Por Marcos Ferreira
Penso agora em escrever alguma coisa na terceira pessoa, algo sobre fatos que não tenham nada a ver diretamente comigo. É isso. Ao menos uma pequena crônica que fale sobre terceiros, eventos alheios. Acontece, porém, que hoje, a exemplo de vários outros dias, não estou com vocação para falar sobre a vida além da minha pífia existência. Suponho que os meus poucos leitores já estejam enjoados, de saco cheio, de ler tantas narrativas tão pessoais.
Por que não falar um pouco sobre política? Não quero me ocupar com política. Até por uma questão de higiene mental.
Há outros assuntos muito na moda. O futebol, por exemplo, é um deles. Contudo não entendo patavina acerca dessa matéria. Sei apenas que nossos atletas, os da seleção canarinha (vai com minúsculas mesmo) se preocupam muito mais em mudar a cor e o corte do cabelo a cada jogo, fazer dancinhas, mogangas e caretas do que propriamente jogar bem. Isso, todavia, como eu já disse, não é assunto para mim. Então passo a bola para o ex-futebolista e comentarista Walter Casagrande.
Hoje, entretanto, diante da escassez de motivação ou inspiração, digo honestamente que me sinto vazio, sem uma centelha de criatividade, sem voltagem literária. Considero chato, no entanto, e isso é uma opinião de muitos cronistas craques do gênero, como Rubem Braga e Fernando Sabino, Antônio Maria, lamuriar-me por causa da falta do que escrever. Não. Embora seja uma solução bem-aceita, uma receitinha caseira e salvadora, não vou ceder ou consolar o leitor com essa chupeta. Acho que ele sempre merece mais do que tapeação, lugares-comuns e monotonia.
Nessas horas de esterilidade verbal, situação esta que ocorre com incômoda frequência, penso na prosa suave e honesta do cronista Odemirton Filho, penso no estilo cheio de poeticidade do vate Cid Augusto, recordo o verbo instantâneo e burilado do meu Editor, jornalista e escritor Carlos Santos, além de outros colaboradores deste espaço dominical. Esses manejadores da palavra escrita, os quais leio e sempre aprendo alguma lição nova, dão corpo e forma a mais este parágrafo.
Acima, então, eis um parágrafo tão honesto quanto merecido. Porque não menciono tais pessoas nesta página fria por uma questão de favor ou de coleguismo gratuito. Não, meus prezados amigos. Não sou desse tipo, não sou bajulador. E há outros trabalhadores do verbo (colaboradores deste Blog) que povoam o Canal BCS e merecem igual referência, muito embora eu incorra no pecado da omissão e da curta memória. Cito, portanto, escribas de admirável talento como Honório de Medeiros, François Silvestre e o não menos aguerrido comentarista Marcos Pinto.
Bom. Deixemos o beija-mão de lado. E peço desculpas àqueles que deixei de citar por traição da memória. Neste momento da manhã, cuja hora prefiro não revelar, outra vez escuto a procissão dos pregoeiros do conjunto Walfredo Gurgel. Vão passando aqui pela rua do cubículo que habito provisoriamente. Negociam com todo tipo de coisa. Como o anônimo vendedor de frutas: “Olha a banana, olha a acerola, o abacaxi, a manga, a verdura, o melão”, diz o homem sobre sua carroça.
Outros mais, como eu já mencionei em textos anteriores, mercadejam toda sorte de produtos. Um anuncia o queijo de coalho, outro propaga que tem galinha caipira fresquinha, daí a pouco passa o carro dos ovos, o entregador de leite chama a clientela cativa: “Olha o leite!”, grita o sujeito sobre a motocicleta, já destampando o botijão metálico. Não só homens trafegam por estas ruas de paralelepípedos oferecendo uma coisa e outra aos moradores. Jovens senhoras, às vezes em companhia de filhos miúdos, tentam vender pamonha, canjica, tapioca, cocada, picolé e sorvete.
Eu bem sei que estou a me repetir. Como também sei que você não se apraz com isso. Os leitores querem, esperam por um assunto novo a cada semana, a cada domingo. Não lhes tiro a razão. Às vezes, porém, a gente precisa requentar o pão. E pão requentado não é coisa das piores. Porque não existe pão duro para uma boa fome. Ainda assim quem nos acompanha está correto. Pois paga, com o tempo que nos dedica, por um texto minimamente e, quem sabe, inovador. Não basta só arte.
A vida neste cubículo claustrofóbico, embora com a perspectiva de que isso dure cerca de três meses, é algo desestimulante. Aqui não há saída de ar, apenas a porta da frente, de maneira que o vento não entra. Não bastasse, fica defronte para o sol após o meio-dia. O ventilador já deu sinais de cansaço.
Pensar em literatura também se tornou um luxo bem pouco acessível. Minha velha casa foi demolida para a construção de uma nova. Um pouco menor, é verdade, mas sem o risco iminente de cair por cima de mim. O inverno está chegando, mas eu me sinto otimista.
Marcos Ferreira é escritor

















































