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domingo - 26/04/2009 - 12:12h

Tributo a meu pai, Lúcio José da Silveira

Era o ano de 1935, meu amado e saudoso pai, Lúcio José Da Silveira, com seus dez anos de idade e traquinagem, era o segundo filho de uma prole de 15. Morava onde hoje eu moro, no Sítio Cajueiro (Governador Dix-sept Rosado) com seus pais que ainda iriam colocar muitos filhos nesta vida.

Certo dia, o meu avô, Sebastião José Da Silveira, como de costume, levantou-se madrugada alta, selou seu cavalo ou pangaré e foi corrigir o cercado.  Minha avó ficava em casa cuidando do almoço ( quando tinha) e do magote de filhos.

Por volta das 10h, meu pai, com sua inquietação, inventou e aprontou mais uma. Acendeu uma lamparina e entrou no galinheiro que abrigava pouco mais de meia dúzia da deliciosas galinhas caipiras.  Meu avô já estava cuidando em criar as 21 coitadas para o próximo resguardo da minha avó. 

Era assim que a mulher saía do "resguardo" naquela época. Eram 21 dias e 21 galinhas para alimentar a parturiente.

Meu pai, "inocentemente" entrou no galinheiro feito de palha seca de carnaúba e, o lógico aconteceu. Descuidou-se e a chama da lamparina atingiu o galinheiro.  Não precisa dizer que nem a lamparina escapou, somente ele, meu pai, que, mais que de repente, saiu correndo.

Quando meu avô chegou para almoçar, "viu a obra prima", e depois do primeiro grito, descobriu o autor da façanha. Olhou para meu pai, puxou o facão dos arreios do pangaré e determinou: "Vá ali, seu moleque e corte aquele galho da quixabeira".

Não havia nada no mundo que evitasse o que aconteceu. Meu pai, sem alternativa alguma, obedeceu.  Voltou com o galho na mão, devolveu o facão, entregou o galho e recebeu a pior ordem. "Tire a camisa!"

Levou uma surra que nunca esqueceu. Ficou desfalecido pelo resto da tarde.

Naturalmente toda comunidade soube e se apiedou do meu pai. Um irmão do meu avô, chamado Pedro Paulo Da Silveira, soube do episódio, era um homem de muitas posses, comerciante bem sucedido em Sebastianópolis (hoje Governador Dix-sept Rosado).

Veio, ao final da tarde, deu um “ pito “ muito grande no irmão (meu avô ) e disse:

– Sebastião, vou levar este menino e vou criá-lo. Ele vai trabalhar no meu armazém, lá na cidade.  E assim o fez.  

Meu pai foi ser ajudante de balconista no armazém do seu tio. Passaram-se os anos, meu pai ficou independente. A essas alturas, ele tinha cerca de 18 anos de idade.  

Recebeu uma ajuda do seu tio Pedro Paulo Da Silveira e tinha passado a ser "comboeiro".

Sabe o que é isso? Era a pessoa que juntava mercadorias da região, formava um comboio de jumentos e saáa sem rumo, comercializando suas mercadorias ou, se fosse o caso, praticando escambo.  

Passava semanas fora de casa e, só Deus sabe as necessidades que passava. A salvação dele era uma farofa (chamada de farofa de comboeiro), a água que levava e as boas pessoas que encontravam no caminho e davam guarida.

Certo domingo, coincidiu de ele está em casa, juntamente com um sem número de irmãos. Vestiu um paletó e foi para uma missa na Igreja da localidade do Ausente,  estrada de Lagoa de Pau.

O que ele menos queria, era ver o padre. Estava lá para namorar.  Estacionava seu jumento no pátio da Igreja e ia em busca das suas emoções. Meu pai me contou várias vezes que notou que uma moça olhava insistentemente para ele. Era a minha santa mãe, ele se interessou e, oito meses depois, estavam casados.

Até hoje, minha santa mãe, com seus 85 anos de idade, também conta a mesma história.  

Montaram uma bodega no Sítio Quixaba, e, em 1952, mais precisamente no dia 2 de Julho, se aventuraram e vieram para Mossoró. Um Homem que só sabia escrever o nome, uma mulher que nem isso sabia,  mais cinco filhos (na época ), e a vontade de vencer.

Quando Deus o chamou, no dia 6 de Janeiro de 2005, havia realizado seu sonho que era dá "o estudo" a todos os nove filhos (nasceram mais quatro em Mossoró, inclusive, eu). Formou os nove.

* Um tributo a meu saudoso e amado pai, Lúcio José da Silveira.

Valtércio Anunciato Da Silveira – engenheiro civil – tel1957@yahoo.com.br

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Categoria(s): Nair Mesquita

Comentários

  1. David de Medeiros Leite diz:

    Grande texto, Valtécio…
    Continue, amigo, continue…
    A memorialistica potiguar necessita de registros assim.
    Abraços
    David Leite
    david.leite@uol.com.br

  2. Eduardo diz:

    Sou dixseptiense e esta história, com certeza, ficará guardada nas minhas lembranças, assim como guardo várias outras histórias de conterrâneos que conseguiram driblar as dificuldades impostas pela vida e tornaram-se vitoriosos. Parabéns.

  3. Ricardo Borges diz:

    Valtércio,
    Um belo relato de um homem que soube valorizar o seu potencial na arte milenar do “comércio”. Conheci o seu pai através do seu irmão Valfredo, quando fomos colegas de “ginásio” no Colégio Diocesano de Santa Luzia, na Loja de vocês que ficava na Praça Rodolfo Fernandes (Praça do Pax). É sempre bom para nós que vivemos “Mossoró dos Anos Dourados” tomar conhecimento das histórias dos Cidadãos que fizeram e fazem parte do crescimento da nossa Bela Mossoró-RN. Abraços de Ricardo Borges (Borjão)

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