos eleitorais aos quais se candidataram, e construir reserva para as futuras demandas político-partidárias.

Em terceiro lugar, a opção por obras físicas é, ainda, conseqüência de outra demanda específica: a de gerar condições de manutenção ou aquinhoamento financeiro dos quadros responsáveis pela gestão pública, sob a alegação (interna) de que não suportariam sobreviver com a remuneração miserável que lhes paga o serviço público (o chamado “por fora”).

Esse círculo vicioso – a elite política ser financiada pelas obras e serviços e, como conseqüência, por intermédio do Tesouro, financiá-las – consome o que sobra, no orçamento, quando pagos o custeio da máquina e a folha de pessoal, na maioria das vezes com manipulação orçamentária, sem praticamente nada deixar para a efetivação de políticas públicas.

A manipulação, persistente, o gerenciamento estrutural e dolosamente equivocado das finanças públicas, se mantém com a conivência dos Órgãos fiscalizadores, seja por desídia, seja por incompetência. Ano após ano a Constituição Federal é desrespeitada e seus princípios norteadores, no que diz respeito à Educação e Saúde, entre outros, adquirem o perfil de “letras mortas”.

O círculo vicioso engendra uma custosa publicidade com o objetivo de persuadir a sociedade acerca dos bons propósitos de toda obra e qualquer serviço que estejam sendo feitos. Assim, toda e qualquer obra surge, na publicidade, como decorrência de uma “demanda social” e se destina ao “desenvolvimento sustentado”.

Obras e serviços por intermédio dos quais circula o capital financeiro da elite política, para perpetuar a expropriação da força de trabalho da classe média, que é quem paga, na verdade, os tributos nossos de cada dia. E as políticas públicas, tais como a luta pela erradicação do analfabetismo, a luta contra a mortalidade infantil, a luta pela qualidade do ensino em todos os graus, a luta pela queda dos índices de homicídios, latrocínios, furto, que não dão retorno financeiro – embora dêem retorno eleitoral (e como dão) – são deixadas de lado e nosso Brasil, este imenso Brasil que sobrevive às vezes milagrosamente, apesar do Estado, continua um dos líderes mundiais da exclusão social.

Vejamos o que nos dizem, por exemplo, Admir Antonio Betarelli Junior, Edson Paulo Domingues e Aline Souza Magalhães em seu estudo “QUANTO VALE O SHOW? IMPACTOS ECONÔMICOS REGIONAIS DA COPA DO MUNDO 2014 NO BRASIL”, encontrável no Google, sob o título acima.

Leiam com atenção:

“Os resultados analisados neste trabalho dizem respeito aos impactos dos investimentos em infra-instrutora urbana e estádios programados para a Copa-2014 anunciados pelo Ministério do Esporte no início de 2010. A literatura de economia dos esportes costuma elencar outros impactos advindos dos eventos esportivos, como por exemplo: ampliação dos setores de serviços e hotelaria; fluxo adicional de turistas no evento e pós-evento; e exposição internacional do país, com atração de investimento externo. Entretanto, tais impactos, se existem, são de difícil mensuração e projeção. Por exemplo, diversos especialistas em economia do turismo (e.g. Matheson, 2002) consideram que um mega-evento como a Copa do Mundo apenas substitui turistas usuais no país-sede por “turistas-copa”, e mesmo estes podem efetuar um dispêndio no país significativamente menor, tendo em vista os gastos com ingressos e deslocamentos para o evento. O principal resultado da Copa-2014 parece ser a melhoria da infra-instrutora urbana nas cidades-sede, o que representa efetivamente impacto de longo prazo na eficiência econômica de diversas cidades. Além disso, este trabalho destacou as opções de financiamento dos investimentos da Copa-2014, e sinalizou que o impacto econômico tende a diminuir com o financiamento público para as obras de estádios de futebol, uma vez que implicam ou no crescimento da dívida pública ou na redução do gasto das diferentes esferas de governo envolvidas. Embora no Brasil o futebol seja a “paixão nacional”, não se vislumbra uma forma de avaliar o ganho de bem-estar das famílias com a reforma e construção de estádios de futebol, de uso essencialmente dos clubes de futebol ou eventos comerciais. Provavelmente, um ganho mais importante de bem-estar ocorrerá com a vitória brasileira na Copa-2014.”

Ou seja, os impactos econômicos favoráveis são como miragens no deserto. E estão os autores abordando única e exclusivamente o viés econômico do evento. Não está sendo abordado o dano incalculável em termos de políticas públicas não gestadas e implementadas pela falta de financiamento governamental.

Obviamente que há toda uma plêiade de estatísticas justificando os investimentos do Governo. Não é nada difícil manipular estatísticas. Difícil é admitir que fazer calçamento possa ser melhor que educar as crianças, melhorar o atendimento médico-hospitalar ou diminuir as estatísticas da violência urbana e rural.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN

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quarta-feira - 02/11/2011 - 08:07h
Fatos e gente

Gerais… Gerais… Gerais… Gerais

Faleceu à noite de ontem em Mossoró, o senhor Luiz Alves de Mendonça (Luiz Chorão), pai da médica Maria do Carmo, Carlos Guerra. Seu velório acontece na capela de Nossa Senhora das Graças, no Hospital Duarte Filho. O sepultamento acontecerá às 15h30 de hoje no Cemitério São Sebastião, Centro de Mossoró. Minha solidariedade à família enlutada. Que descanse em paz.

O empresário do setor de panificação, Gérson Nóbrega, fará aniversário com comemoração no próximo dia 5 (sábado), a partir das 12h, no Sesi Clube (Mossoró). Os amigos recebem como sugestão de presente, a doação de uma cesta básica destinada a entidades filantrópicas.

O Governo do Estado apresentou, no final da tarde desta terça-feira (1), a proposta de implantação do subsídio para policiais e bombeiros militares, que deverá começar a ser pago a partir de julho de 2012, caso seja possível cumprir o limite da despesa de pessoal, conforme a Lei de Responsabilidade Fiscal. A reunião aconteceu no gabinete do secretário de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social, Aldair da Rocha, que ressaltou o empenho do Governo do Estado em promover melhorias aos servidores. “Todos saem ganhando com o acordo aqui firmado”, disse.

A capilaridade da Internet, unida à inteligência, é algo de espantosa força. Outro exemplo: o professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN, Honório de Medeiros (veja AQUI seu Blog), recebe email de Adriano Guimarães, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), elogiando proposta sua sobre o “Banco de ideias do servidor público”. Daí, a solicitação para que oferte mais informações de modo a se implantar por lá um protótipo do que ele sugeriu. Ambos, que não se conhecem, unidos pela Internet.

Supermercados e hipermercados têm horário especial neste Dia de Finados em Mossoró. Funcionam entre 7 e 12 horas. Já o Mossoró West Shopping abrirá a partir das 11h com sua Praça de Alimentação e em seguida, às 14h, a sua estrutura de lojas e cinemas. Isso tudo até às 22h.

Lulu Santos, "Um certo alguém" no Mix

Final de semana promete. Tem Mossoró Mix a todo vapor, com uma mistura pra lá de eclética. Veja a programação: sexta-feira, 4, tem Banda Inala, das 21h às 22h; Lulu Santos, das 22h10 às 23h40; Banda Eva, das 23h50 à 1h20; e Forró dos Plays, da 1h30 às 3h. No sábado, 5, tem banda Bakulejo, das 21h às 22h10; Dorgival Dantas, das 22h30 às 23h50; Skank, da 00h à 1h50; Solteirões do Forró, das 2h às 4h. Saiba mais informações AQUI.

Obrigado a leitura deste Blog ao acadêmico de direito Abrantes Segundo (Mossoró), Madalena Monteiro (Mossoró) e Cabo Jeoás (Natal).

A controladora-geral do município de Natal, Regina Bezerra, entregou o cargo à prefeita Micarla de Sousa (PV). Edmara Gadelha, sua adjunta, assume o bastão. O entra-e-sai na prefeitura da capital parece incessante e endêmico.

Dia 11 de dezembro tem Elba Ramalho no Teatro Riachuelo (Natal). Apresentará para os potiguares seu novo show “Marco Zero”. Começará às 20h.

O Praia Shopping (Natal) começará neste sábado (05) o seu ciclo de eventos natalinos, com a chegada de Papai Noel. A movimentação vai começar às 17h, com uma série de atrações do que é denominado por seu marketing como o “Natal do Quebra Nozes”.

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domingo - 30/10/2011 - 11:07h

Os espertalhões de feiras

Por Honório de Medeiros

Antigamente não havia feira, no interior, sem um espertalhão. Era o espertalhão de feira.

Chegava insidioso, se imiscuindo por entre as pessoas até um local apropriado, pousava a mala no chão, tirava o chapéu preto encharcado de suor, puxava um lenço amarfanhado do bolso e o passava no rosto e cabelo, abria a mala, sacava uma mesinha de madeira daquelas pré-montadas e a cobria com um pano que fora branco em alguma “era” passada, expunha vários frascos cheios de líquidos coloridos, olhava ao seu derredor, escolhia uma vítima após lançar um olhar experimentado para todos os lados e começava sua “latomia”:

“A senhora, é, a senhora mesmo, me ouça com atenção, porque estou vendo pela sua cor que a senhora apresenta algum incômodo no sangue. Tem dormido mal, de quando em vez, não é? Às vêzes tem sentido uma tristeza que demora a passar, não é? Algumas comidas não estão entrando bem, não é? É como digo, minha senhora, a senhora está com algum incômodo no sangue. Mas eu tenho a solução. E para o senhor também, e para você também, moça bonita. Porque aqui, nesta garrafa, está o mais potente destilado de uma erva que somente existe no coração da Amazônia, e que os índios guardam como sendo o maior segredo deles. Essa bebida cura todo mal que se origina do sangue…”

E por aí vai.

O espertalhão de feira já formou um círculo em seu derredor e prende a atenção das pessoas contando casos e mais casos nos quais a cura milagrosa se estabeleceu a partir de sua beberagem. São estórias escabrosas, produzidas e contadas para prender a atenção.

Voz tonitroante, olhar de águia para perceber quais são os mais impressionáveis, tiradas bem-humoradas de quando em vez, para estabelecer empatia com os ouvintes, poderia ser um estudo de caso de uma retórica firmada no dia-a-dia, na experiência brutal da luta pela sobrevivência, na prática permanente da mistificação.

Na outra ponta do centro da feira, outro espertalhão já montou seu “circo”: também em uma mesinha dispõe sobre a superfície do pano branco uma bolinha de metal acobraeado e três copos de madeira escurecidos pela sujeira e convida os incautos a descobrir onde a bolinha está escondida, enquanto rapidamente os maneja de um lado para o outro.

Alguns dos incautos já ganharam uma pequena importância: isso faz parte do processo de atração das futuras vítimas – o primeiro dinheiro fácil – que começam ganhando e, no fim, sem ter notado, seu “apurado”, tudo quanto ganhou na feira, foi embora para os bolsos do espertalhão, misturado com cachaça ou conhaque barato e pedaços de carne de bode.

Em outro lugar cantadores de viola “simulam” um desafio enquanto alguém “corre o chapéu”. Não há peleja, não há repente, não há criatividade: tudo quanto é cantado já o foi Sertão a dentro, muitas vezes, em muitos lugares.

O público pensa que está assistindo um desafio quando, na verdade, está sendo iludido com versos decorados e antigos.

Os espertalhões de feira são como nossos políticos. E os “bestas” somos nós.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN * Clique AQUI e conheça o Blog do autor.

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domingo - 16/10/2011 - 21:08h

Um evento comum

Por Honório de Medeiros

Um radialista”. Assim, secamente, Antônio Gomes me identificou o morto cujo enterro passava pela esquina onde estávamos postados em Cajazeiras, Paraíba.

Até que o enterro passasse por mim não lhe dera atenção. Observara, fascinado, aquela fila coleante a se arrastar molemente, ocupando todos os espaços da rua. Era sempre assim, fosse enterro, manifestação, passeata política, desfile: um fluxo constituído por pessoas diferentes, mas iguais quando em grupo.

O ser humano. Esse compósito de vilania e santidade se arrastando em grupo, ou a sós, do nada para o nada.

“De longe, todo mundo é normal”: terá sido Wilde, quem o disse? Antônio Gomes, como eu, estava de braços cruzados olhando o enterro, mas seu olhar era sardônico. Um olhar que combinava bem com o rosto magro, de feições indefinidas, comuns.

Deveria ter sessenta e poucos anos. Cabelos grisalhos, abundantes, cortados curtos, displicentemente penteados para trás. Ao observá-lo tive a sensação de que ele parecia um elemento estranho à paisagem. Não combinava com Cajazeiras, uma cidade que, como muitas outras, sendo grande para os padrões do Sertão, disso nada extrai de bom, assim como não guardou o que de bom havia de quando era pequena.

Era como uma questão de foco.

Ele parecia deslocado não porque estivesse no centro da cidade, e não acompanhasse o enterro, mas, sim, por que estava ali como se fosse um estrangeiro em pleno Sertão, muito embora sua roupa, dele, não dissesse nada, nem os sapatos, nem qualquer adereço, até por que não os havia, excetuando o relógio que também era muito discreto.

“O senhor não é daqui.” “Sou e não sou. Nasci aqui há uns sessenta anos atrás, e voltei há uns poucos dias para vender uma terra que me coube por herança.” E me perguntou o que eu fazia em Cajazeiras. Falei-lhe de minha pesquisa acerca de Massilon e que acabara de voltar de Missão Velha, no Ceará, terra onde o Coronel Isaias Arruda “reinara” na década de 20 e da qual, com seu apoio logístico, Lampião partira para invadir Mossoró.

Agora já estávamos sentados numa lanchonete que colocara aquelas mesas e cadeiras de metal com imensas logomarcas de cerveja na calçada. Mesas e cadeiras sujas, evidentemente. Como não era possível tomar um café respeitável, pedíramos água mineral. “Ah, o cangaço”, disse, e perguntou: “descobriu algo em Missão Velha?”.

Sim, eu havia descoberto, mas não queria falar acerca de cangaço. Será que eu conseguiria transmitir oralmente, para aquele estranho, um homem educado, percebia-se facilmente isso, minhas impressões de viagem? Será que eu conseguiria prender sua atenção durante um tempo suficiente para lhe dizer uma crônica elaborada com fragmentos de imagens e palavras? O que significaria tudo isso quando cada um fosse para seu lado e um tempo razoável tivesse passado desde então?

O cariri é verde, muito verde para ser Sertão, comecei. E Missão Velha parece uma cidadezinha perdida no tempo, uma Macondo. Lá, quando chegamos, fomos direto para o coração da cidade. Estacionamos. Seria dia de feira? Não, é que o pagamento da “esmola oficial do governo federal” era naquele momento.

As feiras, como eram antigamente, não existem mais. Não há mais cantadores de viola, coquistas, literatura de cordel, contadores de “causos”, vendedores de drogas milagrosas, rezadeiras, adivinhos, mágicos, circos mambembes…

Há tipos estranhos, é impossível não haver: uma mulher de mais de sessenta anos, horrorosamente maquiada, vestida como uma adolescente, a carne sobrando por sobre a barra da minissaia, a abraçar freneticamente uma comadre a quem aparentemente não via há muito tempo e lhe responder em cima da bucha quando ela dissera “criatura, você já está com muitos janeiros, né?; “estou, mas você não fica atrás não, olhe as pelancas, não é, mulher?”

E depois dessa resposta, se virou para o lado e tangeu o marido que empurrava um carrinho de sorvete caseiro, enquanto olhava: “vai, vai, que aqui é conversa de comadres”. O sorveteiro obedeceu, mas como vingança, ao passar por mim que observava deliciado a cena, levou a mão ao lado da cabeça, e fez, com o indicador apontado para si e desenhando um círculo, o comentário final: “é tudo doida”.

Mestre Antônio rira do episódio das mulheres e depois comentara que, às vezes, dizia a seus amigos do Sul, quando se demorava a voltar, que ali, no Sertão, para quem soubesse ver, ouvir, e extrair as conclusões possíveis, não havia escola nem teatro iguais, e, finalizando, aludiu ao personagem de Agatha Christie, Miss Marple, personagem insulada em uma pequena cidade inglesa, a resolver crimes Inglaterra afora a partir de sua peculiar psicologia aldeã, e à frase de Tolstoi “ninguém se torna universal sem escrever acerca de sua aldeia”, para encerrar nossa rápida e estranha conversa que lhe dava razão na justa medida em que, no coração de Cajazeiras, o teatro da vida nos permitira divagar, filosoficamente, acerca da condição humana, sem que fosse necessário nada mais além de um final-de-tarde, um encontro casual, e um evento comum.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN

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domingo - 09/10/2011 - 08:50h

Dona Efigênia, ou da arte de fazer o bem

Por Honório de Medeiros

Dona Efigênia pontificava naquela rua onde morei. Gorda, imensa, um pouco surda – talvez por puro cálculo – passava o dia sentada em uma cadeira de balanço na ampla sala de estar que dava para um jardim lateral e portão de ferro batido, este pintado de branco, a lhe separar do resto do mundo, em sua casa antiga, senhorial, de esquina, de frente para os fundos da Capela local.

Sempre perfumada, penteada e bem vestida, ficava o dia inteiro colada a uma mesinha redonda cheia de quinquilharias na qual reinava, inconteste, o telefone e o rádio. “Prefiro o rádio”, me disse ela quando lhe perguntei qual a razão do eterno silêncio da televisão.

“As pessoas de fora participam mais à vontade”.

Eu cumpria fielmente o ritual de visitá-la tantas vezes fosse à sua cidade. E tenho certeza que ela gostava de minhas visitas. Prova-o o doce de coco verde sempre disponível, quando eu avisava previamente da visita, e do qual eu gostava imensamente.

Acredito até saber a razão de sua simpatia para comigo: ao contrário da grande maioria dos que a procuravam, eu não estava interessado em fofocas, ou, melhor dizendo, meu interesse era secundário, existia apenas na justa medida em que ilustraria alguma opinião sua a respeito de fatos ou pessoas, essa sim extremamente interessante porque revelava um agudo poder de observação e análise.

Pois Dona Efigênia, viúva, com pensão mais que razoável que o falecido lhe deixara, filhos dispersos pelo mundo, era uma renomada e rematada fofoqueira, na opinião de alguns. Talvez fofoqueira não fizesse jus ao que de fato ela era. Talvez, não, certeza.

Como uma aranha postada no centro de uma imensa teia ela recebia, analisava e devolvia informações ao longo do dia de uma imensa variedade de informantes: serviçais, comadres, afilhados, sobrinhos, primos, amigos, o carteiro e o padre – por quem tinha especial predileção, dado que o primeiro vivia batendo perna pelos cantos, e o segundo a escutar confissões – o leiteiro, as crianças da rua, os vizinhos, pessoas de outros lugares com recomendações, o rádio e o telefone.

Devo ter esquecido alguns, óbvio. Mas não esqueço sua sala de visitas quase sempre cheia e ela quase sempre em silêncio escutando até que, em determinado momento, chamava alguém para sentar em um banco baixo que ficava estrategicamente postado perto de sua cadeira de balanço e lhe cochichava algo durante alguns minutos após os quais a conversava privada era dada por encerrada.

Quando a conheci, ainda menino, supus que aquela sua atividade começasse e acabasse conforme comentavam os maledicentes. Diziam estes que tudo aquilo não passava de fofocas de viúva velha. Depois de algum tempo compreendi que ela mesma criara essa camuflagem.

Era assim que queria que os outros lá fora a enxergassem! Essa camuflagem ocultava o verdadeiro propósito de sua atividade diária. Através da colheita de informações ela ficava sabendo o que de errado havia acontecido no seu entorno: alguma gravidez indesejada, uma demissão inesperada, uma prestação de colégio atrasada, uma virgindade perdida, um exame médico além do alcance financeiro de quem dele estava precisando, uma traição amorosa que se consumara, uma despensa desabastecida, uma violência doméstica cometida, um recém-nascido abandonado…

Então Dona Efigênia entrava em ação: chamava um, chamava outro, cobrava antigos favores, pedia novos, recebia dinheiro de quem lhe devia e repassava para quem estivesse precisando, a perder de vista, dava carões, espalhava conselhos, apontava caminhos, indicava obstáculos, aproximava pessoas, afastava outras, mandava fazer, mandava desmanchar, realizando um metódico, complexo e minucioso bordado social.

Assim encaminhava os seus dias, exceto aos domingos, reservados a Deus e sua família, quando Aldenora, sua escudeira-mor, estava autorizada a dizer, aos incautos que a procurassem, que “ela está recolhida e só recebe a partir de segunda-feira”.

Dona Efigênia, há muito, descansa em paz e, se existe Céu, nos braços do Senhor. Seu enterro foi algo inesquecível. Muitas flores, muita gente, muitas lágrimas de saudade e gratidão.

Dela ficou, em mim, a lembrança de alguém extremamente inteligente. De alguém extremamente bom, no antigo sentido do termo. Ao longo da vida me peguei, várias vezes, lembrando de alguma observação sua.

Invariavelmente paro, componho em minha mente o quadro de sua presença sentada na cadeira de balanço, naquela sala de estar hoje silenciosa, pego no seu breviário que eu herdei, me ponho a lê-lo e é essa minha oração saudosa para ela.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN

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domingo - 02/10/2011 - 08:50h

O sistema joga sujo

Por Honório de Medeiros

O pior da luta contra o Sistema é que não conseguimos individualizar o adversário. Não conseguimos identificar o responsável pela nossa ira. Não conseguimos olhá-lo no olho e lhe dizer o que ele merece escutar.

Lutamos contra algo amorfo, sem consistência definida, sem limites delineados, que não oferece resistência imediata e clara. Há pequenos recuos ante nossa indignação, que são apresentados pelos tentáculos do sistema – os seus operadores – e uma imediata, homogênea e difusa contrapressão como resposta ao incômodo que causamos e nós terminamos sendo manipulados e conduzidos, lenta e inexoravelmente, para o lugar que nos foi reservado.

Muito abstrato? Exemplifico.

Em uma instituição de ensino superior deste imenso e desgovernado País um velho e experiente professor de História das Idéias Políticas percebeu, em certo momento de desconforto profissional alusivo à “como as coisas estavam acontecendo” no seu Departamento, como quem acorda abruptamente e a realidade penetra sem rodeios sua percepção, um insidioso e ainda opaco processo de mudança nos paradigmas implícitos que governavam a Instituição.

Algo sutil, mas persistente.

O velho professor já passara por algo semelhante, em sua longa carreira universitária. Sentiu que a luta era vã, sua resistência inócua, contra o processo que se instalava lentamente, mas decidiu lutar, resistir, para documentar, mesmo que somente para si, tudo quanto estava acontecendo. “Quando tudo havia começado?”, se perguntou. “Ora, como saber?”

Deixou essa questão para trás e tratou de fazer um registro e análise “positivista”, sem levar em consideração possíveis causas estruturalistas, materialistas, marxista-leninistas, do fenômeno em si. Faria o registro, pura e simplesmente dos fatos e os interpretaria a partir da própria lógica do sistema.

Recordou que longe, lá no começo, sua Disciplina, que previa 80 horas/aulas por semestre, fora reduzida para 60 horas/aula. Reduziram, também, para 60 horas/aula a Disciplina co-irmã História das Idéias Sociais.

Depois, extinguiram História das Idéias Sociais e a História das Idéias Políticas passou a ser História das Idéias Sócio-Políticas, com as mesmas 60 horas/aula. De uma penada só o Sistema se livrou de vários professores.

Resolveu protestar, então. O Chefe do Departamento o escutou atentamente e se prontificou a levar sua Exposição de Motivos à próxima reunião do Conselho Diretor. Algum tempo depois, sem receber resposta do Chefe, indagou dele acerca da decisão do Conselho.

Este lhe comunicou que o assunto estava despertando o devido interesse e que, inclusive, tinha sido encaminhado para a Comissão de Análise, uma instância superior, restando apenas aguardar e ter paciência. Dias depois o velho professor recebeu formalmente, por intermédio de um Memorando, a notícia da desativação da sua linha de pesquisa.

Novo protesto. Nova atitude do dirigente de encaminhar, para escalões superiores, sua queixa. Nova espera. E, como não poderia deixar de ser, nova retaliação: as decisões acerca da rotina futura acerca das relações entre professores e alunos de sua disciplina foram tomadas sem seu conhecimento, sem sua participação.

E o velho professor, no atual estado-de-coisas, ao perceber o esvaziamento profissional para o qual o encaminha o Sistema, passou a duvidar, inclusive, de si mesmo: “será que tudo isso não é o resultado da aplicação dos meios que são usados para afastar aqueles que, como eu, já estão próximos da aposentadoria, abrindo espaço para o “sangue novo” dos “inocentes úteis” que assumiam os paradigmas que lhes eram impostos com questionamentos meramente formais?

Lembrou-se de uma antiga tia, professora universitária assim como ele, que se queixava amargamente, pouco tempo antes de sua aposentadoria, de como estava sendo deixada, deliberadamente, para trás em tudo que dizia respeito ao Departamento no qual estava lotada. Como também se perguntou, muitas vezes, acerca de como o Sistema agia com outras pessoas, individualmente demarcadas, que eram seus opositores, por essa ou aquela circunstância pessoal.

Lembrou-se de um amigo que encetara uma guerra solitária e inútil contra o Tribunal de Contas do seu Estado; outro às voltas com o Ministério Público Estadual; outro enredado nas malhas do Tribunal de Justiça; outro sendo massacrado, lentamente, na burocracia da Prefeitura Municipal.

Por fim, outro, a quem a posição do seu Sindicato, oportunista e alienada, condenava ao isolamento. Todos vítimas, todos impotentes, todos derrotados.

“Que fazer”, perguntou-se muitas e muitas vezes. Tentar ser um predador, mesmo com os dentes gastos? Imaginar que a experiência compensa o passar do tempo e ir á luta? Ou deixar que tudo passe, sobrevivendo no dia-a-dia, sem se preocupar com o amanhã, agindo como a grande maioria age, engolindo o sapo nosso de cada hora e seguindo em frente?

“Não há resposta”, concluiu desanimado. “O Sistema vence sempre”. “É mesmo seguir em frente.” “Caminhante, o caminho se faz ao caminhar”, consolava-se, enquanto a moenda prosseguia, implacável, até que nem o pó de seus ossos existisse mais. Nem o de todos os que viessem pela frente, meras peças de reposição.

Pois a idéia precede a ação, não há ação no vazio da mente, e assim emerge o sistema: uma idéia mutante, uma idéia fora do sistema anterior, fora do padrão, uma idéia que é um vírus em busca de um ambiente fértil no qual se replique, se desenvolva. Um “meme”.

Quando o primeiro ser humano cercou uma área de terra e afirmou que ela lhe pertencia, eis que surge uma idéia-mutante. Uma vez tendo surgido, e sobrevivido, atraiu outras idéias que puderam a ela se conectar, a mutação funcionando como atrator, ensejando o surgimento de uma rede. A rede é o Sistema. O Sistema é idéias e homens. O Sistema passa a se expandir na medida em que supera os obstáculos à sua expansão. Assim foi com o rock; assim foi com o futebol; assim foi com o protestantismo; assim foi, no Direito, com o Positivismo; assim foi com o cálculo integral. Sistemas destroem Sistemas.

O Coronelismo se foi; o Feudalismo se foi; o Cangaço se foi; Roma se foi; todos eles Sistemas que entraram em colapso. Tudo há de ir, um dia.

Enquanto isso, na moenda da vida, homens e idéias são triturados.

Honório de Medeiros é escritor, professor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN

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domingo - 25/09/2011 - 09:48h

A pedagogia do espetáculo

Por Honório de Medeiros

Ouço, muitas vezes, elogios feitos à capacidade de um professor ou palestrante de prender a atenção da platéia à custa de piadas, gracejos, histrionismo, até mesmo do que se convencionou denominar “perfomances’. Estas últimas abrangendo trejeitos, mogangas, interpretações corporais…

Quando isso ocorre sempre me lembro da história de um debate na área do Direito no qual um dos debatedores, um dos ícones do nosso ensino jurídico, após assistir, perplexo, durante um longo tempo toda a sorte de bizarrices encetadas por um seu colega no afã de levar os ouvintes à diversão, iniciou sua participação comunicando, secamente, aos estudantes, que “ali estava para os levar a pensar, não para diverti-los”.

Penso que essa é a missão do professor, palestrante ou conferencista: atrair e, se possível, até mesmo galvanizar a inteligência dos ouvintes, por intermédio da forma e do conteúdo do seu pronunciamento dirigido à razão.

Assim foi desde a Grécia de Demóstenes, passando pela Roma de Cícero, a Idade Média de Bossuet e Massilon, até os dias de hoje, quando reverenciamos Churchill e Martin Luther King, em todos os lugares, enfim, onde o respeito pelo saber e por aqueles que o honram se constitui em diferencial de civilização.

Pois bem, no Brasil, guardadas as exceções de praxe, prepondera o populismo pedagógico, ou seja, a concepção de que é a vontade da plateia, ávida por diversão, que deve balizar a forma da exposição do professor, ou palestrante. Quanto mais divertido o expositor, mais concorridas suas participações, ao ponto de aulas, ou palestras, se transformarem em verdadeiras sessões do humorismo que se convencionou denominar “stand up comedy”.

Essa prática de chamar a atenção divertindo, aparentemente válida na infância, levada a cabo ininterruptamente, conduz a uma conseqüência funesta: ao interromper a linearidade da argumentação – quando há – predispõe a mente, por si só tendente à agitação, a perder o foco, a concentração, a capacidade de apreender o todo e suas implicações na argumentação proferida, a se deter no episódico, no fragmentário, no superficial.

Aliás, disciplina intelectual é um verdadeiro anátema no ambiente acadêmico de hoje em dia. Não se lê, não se escreve, não se fala dentro dos padrões que a lógica da argumentação impõe. Não é a ditadura da regra gramatical que se quer; é a lógica da argumentação e a argumentação lógica. Não é a camisa-de-força das regras ortográficas que se deseja obedecer; é a linearidade do raciocínio e o raciocínio linear. Não é à técnica da língua a quem devemos nos submeter; é à clareza do pensar e ao pensamento claro. Não há, hoje, no geral, quando deveria – e muito – haver, rigor intelectivo, disciplina de pensamento, lógica argumentativa.

Há espasmos intuitivos, logorreia superficial, pensamento fragmentado. E, em muito contribui para essa realidade, a “pedagogia do espetáculo” e a incapacidade do ouvinte em firmar sua atenção no que lhe é dito. A rigor, nas universidades brasileiras, os estudantes são tratados com o mesmo método de ensino utilizado em sua meninice: gincanas, júris simulados, aulas-espetáculos, tudo vale a pena para se passar a idéia de que o aluno participa diretamente do processo de aprendizagem.

É uma equação sinistra: quanto mais se opta pelo espetáculo, que privilegia os sentidos, menor o desenvolvimento da capacidade de concentração, da disciplina da razão. Não por outra causa essa tendência amplia a quantidade de textos mal escritos e de pronunciamentos mal alinhavados, todos resultantes da incapacidade de se pensar com clareza.

A lição do passado está aí, para quem souber apreendê-la a partir das pesquisas especializadas: sem disciplina intelectual e física, não se chega a lugar algum.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN

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domingo - 18/09/2011 - 09:49h

Ainda lembranças da política

Por Honório de Medeiros

Não saberia dizer quando começou meu fascínio pela política, e não confundo este estado-de-espírito com as lembranças doloridas das campanhas do passado em Mossoró que o presente insiste em não sepultar. Teria sido na Mossoró de minha meninice, quando meu pai, lacerdista de carteirinha, punha-me em sua frente e, sentado à cadeira de balanço, escutava e aplaudia meus discursos infantis sem nexo?

Ou, quem sabe, teria sido quando nos serões familiares iluminados pelos candeeiros de gás em Tibau, nas férias de final-de-ano, falava-se em antepassados políticos e aventureiros da fortuna que levaram consigo, ao morrer, a antiga glória dos Fernandes?

Teria sido a estranha amizade e admiração nascida por meu tio-avô André Fernandes, General de Exército de brilhante carreira – único a chegar a esse posto tendo começado como soldado raso – e ex-deputado federal, a quem atribuíam ter caído em desgraça por sua lealdade não ao político, mas ao ex-Presidente João Goulart, de quem era sub-chefe da Casa Militar, na hora de sua queda e que, próximo aos 70, vinha todos os anos a Tibau e fazia questão de me levar consigo, eu, menino, para ser seu companheiro nas suas longas e silenciosas caminhadas matinais?

Como não admirar alguém que assumia contornos heróicos ante meus olhos espantados com feitos tais como ter passado um ano inteiro sem sorrir unicamente para testar sua autodisciplina?

Talvez, no entanto, nada tenha sido tão importante quanto ter convivido com a “turma da janela”, na 4ª Série “A” Ginasial do Colégio Diocesano Santa Luzia. Era 1972 e nós – eu os nomeio para homenagear a saudade -, Fernando Negreiros, Jânio Rêgo, Paulo Maia, Segundo Paula, Benjamim Júnior, Monte Júnior – tão precocemente desaparecido, e Chaves Júnior, no intervalo das aulas, todos praticamente na faixa dos 14 para 15 anos, invariavelmente tínhamos discussões intensas, apaixonadas, acerca de política.

Ali, naquele tempo, espontaneamente, aprendíamos a debater, e, em decorrência, a argumentar: nós ficaríamos reféns da tarefa de nos mantermos atualizados e expor claramente tudo quanto pensássemos, sob pena de sermos contraditados furiosamente. As diferenças políticas entre nossos pais não nos contaminavam.

Éramos grandes amigos e não sabíamos. Ou, então, quem sabe, teria sido o eco longínquo e estranho da luta subterrânea que se travava nos grandes centros, aureolado por aquela palavra que somente falávamos, por um temor muito natural, em voz baixa e entre iguais: “comunismo”.

Era o tempo de se deitar no patamar da Igreja de São Vicente e, à meia-noite, de papo-pro-ar, ouvirmos a transmissão da Rádio de Moscou, que somente Janiro Rêgo sabia localizar, para o Brasil. Comentávamos as prisões de mossoroenses que lutavam contra os militares e as cassações dos políticos de oposição no Rio Grande do Norte.

Não havia ainda qualquer leitura ideológica, naquele tempo. Embora fôssemos leitores vorazes, estávamos mergulhados em plena literatura. Não nos passava pela cabeça, e não havia alguém que nos doutrinasse, ler Marx ou quem quer que fosse dessa área.

Na época, eu começava a me interessar pelos franceses e devorava Victor Hugo e sua obra completa, e me preparava para ler uma coleção com as principais obras dos prêmios Nobel, todos de “Seu” Luis Fausto Paula de Medeiros, meu vizinho: quem, hoje, se lembra de Knut Hamsun, autor de “Fome”? A biblioteca de Jaci Rêgo, a biblioteca de Ida Marcelino, a biblioteca de Chico Sena… A biblioteca do Diocesano!

O certo é que eu já estava envolvido, seduzido pela Política e não sabia, no final da minha adolescência.

Assim não foi difícil, ao chegar em Natal, indo estudar na Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte, em 1974, entrar na política estudantil. Fiz política estudantil na Etfrn, fiz no Churchill, fiz no Curso de Matemática, fiz no Curso de Direito.

De Mossoró eu trouxera essa paixão que nascia; o afeto pelo jogo de xadrez; o amor eterno, perene, pelos livros, e uma timidez com a qual eu lutaria e luto, sem tréguas, e vou lutar, pelo resto da vida.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN

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domingo - 04/09/2011 - 10:31h

Carlos Santos é um outsider

Por Honório de Medeiros

* Talvez o conceito do sociólogo judeu-alemão Norbert Elias não o abarque, mesmo tangencialmente. Não importa. Vou me apropriar do termo e utilizá-lo para o fim visado.

Claro que poderíamos dizer: ele é um gauche, nos lembrando de Carlos Drummond de Andrade. Aplica-se, aqui, o mesmo raciocínio anterior. Prefiro outsiders, à Elias, pelo significado etimológico que o dicionário estudantil, o Michaelis, mostra: s. estranho, intruso.

Os outsiders – todos eles -, como eu já disse em outro tempo e lugar, em algum momento de suas vidas foram moídos por aqueles no meio dos quais conviviam. Foram mastigados, deglutidos e vomitados. Seus jeitos de ser o sistema não assimilava. Não se tratava de oposição externa ou interna ao Poder. Não se tratava de irridência, sublevação, contestação por contestação.

Nada disso.

Nada mais seus jeitos de ser eram que estranhamento em relação ao estamento ao qual, até então, o outsider pertencia, apesar de outsider. Ser tal qual foi sua glória e sua tragédia. Fez com que fosse deglutido e depois expelido. Deglutido graças ao talento, à competência individual – nada que se assemelhe à conseqüência de um compadrio, de um afilhadismo, de um parentesco qualquer.

E expelido porque impossibilitado, graças ao que seria uma excentricidade moral, ou psicológica, ou filosófica, ou todas juntas, de acompanhar a carneirada e sua vocação para ser usado pelos lobos ao custo de balangandãs, bijuterias, penduricalhos materiais ou simbólicos. Pois Carlos Santos é assim, talvez porque nascido no território imagético composto pelas ruas cujo epicentro é a histórica Capela de São Vicente, coração da Mossoró libertária – não a outra que o Poder tornou sem substância há quase ruins cem anos.

Território com população pequena e selecionada por uma dessas felizes circunstâncias que a história mostra ser tão rara, e soberania construída via permanente e anárquica tensão afetiva entre o matriarcado implícito/patriarcado explícito e a insubmissão das gerações mais novas. E logo fez parte da geração que se distanciou da infância, entre alegre e triste, a golpes indisciplinados de leituras de todos os matizes e para todos os gostos, nos anos 70.

Fez-se e se diz repórter, Carlos. Nada mais, segundo ele.

Podo ser, mas há controvérsias. Embora conheça tudo de jornal – até fundou um -, é engano o que diz, e esse dizer nasce de um exercício crítico da razão tolhida pela modéstia e certo laivo de manha.

Como todos nós que nascemos na nossa República Independente de São Vicente, tem Carlos uma base comum sobre a qual construímos, ao longo do tempo, nossas distinções de personalidade, muito mais que de caráter: aquela educação ministrada pelos exemplos, tradição dos mais antigos, consolidada por intermédio de orações e devaneios à luz mortiça da Capela, nas longas noites das novenas de Santo Antônio, a cantar as ladainhas e aspirar o doce aroma do incenso que o turíbulo aspergia conduzido por nossas ciosas mãos de meninos.

Qualidades morais, mas há as outras, para além da decência de suas atitudes, que o expõem como muito mais que repórter, entretanto louvado e respeitado seja esse mister.

Por que naqueles dias nos quais o homem que cada um de nós seria amanhã ia sendo produzido nas leituras, bate-papos e discussões – às vezes aguerridas – havia, como que permeando sutilmente nosso presente e preparando o futuro, uma romântica angústia metafísica por Justiça (assim mesmo, com J maiúsculo) nascida do olhar sensível e da razão aguçada que percebiam, mas ainda não entendiam o que se passava no nosso entorno, sorvida nos rios literários nos quais nos dessedentávamos, aguardando uma práxis qualquer que nos tornasse mais Sanchos Panças e menos Quixotes largando mão da retórica adolescente contra os moinhos de vento da Ditadura.

Era um tempo no qual o máximo de ousadia consistia em ouvir, antes da meia-noite, as transmissões da Rádio de Moscou. Falávamos mal dos que não estavam na Oposição. Criticávamos o Regime.

Ansiávamos por mudar o mundo e as pessoas.

Então cada um foi para o seu lado, sempre Quixotes, quase nunca Sanchos. Encruzilhadas, conquistas, fracassos.

Da nossa geração, da nossa República, tivemos políticos, escritores, empresários, de tudo um pouco, até mesmo alguns, tão especiais que o Céu, cedo, os levou. E tivemos jornalistas como Carlos, que também é escritor, pois escolheu ler, escrever e pensar as coisas e as pessoas, as pessoas e as coisas, cada uma no seu tempo, cada tempo uma vez ou tudo.

E de suas crenças construiu respeito; de suas idéias, a admiração; de suas escolhas, o afeto, sem perder a sede por Justiça.

Quem o lê, diariamente ou não, em seu blog, logo percebe tal e se gratifica com suas análises políticas e algumas esparsas crônicas, mas anseia por outras incursões literárias, tais quais ensaios, críticas, que tenham sua assinatura, algumas guardadas – ainda não tornadas públicas – junto aos livros que, aos poucos, tomam os espaços restantes do seu bunker, mas não esquece, também, outra faceta sua: o talento com o qual, como ele mesmo diz ao descrever “Só Rindo 2,” retrata disparates, rompantes inteligentes, gafes homéricas e cenas picarescas em narrativas condensadas, como se fossem esquetes teatrais.

Pelo que diz, e como diz, já temos uma noção da qualidade do texto. Daí porque um jornalista que é escritor; um escritor que é jornalista.

Claro que quereremos mais, nós que o lemos sempre. É esse seu débito para conosco, no geral.

No particular, a República deseja que se mantenha no que escreve, mesmo quando cuida de advertir divertindo, com esse compósito de profundidade e ironia – a boa ironia – esculpida a pinceladas incisivas, rascantes, argutamente postas, celebrando a vida no que ela tem de flores e lama: desde o homem que ascende para além dos limites de suas circunstâncias até o homem que mergulha no opróbrio de seus instintos vis de predador social.

Pois a Justiça de ontem em seu coração é a Justiça de hoje em sua razão.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN

* Texto de apresentação do livro “Só Rindo 2 – A política do bom humor do palanque aos bastidores”, de autoria do editor e criador deste Blog

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domingo - 28/08/2011 - 08:23h

A teoria do escudo ético de Frederico P. de Melo

Por Honório de Medeiros

O núcleo da “teoria do escudo ético”, de Frederico Pernambucano de Mello, está contido em três parágrafos do capítulo 4 do clássico “Guerreiros do Sol”, segunda edição, abaixos transcritos:

“Muito se tem falado nos paradoxos da chamada moral sertaneja. No Nordeste, talvez melhor que em qualquer outra região, sente-se a existência desse quadro de valores – segundo já comentamos – inconfundível em muitos dos seus aspectos. Chega a ser quase impossível, por exemplo, explicar ao homem do sertão do Nordeste as razões por que a lei penal do país – informada por valores urbanos e litorâneos que não são os seus – atribui penas mais graves à criminalidade de sangue, em paralelo com as que comina punitivamente para os crimes contra o patrimônio. Não se perdoa o roubo no sertão, havendo, em contraste, grande compreensão para com o homicídio. O cangaceiro – vai aqui o conteúdo mental do próprio agente – não roubava, “tomava pelas armas”.”

“Dentro desse quadro todo próprio, a vingança tende a revestir a forma de um legítimo direito do ofendido (“No sertão, quem se não vinga está moralmente morto”, repitamos mais uma vez a frase tão verdadeira de Gustavo Barroso, conhecedor profundo desse paralelismo ético sertanejo).”

“Ao invocar tais razões de vingança, o bandido, numa interpretação absurdamente extensiva e nem por isso pouco eficaz, punha toda a sua vida de crime a coberto de interpretações que lhe negassem um sentido ético essencial. A necessidade de justificar-se aos próprios olhos e aos de terceiros levava o cangaceiro a assoalhar o seu desejo de vingança, a sua missão pretensamente ética, a verdadeira obrigação de fazer correr o sangue dos seus ofensores. O folclore heróico, em suas variadas formas de expressão, imortalizava-o, omitindo eventuais covardias ou perversidades e enaltecendo um ou outro gesto de bravura. Concretizada a vingança, por um imperativo de coerência estaria aberta para o cangaceiro a obrigatoriedade de abandonar as armas, deixar o cangaço. Já não teria mais a socorrer-lhe a imagem o escudo ético por esta representado. Como então realizar tal vingança, se o cangaço era um bom meio de vida?”

Tal “escudo ético”, entretanto, não é um epifenômeno próprio da moral sertaneja nordestina. Muito menos apenas do cangaço.

Em entrevista à revista “Veja” de 17 de agosto de 2011 – edição 2230, ano 44, nº 33 – o psiquiatra e escritor inglês Anthony Daniels, ao analisar a influência da tese do suíço Jean Jacques Rousseau de que o ser humano é fundamentalmente bom, e que a sociedade o corrompe, afirma que esta prejudicou profundamente sua noção de responsabilidade: “Por influência de Rosseau, nossas sociedades relativizaram a responsabilidade dos indivíduos.”

E continua: “O pensamento intelectual dominante procura explicar o comportamento das pessoas como uma consequência de seu passado, de suas circunstâncias psicológicas e de suas condições econômicas. Infelizmente, essas teses são absorvidas pela população de todos os estratos sociais. Quando trabalhava como médico em prisões inglesas, com frequência ouvia detentos sem uma boa educação formal repetindo teorias sociológicas e psicológicas difundidas pelas universidades. Com isso, não apenas se sentiam menos culpados por seus atos criminosos, como de fato eram tratados dessa maneira.”

Aqui no Rio Grande do Norte a lenda atribui aos injustos mal tratos físicos da Polícia o ingresso do célebre Valdetário Benevides Carneiro, morto há pouco tempo, no crime. “Como não há justiça” dizia em outras palavras Valdetário, “vou fazer a minha.”

Por outra: há o escudo ético, mas ele não é específico da moral sertaneja nordestina. Parece ser um epifenômeno decorrente da criminalidade.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Governo do Estado do RN

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Categoria(s): Artigo
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