Por Carlos Santos
Minha cidade está tão tranquila que os passarinhos que gorjeiam, logo cedo à minha janela, também sumiram.
Devem estar também em veraneio, creio.
Ah, agora ouço um cão que late sem muita convicção, lá longe, como se apelasse contra o silêncio ou a solidão de uma casa só sua!
Foi ouvido, mas não terá minha solidariedade à barulheira. Que fique bem claro.
Cadê aquela rapaziada com seu som ensurdecedor, sempre reverberando forró e outras músicas que falam em “aí, mãinha”?
Deram um descanso aos nossos tímpanos, nesse domingo de calmaria.
Faz verão mesmo é aqui, com o sol lá fora, ainda que minha vontade esteja voltada pro aroma da chuva.
Chuva que teima em não cair, ironizando-me por esses últimos dias com escassas neblinas e nuvens – carregadas.
É seu jeito cinza de me iludir.
A noite deu-me o orvalho. Esparramado sobre o teto do carro, ele ganha o formato de uma manta de incontáveis bolhas, ressecadas logo ao amanhecer.
Pela manhã, o silêncio. O silêncio que o cão teima em não aceitar.
Teclo devagar para não lhe parecer solidário. Cravo minha repulsa a seu alarido, sem ênfase – que se diga.
Se daqui sair uma crônica, ótimo! O máximo que lhe concedo, meu caro cão desconhecido, é um lugar nessa história boba.
Tão boba que passarinhos desapareceram e respostas jornalísticas básicas – Quem? Quando? Onde? Como? Por quê? – são ignoradas.
Coisa que só uma manhã tranquila, despojada, pode estimular. Tão tranquila que… quase escrevo uma crônica.
Caro, a seca provoca mudanças na natureza e esse sol catingante torna a garganta cada vez mais indisponível para o aiaiai da vida. Muitos deixaram seu torrão para torrarem dinheiro em outras glebas mais suaves nesse período do ano. Os cães que aqui ficaram não são vira-latas, comem bem, não dormem, vigiam outros cães que recebem a carne de origem duvidosa. Tudo será dado a essa cidade de codinome cantopolis, só não o silêncio!
Parabéns!
Uma excelente crônica.
As crônicas nascem assim, despretensiosamente, na base do sem querer…
As ideias vão fluindo de uma forma como que irresponsável, desconexas, sem compromisso. E quando nos damos conta a crônica se faz presente.
Parabéns.
Acordei as quatro da manhã, e, viciado que sou, fui à “Rede Mundial” vê se já tinha algum maluco igual a mim a navegar e também para saber as primeiras notícias, pois, apressado que sou queria sabê-las antes de todos. Mas, ao que parece até as notícias estão de férias e foram, junto com a maioria dos “normais”, veranear. Então fiquei a navegar à toa, aleatoriamente, em busca de algo novo… Ilusão, realmente a novidades foram à praia. Só me restou esperar, ouvir o canto dos pássaros, avisando que o dia chegara e esperar o Sol dar o ar da graça anunciando a chegada de mais um lindo dia. Olhei pelas frestas da janela e realmente percebi: o domingo chegou, vou me apossar dele…
Já que o espaço é para devaneios…
DEVANEIOS
Parece ser um urso muito grande. Grande e branco. Ao lado um cordeirinho, também branco. Quanto mais olho, mais animais branquinhos vejo. É como se todo o mundo animal estivesse travestido de branco. A torre da igreja parece deslocar-se no espaço. A cruz, principalmente a cruz, dá-me a impressão de que está adquirindo uma velocidade cada vez maior, como se estivesse animada por uma aceleração sempre crescente.
O chão é quente e a brisa que vem da praia um tanto quanto distante me refresca e torna suportável a quentura deste sol a pino. Os bichinhos brancos já não estão nos mesmos lugares e alguns até já se transmudaram. Cadê o urso? E o cordeirinho?
Faço um esforço enorme e, mesmo com os olhos já um tanto cansados, vejo novas figuras. Um índio, vejo um índio sentado à maneira índia. Um pouco à esquerda, um cavalo, um cavalo sim, um cavalo como que em louca disparada.
O vento que tudo sopra e que tudo muda e desloca; a cruz que parece embevecida pela velocidade sem controle; a poeira que se levanta em redemoinhos indisciplinados; o relógio que bate a primeira hora da tarde. Tudo, tudo me lembra um barco à deriva num rio caudaloso.
Levanto-me meio sujo de areia, da areia do chão frio da calçada. O estômago dói, tenho fome e ninguém pode sonhar com fome.
Será somente a areia que se levanta tangida por forças as quais não consegue resistir? Serão somente as nuvens que mudam de forma sem ter direito sequer de reclamar? E a cruz? Será somente a cruz que parece correr e parada está…
Ah, ventos que levam as coisas, ah, ventos que levam as pessoas. Tudo, quem sabe, depende do vento que soprar. Da força e da sua direção…
O barulho do trem é enorme, tão grande quanto a sua lentidão, tão descomunal quanto a sua carga de pedras brancas… Por que hoje tudo se me apresenta branco?
Melhor assim… Que o preto só venha no fim e, mesmo assim, que a laje seja branca… Branca como aquele cordeirinho…
E amanhã? Serei urso ou cordeiro? Ou melhor, quanto tempo serei urso e quanto tempo serei cordeiro? Certamente tudo dependerá do vento que soprar.
Ah, se me fosse possível saber qual a intensidade e a direção do vento que amanhã me levará por estes caminhos e descaminhos.
Sinto fome. É a realidade se fazendo presente. É o vento que começa a soprar…
Inácio Augusto de Almeida
Bom momemto esse de que prefere fica em Mossoró,diferentes dos demais finais de semana com aqueles filhinhos de papai com o nome no serasa mais andando de carro zero com 58 parcelas a serem quitadas, mais não perde uma festa na grande tibau pobre de espirito e rico de aparecia, todo que prefere fica em Mossoró consegue realmente discança e refleti sem pertubação de paredões etc.