Por Odemirton Filho
Recentemente li um livro sobre a nossa praia de Tibau. De autoria da jornalista Lúcia Rocha, o livro é sensacional, tendo o título desta crônica. Realizou-se uma pesquisa sobre a história da cidade-praia, por meio de livros e jornais.
Há um resumo de textos de pessoas que escreveram sobre a praia de Tibau. É uma leitura leve, embalada por lembranças e saudades. Existem, também, fotos, textos de livros, jornais e redes sociais.
Em cada texto, percebe-se o mergulhar no passado e o resgate de fatos marcantes da infância e adolescência dos autores. Para mim foi uma agradável surpresa, pois contam-se fatos que desconhecia.
Segundo Lúcia Rocha, Henry Koster, de nacionalidade portuguesa, passou por Tibau em 1810 e viu os morros de areias coloridas. Até a década de 1920, a praia era chamada de “o povoado de Tibau”, depois, a partir de 1950, “praia de Tibau”. Em 1927, serviu de refúgio para algumas famílias, por medo do bando de Lampião.
“Antes de 1932, quando construíram a estrada de rodagem, Tibau era citada como um lugar distante, quase inalcançável, ou seja, uma aventura sair de Mossoró para Tibau. (…) Os primeiros veranistas, da década de 1890, só alcançavam Tibau a cavalo. A partir de 1900, vinham em carros de bois. Saíam de Mossoró num dia e chegavam no outro, sempre pernoitando em alguma fazenda no meio do caminho”, afirmou a autora na apresentação do livro.
O primeiro texto sobre Tibau foi publicado pelo português Henry Koster, inicialmente em um jornal de Londres, em 1816. Em 1903, o jornal O Mossoroense republicou. Eis o teor:
“À volta do meio-dia passamos perto de uma choupana onde residia o vaqueiro de uma fazenda e imediatamente depois deparamos o monte de areia, chamado Tibau, junto do qual se vê o mar. Escassamente descrevo as sensações que essa visão determinou. Parecia-me estar em casa, com todos os meus hábitos. A nascente d`água perto da cabana estava esgotada, mas existia outra, além do monte, dando ainda uma pequena provisão. Paramos para descansar ao meio-dia numa pobre choça, erguida no alto da duna pelos moradores da fazenda, e servindo para preparar o pescado. Tinham-na construído bem no cimo, por estar completamente exposta ao vento. A descida para o mar era rápida, mas não perigosa e a frouxidão do areal prevenia contra qualquer possibilidade do cavalo escorregar e rolar até em baixo” (…).
No livro, como disse, encontram-se vários textos sobre Tibau, são páginas permeadas de histórias. Entretanto, compartilho com o leitor fragmentos da crônica Tibau do meu tempo, escrita pelo jornalista Dorian Jorge Freire:
“A gente viajava para Tibau logo depois das festas de Santa Luzia. Viajávamos de caminhão, dia 14 ou 15 de dezembro. Saíamos de madrugada ou ao entardecer. Os dias anteriores eram ocupados por preparativos. Compra de mantimentos, confecção de maiôs, arrumação de coisas. no dia da viagem a alegria era absoluta(…). Tínhamos uma casa na praia. Talvez num de seus melhores locais. Casa simples, mas grande. E, lá embaixo, na orla da praia, o Pinga grande, de chão amosaicado”.
Para minha surpresa, a casa na qual Dorian descreve esses momentos é vizinha a dos meus pais, muro com muro, como se diz, hoje pertencente ao casal Carlos Augusto-Rosalba.
Pois bem. Lembrei-me, de igual modo, da minha infância. Da alegria de entrar o ano novo em Tibau. De uma ruma de primos reunidos no alpendre lá de casa. Dos churrascos que começavam ao meio-dia e entrava pela escuridão da noite. Do meu pai cantando, acompanhado por tio Albeci, da banda Os Bárbaros, dedilhando o seu violão.
Noutros tempos, faltava energia dia sim, no outro também. Para se comunicar com o mundo, precisávamos ir ao Posto da antiga Telern para fazer ligações, na rua principal, onde ficava, também, a Casa da Revista.
De manhã, era o banho de mar, o jogo de futebol. Depois do almoço, esperávamos o menino passar pela rua pra comprar grude e tapioca. E ainda comíamos o bolo de leite preparado pela nossa querida Socorro. À tardinha, eu e meus primos íamos brincar no morro do labirinto. Após, sujos e suados, voltávamos para a casa dos nossos avós, seu Vivaldo e dona Placinda, um dos palcos de nossas traquinagens.
Continuando a falar sobre o livro, sirvo ao leitor mais um pedaço da deliciosa crônica de Dorian Jorge Freire:
“Aos sábados e domingos havia bailes nas casas. Na casa de Humberto Mendes, principalmente. Bailes com violões, sanfonas, pandeiros. Animados pelos donos da casa. Quantos amores começaram no velho Tibau de Guerra? Quantos suspiros de bem-querer, testemunhados apenas pelas areias movediças dos morros, pelos ventos que vinham domar e se enfurnavam nas redes dos alpendres? Nos dias comuns, às noites, as visitas às casas próximas. O pessoal diante das casas, contando histórias, cantando, namorando no escuro”.
Veio-me à memória os dias da minha adolescência. As festas nos clubes Creda e Álibi. Os Carnavais, os campeonatos de surf realizados por Biton, as escadarias do bar de Zé Félix e do Brisa del mar. Lembrei-me, ainda, que comprávamos gasolina para abastecer os carros numa mercearia que ficava na rua do atual Supermercado de Nilo Nolasco, pois não havia posto de combustível.
Aos domingos, principalmente na época de veraneio, uma ruma de ônibus dirigia-se à praia do Ceará trazendo uma multidão para curtir o sol, o mar e a pedra do chapéu. Lá de casa, no denominado “Tibau antigo”, eu escutava, e ainda escuto, o badalar dos sinos da Capela de Santa Teresinha convidando para as missas.
Era a Tibau dos banhos de mar no fim da tarde, já na boca da noite. No período da lua cheia, as ondas arrebentavam com força, e batiam no paredão da residência de Dr. Rosadinho. Foi em Tibau, na casa do meu querido e saudoso amigo Márcio Iuri, que conheci a minha mulher, com a qual há mais de trinta anos divido os meus dias.
Sim, tudo muda. E a Tibau de hoje é a Tibau dos condomínios luxuosos, que se estende até a praia de Gado Bravo. Aliás, no meu tempo de menino-rapaz, de Gado Bravo eu só me lembro do restaurante de Marcos Porto. E era uma lonjura.
Ora, vejam como é a vida. Atualmente, um dos meus locais de trabalho é, exatamente, a praia do junho dos meus dias. A cada diligência eu conheço mais um pedacinho de Tibau. E a cidade continua crescendo, de forma desordenada, tornando-se difícil encontrar as pessoas nos seus arredores.
Parafraseando o mestre Dorian: Tibau de minha mãe, a praia que ela gosta de ir todos os anos, sem falta. Mudei eu? Mudou Tibau? Não sei. Mudamos ambos.
Tibau pode ter mudado, mas continua no meu coração, pois foi a praia da minha infância e a adolescência. Nos dias atuais, eu caminho pela praia, sinto a brisa em meu rosto, a água lambendo os meus pés. Já não arrisco nadar até as jangadas paradas a certa distância da beira do mar. Apenas aprecio no horizonte as suas velas brancas e o deslizar sobre as águas, conduzidas, quem sabe, com ajuda do espírito do velho pescador Tidó.
Tempos atrás, quando meus filhos eram crianças, levei-os para fazerem castelos de areia e mergulharem nas águas que molharam a minha infância. Hoje, rogo a Deus que me conceda vida e saúde para um dia levar os meus netos.
Bem, vou parando por aqui. Desculpe o texto extenso, sei que em outras crônicas já narrei muitos dos fatos descritos, todavia, a leitura do livro de Lúcia Rocha despertou na minha alma doces lembranças e saudades muitas.
Recomendo o livro Tibau de todos os tempos a todos que queiram conhecer um pouco da história da cidade-praia, deleitando-se com uma leitura agradável.
Por derradeiro, apesar de ainda ter muito a dizer, comungo das palavras do nosso cronista maior, Dorian Jorge Freire:
“Tibau do grande mar generoso, da taioba, dos pingas, das garrafas de areia, dos bailes, da capelinha, dos porres monumentais”.
Odemirton Filho é bacharel em Direito e oficial de Justiça
Odemirton !
As suas Reminiscências também são as minhas em relação a esse tempo gostoso que vivíamos em Tibau ,as suas lembranças veio a minha mente tão nítidas que parecem em HD, realmente os lugares ,os bares ,as festas os primeiros namoros , as viagens de Mixto ou de ônibus eram aventuras que ficaram eternamente na memória desse jovem que não esquece dos bons momentos da vida.
Faltou o amigo Raniele confessar que foi um dos muitos farofeiros que proporcionavam um cenário especial na orla marítima do Tibau de antigamente. Também fui um famélico
farofeiro, geralmente pegando carona com camioneiros. Bons tempos, que não voltam nunca mais.
Este Odemirton Firmino, é fogo!
Conseguiu me remeter aos anos 60 quando conheci e comecei a frequentar Tibau. Hoje as recordações afloram de maneira saudosista, com aquele sonho de voltar ao passado, ou mesmo fazer o tempo retroagir, para encontrar em Tibau, a casa do velho José Basílio, amigo do meu saudoso pai, seu Expedito Rocha que ao lado de minha saudosa mãe Conceição, arregimentava os filhos para viajar por duas/três horas em cima da carroceria de um caminhão tipo misto para chegar lá ao lado da casa de Beliza em Tibau, para logo em seguida correr para beira mar e se melar de areia (maneira de humano ficar a milaneza), tomar sol e em seguida dar braçadas e chutes contra as ondas do mar sem fim. Era gostoso demais, na hora do almoço – pois o lanche era a polpa do côco verde, isto após se tomar a água do mesmo- o cardápio era composto por galinha de farofeiro, costela de porco torrada com farofa ao tipo sertanejo, que minha mãe fazia como ninguém, e claro, a peixada feita por dona Maria, espôsa de seu José Basílio.
Bem, depois das peraltices de toda criançada e adolescentes juntos, novamente o misto era o destino certo, ninguém tocava um no outro quando subia na carroceria, pois todos pareciam ter sido pintados por tinta de urucum (semente que os índios usam para se pintar de vermelho), chegando em Mossoró, rêde e cama eram as peças da família mais desejadas, isto para a recuperação da fadiga, mais ou menos quarta/quinta feira, começa a pele largar, isto após o surgimento de algumas bolhas, e o mais engraçado era a surpresa de muitos em Mossoró, que em forma de curiosidade, perguntava: fosse a Tibau ? Dependendo do humor, resposta educada, caso contrárrio, a replica… num tá vendo não??? KKKKKKKKK Ô vida e tempo bom!!! Num foi Odemirtom ???