• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
domingo - 28/08/2022 - 07:24h

Um dia na fazenda

Foto ilustrativa (Web)

Foto ilustrativa (Web)

Por Odemirton Filho 

Um menino nascido e criado na cidade não é acostumado ao dia a dia do campo. No máximo vai a uma fazenda ou sítio de um parente ou amigo. Com aquele menino criado no centro da cidade não poderia ser diferente. Raras vezes foi à zona rural.

O seu mundo era o patamar da Igreja perto da sua casa e as ruas adjacentes, onde brincava com os amigos de infância.

Certa vez, o menino foi a uma fazenda lá pelas bandas do “Junco”. Conheceu, também, uma fazenda do pai de um amigo, na terra dos poetas.

Nunca tinha visto uma mesa tão farta. Café coado e leite quentinhos; tapiocas; queijo de coalho; cuscuz; carne de sol. Comida à vontade. Na cozinha, potes de barro e pilão, entre outros utensílios domésticos.

Foi ao curral. Tentou andar a cavalo; tomou um banho nas águas barrentas do açude. Abriu porteiras. Viu a plantação; o gado pastando. Ficou andando pra lá e pra cá. Sentiu-se quase um Menino de Engenho, do livro de José Lins do Rêgo.

À noite, depois dos adultos tomarem uns goles de cachaça, ficaram deitados nas redes, no alpendre da antiga casa. Uma ruma de meninos ouvindo as conversas dos mais velhos. “Estórias” sobre almas penadas que, aqui ou acolá, assombravam a fazenda.

Dormiram cedo e sentiram o friozinho gostoso da madrugada. Somente a lua e uma fogueira (para espantar os mosquitos) alumiavam a escuridão da noite. Acordaram com o sol raiando; o galo a cantar; a sinfonia dos pássaros.

Para ele, tudo era novidade. Porém, o que mais gostou foi ir de madrugadinha ao curral pra ver a ordenha das vacas e tomar o leite num caneco.

“O leite cru, ao pé da vaca, era quente e gostoso. Tinha gosto de vaca por dentro. Gosto e calor. E espumava no copo”, disse, numa de suas belas crônicas, o velho Antônio Maria.

Foi a única vez que o menino tomou o leite ao pé da vaca.

E ainda sente o sabor.

Odemirton Filho é bacharel em Direito e oficial de Justiça

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Inácio Augusto de Almeida diz:

    Escrevendo de forma escorreita, Odemirton nos transporta aos tempos de criança.
    Escrever bem é isso.
    Mossoró ja pode dizer que tem um grande cronista.

    • Odemirton Filho diz:

      Bondade sua, amigo Inácio. Continuo aprendendo com os grandes cronistas deste Blog, inclusive você.

      Um forte abraço, meu caro.

      • Inácio Augusto de Almeida diz:

        Eu grande cronista?
        Falta-me a necessária CULTURA INÚTIL, O PEDANTISMO e um vocabulário arcaico.
        Falta-me o desejo de ser a cereja do bolo, a pérola negra.
        //////
        VÃO DESARQUIVAR AS INVESTIGAÇÕES DE ARRASTÕES EM MOSSORÓ? VERDADE?

        • Odemirton Filho diz:

          Já li muitas crônicas suas, meu amigo. A última crônica que recebi para ser publicada posteriormente, sobre uma criança traquina, é uma belezura.

          Por isso, a minha admiração e respeito.

          Abração!

          • Inácio Augusto de Almeida diz:

            Não podemos interromper a publicação do MARANHÃO.
            Qualquer noite insone eu encaixo a crõnica nu. Pensando Bem.
            Se você gostou sinto-me na obrigação de divulgá-la, mesmo que na condição de comentário.
            Um abraço

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