Continuo perplexo com o enredo que se desenrola há anos, mas com maior exposição pública nos últimos meses, em torno da "UTI Neonatal de Mossoró". A passagem do secretário estadual da Saúde pela cidade, Adelmaro Cavalcanti, ontem (terça, 8), é um capítulo à parte.

Impressiona como a politicalha sem fronteiras e, suprapartidária, infesta e contamina a vida mossoroense. Adelmaro deu sua contribuição. Participou de uma pantomima. Visitou a UTI que não funciona e de lá foi propagada outra data para que finalmente passe a servir aos bebês indefesos-pobres de Mossoró e região: ficou para sexta (11).

Claro que nenhuma pessoa de bem pode levar a sério o que determinados porta-vozes proclamam, nesse imbróglio surreal e sádico. A mentira está inoculada, oficializada e transformada em elemento essencial de uma retórica que insulta a sociedade e brinca com a vida de inocentes e seus familiares.

A turma que fala em funcionamento é a mesma que já espalhou notícia na imprensa, atestando inauguração e plena atividade do equipamento. Também afirmaram que o pessoal especializado estava treinado etc. Tudo mentira deslavada.

Faz-me lembrar do personagem Pinóquio, mundialmente popularizado por Walt Disney. Seu criador é Carlo Lorenzini, italiano que no século XIX produziu um texto infantil de ensinamento moral a todas as idades. O boneco em madeira, mentiroso contumaz, ao final se transforma num ser humano, graças às suas boas ações.

Com essa gente envolvida na trama da UTI Neonatal, com raríssimas exceções, ficamos a esperar algo parecido. Mas é querer demais. É pouco provável que ocorra o milagre da evolução redentora. Acho difícil que superem a patologia do cinismo, onde a desfataçez se materializa ao ponto de ultrajarem uma cidade inteira.

Prefiro Pinóquio. Há quase um século e meio, ele alegra e dá vida às crianças de todo o mundo. Sejam pobres ou ricas, brancas ou pretas, cristãs ou mulçumanas.